sábado, 13 de setembro de 2014

V. Putin está sendo mal interpretado

Algo que me aborrece, quase diariamente, é quando leio os constantes ataques, carregados de distorções, contra Vladimir Putin em bons jornais — o “Estadão”, por exemplo —; boas revistas — no caso a “Veja” —  e em outros veículos fortemente influenciados pelos forjadores, digo, “formadores de opinião”.
Refiro-me, especificamente, ao que ocorre atualmente em parte da Ucrânia, isto é, na Criméia e nas províncias do Leste — talvez também no Sul, a conferir —, cujas populações se identificam mais como sendo “russas” do que como integrantes da União Europeia. Essa União foi, e ainda é, uma “boa ideia”, deve persistir coesa mas, no momento, patina na área econômica, com vários países mal administrados e com excesso de desempregados: Grécia, Itália, Espanha, etc.
 Essa dificuldade da EU provavelmente influi no desejo dos ucranianos “russófilos” de se tornarem cidadãos russos. Estivesse a Rússia, no momento, na anarquia e no desemprego, mesmo os ucranianos de língua russa talvez preferissem integrar a União Europeia.
Afinal, pergunta-se: não cabe aos próprios interessados decidir o seu futuro? Na Criméia, foram os habitantes que tomaram a iniciativa da opção pela cidadania russa, que mantiveram durante décadas, até a dissolução da União Soviética. Mesmo os mais fanáticos inimigos de Putin não têm a coragem de argumentar que os separatistas da Criméia e do Leste estão sendo coagidos a preferirem a proteção da “asa” russa.  Um referendum, na Criméia, comprovou esse desejo com altíssima votação.
V. Putin deveria fazer ouvidos surdos a esse apelo?  Fizesse isso, seria acusado de covardia.
Imaginemos — apenas para efeito de argumentação — que no México, em uma longa faixa vizinha à fronteira americana, houvesse algumas províncias habitadas por descendentes de norte-americanos, falando inglês e com hábitos americanos. Imaginemos que tais habitantes, legalmente mexicanos, insistissem em uma separação tópica, pretendendo a cidadania americana. Se tais movimentos fossem hostilizados por soldados mexicanos, com prisões e morte dos “separatistas”, é quase certeza que Barack Obama tomaria “providências”, inclusive  armadas, de proteção dos “revoltosos”.  O eleitorado americano pressionaria Obama nesse sentido, sob pena de considerá-lo “medroso”.
É o que aconteceu, e ainda acontece, com Putin, que se vê obrigado a ser solidário. Não acredito que essa rebelião dos habitantes da Criméia e dos habitantes do Leste ucraniano tenha sido forjada por Putin, tendo em vista os enormes riscos de um sangrento conflito, de resultado imprevisível, enfrentando EU, Otan e EUA. Esse pesadelo só atrapalhará a economia russa,  já vitimada por bloqueios econômicos, diplomáticos e financeiros. A indústria armamentista mundial deve estar eufórica com a perspectiva de novos lucros.
No fundo, no fundo, esse “carnaval belicoso” contra Putin esconde o mero desejo europeu e americano de não perderem uma região com peso substancial. Não é defesa de valores abstratos, jurídicos, a soberania ucraniana.
Em artigo de hoje, 11-9-14, pág. A22, no jornal “O Estado de S. Paulo”, há um artigo de Gilles Lapouge, “Desejo de independência”, em que o brilhante e experiente jornalista, que mora na França, disserta concisamente sobre os vários movimentos de independência, que assustam vários países europeus. Apesar de “separatistas”, tais movimentos são considerados normais, toleráveis. Não são “criminalizados”, “putinizados” pela mídia. Seus líderes são pouco mencionados.
No entanto, o desejo de independência dos ucranianos do Leste, e da Criméia, é considerado “prova” de que Putin quer “invadir”, “anexar’, “se apossar”, de outros países, tentado “ampliar seu império” e renovar a Guerra Fria.
É preciso muita “cara de pau”, de tais críticos, para distorcer o que ocorre na Ucrânia. Haja madeira facial... Não é sem razão que existe um movimento ecológico contra o abate de árvores.  No tópico Ucrânia, pelo menos, Putin é vítima da mentira quase geral da imprensa mundial.
Conforme nos lembra Gilles Lapouge — que não defende Putin no artigo — cerca de metade dos escoceses pretende tornar-se independente da Inglaterra. Isso será decidido em votação popular por esses dias.  Na Bélgica , a Aliança Neoflamenga se declara separatista. Na Espanha, o “País Basco” não desiste de se tornar uma nação. Chegou a empregar o terrorismo explícito para isso.
