Li, poucos
dias atrás, em edição digital da Folha de S. Paulo, que um político do PSDB
convidou, ou “sondou”, o ex-Ministro do STF, Joaquim Barbosa, sobre o apoio
dele ao candidato Aécio Neves na próxima eleição. Depreende-se do texto que o
discutido e prestigiado ex-magistrado não teria demonstrado entusiasmo em influir
—, nem mesmo de forma indireta —, no futuro político do Brasil, em um momento
especialmente difícil, a exigir cabeças especialmente competentes e corajosas.
Temos
excelentes juristas, nas várias áreas do Direito, tão competentes, ou,
eventualmente, mais competentes do que Joaquim Barbosa. Todavia, entre todos os
juristas mais conhecidos nacionalmente, nenhum tem esse “plus”: o “poder de
voto” do mencionado ex-Ministro do STF.
Poder eleitoral
que ficará desperdiçado, no lixo, caso esses votos — entre dez e quinze milhões
— fiquem inativos, desaproveitados, por causa de uma ou duas omissões: ou pela
ausência de um convite explícito de Aécio Neves —, para que J. B. seja seu
futuro Ministro da Justiça —, ou pela recusa do jurista negro a um convite intrinsecamente
honroso, — haja ou não mero cálculo político em sua formulação. Convenhamos, na
situação quase “anormal” em que vive o Brasil, e boa parte do mundo, não tem
sentido desperdiçar tanta “energia cívica” — no caso mais importante que a
elétrica.
Conflitos
sociais exacerbados, secas devastadoras,
pancadaria nas ruas, homicídios rotineiros, ônibus queimados, lojas
saqueadas, ocupações de prédios, resistência violenta contra ordens judiciais, explosões
de caixas eletrônicas, menores criminosos certos de que não serão processados, decepção popular com a justiça e economia em
recessão. Tudo isso agravado por uma conjuntura mundial especialmente incerta e
atônita com estranhas “novidades”, tais como “Estado Islâmico”, Ébola,
pré-guerra na Ucrânia, tudo isso compondo a grande sopa da globalização.
Após 12
anos de domínio do PT a reeleição de Dilma poderá significar igual dose temporal
chefiando o Brasil. Uma revogação, na prática, da salutar recomendação de alternância
do poder. Vinte e quatro anos de chefia do Governo Federal significaria uma “quase
ditadura” com aparência democrática.
“Ditadura”,
porque parte substancial dos votos necessários à manutenção do poder, por tanto
tempo, viria de uma população sustentada — em boa parte —, por “bolsas”
fornecidas pelo sempre o mesmo governo candidato, hora de saia, hora com barba.
E ninguém desconhece que a preocupação com o próprio sustento — no caso o
eleitor — sobrepõe-se a qualquer consideração teórica sobre a utilidade
democrática da renovação dos governantes.
O “peso
votante” de tais “bolsas” é tão forte, nesta eleição brasileira, que nenhum
candidato de oposição se atreveu a prometer sequer “estudar” sua “redução
parcial”. Cancelá-las, então, seria suicídio político, sem direito à
retratação.
Não se
está aqui propondo que um futuro governo, diferente do PT, deva cancelar tais
“bolsas”. Isso poderia decretar até mesmo a fome súbita, tal o desamparo de
milhões de brasileiros.
Apenas
lembramos que uma generosa outorga de “bolsas” de todo tipo é uma quase novidade
— presumo, não sou especialista — na teoria política.
Algum doutrinador
antipático e impiedoso, “de direita”, poderia argumentar que um excesso de
“bolsas” significa compra de votos. E, mundialmente, a “compra de votos” é
considerada crime eleitoral. Penso que os estudiosos desse novo fenômeno social
discutirão mais a fundo esse fenômeno que permite a quase perpetuação no poder.
No resultado
oscilante e rápido das pesquisas de intenção de voto, a candidata Dilma, dias
atrás, venceria no primeiro turno, mas provavelmente perderia no segundo,
porque tem um firme nível de rejeição. Hoje, porém, dia 19 de setembro, já há previsão
de um empate técnico entre Dilma e Marina no 2º turno, comprovação da eficácia
da propaganda televisiva em um país em que pouco se lê.
Em
resumo: as coisas como estão, a duas semanas da eleição, mostram a
possibilidade de mais 12 anos de um partido em menor parte realmente intencionado
em favorecer as camadas mais pobres da população mas “moralmente contaminado” —
sem a menor dúvida —, por políticos e aproveitadores. A insuspeita Polícia
Federal e a mídia mostram, diariamente, uma rede consolidada de corrupção nos
subterrâneos do Governo Federal. Empresários, conversando longe dos microfones,
dizem que a corrupção, e a “comissão”, nunca estiveram tão altas e difundidas.
Opinião deles, não a minha, longe dos negócios.
Como os
complicados “mecanismos” de desvio de dinheiro público não se criam de um dia
para o outro, porque envolvem bancos, ministérios, secretarias, parlamentares,
funcionários e “laranjas”, quanto mais tempo disponível para a montagem da
sofisticada “máquina de engolir dinheiro público”, melhor para ela. Esse é mais
um argumento em favor da alternância do poder.
Questão
apenas de matemática. Em doze anos é mais fácil montar vastos e minuciosos
esquemas de corrupção — quase blindados à investigação — do que em quatro anos,
tempo usual de permanência no poder. Daí o papel do ex-ministro Joaquim Barbosa na eventual
função de “pausar” o PT no Governo Federal.
No entanto, se Joaquim Barbosa for convidado
para ser Ministro da Justiça de Aécio Neves
e, aceitando o convite, prometer que se empenhará, a fundo, no sentido
de corrigir uma série de distorções legislativas —, principalmente restabelecendo
a confiança popular na seriedade e eficácia da justiça — tudo indica que o PT
terá um recomendável descanso forçado. Pelo menos por quatro anos, prorrogáveis.
Não cabe,
aqui, discorrer sobre todos os pontos fracos de nossa legislação processual,
cível e penal, nem sobre as questões estritamente penais, hoje cada vez mais
mescladas com o Direito Constitucional e Administrativo. Mas Joaquim Barbosa e
demais sabedores desses temas delicados
— ou meramente espinhosos — sabem onde estão as “brechas” e trincas que forçam
os bons juízes a decidir, muitas vezes, violentando o próprio bom senso, obrigados que são a cumprir as leis em vigor.
Em suma,
e finalizando, os interessados nas virtudes inerentes à alternância do poder
esperam, inquietos — faltam duas semanas apenas para a eleição — o convite,
explícito e irretratável do candidato Aécio, bem como a aceitação corajosa do
combativo jurista mineiro. Talvez seja uma boa coincidência o fato de ambos
serem mineiros. Mas que não sigam a tradição de que “o mineiro trabalha em
silêncio”. No caso do esperado convite, a aceitação não poderá ser silenciosa.
Se a Ação
Penal 470 já foi uma “tourada jurídica”, ela o foi em plenário, no STF.
Doravante, a batalha será travada na redação das reformas difíceis e nas
discussões no Congresso Nacional.
Aguardemos,
confiantes no patriotismo de ambos.
(19-09-2014)
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