sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Terra, Marte e conjeturas.

Foto divulgação 

Alienígenas pensam, talvez, em nos colonizar com vírus? 

Seria isso possível? Apenas em teoria, sim, por mais indesejável e “paranoico”, que isto possa parecer, neste triste momento de recrudescimento de uma epidemia diferenciada, teimosa e seletiva, eliminando os “fracos” — velhos e doentes — mas poupando os jovens e fortes que possam manter “a máquina planetária” em funcionamento.   Leiam os argumentos, as deduções lógicas e pensem, mas com a própria cabeça. Friso que desejo estar completamente errado na minha dúvida teórica, inclusive porque estou entre suas vítimas preferidas, os idosos.

Como no mal pode haver alguma semente do bem, o imaginário “perigo marciano” teria um lado bom: a união política da humanidade, coisa que nunca ocorreu antes. 

Consciente do risco do ridículo, advirto que não se trata, aqui, de ficção-científica — fantasia, literatura —, porque ela não faz meu gênero. Apenas alerto para uma remota e indesejada possibilidade, baseado em leituras, raciocínios, e conclusões — que me parecem logicamente aceitáveis — se pelo menos alguns dos milhares de depoimentos, fotos e filmagens de “objetos voadores não identificados” forem verdadeiros, como me parecem. Digo assim, aos poucos, cauteloso, porque a expressão “discos voadores” já afasta, de cara, metade dos leitores.

Se não sou totalmente assertivo quanto a realidade do perigo mencionado no título, por que perco tempo — meu e do leitor—, abordando apenas possibilidades, ainda mais sendo elas desanimadoras? Justifico-me logo abaixo.

Os campos da cosmogonia, astronomia e astrobiologia estão recheados de conclusões sensatas mescladas com tremendos “chutes” científicos que — para nós, leigos — são mil vezes mais inacreditáveis que minha modesta suspeita mencionada no título. Vejamos. 

Big Bang (o universo brotando de uma “bolinha mágica”); Idade do Universo (tolice, ele não “nasceu”, como um bebê, vindo do nada, sempre existiu, como poeira cósmica e corpos celestes); Buracos de Minhoca; Universos Paralelos (vários, como fantasmas); novas Dimensões (além das 3, ou 4? tradicionais); Viagens no Tempo; Buracos Negros (com saída dos fundos para “outra dimensão”, impossível se o Buraco for apenas uma estrela que se apagou); Teoria das Cordas, etc., são discutidos sem rir. Isso porque, afirmam os cientistas, estão baseados em “cálculos matemáticos”, inacessíveis à verificação de 99,9 %, dos seres humanos. Quanto aos 0,1% que “verificaram”, não são raras as discordâncias entre eles. 

Cabe aqui um imediato reparo — apenas na grosseria, não na opinião — ao que acabei de escrever num impulso —, usando a palavra “chute”, referindo-me àqueles astrônomos que acreditam no Big Bang — só porque as galáxias estão, no largo “momento cósmico”, se afastando umas das outras e eles não sabem como explicar. Bastaria dizerem não sabem, por enquanto.  Afirmar, porém, que toda a matéria cósmica, com bilhões de galáxias brotaram do nada, em um segundo, sugere que a abstração excessiva da Astronomia cansa demais o cérebro, recomendando duas férias anuais para descanso dos neurônios. 

Segundo essa teoria, antes do Big Bang havia um “nada” absoluto. Um “vazio” não só de “coisas” como da própria “ideia” de vazio. Sem matéria, sem energia e sem o já imaterial “tempo”. Se essa teoria foi apenas um pedido dos líderes religiosos aos cientistas, para reforçar a ideia de Deus —um milagre unindo ciência e religião visando diminuir a descrença, maldade e materialismo animal — é preciso lembrar que qualquer teoria explicativa ridícula ajuda a opinião pública mais esclarecida a não confiar nos cientistas, considerando-os “um bando de malucos”. Inclusive quando eles acertam em questões importantes, como a preservação do meio-ambiente.

