É impressionante o resultado exagerado — por vezes
absurdo —, decorrente do uso de uma palavra, em vez de outra, quando se escreve
sobre temas polêmicos. “Tempestade em copo d’água” já não retrata — mais
adequado seria “revolução” — o que ocorreu quando uma corajosa psicóloga,
Rozângela Justino, publicou anuncio propondo tratamento psicológico para
homossexuais interessados em retornar à heterossexualidade.
Não sei se ela usou, nos seus anúncios profissionais,
o termo “cura”, mas mesmo que o tivesse usado, não seria o caso de se aplicar
contra ela qualquer sanção. Um mero aviso, ou advertência bastaria. Como
consequência de sua “audácia” o CFP – Conselho Federal de Psicologia processou
— por enquanto ainda não na Justiça —, a referida psicóloga, impondo-lhe a pena
de censura pública. Com isso, Rozângela Justino “não pode falar como
psicóloga”. Qualquer semelhança com a censura na Idade Média não será mera
coincidência. Trata-se de um caso evidente de “preconceito a favor” do
homossexualismo.Mesmo que a OMS – Organização Mundial da Saúde diga
que o homossexualismo não é doença, desvio ou perversão, o fato elementar é que
a liberdade de pensamento e sua expressão— porque seria inútil a liberdade de
só pensar, sem poder expressar — não desapareceu. Principalmente quando alguém,
com formação científica, manifesta sua opinião. O que não pode, legalmente, é
uma psicóloga denegrir, ofender, “xingar” alguém por ter uma ou outra opção
sexual. Há que se respeitar, além do mais, o livre-arbítrio, o desejo das
pessoas que, por uma razão ou outra, querem voltar ao que eram antes.
Que há, hoje, um “preconceito a favor” do
homossexualismo, parece evidente. Anúncios de cirurgiões propondo mudanças
anatômicas de sexo — com mutilações, remoção de órgãos genitais masculinos e
enxertos de seios de silicone — são permitidos, ao que presumo. Já li, não sei
onde, propaganda de aulas sobre como praticar, fisicamente, a homossexualidade.
Tudo isso “pode”. Só não “pode”, segundo o CFP, o contrário: permitir que uma
pessoa que “está”, hoje, homossexual, mas sinta que “não é” , volte ao estado
anterior.
Se devemos, legal e moralmente, preservar a liberdade
humana, esta deve existir em sua plenitude, nos dois sentidos. Se uma pessoa
gorda quer se tornar magra, com orientação psicológica, regime ou cirurgia — ou
o contrário —, ninguém tem nada com isso. E para complementar essa liberdade, é
necessário ao profissional, como em tudo mais, anunciar. Foi o que fez a
injustiçada psicóloga referida. Se, eventualmente — a notícia que li não
mencionava esse detalhe — ela usava, nos anúncios, a palavra “cura”, “doença”,
“perversão” ou “desvio” seria o caso do CPF convocar a psicóloga para ponderar,
ou talvez exigir, que ela alterasse a redação do anúncio, de modo a não
conflitar com dispositivos legais, hoje temerosos de aparentar qualquer
resquício de preconceito “contra”; esquecidos, porém, como disse, de que o
excesso pode levar ao “preconceito favorável”.
Espera-se que o CFP não chegue ao ponto de proibir, a
quem quer que seja, que estude e publique qualquer trabalho científico que
mostre, ou tente mostrar, que inúmeros casos de homossexualismo são apenas
consequência de traumas físicos e psíquicos, como, por exemplo, o estupro de
uma menina. Acredito que uma criança, ou adolescente virgem que foi estuprada e
barbarizada, na sua primeira experiência sexual, fique tão traumatizada com a
prática heterossexual que será fácil “mudar de lado” quando confortada por uma
lésbica que demonstre carinho e respeito por ela e use a técnica adequada para
despertar a libido. Porém, se essa mesma vítima traumatizada quiser retornar à heterossexualidade,
não tem sentido, nem legal nem moral, que tal pessoa seja proibida de procurar,
em jornais ou revistas, uma psicóloga que a ajude nessa alteração. A procura de
anúncios de profissionais que façam esse trabalho é mera decorrência dessa
liberdade que conta com apoio constitucional. Todo direito pode ser anunciado,
desde que não na forma de insulto.
Assim como uma menina pode se tornar homossexual, por
influência, educação e traumas ocorridas na relação heterossexual — há que se
evitar, a todo custo, o uso do termo “normal” — o mesmo pode ocorrer com um
menino que, vítima de aproveitadores, habituaram-se ao sexo anal. Quando se
tornar adulto, esse menino estará proibido de querer voltar à sua condição de
heterossexual? O profissional que anuncie essa “conversão” estará proibido de
usar a palavra “tratamento”, sob pena de castigo por algum Conselho
profissional?
“Tratamento” não implica, necessariamente, em adesão
moral a um preconceito. Um médico que anuncie “tratamento contra azia” não tem
preconceito moral contra estômagos e excesso de ácido clorídrico. Nem contra
quem sofre desse distúrbio. Quem anuncia “cura” contra tuberculose, ou
calvície, não tem preconceito contra tuberculosos ou carecas. O termo “cura” é
apenas a palavra usual, tradicional, para tratamentos ou modificações de
estados físicos ou condições que incomodam o paciente. Tratamento contra a
obesidade não significa desprezo pelos gordos. O mesmo ocorre com o gay que não
quer mais ser gay. Ou com o heterossexual que optou, em algum momento, por ser
gay, imaginando ter sido sempre essa sua “verdadeira natureza”. Conclusão que
pode, em tese, ser fruto de um engano de avaliação e que, por isso, deve
ensejar um retorno. Há que se respeitar sua opção, bem como o profissional que
se prontifica — via propaganda — a ajudá-lo.
Espera-se que a Câmara dos Deputados, que debate o
assunto, faça a lei que permite aos psicólogos anunciar um serviço que atende
ao desejo de liberdade de opção das pessoas. Na verdade, a nosso ver, nem
precisaria haver uma lei a respeito mas, como as cabeças variam infinitamente
no entender as certas coisas, vá lá que se faça uma lei apoiando o óbvio.
O desejo de “opção” deve ter mão dupla, do contrário
torna-se tirania de minorias. Nada tenho contra os gays, mas que as injustas
perseguições que sofreram no passado não se transformem em “preconceito a
favor”. Isso municiará os realmente preconceituosos. Alegarão que essa minoria
está tirando proveito exagerado do sofrimento passado e até mesmo perseguindo
profissões legítimas.
(30-6-2012)
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