sábado, 7 de julho de 2012

“Só inéditos!”: equivocada política editorial

                Durante uns poucos e recentes anos decidi escrever e publicar no meu site — www.franciscopinheirorodrigues.com.br  — e em diversos sites jurídicos, bem como no único site de relações internacionais que conheço, www.MundoRI.com — , artigos variados. Na maior parte, ensaios sobre política internacional e temas atuais, polêmicos, da justiça, tanto nacional quanto internacional. Sempre em linguagem bastante acessível, buscando mais informar do que provocar admiração. Não era minha intenção, inicialmente, reunir tais artigos — hoje em torno de 180 — em forma de livro impresso, considerando que o mundo já cortou árvores demais e a informática avança vertiginosamente. Vez por outra, no entanto, me ocorria que seria confortador ver tais escritos reunidos em um “corpo físico” cuja leitura dispensasse o uso da eletricidade.

Poucos meses atrás, fui convencido, por um inteligente e bem sucedido advogado e amigo, Dr. Antônio de Arruda Sampaio — idoso impressionantemente lúcido e de invulgar cultura —, a reunir algumas dezenas de tais artigos em forma de livro impresso. Ele entendia, como passei a entender, que alto percentual de leitores ainda prefere “livros de verdade”, isto é, de papel, algo que se possa segurar e ler em qualquer parte, mesmo sem nada entender de informática.

De fato, segundo me informou um livreiro, por mais promissor que seja o futuro do livro online, no momento apenas cerca de 5% dos livros estão disponíveis para leitura no computador, tablets e assemelhados. Concluí que, para os “velhotes”— geralmente mais cultos que a jovem guarda — o livro impresso ainda não morreu, nem agoniza. Apenas exibe rugas e arrasta um pouco os pés. Somente quando o livro já estiver usando bengala, ou andador, é que os escritores pensarão em comunicar seus pensamentos e emoções somente em livros online. Aí já estaremos — se a arriscada política nuclear entre as nações assim permitir —, em outra civilização.

Decidido, como mencionei, a publicar, também em livro, algumas dezenas de meus artigos — todos já divulgados na internet — , solicitei a um competente editor de São Paulo, Ednei Procópio — que também já edita livros online — que fizesse uma edição restrita, em papel, de 200 exemplares, com 80 artigos. Expliquei a ele que essa pequena edição serviria apenas como “vitrine”, para distribuição gratuita entre amigos, jornalistas e “formadores (sic) de opinião”.

Dei a esse livro o título de “Verdades que melindram”, com o subtítulo de “Ensaios sobre política internacional e justiça”. Pedi também ao Ednei o especial favor de não mencionar, na capa, o nome de sua editora — Livrus — porque sendo ela uma editora de menor porte financeiro — não obstante sua ótima qualidade técnica —, ainda não teria meios para largos gastos com propaganda. E sem “tambores” e “reboar de sinos” nenhum livro hoje “vende”. A não ser que seus autores tenham adquirido notoriedade, em qualquer campo, mesmo que, eventualmente escrevam mal. Ou nem mesmo saibam escrever, apenas falem, porque para isso existem os “escritores fantasmas”. Um livro, por exemplo, com entrevistas de monarcas do futebol — “Rei Pelé”, “Imperador Adriano”, etc. — teriam compradores garantidos. Nada a opor quanto ao endeusamento dos músculos e pontaria nos chutes porque se o “mercado” anseia um produto, o mais sensato é deixar de filosofias e satisfazer esse anseio. Editoras precisam distribuir ideias mas, antes de tudo, precisam subsistir.

 Prosseguindo, impressos os 200 exemplares, como se fossem 200 originais de um livro, seria o momento de oferecer às editoras mais poderosas um exemplar para sua edição em escala comercial. No entanto, já impresso o “livro-amostra”, fiquei surpreso ao saber que várias casas editoriais exigem que os textos sejam inéditos, não publicados nem em jornais, revistas impressas nem na internet. Uma delas me explicou que, no seu caso, isso seria exigência de seu departamento jurídico, preocupado com o lado financeiro do direito autoral. Espero que essa visão mais restrita não seja unânime.

Essa política exclusivamente preocupada com o monopólio do direito do autor parece-nos equivocada, inclusive comercialmente. Primeiro, porque trabalha contra a difusão da cultura. Segundo, por desprezar uma potencial clientela que, não habituada com a utilização da informática — frequentemente nem sabendo usar um computador —, desconhece a existência de muitos textos excelentes. A “moçada” que passa horas em frente de um monitor não costuma — acabando de ler um artigo particularmente interessante —, comunicar ao pai, tio, ou avô, que ele precisa, urgente, ingressar no mundo virtual. Esse veto editorial ao artigo já publicado em tal ou qual site acaba prejudicando tanto a editora de livros quanto ao próprio autor, que se torna menos conhecido.

Mesmo pessoas habituadas ao uso do computador ainda preferem ler livro impresso, em vez de online, menos “portável”. E tendo lido, no computador ou em jornal, o texto de um autor interessante, muito frequentemente gostariam de comprar um livro que reúna esses textos. Leitor, que sou, por exemplo, de Arnaldo Jabor e de José Veríssimo, nas suas crônicas em jornal, sempre que topo, em livraria, com livros reunindo seus escritos, não hesito em comprá-los porque quero tê-los como que “encadernados” (não por mim) em forma de livro. Poucos leitores chegam ao ponto de recortar, em jornais, seus articulistas e cronistas prediletos. Se isso acontece com leitores de jornais, muito mais ocorre com pessoas que gastam grande tempo diário utilizando o computador como ferramenta de trabalho. Encontrando um artigo na internet, não vão se dar ao trabalho de imprimí-lo. E se roubarem o computador dele, ou o aparelho for danificado por um raio, adeus artigos.

O que tais preconceituosas editoras deveriam levar em conta seria verificar se o texto é ou não bom. Apenas isso. O ineditismo é secundário, principalmente quando saiu apenas na internet. E não se alegue que a recusa de publicar esses artigos em forma impressa é apenas uma forma delicada de rejeitar textos sem valor. A recusa é norma geral, com aviso prévio de que textos já publicados em qualquer forma não serão sequer avaliados.

Note-se, ainda, que artigos sobre acontecimentos recentes devem ser escritos e publicados quando o “caso” ainda está “quente”. Para isso, só mesmo a internet, ou o jornal impresso. Esses mesmos comentários, se forem enviados a editoras de livros — que levam muitos meses avaliando-os e talvez imprimindo-os — quando chegarem ao público terão sabor de “comida requentada”, talvez de interesse apenas histórico.

Não sei até que ponto os entendidos em marketing concordam com as restrições do departamento jurídico das editoras de livros, mas seria o caso de trocarem ideias, presentes também os autores. Presumo que todo autor quer também ganhar dinheiro mas, sobretudo, quer ser conhecido. Não só por vaidade mas porque, melhor conhecido hoje, amanhã encontrarão mais interessados em comprar seus textos, novos e antigos. Lucrativo investimento de longo prazo, acoplado com a vantagem cultural de estimular jovens criativos porém desanimados com a dificuldade de encontrar um editor de mente aberta.

 Seja qual for o talento literário de Paulo Coelho, de uma coisa, sem dúvida, ele entende: de marketing, porque trabalhou nisso por vários anos. Em consequência, está disponibilizando alguns livros, gratuitamente, na internet, semeando agora, para colher depois. Esse Coelho vê longe e sabe como velozmente alcançar suas cenouras.

(07-7-2012)

Nenhum comentário:

Postar um comentário