A bondade, no lugar errado, torna-se maldade involuntária.   

Quando um astrônomo, em cruzeiro marítimo, contempla o céu noturno e está, casualmente, rodeado de leigos que o olham com respeito, fazendo perguntas, o indagado sente-se meio que obrigado a dizer alguma coisa. Afinal, é um astrônomo, interessado em diminuir a ignorância geral, pelo menos na sua área.

Percebendo que a curiosidade do grupo é sincera, não mera gozação, o estudioso dos astros provavelmente tentará ser gentil com os circunstantes que, sobre as estrelas, sabem apenas o que leram em livros de poesia. No máximo lembram-se dos versos de grandes poetas sentimentais, associando luas, estrelas e amores imortais, como Olavo Bilac e outros inspirados. Esquecem, ou desconhecem, que aquelas luzinhas, piscando, são gigantescas fornalhas, impiedosas e indiferentes, que impedem, “torrando”, ou estimulam, “aquecendo adequadamente”, o surgimento e crescimento da vida em milhares de planetas cujos habitantes talvez, nesse mesmo momento, estejam também nos espiando através de seus binóculos ou telescópios, conjeturando se há ou não vida inteligente no nosso sistema solar. 

É natural, humano, profissional — e até caridoso —, que os astrônomos mais imaginativos — a imaginação era muito valorizada por Einstein — expliquem o que sabem, ou presumem, porque tudo é muito distante e complexo. Quanto ao que não sabem — porque é impossível saber, por enquanto... —, e apenas pensando em não decepcionar os leigos com o silêncio, o astrônomo aqui imaginado prefere dar uma explicação breve, que pareça razoável. Melhor assim do que o mutismo, que pode ser interpretado como arrogância ou incapacidade de comunicação. 

Essa atitude é semelhante à adotada por delegados de polícia quando, chamados para atender uma ocorrência policial de grande repercussão — por exemplo, uma famosa “estrela”, sem alusão, de cinema é encontrada morta depois de vários dias desaparecida. Indagado por insistentes repórteres, filmando o local, o delegado dá sua provisória explicação do que pode ter acontecido. Esse mero “palpite” profissional é natural e útil, porque demonstra interesse e inteligência do poder público em combater o crime com racionalidade e planejamento. A mesma coisa acontece com o uso da intuição na Astronomia, mostrando a intenção, não de combater o crime, mas a ignorância. Melhor isso do que o astrônomo ficar mudo, como que aturdido, desprovido de ideias.    

Não podemos esquecer que o universo, como objeto de estudo, é mais ingrato que qualquer outra ciência porque o astrônomo não pode ver, de perto, o que lhe compete investigar, para depois explicar. Tudo está envolto em mistério, distantes anos-luz, ou Parsecs, ou outras unidades de medições de gigantescas distâncias interestrelares, por melhores que sejam os telescópios. Sem estes aparelhos, o que saberíamos dos astros? Praticamente nada. Galileu Galilei descobriu mais que astrônomos anteriores, Kepler, por exemplo, porque usou telescópios inventados, pouco antes, por um fabricante holandês. Enxergando mais, pôde explicar melhor a realidade do heliocentrismo. 

Imagino a constante frustração de todo astrônomo profissional: — “Como é possível trabalhar assim, quase no “escuro”, propriamente dito? E no claro, de dia, não dá pra ver nada porque não enxergamos as estrelas. Um biólogo pelo menos vê o que pretende conhecer. Nós não, temos que adivinhar, até “chutar”, inicialmente, porque com o “chute”, o próprio “chute” pode ser investigado e dele surgir um “gol”, uma importante descoberta científica”. Acho até que a intuição dos cientistas mais imaginativos foi mais profícua, em descobertas, que o severo e cauteloso ceticismo daqueles colegas que esperam que a verdade surja já inteirinha, perfeita, certinha nos cálculos e na forma observável. 

