“Tenho mais medo de três jornais do que de cem baionetas”. (Napoleão Bonaparte)
Mario
Vargas Llosa, o escritor peruano, é uma unanimidade mundial: talentoso, Prêmio
Nobel, mentalmente honesto, inteligente e bem informado.
Pena
é que, mesmo com tantas qualidades, Llosa formou, sem culpa própria, uma
opinião equivocada, tendenciosa, sobre o que está agora acontecendo no Brasil,
no combate contra o coronavírus.
Não
morando no Brasil, baseando-se, provavelmente, no que lê na mídia internacional
sobre Jair Bolsonaro e a pandemia, Vargas Llosa escreveu um artigo — “O exemplo
uruguaio” —, publicado no jornal O Estado de S. Paulo (07/06/2020), elogiando
profusamente o novo presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, pela maneira liberal,
não ditatorial, com que tem confrontado a pandemia da covid-19.
Nesse texto, Vargas Llosa ataca Bolsonaro, como
se o presidente brasileiro tivesse uma opinião contrária à do presidente
uruguaio, quando ela é justamente a mesma. Bolsonaro pensa exatamente como o
novo presidente peruano, contrários, ambos, ao excesso de manter as pessoas
fora das ruas, em quarentenas prolongadas, com a economia quase totalmente parada
por meses.
Elogiando
Luis Lacalle, Vargas Llosa escreveu no artigo que “(...) Lacalle Pou resistiu à
decretação de uma quarentena, como fizeram tantos países no mundo. Apelando
para a responsabilidade dos cidadãos, ele declarou que ninguém que quisesse
sair para a rua ou continuar trabalhando seria impedido de fazê-lo, multado ou
preso, e não haveria aumento de impostos, pois a empresa privada desempenha um
papel central na recuperação econômica do país, após a catástrofe. Apenas seriam
suspensas as aulas nos colégios e as fronteiras seriam momentaneamente
fechadas”. (Observação: Bolsonaro também sempre foi pessoalmente contrário a
impedir os brasileiros de trabalhar normalmente.
Concordou apenas em manter os
idosos em casa, no que denominou “modelo vertical”)
Mais
adiante, V. Llosa escreve: (...) “O grande problema que o Uruguai enfrenta é
sua fronteira com o Brasil, uma cidade que ambos compartilham, e onde, com o
caos brasileiro criado por Jair Bolsonaro, os casos do coronavírus se
multiplicam”. (Por que “caos”? Bolsonaro, embora contrário ao confinamento
maciço, não conseguiu ser obedecido, nem pelos seus ministros da saúde, nem
pelos governadores, nem pelos prefeitos, e sempre foi hostilizado pela imprensa
e pelos ministros do STF, este Poder decidindo como se tivesse um Poder duplo,
o de julgar e o de administrar o país.
Um
pouco mais adiante, Llosa acrescenta o que pensa sobre Lacalle Pou: “Com sua
corajosa atitude frente ao flagelo que se abate sobre o mundo, ele poderá
poupar ao Uruguai boa parte da catástrofe econômica que se abaterá sobre os
países cujos governos, apavorados pela pandemia, e a perda de popularidade, se
apressaram a fechar fábricas e lojas e a impor um confinamento extremamente
severo, ou a anunciar aumentos de impostos e estatizações, sem pensar que tudo
isso contribuirá para agravar a tragédia econômica, uma das heranças da praga e
a mais difícil de sanar” (Igualzinho ao que Bolsonaro sempre disse nos seus
pronunciamentos).
Quem
vive longe de um país que raramente visita — é o caso de Vargas Lhosa, distante
muitos anos depois de escrever “A guerra do fim do mundo” —, forma sua opinião
política com base no que lê nos melhores jornais, impressos na sua própria
língua nativa e em outras faladas no mundo culto.
Os
três melhores jornais brasileiros que mais escrevem sobre Bolsonaro e o Coronavírus
são, certamente, o Estadão, a Folha de S. Paulo e “O Globo”. Correspondem,
profeticamente, aos três jornais mencionados por Napoleão na epígrafe deste
artigo. Causam medo em qualquer chefe de governo, porque doutrinando os
leitores e evitando publicar opiniões contrárias, criam uma unanimidade
artificial. Não fossem discordâncias da redes sociais, Bolsonaro já estaria em
casa, ou na cadeia.
