Minha indagação — abelhudo contumaz — relacionava-se com
a notícia de que em parte da Antártida estava ocorrendo a diminuição da
temperatura — o oposto do esperável —, pois havia, e ainda há, um consenso
acadêmico, quase unânime, de que o aquecimento global está crescendo
perigosamente como consequência da atividade humana. Impunha-se, “consequentemente”
— pensei, sem imaginar a imensa complexidade da climatologia — uma limitação
mundial da atividade industrial, da pecuária, do desflorestamento e de tudo o
mais que implicasse em aumento do gás carbônico (CO2) na atmosfera, mesmo que
tal restrição cerceie o crescimento econômico dos países, inclusive o nosso,
que está entre os dez mais poluidores.
Como o aumento do nível do mar — supostamente comprovado,
segundo a mídia — seria uma das sérias consequências do efeito estufa, inundando
áreas costeiras , concluí que o anômalo esfriamento, ocorrido em parte da
Antártida seria talvez explicável pela mudança do eixo da Terra, permitindo que
os raios solares aquecessem determinadas áreas mas, em compensação, esfriassem
outras, no mesmo continente, conforme o peso dos oceanos e o movimento de
rotação da Terra. Essa variação — eu “deduzia” —, seria mais notada próximo às
regiões polares, nos dois hemisfério. Algumas áreas, reafirmando, antes mais
quentes, se tornariam mais frias e vice-versa, o que manteria inalterada a
média da temperatura planetária. Se, por exemplo, havia inverno mais rigorosos em
Nova Iorque, provavelmente na Sibéria, no lado oposto do planeta, o inverno
seria menos severo, fenômeno pouco divulgado porque ocorrido em regiões pouco
habitadas, não justificando manchetes.
Perguntava-me: o que poderia explicar essa provável
mutação do eixo terrestre? Avaliando, a olho nu, no globo terrestre, a
impressionante massa d’água dos Oceanos, a conclusão me parecia óbvia: com
derretimento do gelo nos polos e nos picos das altas montanhas, milhões de
toneladas de gelo derretido, notadamente na Antártida, foram parar nos mares e
oceanos, aumentando seu nível, justificando a necessidade de limitação na
atividade humana, dada como responsável pelo efeito estufa.
Eu não compreendia, no entanto, porque a mídia não
mencionava essa explicação — da mudança do eixo — sobre o esfriamento parcial
no polo sul, explicação que me parecia “tão óbvia”: se as geleiras da Antártida
“visivelmente” derretiam — como sugeriam as s fotos —, a água resultante
terminaria se somando à água dos oceanos, aumentado a inundação das cidades
próximas do mar. Assim sendo, o Brasil deveria permanecer firme na decisão de
impor a seus industriais, pecuaristas e agricultores as restrições assumidas na
Conferência de Paris, em 2015.
Se os leitores quiserem mais detalhes da minha
aparentemente lógica dedução, podem acessar meu blog.
Agora, tudo mudou. Ou pelo menos estremeceu a compreensão
técnica de um problema que afetará o futuro da humanidade no médio e longo
prazo.
Depois de ouvir “oceânicas” e eruditas palestras e
entrevistas de Ricardo Felício e Luiz Carlos Molion, no Youtube, sinto-me consciente
e impressionado com minha total ignorância sobre um assunto — a Climatologia —,
que nunca imaginei ter chegado a tal grau de sofisticação e complexidade.
Pelo que ouvi desses dois cientistas, convictos de que a
atividade humana não influi no clima planetário, os países devem pensar um
pouco — ou muito mais — sobre cumprimentos de tratados globais sobre a
diminuição do CO2. Cabe à maioria acadêmica — que sustenta ser o homem o
causador do efeito estufa e do aquecimento global contínuo —, explicar melhor porque
ela tem razão ao exigir dos países signatários do Acordo de Paris as limitações
na emissão do CO2, ainda que isso implique em diminuição do PIB.
Três dias atrás, porém, acessando o Youtube, assisti às longas
entrevistas do professor da USP, Ricardo Felício, alegando, com tranquila
segurança, que o ser humano não é responsável pelo aquecimento global, não
havendo razão para o Brasil cumprir as restrições oriundas do Acordo de Paris,
de 2015, ratificadas pelo nosso país em 12/09/2016.
Em síntese,
Ricardo Felício diz que as variações de temperatura na Terra dependem apenas
das alterações ocorridas no Sol, obedecendo a diferentes ciclos periódicos
ocorridos na superfície de nossa estrela. Argumenta que o planeta já sofreu
eras glaciais e já suportou períodos de temperatura bem mais altas que as
atuais.
Quanto ao aumento do nível do mar, Felício diz que o El
Nino é um fenômeno natural, chegando a alterar o nível do mar em meio metro.