 Albert Einstein — que respeito profundamente, por seu caráter e ideias em seus livros, quando escritos com palavras, não com fórmulas — afirmou, em 1915, quando publicou sua Teoria da Relatividade, que um corpo de enorme massa poderia desviar um feixe de luz que passasse perto dele. 

Até então, pensava-se que a luz só poderia viajar em linha reta. Quando, porém, ocorreu um eclipse total do Sol, pela Lua, cinco anos depois, em 1919, a luz solar realmente “entortou”, atraída pela gravidade do nosso satélite, como foi constatado com telescópios. Foi a confirmação visual do que afirmava Einstein, usando apenas cálculos, de que muitos físicos não tinham condições de entender, apenas matematicamente, a Teoria da Relatividade.

Com perdão pelo atrevimento — próprio dos ignorantes —, não acho que esse desvio no raio de luz seja tão surpreendente assim, porque a luz, afinal, é também “matéria”. Não é uma “coisa” espiritual, imaterial, como um pensamento. Uma ideia, imaterial, pode ser o produto de algo material, químico — sinapses entre neurônios —, mas uma coisa é a sinapse, a “causa”, e outra, o “efeito”, a ideia em si. Em um feixe de luz há fótons, ou elétrons, e outras partículas subatômicas em movimento. “Coisas”, enfim, ligadas ao mundo da matéria, sujeitas à atração da gravidade. 

Há algo de “material” na eletricidade que chega a nossa casa, tanto assim que é medida mensalmente e temos que pagar a conta de luz. Se é mensurável, palpável — um choque dói... —, nela há algo de “massa” sujeita a ser atraída pela gravidade da Lua, no caso da mencionada eclipse.

 Segundo li em livro sobre Einstein, ele também considerou um exagero esse “oba, oba”, a repercussão científica do eclipse, com pessoas viajando para outros países só para observar o fenômeno. Desnecessário, porque o desvio já fora previsto por ele, com sua matemática que provavelmente continha algum componente intuitivo ou imaginativo. Se os fatos contrariam a matemática, azar dos fatos. 

Voltando ao título, se minha suspeita sobre marcianos, discos voadores e vacinas — eventualmente decepcionantes —, for apenas uma especulação fantasiosa, autorizo qualquer escritor ou roteirista de science fiction a utilizar as considerações, aqui presentes, para a redação de um livro ou filme desse gênero, que — salvo brilhantes exceções — pouco me agrada por causa dos exageros e ilogicidade. 

Se um escritor de invulgar imaginação quiser que respeitem suas fantasias, que se esmere na argumentação, mostrando, por a + b, que o que ele diz, apesar de inusitado, é logicamente possível, mesmo que seja pouco provável. Não ofendendo a inteligência, O.K., porque até o simpático bom senso pode estar, e já esteve, durante milênios, totalmente errado. 

Sintetizando o conteúdo da minha suspeita, referida no título, acho logicamente possível, embora indesejável — só faltava mais essa em plena pandemia! — que seres extraterrestres, extremamente inteligentes, portadores de uma tecnologia muito mais avançada que a nossa, habitando nosso sistema solar — as estrelas e seus planetas estão distantes demais — talvez estejam ambicionando, ou realmente necessitando de um novo “lar”, no caso, a Terra. 

 Para isso, ficam nos “espionando” furtivamente, usando objetos voadores não identificados, os genéricos “discos voadores”, nem sempre no formato de pratos ou discos. Eles não só nos observam do alto como também — muitos juram —, nos sequestram, abduzem, para estudar nossos organismos e depois nos devolvem ao solo com a memória recente afetada ou bloqueada. Uma forma de camuflagem psicológica, estimulando a ideia de que tudo isso, “discos voadores”, é mentira. 

Não penso que todos os casos relatados de abdução — são dezenas ou centenas —, seguidos de esquecimento parcial, sejam mentirosos. Com o progresso das nossas pesquisas sobre substâncias que afetam os neurônios talvez esse bloqueio temporário da memória esteja ao nosso alcance rotineiro daqui a pouco tempo. A “ignorante” doença do Alzheimer já faz isso “de graça”, sem alarde científico, prejudicando seletivamente a lembrança de fatos recentes. 

