domingo, 7 de setembro de 2014

Aécio e Marina precisam do “volume morto” (eleitoral) de Joaquim Barbosa.

Inicialmente, para quem não é paulista, uma explicação da metáfora meio chocante usada no título.
O município de São Paulo é abastecido de água por um conjunto de represas que formam o Sistema Cantareira.
Com a inesperada e longa falta de chuva nas cabeceiras dos rios que formam o referido “sistema”, a única saída possível para o governo estadual continuar fornecendo água aos paulistanos — e cidades vizinhas —, foi captar a água existente bem no fundo dos reservatórios, algo que só se faz quando a falta dela chega a uma situação alarmante. Tão crítica que essa água “escondida”, embora salvadora, recebeu o lúgubre apelido de “volume morto”, mais usado, na mídia, que a designação correta: “reserva técnica”.
Esta explicação é necessária — para os não paulistas —, porque sem ela leitores de outros Estados da Federação poderiam pensar que o “morto” do título poderia ser uma metáfora hostil ao competente e combativo ministro do Supremo Tribunal Federal que — na ativa ou aposentado —, goza de imenso prestígio popular e, consequentemente, eleitoral. É o que confirma uma pesquisa de intenção de voto, da Datafolha, na eleição de 2014.
De “morto” o incisivo ministro não tem nada. De “técnico” tem muito. Afastado, por vontade própria, do STF, pediu “um tempo” para descansar, recarregar as baterias, tratar da saúde e possivelmente entrar na política, talvez como candidato à presidência em 2018.
Toda metáfora implica alguma analogia, uma ideia sugerindo outra. Assim como a “reserva técnica” será a salvação “aquosa” dos paulistas, Joaquim Barbosa poderia ser a salvação “votante” de Aécio Neves e/ou de Marina Silva, levando renovada esperança a alguns milhões de brasileiros que não se sente especialmente entusiasmados com os atuais candidatos.
Segundo reportagem da “Folha de S. Paulo”, de 5-9-2014, “Joaquim Barbosa é o 2º voto mais influente da eleição”. O jornal baseia-se em levantamento feito pelo Datafolha em 5 de junho de 2014: “26% dos eleitores afirmam que “com certeza” votariam num candidato indicado por Barbosa, e Além disso outros 26% dizem que “talvez” pudessem votar em alguém apoiado por ele”.
Joaquim Babosa não pode receber voto na próxima eleição porque não é candidato. E também, pelo seu temperamento, não faria campanha eleitoral, discursando em palanques, ou na TV, em favor de qualquer candidato da oposição.
No entanto, se Aécio, ou Marina dissesse — a sério, olho no olho — que J. Barbosa seria seu Ministro da Justiça, para as inadiáveis reformas legislativas, atacando a impunidade, a burocracia e a lentidão judiciária — causada por leis processuais ineficazes  — essa simples promessa   acrescentaria milhões de votos a Aécio e/ou Marina. Ou a ambos, se os dois prometessem utilizar Barbosa como Ministro da Justiça pelo tempo que fosse necessário para “desratizar” a máquina pública. Quando a justiça é respeitada — ou temida e honesta — o mero temor das consequências inibe o crime violento e as variadas formas de corrupção.
Obviamente, esse “anúncio” de quem seria o Ministro da Justiça só poderia ser feito após prévia consulta a J. Barbosa que, provavelmente, não se furtaria a tão saneadora missão. Seria boa até para ele mesmo, que comprovaria, com fatos — uma legislação inteligente apresentada por iniciativa do Executivo — que não é um jurista apenas corajoso e franco, mas age como estadista, desestimulando más-condutas. Com isso poderia, talvez, se candidatar futuramente à presidência.
Sei perfeitamente que boa parte dos advogados e magistrados brasileiros não toleram J. Barbosa, por causa de sua franqueza, considerada “excessiva”. Os criminalistas, especialmente, porque ele aceita e aplica teorias perigosas para seus clientes em posição de alta chefia nas suas empresas — o “domínio do fato”, por exemplo.
A tradição de convivência, na justiça brasileira, foi sempre de circunlóquios e floridos elogios quando o magistrado discorda — com mil desculpas — de uma opinião contrária, ou quando nega um pedido. Essa “via direta”, extremamente franca de J. Barbosa, dizendo “sim” ou “não”, é o que mais agradou o povo brasileiro, cansado daquilo que descreve como sendo “um blá-blá-blá que sempre resulta em impunidade dos grandes”.
Certa ou errada essa opinião popular o fato é que se Aécio ou Marina prometerem “contratar” J. Barbosa como Ministro da Justiça, por longo período, milhões de votos destinados à Dilma Rousseff migrarão para candidato que incluiu o ex-ministro do STF no seu “programa de governo”. Só assim é que haverá, com certeza, o “descanso” do PT na condução da política nacional, pelo menos por quatro anos, ou talvez mais.
Essa a justificação da imagem de Joaquim Barbosa como o “volume morto”. Um enorme potencial eleitoral, desaproveitado na mais importante eleição dos últimos anos. Se ele fosse convidado por Dilma, obviamente não aceitaria, por razões que todos conhecem. E Dilma preferiria morrer a convidá-lo.
Não sou “expert” em coisa alguma. Muito menos em campanhas eleitorais, mas é obviamente absurda a troca de farpas entre Aécio e Marina. Quando Aécio ataca Marina, a posição eleitoral desta diminui na semana seguinte. E para onde vão os votos que seriam dela? Vão para Dilma, mais provavelmente.
Marina já foi do PT por muitos anos. Permaneceu, dessa convivência, um resquício de identificação e amizade com velhos companheiros. E quando Marina ataca Aécio, eleitores que votariam nele talvez  votem em Dilma, ou em branco. Não necessariamente em Marina.
Qualquer um vê que a prioridade agora é tirar votos de Dilma. Ela ganhando, Lula retornará em 2018. Aécio precisa se conscientizar de que, queira ou não, faz parte de uma “equipe”, de uma “missão”  de urgente renovação da política brasileira. Ele e Marina têm um inimigo comum: o PT.
Aécio é um político jovem e inteligente. Poderá se candidatar outras vezes à presidente da república.
Caso insista em atacar Marina, desapontará aqueles que querem — ou melhor, anseiam —  por um Brasil mais honesto e ordeiro.
Quanto à J. Barbosa, por favor, não desperdice seu peso eleitoral em momento tão decisivo. Torne “vivo” algo que está “morto”. Se convidado para futuro ministro, aceite, caso pretenda realizar um novo “mensalão” até mais “virtuoso” que o primeiro, porque preventivo dos crimes.
Quanto à “franqueza excessiva” de J.  Barbosa, trata-se de um problema menor, um hábito de conduta que pode ser corrigido sem muito esforço de seu portador. Sem prejuízo da firmeza necessária em suas futuras propostas legislativas , quando consciente de que em dilemas morais não é lícito transigir.
(06-09-2014)

   

                        

Nenhum comentário:

Postar um comentário