(Nota: O título é
longo demais, mas considerando que os leitores estão cada vez mais solicitados
— e impacientes... —, convém que os artigos de opinião digam logo qual a conclusão
do autor.)
Depois de gastar
algumas horas lendo, na imprensa e na internet — nesta também ouvindo extensas
explicações técnicas — sobre a confiabilidade, ou não, do resultado das
eleições de 2014, principalmente a presidencial, não tenho a menor dúvida de
que os números exatos proclamados oficialmente têm valor mais simbólico do que
real.
Quem se interessar
mais profundamente pelo assunto, e disponha de tempo, acesse o site https://www.youtube.com/watch?v=vy2gt58cmaQ&feature=youtu.be assistindo as diversas exposições, nem sempre totalmente
compreensíveis, tecnicamente, mas que
transmitem, pelo menos, a impressão de que os expositores conhecem profundamente
o assunto e dizem o que realmente pensam. A linguagem corporal —, no caso, a
voz e o olhar —, não pode ser totalmente desprezada em qualquer comunicação
verbal.
Depois de ouvir
todos eles, ou a maior parte deles, e reunir as informações captadas em outras
fontes, a conclusão, praticamente inafastável, é a de que somente uma fé quase
religiosa — porque não exige comprovação — dará como totalmente confiável o
resultado da eleição presidencial de 2014. Em decorrência da própria
fragilidade da técnica de apuração, ora utilizada, provavelmente nenhuma
perícia judicial garantiria que a contagem verdadeira seria de exatamente xis
votos para cada candidato.
Não se discute,
aqui, a confiabilidade das autoridades e funcionários que trabalharam na fase
de recepção do votos. Pelo menos nas maiores cidades. A dúvida, severa — pelo
que se deduz das explicações técnicas que ouvi —, é sobre o que acontece após o
ato de votar, quando do manejo dos números durante suas transferências de um
“lugar” eletrônico para outro. No mesmo computador e entre computadores
diferentes, operados por variadas pessoas que provavelmente sabem da
dificuldade de se comprovar um eventual “engano” durante sua digitação.
Os digitadores são
seres humanos e todos sabem, até por experiência própria, como age o “homo
sapiens”, quando sabe que sua eventual “inexatidão” — talvez autodesculpada como
“patriótica”— dificilmente poderá ser comprovada.
Qualquer eleição, exclusivamente
eletrônica, no Brasil ou em qualquer outro país — sem a emissão concomitante de
um impresso a ser depositado em urna, para a hipótese de eventual recontagem de
votos — permite a alteração de dados conforme os números parciais vão passando
de um computador para outro no longo processo de soma dos resultados parciais.
O processo de
apuração é realmente longo e tremendamente complexo. Ouça, leitor, os
depoimentos acima recomendados. Centenas de mãos manipulam — no bom e mau
sentido —, os resultados parciais.
Mesmo que a Justiça
Eleitoral, como instituição, se esforce para que a apuração seja perfeita, esse
desejo será utópico. Utópico porque dependente de uma perfectibilidade moral humana
que não existe em parte alguma, principalmente quando é grande o número de
operadores “clicando” no sistema. Somente dois países, no mundo, adotam o
sistema brasileiro: o Brasil e a Índia.
O voto exclusivamente
eletrônico não foi invenção brasileira, informou um expositor. Foi usado, pela
primeira vez, na Holanda, dois anos antes de ser adotado no Brasil. O grande
atrativo estava na rapidez da apuração. Uma maravilha, realmente, se não
houvesse o fator humano. Todavia, a
própria Holanda, inventora do processo, concluiu, após experiência, que o voto
eletrônico não era à prova de fraudes.
No Brasil — e não só
no Brasil —, basta saber que um sistema qualquer não é totalmente seguro para concluir
que “haverá fraude, com toda certeza!”, quando estão em jogo interesses
poderosíssimos, como foi o caso da nossa última eleição presidencial.
Se, pelo ângulo
técnico, há uma desconfiança generalizada da possibilidade de fraude, não há
porque manter, nas próximas eleições, um sistema que gera fundada desconfiança.
É muita pretensão nossa dizer que o Brasil e Índia são os dois únicos países “inteligentes”,
no mundo, adotando o voto eletrônico sem um rastro físico, escrito, que possa
depois permitir uma recontagem segura.
