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Adianto minha convicção de que Musk conseguirá isso
se aplicar um milésimo de sua riqueza e alguma fração da sua determinação, já
comprovada na fabricação e difusão do carro elétrico (TESLA); nos foguetes
espaciais reaproveitáveis (Space X); na colonização de Marte e tudo o mais em
que Musk se envolve, como demonstra sua biografia, escrita por Ashlee Vance: — “Elon
Musk: Como o CEO bilionário da Space X e da Tesla está moldando o noss...”.
Leiam, no presente texto, minha justificação para esta previsão.
Elogiar um bilionário é sempre suspeito. Não estou
isento dessa suspeição, porque tenho interesse pessoal pela Criônica. Para quem
não sabe, Criogenia é o ramo da ciência que estuda o efeito do frio intenso na
matéria, seja ela viva ou morta. Criônica é mais específica. Significa a
utilização da Criogenia em seres humanos que, com doença incurável — ou muito
apegados à vida — gostariam de se congelar por tempo indeterminado até que a
medicina do futuro possa curar sua doença, ou melhorar sua longevidade ou
capacidade física e mental. Isso porque é impossível prever o quanto a ciência
e a técnica podem nos beneficiar nos próximos anos. Mais impossível ainda é
imaginar como estará a Terra daqui a duzentos anos, um tico na história da
humanidade. Células-tronco reconstruirão, certamente, órgãos importantes, dispensando
transplantes, que provocam rejeição.
Escrevi um romance, “Criônica”, em 2005, sem
propaganda e distribuição do livro impresso — eu estava com pressa, meio velho
—enfatizando que a humanidade daria um imenso salto para o futuro se
conseguisse a façanha técnica de congelar uma pessoa, praticamente “matando-a”,
para “acordá-la” anos depois.
Eu pensava, quando redigia esse livro, somente nas
pessoas com doenças incuráveis que, após serem descongeladas seriam sanadas
pela medicina do futuro. Congelar é fácil. Descongelar — vivo e bem —, é que é
o problema. O câncer era minha principal preocupação. Não pensava na colonização
de Marte porque em 2005 essa hipótese parecia impensável. Apenas marginalmente eu
levava em consideração a utilização do congelamento para remotíssimas viagens
espaciais.
Poucos, imagino, aprovaram o “lúgubre” tema central
do meu romance, invocando razões religiosas: — “É ridículo! Então a alma fica
também congelada e depois retorna ao corpo!? Como congelar algo imaterial?!” —,
ou preocupados com o excesso populacional. Havia, como ainda há, uma espécie de
tabu na mera hipótese, aparentemente impossível e grotesca. Além disso, havia o
fato concreto de que até agora não foi possível descongelar, vivo, um ser
humano — ou qualquer mamífero morto —, depois de dias, quanto mais após meses ou
anos. Recentemente li notícias de que alguns sapos e insetos, em regiões árticas,
retornam à vida com a primavera. A conferir, porque há muita diferença entre um
homem e um inseto.
A ideia da Criogenia aplicada em humanos — ainda
dormita, desanimada, mas não totalmente esquecida, porque não surgiu ainda um
grande cientista, ou empresário “visionário”, com imaginação, teimosia, coragem
— e dinheiro suficiente —, capaz de descongelar, vivo, um ser humano.
Sempre me impressionou mal, em filmes, a passividade
resignada dos médicos quando constatam que o coração do seu paciente, fisicamente
inteiro, talvez ainda moço, deitado à sua frente no hospital — rodeado de
tecnologias —, parou de bater. É certo que de uns anos para cá já existe um modesto
micro “ressuscitador” parecido com um
ferro de passar roupa —, que consegue, às vezes, com violento choque, trazer de
volta à vida um cidadão que acabou de morrer. Houve — com perdão pelo humor
negro —, uma “mortinha” provisória de segundos. Mas, não houvesse ali o
desfibrilador, sua morte teria sido definitiva.
Lendo, em e-book, a já mencionada biografia de Elon
Musk fiquei entusiasmado com a possibilidade do biografado se interessar pela
Criônica porque as viagens extraplanetárias, mesmo limitadas ao sistema solar —
Marte, Vênus, Lua e, quem sabe, outros corpos celestes —, dependem do tempo de
vida normal dos astronautas, seres humanos, de limitada resistência física e
psicológica para longos confinamentos. “Dormindo”, congelados, poderão suportar
mentalmente esperas de meses e talvez de anos em longas viagens espaciais,
impulsionadas pela energia solar ou atômica.
Alguém objetará que Elon Musk até agora só se
interessou por outros assuntos: física, mecânica, robótica, internet, carros, foguetes,
finanças (PayPal) astronomia, inovações administrativas e desafios
empresariais, não havendo por que esperar que ele se envolva em um assunto tão
diferente, biológico, “médico”, como é o caso da Criônica.
