sexta-feira, 12 de junho de 2020

O perigo de ter uma imprensa inimiga


“Tenho mais medo de três jornais do que de cem baionetas”. (Napoleão Bonaparte)


Mario Vargas Llosa, o escritor peruano, é uma unanimidade mundial: talentoso, Prêmio Nobel, mentalmente honesto, inteligente e bem informado.  

Pena é que, mesmo com tantas qualidades, Llosa formou, sem culpa própria, uma opinião equivocada, tendenciosa, sobre o que está agora acontecendo no Brasil, no combate contra o coronavírus.

Não morando no Brasil, baseando-se, provavelmente, no que lê na mídia internacional sobre Jair Bolsonaro e a pandemia, Vargas Llosa escreveu um artigo — “O exemplo uruguaio” —, publicado no jornal O Estado de S. Paulo (07/06/2020), elogiando profusamente o novo presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, pela maneira liberal, não ditatorial, com que tem confrontado a pandemia da covid-19.

 Nesse texto, Vargas Llosa ataca Bolsonaro, como se o presidente brasileiro tivesse uma opinião contrária à do presidente uruguaio, quando ela é justamente a mesma. Bolsonaro pensa exatamente como o novo presidente peruano, contrários, ambos, ao excesso de manter as pessoas fora das ruas, em quarentenas prolongadas, com a economia quase totalmente parada por meses.

Elogiando Luis Lacalle, Vargas Llosa escreveu no artigo que “(...) Lacalle Pou resistiu à decretação de uma quarentena, como fizeram tantos países no mundo. Apelando para a responsabilidade dos cidadãos, ele declarou que ninguém que quisesse sair para a rua ou continuar trabalhando seria impedido de fazê-lo, multado ou preso, e não haveria aumento de impostos, pois a empresa privada desempenha um papel central na recuperação econômica do país, após a catástrofe. Apenas seriam suspensas as aulas nos colégios e as fronteiras seriam momentaneamente fechadas”. (Observação: Bolsonaro também sempre foi pessoalmente contrário a impedir os brasileiros de trabalhar normalmente.

Concordou apenas em manter os idosos em casa, no que denominou “modelo vertical”)

Mais adiante, V. Llosa escreve: (...) “O grande problema que o Uruguai enfrenta é sua fronteira com o Brasil, uma cidade que ambos compartilham, e onde, com o caos brasileiro criado por Jair Bolsonaro, os casos do coronavírus se multiplicam”. (Por que “caos”? Bolsonaro, embora contrário ao confinamento maciço, não conseguiu ser obedecido, nem pelos seus ministros da saúde, nem pelos governadores, nem pelos prefeitos, e sempre foi hostilizado pela imprensa e pelos ministros do STF, este Poder decidindo como se tivesse um Poder duplo, o de julgar e o de administrar o país.

Um pouco mais adiante, Llosa acrescenta o que pensa sobre Lacalle Pou: “Com sua corajosa atitude frente ao flagelo que se abate sobre o mundo, ele poderá poupar ao Uruguai boa parte da catástrofe econômica que se abaterá sobre os países cujos governos, apavorados pela pandemia, e a perda de popularidade, se apressaram a fechar fábricas e lojas e a impor um confinamento extremamente severo, ou a anunciar aumentos de impostos e estatizações, sem pensar que tudo isso contribuirá para agravar a tragédia econômica, uma das heranças da praga e a mais difícil de sanar” (Igualzinho ao que Bolsonaro sempre disse nos seus pronunciamentos).

Quem vive longe de um país que raramente visita — é o caso de Vargas Lhosa, distante muitos anos depois de escrever “A guerra do fim do mundo” —, forma sua opinião política com base no que lê nos melhores jornais, impressos na sua própria língua nativa e em outras faladas no mundo culto.

Os três melhores jornais brasileiros que mais escrevem sobre Bolsonaro e o Coronavírus são, certamente, o Estadão, a Folha de S. Paulo e “O Globo”. Correspondem, profeticamente, aos três jornais mencionados por Napoleão na epígrafe deste artigo. Causam medo em qualquer chefe de governo, porque doutrinando os leitores e evitando publicar opiniões contrárias, criam uma unanimidade artificial. Não fossem discordâncias da redes sociais, Bolsonaro já estaria em casa, ou na cadeia.