O leitor pode garantir com exatidão como estará nosso conhecimento do cérebro daqui a quinhentos ou mil anos? Mil anos é uma gotinha de tempo na Cosmologia, Astronomia, Biologia, Física, Evolução, etc. Um prodigioso volume de descobertas nos aguardam. 

Em assuntos planetários, não podemos nos basear apenas no que hoje conhecemos. Nosso “hoje” poderá se tornar um envergonhado “antigamente pensávamos que...”. Quando cientistas garantem, por exemplo, que o coronavírus é de origem natural — não inventado em laboratório —, eles fazem essa afirmação com base nos atuais conhecimentos deles, cientistas. Não estão mentindo, apenas não sabem, hoje, o que saberão amanhã. Talvez desconheçam que laboratórios secretos de governos do primeiro mundo — ou de grupos privados, bilionários, com projetos de domínio planetário, megalomaníaco, tipo Illuminati — talvez consigam, em total segredo, fabricar vírus que apenas “pareçam” naturais.

 Países politicamente inimigos, com alta tecnologia, temendo que o inimigo fabrique ataques virais, pesquisam também armas biológicas, para defesa e/ou ataque. Tais “armas” são segredos de estado. Isso todo mundo sabe. Se já competem, em segredo, sobre armas atômicas e foguetes, por que — pergunto —, não fariam o mesmo com “armas” biológicas que permitiriam controlar a mente dos inimigos sem precisar matá-los nem destruir seus bens que intactos, passariam ao poder dos invasores? 

O que se pode dizer sobre conflitos entre países seria aplicável, com mais razão, em eventuais conflitos interplanetários que venham a ocorrer. Conflitos esses que nunca chegaram ao nosso conhecimento por impossibilidade física, ou visual, porque a distância entre as estrelas, com seus planetas, é tão imensa que não estariam ao alcance de nossos telescópios. 

Calma, leitor... Sei que a mera ideia de “conflito interplanetário” já provoca risada. Com razão, porque lembra “Guerra nas Estrelas” e todo o besteirol que aparece em filmes para adolescentes. Como o leitor nunca ouviu falar em guerra de verdade entre planetas parece-lhe “impensável” imaginar que a Terra possa estar sendo objeto de desejo, de conquista, de habitantes de outro planeta, pretendendo aqui morar, movidos ou por ambição, ou conveniência ou necessidade. Não obstante, incoerentemente, aos terráqueos parece “normal”, até desejável, “científico”, que enviemos naves espaciais, tripuladas, ao planeta Marte para lá permanecerem em definitivo, iniciando uma colonização. A Terra colonizando Marte não é absurdo, mas o contrário, Marte nos colonizando, é “aberrante”.

Esta ideia de ocuparmos o Planeta Vermelho não nos choca, talvez porque presumimos que nele não há vida. Ou, se houver, será ela muito rudimentar. Bactérias, ou coisas assim. Atrevo-me a dizer, porém, que se soubéssemos que em Marte vivem animais semelhantes aos nossos chimpanzés — ponto máximo da evolução marciana —, isso não nos impediria, moralmente, de conquistar aquele planeta — porque pensaríamos estar até “lhes fazendo um favor”, levando nosso progresso, nossa civilização, aos primitivos “ marcianos”, como aconteceu quando Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral desembarcaram nas duas Américas, tomaram suas terras e riquezas e escravizaram os nativos. 

 Tenho total convicção de que surge vida microscópica, rudimentar — mas evoluindo constantemente — em todo planeta que, por mero acaso, reúna condições propícias à vida: pelo tamanho, temperatura — distância média “razoável” de sua estrela —, água em estado líquido e até mesmo beneficiado pela sorte de não sofrerem alguns impacto catastrófico como aquele que matou nossos dinossauros, milhões de anos atrás. 

