Inicialmente, para quem
não é paulista, uma explicação da metáfora meio chocante usada no título.
O município de São Paulo é
abastecido de água por um conjunto de represas que formam o Sistema Cantareira.
Com a inesperada e longa
falta de chuva nas cabeceiras dos rios que formam o referido “sistema”, a única
saída possível para o governo estadual continuar fornecendo água aos
paulistanos — e cidades vizinhas —, foi captar a água existente bem no fundo
dos reservatórios, algo que só se faz quando a falta dela chega a uma situação alarmante.
Tão crítica que essa água “escondida”, embora salvadora, recebeu o lúgubre apelido
de “volume morto”, mais usado, na mídia, que a designação correta: “reserva
técnica”.
Esta explicação é
necessária — para os não paulistas —, porque sem ela leitores de outros Estados
da Federação poderiam pensar que o “morto” do título poderia ser uma metáfora
hostil ao competente e combativo ministro do Supremo Tribunal Federal que — na
ativa ou aposentado —, goza de imenso prestígio popular e, consequentemente,
eleitoral. É o que confirma uma pesquisa de intenção de voto, da Datafolha, na
eleição de 2014.
De “morto” o incisivo ministro
não tem nada. De “técnico” tem muito. Afastado, por vontade própria, do STF,
pediu “um tempo” para descansar, recarregar as baterias, tratar da saúde e
possivelmente entrar na política, talvez como candidato à presidência em 2018.
Toda metáfora implica alguma
analogia, uma ideia sugerindo outra. Assim como a “reserva técnica” será a
salvação “aquosa” dos paulistas, Joaquim Barbosa poderia ser a salvação “votante”
de Aécio Neves e/ou de Marina Silva, levando renovada esperança a alguns milhões
de brasileiros que não se sente especialmente entusiasmados com os atuais
candidatos.
Segundo reportagem da
“Folha de S. Paulo”, de 5-9-2014, “Joaquim Barbosa é o 2º voto mais influente
da eleição”. O jornal baseia-se em levantamento feito pelo Datafolha em 5 de
junho de 2014: “26% dos eleitores afirmam que “com certeza” votariam num
candidato indicado por Barbosa, e Além disso outros 26% dizem que “talvez”
pudessem votar em alguém apoiado por ele”.
Joaquim Babosa não pode
receber voto na próxima eleição porque não é candidato. E também, pelo seu
temperamento, não faria campanha eleitoral, discursando em palanques, ou na TV,
em favor de qualquer candidato da oposição.
No entanto, se Aécio, ou
Marina dissesse — a sério, olho no olho — que J. Barbosa seria seu Ministro da
Justiça, para as inadiáveis reformas legislativas, atacando a impunidade, a
burocracia e a lentidão judiciária — causada por leis processuais ineficazes — essa simples promessa acrescentaria milhões de votos a Aécio e/ou
Marina. Ou a ambos, se os dois prometessem utilizar Barbosa como Ministro da
Justiça pelo tempo que fosse necessário para “desratizar” a máquina pública.
Quando a justiça é respeitada — ou temida e honesta — o mero temor das
consequências inibe o crime violento e as variadas formas de corrupção.
Obviamente, esse “anúncio”
de quem seria o Ministro da Justiça só poderia ser feito após prévia consulta a
J. Barbosa que, provavelmente, não se furtaria a tão saneadora missão. Seria
boa até para ele mesmo, que comprovaria, com fatos — uma legislação inteligente
apresentada por iniciativa do Executivo — que não é um jurista apenas corajoso
e franco, mas age como estadista, desestimulando más-condutas. Com isso
poderia, talvez, se candidatar futuramente à presidência.
Sei perfeitamente que boa
parte dos advogados e magistrados brasileiros não toleram J. Barbosa, por causa
de sua franqueza, considerada “excessiva”. Os criminalistas, especialmente, porque
ele aceita e aplica teorias perigosas para seus clientes em posição de alta chefia
nas suas empresas — o “domínio do fato”, por exemplo.
A tradição de convivência,
na justiça brasileira, foi sempre de circunlóquios e floridos elogios quando o
magistrado discorda — com mil desculpas — de uma opinião contrária, ou quando
nega um pedido. Essa “via direta”, extremamente franca de J. Barbosa, dizendo “sim”
ou “não”, é o que mais agradou o povo brasileiro, cansado daquilo que descreve
como sendo “um blá-blá-blá que sempre resulta em impunidade dos grandes”.
Certa ou errada essa
opinião popular o fato é que se Aécio ou Marina prometerem “contratar” J.
Barbosa como Ministro da Justiça, por longo período, milhões de votos
destinados à Dilma Rousseff migrarão para candidato que incluiu o ex-ministro
do STF no seu “programa de governo”. Só assim é que haverá, com certeza, o
“descanso” do PT na condução da política nacional, pelo menos por quatro anos,
ou talvez mais.
Essa a justificação da
imagem de Joaquim Barbosa como o “volume morto”. Um enorme potencial eleitoral,
desaproveitado na mais importante eleição dos últimos anos. Se ele fosse convidado
por Dilma, obviamente não aceitaria, por razões que todos conhecem. E Dilma
preferiria morrer a convidá-lo.
Não sou “expert” em coisa
alguma. Muito menos em campanhas eleitorais, mas é obviamente absurda a troca
de farpas entre Aécio e Marina. Quando Aécio ataca Marina, a posição eleitoral
desta diminui na semana seguinte. E para onde vão os votos que seriam dela? Vão
para Dilma, mais provavelmente.
Marina já foi do PT por
muitos anos. Permaneceu, dessa convivência, um resquício de identificação e
amizade com velhos companheiros. E quando Marina ataca Aécio, eleitores que
votariam nele talvez votem em Dilma, ou
em branco. Não necessariamente em Marina.
Qualquer um vê que a
prioridade agora é tirar votos de Dilma. Ela ganhando, Lula retornará em 2018.
Aécio precisa se conscientizar de que, queira ou não, faz parte de uma
“equipe”, de uma “missão” de urgente
renovação da política brasileira. Ele e Marina têm um inimigo comum: o PT.
Aécio é um político jovem
e inteligente. Poderá se candidatar outras vezes à presidente da república.
Caso insista em atacar
Marina, desapontará aqueles que querem — ou melhor, anseiam — por um Brasil mais honesto e ordeiro.
Quanto à J. Barbosa, por
favor, não desperdice seu peso eleitoral em momento tão decisivo. Torne “vivo”
algo que está “morto”. Se convidado para futuro ministro, aceite, caso pretenda
realizar um novo “mensalão” até mais “virtuoso” que o primeiro, porque
preventivo dos crimes.
Quanto à “franqueza
excessiva” de J. Barbosa, trata-se de um
problema menor, um hábito de conduta que pode ser corrigido sem muito esforço
de seu portador. Sem prejuízo da firmeza necessária em suas futuras propostas
legislativas , quando consciente de que em dilemas morais não é lícito
transigir.
(06-09-2014)
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