Ocorre que Musk, felizmente — para todos nós —, gosta
de tentar justamente o que não foi ainda tentado. Nasceu assim, como mostra seu
biógrafo. Se falha, uma, duas ou mais vezes, em algumas experiências, isso só
aumenta sua obstinação. Seus primeiros foguetes Falcon fracassaram. Em vez de
desistir, como seria o “normal”, redobrou o esforço. Basta mencionar aqui —
comprovando o sucesso de sua persistência —, que seu Big Falcon Rocket tem 68,3
metros de altura e pesa centenas de toneladas, segundo informa o livro
mencionado. Como conseguiu construir um foguete manobrável com tamanho peso? Aviões
têm asas, que se apoiam no ar. Foguetes não têm asas, apoiam-se apenas nas
próprias explosões. E como projetá-los para aterrissar lugar certo? Após o voo espacial o foguete volta à Terra e
pousa, verticalmente, numa plataforma flutuante; no mar, ou na plataforma de
lançamento original. Na parte final do livro, já mencionado, há foto de um dos seus
foguetes que mostram o gigantismo tecnológico desse “Falcão” que pesa “quase
500 toneladas”, nas palavras do autor.
Quem supervisiona, pessoal e detalhadamente, obra
desse porte? O próprio Musk. Esse camarada é, claro, um “visionário”, mas a
humanidade avança, mais depressa por causa dos visionários que, quando também corajosos,
aceitam tremendos riscos pessoais com tentativas, erros e acertos. Ser “visionário”
apenas imaginando, discursando ou escrevendo livros é fácil. Muito diferente é
criar concretamente artefatos, empresas e sistemas que podem levar o visionário
à prisão, à morte, à falência ou à miséria. Não fosse Joannes Gutenberg,
criando a impressão com tipos móveis — invenção considerada a mais importante
do segundo milênio —, os livros continuariam fabricados à mão, um por um. A
civilização deve muito a ele.
Se Elon Musk conseguir descongelar alguém, do jeito
que estava antes, também ingressará na história do progresso humano. Não há
nada mais inovador, “revolucionário”, do que isso. Afetará, sem querer, até as
religiões porque o “ressuscitado” poderá contar o que “viu” do outro lado. Feito
mais notável que fabricar foguetes superpoderosos e controláveis no seu voo e
pouso. Foguetes já existiam antes dele, mas muito inferiores. Robert Goddard, americano,
falecido em 1945, foi o pai dos foguetes. E não nos esqueçamos de Werner von
Braun, alemão, cujo talento ímpar foi utilizado por nazistas e americanos. Eram
meras bombas voadoras.
Além dos feitos acima mencionados Musk é o fundador
e CEO da Neuralink, que estuda o cérebro humano. Em última análise, é o cérebro
o principal problema da Criônica. Um cérebro não congelado, ou descongelado inadequadamente,
inutiliza-se em poucos minutos, daí a opção de alguns excêntricos de só
congelar a própria cabeça por ser mais barato. Nada, para Musk, é
desinteressante se tiver alguma utilidade prática, agora ou futuramente. Quando
surge uma dificuldade ele fica como que obcecado, remoendo o problema até
encontrar uma solução.
Já li algumas biografias de gênios precoces mas a
que mais me impressionou foi a de Elon Musk, porque é sem limites a sua
curiosidade e exige conhecimentos de assuntos que nem sequer existiam décadas
atrás, disponíveis para gênios anteriores. Sua biografia tem semelhança com a
de Thomas Edison, gênio autodidata que não inventou apenas a lâmpada elétrica.
Registrou mais de mil patentes e tinha como lema não desistir. Essa é também a
filosofia de Musk, que nunca se deu por vencido apesar de quase falir várias
vezes.
Se o leitor está pensando que exagero, leia, por
favor a biografia dele, mencionada no início deste artigo. Seu biógrafo gastou
alguns anos pesquisando a vida de Musk e não parece ser um puxa-saco do bilionário.
Nem sempre concorda com o pensamento de seu biografado. O livro, para o leitor
comum — que pouco sabe de motores —, poderia ser menos detalhado sobre
problemas mecânicos e financeiros mas podem interessar a engenheiros-mecânicos
e jovens criadores de startups, veículos elétricos e foguetes. E quando digo
foguetes lembro que eles transportam satélites espiões, de comunicação e
meteorológicos.
É claro que, neste momento — julho de 2022 — a
possibilidade de total extinção da espécie humana, é remotíssima. Mesmo que
ocorra um pavoroso conflito nuclear, talvez iniciado com um míssil disparado
acidentalmente — o “revide imediato” —, envolvendo EUA, Rússia, Ucrânia, União
Europeia, China, e o resto, é claro que a espécie humana não desaparecerá instantaneamente.
Apenas retrocederá a um estado quase selvagem, talvez desaparecendo aos poucos,
vítima da radiação generalizada.
