Machado de
Assis — para mim um tremendo filósofo informal, além de literato — já disse que
“Em matéria de língua, quem quer tudo muito explicado, arrisca-se a não
explicar nada”. Disse ainda que “Se quiser aconselhar, aconselhe, mas seja
breve”.
Seguindo o
conselho de Machado, tentei ser o mais breve possível, mesmo porque não sou
médico. Mas como convencer sem explicar direitinho? Tudo em excesso é
prejudicial, até o pouco.
As sugestões abaixo são apenas “ideias” que, após as discussões econômicas e jurídicas, poderão ser transformadas em lei. Rebater as possíveis críticas ao aqui proposto, sob todos os ângulos, afastaria os leitores. Deixaria de ajudar os candidatos a prefeitos e vereadores, em todo o Brasil, interessados em iniciativas que salvarão vidas, hoje perdidas por causa de burocracias pouco inteligentes. As sugestões interessam aos políticos e, mais ainda, à comunidade.
As propostas não têm ordem de prioridade. Cabe a cada candidato avaliar a que lhe pareça mais útil. São elas:
1ª Sugestão.
Obrigar os postos de saúde, e autorizar, as farmácias, querendo, a medir a pressão arterial de qualquer adulto que solicite esse serviço, mesmo sem pedido médico. A medição será feita por um profissional de farmácia, ou funcionário do estabelecimento comprovadamente apto para esse trabalho. A remuneração da farmácia para cada verificação será módica, com um teto anual fixado em percentual do salário mínimo. Sugiro não mais de dez reais, no momento, quando o serviço for prestado em farmácia. Se a medição for feita no posto de saúde, obviamente será de graça, ou também módica.
Motivação da proposta: poucos meses atrás, no começo da pandemia do coronavírus, fui a um Posto de Saúde, na cidade de São Paulo, para medir a pressão arterial. Como a tenho normalmente baixa, tendência de família, e gosto de sal, achei prudente saber como ela estava. Se estivesse normal, eu não precisaria ir a um médico, do meu plano de saúde, com risco de contágio pelo vírus.
Para minha surpresa, a farmacêutica, ou médica, do posto — não me lembro do detalhe —, disse-me, educadamente, que para medir a pressão eu precisaria apresentar um pedido médico, sem o qual ela não poderia fazer a medição. Espantei-me com a exigência porque é comum ver-se, em farmácia, u’a máquina em que a pessoa pode, inserindo uma moeda no aparelho, medir a pressão. Se uma simples máquina pode fazer isso, por que a obrigatoriedade de procurar um médico? Com o SUS já sobrecarregado, por que esperar meses, para ser atendido em algo tão simples?
2ª Sugestão
Verificar o nível de glicose no posto de saúde, ou na farmácia.
A burocracia municipal,
porém, não se limitou a isso. Quando solicitei à mesma enfermeira, ou médica,
que tirasse uma gota de sangue do meu dedo, para verificar a glicose, ela,
sempre educada, me disse que isso também não seria possível, porque também nesse
caso era necessário pedido médico. Ela me perguntou se eu era diabético. Disse
que não, porque a cada dois ou três meses eu pedia a uma pessoa amiga,
diabética, que examinasse minha glicose, usando o aparelhinho dela, e nunca
passei de 108 mg/dl, mas essa amiga estava agora fora do Brasil. Por isso tinha
ido ao posto.
Por que matando ou aleijando? Porque o homem pobre que está com pressão muito alta, pode imaginar que apenas anda “meio indisposto” porque dorme ou se alimenta mal. Na verdade está é, apressando sua morte com um ataque cardíaco. Procurar um médico depois de ver negado seu pedido no posto de saúde? Nem pensar. E se estiver altamente diabético, pode nem saber qual é sua real situação porque sua doença é silenciosa. Até que um dia acorda cego ou é o brigado a cortar uma perna. Ou duas, como relato a seguir.
Lembro-me da conversa que tive, anos atrás, com um senhor cego e sem as pernas, quando eu estava na Flórida, em viagem de turismo. Enquanto minha mulher visitava uma igreja eu a aguardava, na calçada, próximo da porta de entrada. Ao meu lado estava um cadeirante não muito idoso. Ele tinha no peito uma placa mencionando que era cego e pedia esmola. Dei a ele uma cédula, ele agradeceu e mantivemos uma breve troca de palavras.
Como as duas pernas tinham sido amputadas na altura dos joelhos, simetricamente, atrevi-me a lhe perguntar se perdera as pernas em um acidente de trem. Ele me explicou que não. Estava sem as pernas por causa do diabetes. Não sabia que tinha essa doença, até que um dia acordou cego e pouco depois teve que amputar os membros por causa da gangrena.
No Brasil, com tanta pobreza, haveria menos casos de cegueira, ou de amputação de dedos, pés, ou pernas, se o cidadão pudesse verificar sua glicose de graça, em posto de saúde, ou pagando menos de dez reais em uma farmácia. Constatado o diabetes, seria encaminhado a um médico, ou orientado para isso, sob pena de ficar fora do SUS, ou repreensão equivalente. Há um velho ditado: “o ótimo é inimigo do bom”, conselho que deve estar sempre presente no legislador.
3ª Sugestão
Testes médicos — visão e audição — obrigatórios ao entrar nas escolas públicas municipais.
Resumo: toda criança, ou adolescente, admitida a uma escola pública deveria ter sua visão e audição examinadas. Se o aluno não ouve bem, apesar de dizer, ofendido — “eu não sou surdo!”—, ou não consegue ler textos com letras pequenas, com ambos os olhos — um de cada vez —, deveria, na escola, por lei, ser examinado por a um especialista para se ver o que é possível se fazer para que se interesse pelo que diz o professor.
Ou, “se não gosta de ler” — talvez por um problema visual — é preciso saber se os dois olhos veem perfeitamente, com ou sem lentes corretivas. Se um olho enxerga bem e o outro não, isso trará aversão à leitura, que deveria sempre ser agradável, visualmente.
A maioria dos dicionários, impressos com letras quase microscópica, desestimula sua leitura, que seria muito útil porque, se lidos com frequência, habituam o consulente, ou leitor prazeiroso, a pensar e se expressar com concisão, tal a objetividade das definições, um bom remédio contra o “analfabetismo funcional”. Os dois olhos devem trabalhar com igualdade de forças, principalmente nas leituras mais extensas.
Posso lhes garantir que há muitos “maus alunos” que poderiam se transformar em “bons alunos” se ouvissem e lessem perfeitamente. Como não podem ficar, o tempo todo, pedindo ao professor para repetir o que disseram — seriam vaiados —, sentam-se no fundo da classe, pensando em tudo, menos no que diz o professor.
Outras vezes os maus alunos precisam apenas de óculos, com os graus certos para cada olho. Se os pais não têm dinheiro para a comprá-los a escola faria isso, pensando do futuro do menino ou rapazola. Se o glaucoma, por exemplo, já lesou o nervo ótico do olho deficiente, o aluno, ou responsável será orientado para um treinamento que lhe permitirá ler textos, usando as técnicas que os oculistas já ensinam quando o cliente perdeu um olho em acidente.
Ficam por aqui minhas sugestões na esfera municipal. Com perdão pela extensão inevitável, exigível para eventual convencimento. Daqui a uns dias, farei novas sugestões, se alguém gostou destas.
(21/10/2020)