Acontece
que tanto a diretoria de tais jornais brasoleiros quanto os jornalistas que nela
trabalham estão, há meses, ressentidos com estilo aguerrido, pesado, de
Bolsonaro, que se defende atacando. Melindrados, esses três jornais se uniram
para dar “uma lição” no presidente, sempre o hostilizando, deturpando suas
intenções. Como Bolsonaro não tem formação livresca, está longe de ser um
erudito e fala conforme pensa e sente, essa franqueza ofende repórteres que se
acham no direito de revidar e castigar, em entrevistas e outros contatos, só
fazendo perguntas cuja resposta possa diminuir o entrevistado.
Não
me lembro de ter lido, em entrevistas recentes do presidente, o entrevistador fazendo
perguntas amenas. Outras figuras políticas, quando ouvidas, são melhor
tratadas. Com Bolsonaro é só pergunta hostil, desagradável, querendo prejudicar
o entrevistado com minúcias e eventuais vexames envolvendo parentes, o cônjuge
ou empregados. Até parece que o repórter já veio orientado para não fazer
qualquer pergunta cuja resposta possa melhorar a imagem de quem responde.
Um
tema especialmente presente quando se entrevista Jair Bolsonaro é pinçar atos
ou frases proferidas por seus filhos, como se o presidente fosse obrigado a
calar a boca de três homens adultos, exercendo função pública. Seus filhos são
políticos legitimamente eleitos. Como tais, podem emitir suas opiniões, sem ter
que antes consultar o pai. Um é vereador, outro é deputado estadual e o mais
novo é senador. Tendo jurado, como parlamentares, cumprir as leis e lutar livremente
pelo que pensam, não é exigível — nem mesmo tecnicamente —, que os três fiquem
impossibilitados de dar opinião em assuntos políticos que de alguma formam se
relacionem com o pai. Que cada filho responda por seus atos. Se o presidente
decidir admoestar o filho, em particular, que o faça, mas seria demais
obrigá-lo a convocar a imprensa para presenciar o “carão”. O filho, senador,
deputado, ou vereador, ficaria desmoralizado, e seu eleitor logo pensaria: — “Como
votei nesse idiota novato, nesse sangue de barata que leva pito do pai, em
público, como se fosse um menino”?
Outra
coisa que aumenta a má-informação dos países europeus sobre a atual
presidência, no Brasil, é a permissão de Dilma, Lula e amigos poderem sair pelo
mundo fazendo palestras e dando entrevistas desancando o presidente que os
derrotou nas urnas. Sem um contraditório, a plateia estrangeira engole qualquer
versão.
Com
voos e estadias pagas pelo governo brasileiro, acompanhados de inúmeros
assessores, esse pessoal molda a “realidade” conforme seu gosto e rancor. A audiência
estrangeira, não sabendo o que realmente ocorre no Brasil, talvez tente, depois,
um ou outro, se informar um pouco mais, na mídia de seu próprio país.
Lendo,
porém, nos jornais, as transcrições dos piores momentos e palavrões proferidos
em reunião privada governamental — em momentos de desabafo —, fica horrorizada
com o que ouve e conclui que “esse presidente brasileiro é mesmo “um monstro
ignorante, um ‘caos’, devendo ser logo expulso da função”.
Por
sua vez, a imprensa brasileira, lendo tais opiniões estrangeiras apressa-se a difundir
aqui esse mau juízo estrangeiro que é o mero resultado da própria campanha
brasileira de desmoralização de um presidente que tem alguns defeitos sérios de
comunicação verbal mas ainda não decepcionou seus eleitores na intenção de
estancar roubalheira no país.
Os
eleitores de Bolsonaro, de primeira hora, continuam pensando: — Entre um
presidente “grosso, mas honesto” e outro “fino, culto”, mas inconfiável, ainda
fico com o primeiro”.
Jornais
certamente não gostarão deste artigo. Lamento, mas é minha opinião. Sou ainda assinante
das duas versões do Estadão, em papel e on-line; e da Folha e de O Globo,
apenas on-line. Do Estadão, gosto da página 2 — apesar dos ataques diários ao
Bolsonaro —, dos cronistas, menos um, e do erudito “Aliás” aos domingos (no
momento enxutos demais). Espero que a isenção volte a prevalecer no futuro
próximo, mantendo a velha tradição dos Mesquita.
Poderíamos
continuar, mas quem aguentaria ler mais parágrafos?
(12/06/2020)
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