Informa ainda que um famoso oceanógrafo, Macaulay — salvo engano —, já
falecido, dizia que “a última coisa que o mar tem é nível”, não se justificando
— no dizer de Felício —, a atual preocupação global com um centímetro a mais ou
a menos, mesmo porque os mares sempre variam em seus níveis. Alega, ainda, que
as melancólicas imagens de ursos magros — equilibrando-se em pedaços de gelo
flutuante, no Polo Norte —, e as geleiras derretendo, ou melhor, “desmoronando”
— na Antártida, datam de 20 anos atrás, sendo apenas falsa propaganda.
Felício argumenta que geleiras derretem-se e voltam a se
formar, em décadas e séculos. Diz que existem mais de 160 mil geleiras e que a
ONU só monitora 50 ou 60 delas, não podendo extrair conclusões corretas com tão
restrita pesquisa.
Quanto ao já mencionado Luiz Carlos Molion —— professor e
pesquisador da Universidade Federal de Alagoas, em Meteorologia, pós-doutor em
Hidrologia de Floresta, com pós-gradução em Física e com inúmeras outras
distinções —, pareceu-me, no Youtube, uma enciclopédia viva quando muda de um
item para outro, conexos, com calma, segurança e coragem raras em assunto tão
multifacetado. Ele também, precisa dizer algumas palavras sobre como conciliar
a “santidade” do CO2 com a necessidade de diminuir a poluição ambiental. Esta
não pode ficar totalmente desvinculada do tema Aquecimento Global.
Para não alongar esse texto, já longo demais, convém o leitor acessar as
entrevistas de Felício e Molion no Youtube para melhor se informar. Aconselho
ouvi-las mais de uma vez, em dias diferentes — para não cansar e desistir — por
se tratar de assunto técnico, com uma conclusão de imensa relevância: a retirada
do Brasil nessa decisão mundial.
É pena — somente para mim, o curioso — que esses dois
cientistas do clima nada disseram, sobre a eventual inclinação do eixo
terrestre quando o planeta sofre resfriamento em partes da Antártida quando
ocorre um aquecimento global. Provavelmente, nada falaram sobre o eixo
terrestre por ser o detalhe, se ocorrido, irrelevante. Eles precisam entretanto,
nos esclarecer como diminuir a poluição, que mata pessoas a longo prazo.
Aquecimento global e poluição ambiental são, é claro,
temas distintos. mas muito próximos. A saúde também deve pesar quando se
discute o efeito econômico da diminuição obrigatória da emissão do gás
carbônico em um tratado internacional.
O CO2 é necessário, nos campos, para a fotossíntese; mas
não nas cidades, com o gás saindo do escapamento dos veículos movidos a
gasolina, álcool e diesel — para entrar direto nos pulmões da população. Ainda
mais quando acompanhado do monóxido de carbono, o CO — um gás prejudicial,
venenoso —; do enxofre e de outros resíduos não salutares. Fotos e filmes nos
mostram populações chinesas andando nas ruas com máscaras contra gases. E não
são nada convincentes as assertivas de Felício quando diz que pode-se,
tranquilamente, cortar todas as árvores porque elas voltarão a crescer. Pode
ser que cresçam, mas depois de quantos anos, ou décadas, conforme a árvore? E a
erosão, causada pelas chuvas não empobrecem o solo?
Teria razão, por exceção, o precipitado Donald Trump, ao declarar
que vai se retirar seu país do Acordo?
O assunto é especialmente importante para o Brasil porque
Jair Bolsonaro acena em acompanhar Trump nessa decisão.
Permanecendo a dúvida técnica sobre sair ou não, o
Brasil, do Acordo de Paris, a solução mais sensata seria Bolsonaro dizer que
antes de decidir, aguardará a adesão formal, preto no branco, dos países com
assento permanente no Conselho de Segurança. Felício disse, que a China
prometeu assinar mas fica enrolando, ainda não assinou. Se apenas os Estados Unidos sair, o Brasil deverá
assinar. Mas deve assinar por último, porque somente vendo as assinaturas das
grandes potências, membros permanentes do Conselho de Segurança — além da Alemanha
e Japão — é que ficará comprovado que
“os grandes” também aceitarão as limitações exigidas do Brasil e outros poderes
menores.
Molion insiste, com autoridade, nas suas palestras, sobre
o interesse econômico das nações mais ricas em engessar o crescimento das
nações em desenvolvimento. Disserta sobre patentes, lucros e perdas, etc. que
estão por trás de uma decisão que deveria ser apenas técnica.
O Brasil precisa conhecer, com mais certeza, os prós e os
contras das variações do Sol, da Terra e da ação humana, antes de sair ou
permanecer no Acordo de Paris.
(25/12/2018)