Todo ser vivo, de qualquer tamanho, nasce, em todos os planetas, com instintos iguais: perpetuação da própria vida e da sua prole. Para isso precisa de alimento, abrigo, sexo, total liberdade —, mas vigilância severa contra a liberdade alheia que possa nos afetar. Nenhum ser vivo nasce odiando ele mesmo, a menos que isso seja causado por alguma doença, ou total desespero, em que a morte significará alívio. Precisando conquistar um outro país, ou planeta — para não se extinguir —, fará isso, mas na forma compatível com seu grau de cultura científica, técnica e moral. 

Daí minha convicção de que se Marte, ou outro corpo celeste, se habitado por seres inteligentes, considerar a Terra como sua única salvação, esse corpo celeste resolverá “seu problema”, por bem ou por mal. Como nós faríamos, em igual situação. Se imensamente civilizado, o planeta invasor procurará fazer isso com o mínimo possível de dor e destruição, própria e alheia. Daí que, pelo menos em teoria, o planeta invadido, tendo espaço disponível, constatando que não dispõe de tecnologia capaz de enfrentar os invasores, deve pensar bem antes sobre como reagir. Agora fantasiando, tenho curiosidade de imaginar qual seria a aparência de uma mestiçagem de humanos com extraterrestres. 

Paro aqui a digitação porque o artigo já está com 16.331 caracteres, incluindo os espaços. E ainda há muito o que dizer. O presente texto não é um livro. É um exagero desaconselhável na internet. Nem sei como o leitor, ou leitora, teve tanta paciência para me aguentar. Agradeço a gentileza de vocês dois, ou três. Deixarei o resto que digitei para outro eventual artigo, conforme a reação ao que foi aqui escrito e publicarei em inglês para ver a reação no hemisfério norte. 

Repito que desejo que todas as vacinas contra a codiv-19 sejam eficazes no prazo usual das vacinas. Se não for, é o caso de se pensar: aí tem coisa! E é melhor que essa “coisa” tenha origem terráquea, mais fácil de lidar porque conhecemos a natureza do inimigo.

 (18/12/2020) - 

sábado, 5 de dezembro de 2020

Leis “anti-preconceitos” precisam ser repensadas

 


(Este artigo foi escrito em abril de 2013. Republico-o porque de lá para cá a situação é a mesma: a tendência de usar a legislação penal para intimidar quem se atreve a discordar, mesmo em termos respeitosos, de certas “verdades” que não são verdades e sim óbvias estratégias de propaganda de grupos ou países. São leis que pretendem criminalizar o próprio ato de pensar).


