Poucos meses atrás,
fui convencido, por um inteligente e bem sucedido advogado e amigo, Dr. Antônio
de Arruda Sampaio — idoso impressionantemente lúcido e de invulgar cultura —, a
reunir algumas dezenas de tais artigos em forma de livro impresso. Ele
entendia, como passei a entender, que alto percentual de leitores ainda prefere
“livros de verdade”, isto é, de papel, algo que se possa segurar e ler em
qualquer parte, mesmo sem nada entender de informática.
De fato, segundo me
informou um livreiro, por mais promissor que seja o futuro do livro online, no
momento apenas cerca de 5% dos livros estão disponíveis para leitura no
computador, tablets e assemelhados.
Concluí que, para os “velhotes”— geralmente mais cultos que a jovem guarda — o
livro impresso ainda não morreu, nem agoniza. Apenas exibe rugas e arrasta um
pouco os pés. Somente quando o livro já estiver usando bengala, ou andador, é
que os escritores pensarão em comunicar seus pensamentos e emoções somente em
livros online. Aí já estaremos — se a arriscada política nuclear entre as
nações assim permitir —, em outra civilização.
Decidido, como
mencionei, a publicar, também em livro, algumas dezenas de meus artigos — todos
já divulgados na internet — , solicitei a um competente editor de São Paulo,
Ednei Procópio — que também já edita livros online — que fizesse uma edição
restrita, em papel, de 200 exemplares, com 80 artigos. Expliquei a ele que essa
pequena edição serviria apenas como “vitrine”, para distribuição gratuita entre
amigos, jornalistas e “formadores (sic) de opinião”.
Dei a esse livro o
título de “Verdades que melindram”, com o subtítulo de “Ensaios sobre política
internacional e justiça”. Pedi também ao Ednei o especial favor de não
mencionar, na capa, o nome de sua editora — Livrus — porque sendo ela uma
editora de menor porte financeiro — não obstante sua ótima qualidade técnica —,
ainda não teria meios para largos gastos com propaganda. E sem “tambores” e “reboar
de sinos” nenhum livro hoje “vende”. A não ser que seus autores tenham
adquirido notoriedade, em qualquer campo, mesmo que, eventualmente escrevam
mal. Ou nem mesmo saibam escrever, apenas falem, porque para isso existem os
“escritores fantasmas”. Um livro, por exemplo, com entrevistas de monarcas do
futebol — “Rei Pelé”, “Imperador Adriano”, etc. — teriam compradores garantidos.
Nada a opor quanto ao endeusamento dos músculos e pontaria nos chutes porque se
o “mercado” anseia um produto, o mais sensato é deixar de filosofias e
satisfazer esse anseio. Editoras precisam distribuir ideias mas, antes de tudo,
precisam subsistir.
Essa política exclusivamente
preocupada com o monopólio do direito do autor parece-nos equivocada, inclusive
comercialmente. Primeiro, porque trabalha contra a difusão da cultura. Segundo,
por desprezar uma potencial clientela que, não habituada com a utilização da
informática — frequentemente nem sabendo usar um computador —, desconhece a
existência de muitos textos excelentes. A “moçada” que passa horas em frente de
um monitor não costuma — acabando de ler um artigo particularmente interessante
—, comunicar ao pai, tio, ou avô, que ele precisa, urgente, ingressar no mundo
virtual. Esse veto editorial ao artigo já publicado em tal ou qual site acaba
prejudicando tanto a editora de livros quanto ao próprio autor, que se torna
menos conhecido.
Mesmo pessoas
habituadas ao uso do computador ainda preferem ler livro impresso, em vez de
online, menos “portável”. E tendo lido, no computador ou em jornal, o texto de
um autor interessante, muito frequentemente gostariam de comprar um livro que
reúna esses textos. Leitor, que sou, por exemplo, de Arnaldo Jabor e de José
Veríssimo, nas suas crônicas em jornal, sempre que topo, em livraria, com livros
reunindo seus escritos, não hesito em comprá-los porque quero tê-los como que
“encadernados” (não por mim) em forma de livro. Poucos leitores chegam ao ponto
de recortar, em jornais, seus articulistas e cronistas prediletos. Se isso
acontece com leitores de jornais, muito mais ocorre com pessoas que gastam
grande tempo diário utilizando o computador como ferramenta de trabalho.
Encontrando um artigo na internet, não vão se dar ao trabalho de imprimí-lo. E
se roubarem o computador dele, ou o aparelho for danificado por um raio, adeus
artigos.
O que tais
preconceituosas editoras deveriam levar em conta seria verificar se o texto é
ou não bom. Apenas isso. O ineditismo é secundário, principalmente quando saiu
apenas na internet. E não se alegue que a recusa de publicar esses artigos em
forma impressa é apenas uma forma delicada de rejeitar textos sem valor. A
recusa é norma geral, com aviso prévio de que textos já publicados em qualquer
forma não serão sequer avaliados.
Note-se, ainda, que
artigos sobre acontecimentos recentes devem ser escritos e publicados quando o
“caso” ainda está “quente”. Para isso, só mesmo a internet, ou o jornal
impresso. Esses mesmos comentários, se forem enviados a editoras de livros —
que levam muitos meses avaliando-os e talvez imprimindo-os — quando chegarem ao
público terão sabor de “comida requentada”, talvez de interesse apenas
histórico.
Não sei até que
ponto os entendidos em marketing concordam com as restrições do departamento
jurídico das editoras de livros, mas seria o caso de trocarem ideias, presentes
também os autores. Presumo que todo autor quer também ganhar dinheiro mas,
sobretudo, quer ser conhecido. Não só por vaidade mas porque, melhor conhecido
hoje, amanhã encontrarão mais interessados em comprar seus textos, novos e
antigos. Lucrativo investimento de longo prazo, acoplado com a vantagem
cultural de estimular jovens criativos porém desanimados com a dificuldade de
encontrar um editor de mente aberta.
Seja qual for o talento literário de Paulo
Coelho, de uma coisa, sem dúvida, ele entende: de marketing, porque trabalhou
nisso por vários anos. Em consequência, está disponibilizando alguns livros,
gratuitamente, na internet, semeando agora, para colher depois. Esse Coelho vê
longe e sabe como velozmente alcançar suas cenouras.
(07-7-2012)
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