Há, também, outro
fator, jurídico, sugerindo modificações na técnica de contagem de votos, em
futuras eleições.
Pela nossa
legislação cabe à Justiça Eleitoral julgar demandas de natureza eleitoral.
Ocorre que o prejudicado pela aparente má-apuração pode estar alegando falha
estrutural ou pessoal — falta de confiabilidade — da própria Justiça Eleitoral,
em seu órgão máximo, o Tribunal Superior Eleitoral. Em suma: o “réu” (Tribunal)
julgando seu próprio ato. E julgamento em causa própria sempre é visto com
suspeição.
Pela Constituição
Federal —art.121 § 3º — as decisões do Tribunal Superior Eleitoral “são
irrecorríveis, salvo as que contrariarem esta Constituição e as denegatórias de
"habeas-corpus" ou mandado de segurança”.
Em
assuntos técnicos, relacionados com a informática e operações matemáticas a solução do problema exige
conhecimentos que obrigam os magistrados a recorrerem a peritos muito
especializados, implicando em depósito de quantias elevadas a título de
honorários dos peritos. Em um caso de Alagoas, a falta de depósito resultou na
condenação do reclamante a pagar dois milhões de reais, como “litigante de
má-fé” ( porque não depositou os honorários da perícia). Tal decisão funcionou
como um poderoso desestímulo a qualquer candidato que, mesmo de boa-fé, não se
conforma — talvez com razão — com o baixo número de votos quando tinha razões
para crer que sua votação seria muito maior.
Não
é razoável, nem prudente, o Brasil, apenas acompanhado da Índia, considerar-se,
com ela, os dois únicos países “certos”, no Planeta, quanto à segurança da urna
eletrônica. A Alemanha já considerou inconstitucional essa forma de apuração..
Não
obstante a existência de uma dúvida que jamais desaparecerá, na recente eleição
presidencial, a melhor solução, ou “saída patriótica” para o país, está em
aceitar, ou mesmo “engolir” o resultado oficial, mesmo de difícil digestão.
Uma
decisão judicial, depois de longo processamento, proclamando eventualmente que “houve
engano” e que o presidente eleito é Aécio Neves, incendiaria literalmente o
país, com conflitos diários nas ruas. Os seguidores de Dilma diriam que “se o
primeiro resultado oficial não vale para a presidência, também não deveria
valer para a escolha dos governadores”, tendo em vista a possibilidade de
fraudes em toda a eleição. Seria o caos. O país mergulharia na anarquia.
A
modificação, pela justiça, de uma eleição presidencial só é factível em um país
pequeno, ordeiro, de alto grau de educação. Em uma Suíça, ou Noruega, essa
modificação de resultado seria acatada com tolerância. No Brasil, porém, com os
baixos índices de educação e respeito pelo Poder Judiciário, essa dúvida
tornaria o país ingovernável. A insegurança se instalaria não só no Governo
Federal como também em quase todos os Estados. A própria complexidade técnica
na busca — ideal, quase impossível — da contagem exata de votos forneceria a “gasolina”
necessária ao incêndio de centenas de ônibus, lojas e casas. E talvez tanto
esforço na busca judicial da exatidão teria utilidade relativa.
Imaginemos
que uma perícia judicial excepcionalmente perfeita —, algo improvável —,
concluísse, após anos de disputa judicial, que dois milhões de votos dados a
Aécio foram atribuídos à Dilma. Tal esforço seria praticamente inútil porque a
diferença de votos proclamados foi de quase três milhões. Dilma continuaria
presidente.
Para
finalizar, o PSDB pode, hoje, no fundo, preferir a “vitória moral” do alto
índice de aprovação. Os próximos anos serão trabalhosos para qualquer
presidente brasileiro, considerando os escândalos, baixo crescimento econômico,
insegurança e um extenso rol de problemas.
O
que não pode acontecer é que na próxima eleição presidencial o voto continue
apenas eletrônico. Se nosso atual sistema de captação de votos continuar como
está — a oposição querendo mudar e o governo lutando contra —, essa resistência
já será prova, ou forte indício de má-fé. Desejo explícito e confessado de
perpetuação no poder.
(27-11-2014)
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