Pelo andar da carruagem, precisamos de um novo “Iluminismo”. As trevas intelectuais se adensam, em toda parte, usando tanto a intimidação quanto a informação deformada pela parcialidade, vulgo mentira. As minorias sofrem abusos, mas quando fortemente organizadas, tendem a intimidar maiorias desorganizadas.
O assunto é sério. Não se trata de título para chamar atenção. Vamos ver se consigo convencer.
Concordo plenamente com as leis “anti-bullying”, coibindo o tormento de indivíduos — pessoas físicas —, mas não com a progressiva tendência, “democraticamente” obscurantista, de criminalizar opiniões politicamente incorretas sobre fatos históricos, científicos e comportamentos sociais.
Um humorista já afirmou que existem dois tipos de mentira: a tradicional, mais simplória — aperfeiçoada desde que o homem aprendeu a se comunicar —, e a estatística. Manipulando-se os dados e a rotulação dos informes, chega-se a qualquer resultado. Milagres não existem apenas na religião. Por sinal, alguém já disse que o poder de Deus foi suplantado pelo poder dos historiadores: — “Deus não pode alterar o passado, mas os historiadores podem”. A mentira histórica seria a terceira variante.
 Após a invenção da fotografia surgiu um curioso modo de mentir: alterando fotografias. Quando Stalin fazia suas “limpezas” de adversários políticos — utilizando tribunais sujeitos à sua vontade — ele não dispensava a ajuda de hábeis fotógrafos que sabiam como “desfotografar” políticos caídos em desgraça.
Talvez o leitor já tenha visto, na mídia, duas fotos: na verdade uma só. A mais antiga, em que aparece o “pai dos povos” ao lado de determinado político, então amigo, e a foto posterior, em que Stálin está sozinho, quando o ex-amigo — à maneira do iodo —, “sublimou”, mudando do estado sólido para o gasoso, sem passar pelo líquido. Ou, quando ainda sólido, batendo os dentes solidamente na Sibéria. É preciso certa habilidade para esse truque porque o espaço anteriormente ocupado pelo “desfotografado” — ou “fotoferrado” — precisava ser preenchido de maneira que não causasse estranheza.
Cresce, paradoxalmente — ainda há muita liberdade na internet —, um novo ovo de serpente contra o livre pensamento: a intimidação via lei penal. Como se o simples fato de alguém, ligando os fenômenos e concluindo alguma coisa, praticasse um crime — caso essa conclusão difira da “onda” dominante. É preciso lembrar que a maioria, mesmo acadêmica, nem sempre está certa. Muita tolice já foi ensinada nas mais antigas e respeitáveis universidades europeias. Francis Bacon já observava que “A verdade é filha do tempo, não da autoridade”.
Um reputado professor francês, amigo de Louis Pasteur, aconselhou-o, em carta, a zelar pela própria reputação de cientista, abandonando a “loucura” de insistir na tese de que não havia “geração espontânea”. Com outras palavras, o amigo culto dizia que “todo mundo sabe que ratos brotam espontaneamente no lixo, sem precisar de pai e mãe”. Como o grande Pasteur, inventor da vacina contra a raiva, não estava sujeito à cadeia — mas apenas ao ridículo —, ele teve condições de segurança para insistir na sua ideia e acabou provando que ele estava certo e o resto do mundo, errado. Conseguiu isso porque, insista-se, não havia uma lei penal pondo em risco sua liberdade.
Grupos particulares, ou pessoas, não sentem a menor hesitação em moldar a realidade segundo seus interesses, mas isso é esperável. Toda profissão, ou ideologia, possui seu lobby, mas os prejudicados por ele podem reagir, fazendo proselitismo contrário. Sem medo de serem processados criminalmente. Quando, porém, o ditatorial “selo da verdade” torna-se lei, instaura-se o abuso, precursor das trevas, porque ninguém gosta de ser processado criminalmente. Mesmo os mais corajosos pensam: —“Dá muito trabalho...”. Os legisladores, ansiosos em agradar eleitores, no geral sem tempo para longos estudos, deveriam evitar essa propensão para proibir isso e aquilo. Bastaria aos congressistas proibir o insulto, o assédio, e a agressão contra minorias, nunca a mera emissão de opinião, mesmo forte, contrária à dominante.
A humanidade só se prejudicou — ou mais se prejudicou do que se beneficiou — com a velha “mania” — o termo não é injusto — de se livrar de opiniões incômodas promulgando uma “lei” considerando crime expressar convicções diferentes. O medo da represália física, moral, penal ou econômica, trava o próprio ato de raciocinar, mesmo de boa-fé.  Em países ditatoriais — mais claramente — e nas democracias — mais disfarçadamente — isso ocorre cada vez com maior naturalidade, na pressuposição de que a lei, ou a “onda”, sempre está certa.