Perigo de súbito morticínio poderá ocorrer se a
Terra for atingida por um enorme meteoro, ou asteroide, incapaz de ser fragmentado
antes atingir nosso planeta. Ou no caso de uma anomalia no funcionamento do
sol. Sem tempo para preparar uma fuga de algumas centenas de humanos para Marte,
a espécie humana poderia, de fato, desaparecer. E isso preocupa o polêmico
inventor, aqui resumido. Mas se ele reunir e chefiar umas vinte ou trinta
melhores cabeças do planeta — físicos, químicos, médicos de várias
especialidades —, com dedicação exclusiva, tenho a certeza de que conseguirão, sem
grande demora, congelar e descongelar, do jeito certo, qualquer ser humano. Certamente
essa façanha será menos complicada e cara que colonizar Marte. Será preciso, também, alterar a legislação
sobre a definição de “morte” e a liberdade da pessoa para decidir o que fazer
com a própria vida.
Reiterando, Elon Musk é um visionário superdotado,
com a peculiar tendência de realizar o que a todos parece impossível, ou
distante demais. Lendo a sua biografia lembrei-me de Thomas A. Edison, que
frequentou a escola pública apenas durante três meses, mas sendo muito
impertinente, era malvisto pelo professor. Preferiu sair e foi educado pela
mãe. Ficou famoso por inventar a lâmpada elétrica e, segundo disse, fez 1.200
experiências para descobrir um filamento, condutor da eletricidade, que não se
queimasse facilmente resistindo à passagem da eletricidade, emitindo luz. Ele
registrou 1.033 patentes. Ainda menino, já inventava incessantemente.
O mesmo fenômeno de precocidade ocorreu com Elon
Rusk que, vendo qualquer coisa “emperrada”, funcionando mal, logo se punha a
imaginar uma solução para lhe dar rapidez e funcionalidade. Sabendo que o carro
movido a gasolina é poluidor, resolveu fabricar o carro elétrico, pretendendo,
com o tempo, democratizar sua utilização. Para esta, precisava de baterias
especiais e sua distribuição pelo país. Inventava-as e continuava
aperfeiçoando-as. Uma invenção puxava outra e como conhecia tanto a Física
quanto a internet, as finanças e técnicas de venda, conseguiu criar a Tesla, a maior
fabricante de automóveis elétricos do mundo.
Não vou, aqui, prosseguir com suas realizações.
Leiam a biografia mencionada e, se ainda interessados no congelamento de
pessoas, leiam meu romance, em e-book, “Criônica”, com o subtítulo “o primeiro
romance brasileiro sobre o congelamento humano”. Está disponível na Amazon,
também em inglês, “Cryonics”.
Por favor, não misturem a Criônica com qualquer
religião, pensando que essa técnica — se bem-sucedida —, afrontará “desígnios
divinos”. Pelo contrário, imagino que Deus quer que os seres humanos vivam
felizes e sadios, não morrendo “antes do tempo”. Por isso existem as Santas
Casas de Misericórdia. Crentes, gravemente doentes, ou acidentados, ou seus
familiares, rezam — com apoio de sacerdotes — pedindo até milagres. A
penicilina será, por acaso, algo mau, uma invenção do diabo? Se o Papa estiver enfermo,
à beira da morte, será ofensa à Deus rezar pela sua cura? Se assim fosse toda a
Medicina seria maldita, por pretender “concorrer” com o poder de Deus.
Não há por que rejeitar a Criônica, se ela ficar muito
adiantada, possibilitando que milionários excêntricos —, com sucessivos congelamentos
e utilização de células-tronco —, vivam 120, 150, ou mais anos, formando uma “elite”
ditatorial dominando massas enraivecidas com tanta desigualdade. Mesmo que a
medicina do futuro consiga manipular as células-tronco criando novos neurônios,
pele de jovem, e outras restaurações, é de se presumir que futuros cientistas e
governos tenham juízo suficiente para não utilizar a Criônica como uma fábrica
de Frankenstein. Ela será apenas uma nova terapia, não a busca da imortalidade
física — uma péssima ideia para um planeta já com excesso de gente.
Atualmente, não é só o câncer que amedronta a
humanidade. O aumento da longevidade já não é tão compensador. O Mal de
Alzheimer azeda a alegria de viver muito. Além da decadência física, a mental. O
que adianta chegar aos 90 ou 100 anos se a pessoa está meio cega, surda,
amnésica, incapaz de lidar com um celular ou reconhecer os familiares?
Alguns talentos especiais, porém, inovadores, poderiam
aumentar duas ou três décadas de lucidez. Apressariam o avanço da civilização. Tipos
como Einstein, Edison, e vários outros, mereceriam esse privilégio, não para
gozo da ociosidade, mas pela produtividade e bem da humanidade.
Arvores que dão belos frutos, por mais tempo,
merecem melhor cuidado do agricultor. Não sei qual a opinião de Elon Musk a
respeito.
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Francisco Cesar Pinheiro Rodrigues
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(22/07/22)