Acontece que tanto a diretoria de tais jornais brasoleiros quanto os jornalistas que nela trabalham estão, há meses, ressentidos com estilo aguerrido, pesado, de Bolsonaro, que se defende atacando. Melindrados, esses três jornais se uniram para dar “uma lição” no presidente, sempre o hostilizando, deturpando suas intenções. Como Bolsonaro não tem formação livresca, está longe de ser um erudito e fala conforme pensa e sente, essa franqueza ofende repórteres que se acham no direito de revidar e castigar, em entrevistas e outros contatos, só fazendo perguntas cuja resposta possa diminuir o entrevistado. 

Não me lembro de ter lido, em entrevistas recentes do presidente, o entrevistador fazendo perguntas amenas. Outras figuras políticas, quando ouvidas, são melhor tratadas. Com Bolsonaro é só pergunta hostil, desagradável, querendo prejudicar o entrevistado com minúcias e eventuais vexames envolvendo parentes, o cônjuge ou empregados. Até parece que o repórter já veio orientado para não fazer qualquer pergunta cuja resposta possa melhorar a imagem de quem responde.

Um tema especialmente presente quando se entrevista Jair Bolsonaro é pinçar atos ou frases proferidas por seus filhos, como se o presidente fosse obrigado a calar a boca de três homens adultos, exercendo função pública. Seus filhos são políticos legitimamente eleitos. Como tais, podem emitir suas opiniões, sem ter que antes consultar o pai. Um é vereador, outro é deputado estadual e o mais novo é senador. Tendo jurado, como parlamentares, cumprir as leis e lutar livremente pelo que pensam, não é exigível — nem mesmo tecnicamente —, que os três fiquem impossibilitados de dar opinião em assuntos políticos que de alguma formam se relacionem com o pai. Que cada filho responda por seus atos. Se o presidente decidir admoestar o filho, em particular, que o faça, mas seria demais obrigá-lo a convocar a imprensa para presenciar o “carão”. O filho, senador, deputado, ou vereador, ficaria desmoralizado, e seu eleitor logo pensaria: — “Como votei nesse idiota novato, nesse sangue de barata que leva pito do pai, em público, como se fosse um menino”?

Outra coisa que aumenta a má-informação dos países europeus sobre a atual presidência, no Brasil, é a permissão de Dilma, Lula e amigos poderem sair pelo mundo fazendo palestras e dando entrevistas desancando o presidente que os derrotou nas urnas. Sem um contraditório, a plateia estrangeira engole qualquer versão. 

Com voos e estadias pagas pelo governo brasileiro, acompanhados de inúmeros assessores, esse pessoal molda a “realidade” conforme seu gosto e rancor. A audiência estrangeira, não sabendo o que realmente ocorre no Brasil, talvez tente, depois, um ou outro, se informar um pouco mais, na mídia de seu próprio país.

Lendo, porém, nos jornais, as transcrições dos piores momentos e palavrões proferidos em reunião privada governamental — em momentos de desabafo —, fica horrorizada com o que ouve e conclui que “esse presidente brasileiro é mesmo “um monstro ignorante, um ‘caos’, devendo ser logo expulso da função”.

Por sua vez, a imprensa brasileira, lendo tais opiniões estrangeiras apressa-se a difundir aqui esse mau juízo estrangeiro que é o mero resultado da própria campanha brasileira de desmoralização de um presidente que tem alguns defeitos sérios de comunicação verbal mas ainda não decepcionou seus eleitores na intenção de estancar roubalheira no país.

Os eleitores de Bolsonaro, de primeira hora, continuam pensando: — Entre um presidente “grosso, mas honesto” e outro “fino, culto”, mas inconfiável, ainda fico com o primeiro”.

Jornais certamente não gostarão deste artigo. Lamento, mas é minha opinião. Sou ainda assinante das duas versões do Estadão, em papel e on-line; e da Folha e de O Globo, apenas on-line. Do Estadão, gosto da página 2 — apesar dos ataques diários ao Bolsonaro —, dos cronistas, menos um, e do erudito “Aliás” aos domingos (no momento enxutos demais). Espero que a isenção volte a prevalecer no futuro próximo, mantendo a velha tradição dos Mesquita.

Poderíamos continuar, mas quem aguentaria ler mais parágrafos?

(12/06/2020)  

Nenhum comentário:

Postar um comentário