Algo que me aborrece, quase diariamente, é quando leio os constantes
ataques, carregados de distorções, contra Vladimir Putin em bons jornais — o
“Estadão”, por exemplo —; boas revistas — no caso a “Veja” — e em outros veículos fortemente influenciados
pelos forjadores, digo, “formadores de opinião”.
Refiro-me, especificamente, ao que ocorre atualmente em parte da
Ucrânia, isto é, na Criméia e nas províncias do Leste — talvez também no Sul, a
conferir —, cujas populações se identificam mais como sendo “russas” do que
como integrantes da União Europeia. Essa União foi, e ainda é, uma “boa ideia”,
deve persistir coesa mas, no momento, patina na área econômica, com vários países
mal administrados e com excesso de desempregados: Grécia, Itália, Espanha, etc.
Essa dificuldade da EU provavelmente
influi no desejo dos ucranianos “russófilos” de se tornarem cidadãos russos.
Estivesse a Rússia, no momento, na anarquia e no desemprego, mesmo os ucranianos
de língua russa talvez preferissem integrar a União Europeia.
Afinal, pergunta-se: não cabe aos próprios interessados decidir o seu
futuro? Na Criméia, foram os habitantes que tomaram a iniciativa da opção pela
cidadania russa, que mantiveram durante décadas, até a dissolução da União
Soviética. Mesmo os mais fanáticos inimigos de Putin não têm a coragem de argumentar
que os separatistas da Criméia e do Leste estão sendo coagidos a preferirem a
proteção da “asa” russa. Um referendum,
na Criméia, comprovou esse desejo com altíssima votação.
V. Putin deveria fazer ouvidos surdos a esse apelo? Fizesse isso, seria acusado de covardia.
Imaginemos — apenas para efeito de argumentação — que no México, em uma
longa faixa vizinha à fronteira americana, houvesse algumas províncias habitadas
por descendentes de norte-americanos, falando inglês e com hábitos americanos.
Imaginemos que tais habitantes, legalmente mexicanos, insistissem em uma separação
tópica, pretendendo a cidadania americana. Se tais movimentos fossem
hostilizados por soldados mexicanos, com prisões e morte dos “separatistas”, é
quase certeza que Barack Obama tomaria “providências”, inclusive armadas, de proteção dos “revoltosos”. O eleitorado americano pressionaria Obama
nesse sentido, sob pena de considerá-lo “medroso”.
É o que aconteceu, e ainda acontece, com Putin, que se vê obrigado a
ser solidário. Não acredito que essa rebelião dos habitantes da Criméia e dos
habitantes do Leste ucraniano tenha sido forjada por Putin, tendo em vista os enormes
riscos de um sangrento conflito, de resultado imprevisível, enfrentando EU,
Otan e EUA. Esse pesadelo só atrapalhará a economia russa, já vitimada por bloqueios econômicos,
diplomáticos e financeiros. A indústria armamentista mundial deve estar
eufórica com a perspectiva de novos lucros.
No fundo, no fundo, esse “carnaval belicoso” contra Putin esconde o
mero desejo europeu e americano de não perderem uma região com peso substancial.
Não é defesa de valores abstratos, jurídicos, a soberania ucraniana.
Em artigo de hoje, 11-9-14, pág. A22, no jornal “O Estado de S. Paulo”,
há um artigo de Gilles Lapouge, “Desejo de independência”, em que o brilhante e
experiente jornalista, que mora na França, disserta concisamente sobre os
vários movimentos de independência, que assustam vários países europeus. Apesar
de “separatistas”, tais movimentos são considerados normais, toleráveis. Não são
“criminalizados”, “putinizados” pela mídia. Seus líderes são pouco mencionados.
No entanto, o desejo de independência dos ucranianos do Leste, e da
Criméia, é considerado “prova” de que Putin quer “invadir”, “anexar’, “se
apossar”, de outros países, tentado “ampliar seu império” e renovar a Guerra
Fria.
É preciso muita “cara de pau”, de tais críticos, para distorcer o que
ocorre na Ucrânia. Haja madeira facial... Não é sem razão que existe um
movimento ecológico contra o abate de árvores. No tópico Ucrânia, pelo menos, Putin é vítima
da mentira quase geral da imprensa mundial.
Conforme nos lembra Gilles Lapouge — que não defende Putin no artigo — cerca
de metade dos escoceses pretende tornar-se independente da Inglaterra. Isso
será decidido em votação popular por esses dias. Na Bélgica , a Aliança Neoflamenga se declara
separatista. Na Espanha, o “País Basco” não desiste de se tornar uma nação.
Chegou a empregar o terrorismo explícito para isso.
Em 9 de novembro próximo — ainda por informação do respeitado Gilles
Lapouge — a Catalunha vai decidir, em referendo, se será ou não independente.