Em 9 de novembro próximo — ainda por informação do respeitado Gilles Lapouge — a Catalunha vai decidir, em referendo, se será ou não independente. No Norte da Itália, na rica região de Turim, a população também quer se separar da parte sul, pobre. Na França, a ilha de Córsega continua “fervendo” no seu desejo de independência. E nada, praticamente se publica a respeito. Por que só no caso da Ucrânia, com os separatistas morrendo às centenas, foi erigido um “vilão”, Putin?
Leitor de um grande jornal paulista, leio praticamente todos os artigos de opinião, principalmente da área internacional. Na sua maioria, tais artigos são redigidos por jornalistas, em inglês, bem traduzidos para o português. Quando o assunto é “V. Putin’, só pelo sobrenome do redator dá para prever que o articulista defenderá, no seu artigo, os interesses indiretos de Israel, hostis à Putin e à Rússia. Tudo o que Putin fala é distorcido de forma proposital. Honestidade mental zero.
Qual a explicação mais provável desse ataque midiático sistemático de articulistas, ligados racialmente a Israel, contra Putin e seu governo? É que a Rússia — portanto V. Putin — é aliada da Síria. Fornece a ela ajuda de todo tipo, inclusive — tudo indica —  foguetes semi-artesanais.  E a Síria, apoiadora do Hamas, provavelmente envia tais foguetes aos palestinos que, em Gaza, atormentam Israel, que logo revida em escala gigantesca. Se EUA, Otan e EU entrarem em combate contra a Rússia, certamente isso enfraquecerá ou fará cessar o apoio russo à Síria. E esta deixará o Hamas sem armas. Essa a explicação para a campanha de distorção da imprensa internacional, e brasileira, contra Putin.
Enfim, tudo indica que a campanha maciça, pela “imprensa internacional”, contra a postura de Putin na Ucrânia tem explicação no patriotismo dos jornalistas ligados racialmente a Israel. A guerra, em qualquer país, aumenta o patriotismo dos seus cidadãos.
Quando Israel entrou em guerra declarada contra o Hamas — como ocorreu na invasão recente da Faixa de Gaza —, mesmo os judeus mais sensatos — favoráveis à criação de dois Estados —, posicionaram-se a favor de seu país. A possibilidade, remotíssima, de ver seu país derrotado e destruído tem um peso emocional muito maior que o mero sentimento de justiça de alguns judeus, favoráveis aos palestinos, que querem também adquirir o status de Estado. Tratando-se de guerra de verdade, o patriotismo prevalece sobre tudo o mais, “obrigando” o jornalista a arregaçar as mangas e defender seu país da maneira que lhe cabe: escrevendo. Se necessário, mentindo, “em favor da pátria”. Isso explica as evidentes distorções da maioria dos artigos criticando V. Putin.
Uma das deturpações evidentes das palavras do presidente russo ocorreu quando ele disse, poucos dias atrás, em conversa, por telefone, com o português José Manuel Durão Barroso — presidente da Comissão Europeia — que “poderia tomar Kiev em duas semanas”.
Obviamente, Putin quis, com essa frase, dizer que “não tinha nem tem qualquer intenção de invadir a Ucrânia, porque — caso assim quisesse — não lhe faltaria poder militar para tanto. Já poderia ter feito isso antes, em poucos dias”.
É evidente que esse foi o espírito da frase. E o ministro russo de relações exteriores já disse que a fala de Putin foi “citada fora do contexto”. Ele não iria, tolamente, falar como um  rapazola “garganta”, dialogando com o presidente da Comissão Europeia, como que convidando para ser atacado pela tríade poderosíssima da Otan, EUA e UE. Seria um convite ao suicídio.
Como, porém, interessava à mídia, notadamente aquela favorável a Israel — presente em todos os países —  demolir ou enfraquecer a Rússia, ela fingiu entender mal suas palavras, invertendo o sentido. Nas “guerras”, a mentira é a regra. E, “data venia”, Durão Barroso deveria ter sido mais discreto. Se em dúvida sobre o sentido da frase, deveria ter perguntado, de imediato, se Putin tinha a intenção de invadir toda a Ucrânia.
Por causa de uma frase mal interpretada milhares ou milhões poderão morrer.
Como explicarei em meu novo site, www.governomundial.com.br, essas campanhas incentivadoras de guerras precisam parar, antes que seja tarde demais. Todo habitante deste planeta precisa se habituar a ler jornais, revistas e internet “com um pé atrás”, meio desconfiado, porque o bicho homem tem uma incoercível — bonita palavra em tema tão sujo... — vocação para a desonestidade mental.
Se V. Putin merece censuras, será por outros motivos.
(11-09-2014)

                                             

   




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