No Norte da Itália, na rica região de Turim, a população também quer se separar
da parte sul, pobre. Na França, a ilha de Córsega continua “fervendo” no seu
desejo de independência. E nada, praticamente se publica a respeito. Por que só
no caso da Ucrânia, com os separatistas morrendo às centenas, foi erigido um
“vilão”, Putin?
Leitor de um grande jornal paulista, leio praticamente todos os artigos
de opinião, principalmente da área internacional. Na sua maioria, tais artigos
são redigidos por jornalistas, em inglês, bem traduzidos para o português.
Quando o assunto é “V. Putin’, só pelo sobrenome do redator dá para prever que
o articulista defenderá, no seu artigo, os interesses indiretos de Israel,
hostis à Putin e à Rússia. Tudo o que Putin fala é distorcido de forma
proposital. Honestidade mental zero.
Qual a explicação mais provável desse ataque midiático sistemático de
articulistas, ligados racialmente a Israel, contra Putin e seu governo? É que a
Rússia — portanto V. Putin — é aliada da Síria. Fornece a ela ajuda de todo
tipo, inclusive — tudo indica — foguetes
semi-artesanais. E a Síria, apoiadora do
Hamas, provavelmente envia tais foguetes aos palestinos que, em Gaza,
atormentam Israel, que logo revida em escala gigantesca. Se EUA, Otan e EU entrarem
em combate contra a Rússia, certamente isso enfraquecerá ou fará cessar o apoio
russo à Síria. E esta deixará o Hamas sem armas. Essa a explicação para a
campanha de distorção da imprensa internacional, e brasileira, contra Putin.
Enfim, tudo indica que a campanha maciça, pela “imprensa
internacional”, contra a postura de Putin na Ucrânia tem explicação no
patriotismo dos jornalistas ligados racialmente a Israel. A guerra, em qualquer
país, aumenta o patriotismo dos seus cidadãos.
Quando Israel entrou em guerra declarada contra o Hamas — como ocorreu
na invasão recente da Faixa de Gaza —, mesmo os judeus mais sensatos —
favoráveis à criação de dois Estados —, posicionaram-se a favor de seu país. A
possibilidade, remotíssima, de ver seu país derrotado e destruído tem um peso emocional
muito maior que o mero sentimento de justiça de alguns judeus, favoráveis aos palestinos,
que querem também adquirir o status de Estado. Tratando-se de guerra de
verdade, o patriotismo prevalece sobre tudo o mais, “obrigando” o jornalista a
arregaçar as mangas e defender seu país da maneira que lhe cabe: escrevendo. Se
necessário, mentindo, “em favor da pátria”. Isso explica as evidentes
distorções da maioria dos artigos criticando V. Putin.
Uma das deturpações evidentes das palavras do presidente russo ocorreu
quando ele disse, poucos dias atrás, em conversa, por telefone, com o português
José Manuel Durão Barroso — presidente da Comissão Europeia — que “poderia
tomar Kiev em duas semanas”.
Obviamente, Putin quis, com essa frase, dizer que “não tinha nem tem qualquer
intenção de invadir a Ucrânia, porque — caso assim quisesse — não lhe faltaria
poder militar para tanto. Já poderia ter feito isso antes, em poucos dias”.
É evidente que esse foi o espírito da frase. E o ministro russo de
relações exteriores já disse que a fala de Putin foi “citada fora do contexto”.
Ele não iria, tolamente, falar como um
rapazola “garganta”, dialogando com o presidente da Comissão Europeia,
como que convidando para ser atacado pela tríade poderosíssima da Otan, EUA e
UE. Seria um convite ao suicídio.
Como, porém, interessava à mídia, notadamente aquela favorável a Israel
— presente em todos os países — demolir ou
enfraquecer a Rússia, ela fingiu entender mal suas palavras, invertendo o
sentido. Nas “guerras”, a mentira é a regra. E, “data venia”, Durão Barroso deveria
ter sido mais discreto. Se em dúvida sobre o sentido da frase, deveria ter
perguntado, de imediato, se Putin tinha a intenção de invadir toda a Ucrânia.
Por causa de uma frase mal interpretada milhares ou milhões poderão
morrer.
Como explicarei em meu novo site, www.governomundial.com.br,
essas campanhas incentivadoras de guerras precisam parar, antes que seja tarde
demais. Todo habitante deste planeta precisa se habituar a ler jornais,
revistas e internet “com um pé atrás”, meio desconfiado, porque o bicho homem
tem uma incoercível — bonita palavra em tema tão sujo... — vocação para a
desonestidade mental.
Se V. Putin merece censuras, será por outros motivos.
(11-09-2014)
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