Na Idade Média era vasto o rol dos assuntos “tabus”, tanto em assuntos religiosos quanto políticos e científicos. Pensadores e cientistas assaram nas fogueiras da Inquisição só por afirmarem, por exemplo, que a Terra girava em torno do sol, e não o contrário. Até hoje, em países islâmicos, assume risco de chibata, ou morte, quem diz ou escreve qualquer coisa contrária ao Alcorão ou seu intérprete-mor oficial, mesmo usando apenas a ironia. Criticar a política de Israel, só com vários panos quentes, porque existe o risco do “preconceito racial”. Risco que pode estimular o abuso por parte do governo israelense, interessado em identificar qualquer crítica, mesmo justa, como antissemitismo.
Pode-se contar muita anedota sobre “loira burra”, mas se alguém fizer alguma piada sobre “negra burra” é melhor contratar, de antemão, um advogado criminalista para “aguentar a barra” do “preconceito racial”. O mesmo se diga sobre qualquer opinião desfavorável à expansão do homossexualismo. Uma psicóloga carioca que anunciou seus conhecimentos profissionais para ajudar o retorno ao heterossexualismo — daqueles que, sendo antes “heteros” havia optado pelo homossexualismo mas se sentiam infelizes nessa última experiência — foi punida por sua entidade de classe.  Algo espantoso numa entidade profissional, ligada à Ciência, que teria a obrigação de estimular a livre opinião. Conclusão, nesse caso: a pessoa pode receber orientação — inclusive na prática corporal — para se tornar um homossexual plenamente realizado, mas nunca o contrário. “Entrou no grupo? Não pode mais sair!”. É uma liberdade de mão-única.
Quando a punição pela liberdade de pensar e comunicar não se concretiza em processos judiciais, ela aparecerá na forma de linchamento moral. Isso por enquanto, porque não está afastada a hipótese do linchamento físico, pois é usual, como já disse, que minorias perseguidas se tornem depois perseguidoras, quando a maré e a tolerância estatal assim facilitar.
Hitler, um orador que impressionava mais pelo grito e pelo aproveitamento das frustações alemãs — após a 1ª. Grande Guerra — “decretou” a falsa “verdade’ de que os judeus só tinham defeitos morais — e até mesmo físicos — e por isso deveriam emigrar, em massa da Alemanha, deixando suas riquezas para os nazistas. Quem tivesse a coragem de dizer, ou escrever, o contrário tinha seus dias contados. Por isso, não pode ser julgado com qualquer severidade quem, menino ou adolescente — como foi o caso do escritor Günter Grass — prestou qualquer tipo de serviço militar no tempo do nazismo. Não havia alternativas. Algum rapaz alemão, de inteligência normal, teria a coragem de dizer ao exército que não concordava com Hitler e por isso recusava-se a lutar?
Na Turquia, quem escreve, hoje — se isso não foi alterado muito recentemente — afirmando que houve um genocídio armênio — ocorrido entre 1915 e 1917, causado pelos turcos —, está sujeito a processo criminal. Pouco importam as provas apresentadas por historiadores e depoimentos de pessoas que presenciaram o ocorrido. — “Não ocorreu e pronto! Se disser o contrário, “teje preso!”
Como na França existem muitos descendentes de armênios, estes pressionaram e conseguiram do governo local uma lei dizendo justamente o contrário: quem negasse a existência do referido genocídio é que estaria cometendo um ilícito.
Quanto ao holocausto judeu, em muitos países negá-lo também é crime. E negá-lo parcialmente, dizendo que o número de mortos foi inferior a seis milhões pode, talvez, ser considerado uma forma “indireta”, disfarçada, de antissemitismo, com consequências penais. Evidentemente, o atual governo israelense tira largo proveito disso, porque dezenas ou centenas de pessoas que, revoltadas com o sofrimento palestino, pensam em escrever sobre o “eterno conflito” veem-se obrigadas a pesar cada palavra.
Pode-se falar mal — sem receio de processo criminal —, de alemão, russo, italiano, árabe, chinês, coreano, argentino, brasileiro, americano e tudo o mais — até mesmo injustamente —, mas nunca  contra um determinado povo, o hebreu, que teve seu inegável valor reconhecido por pessoas cultas e comovidas com seu longo sofrimento.
Quando os judeus eram perseguidos e até mesmo massacrados, na Europa, não havia leis punindo o antissemitismo. Agora que Israel se tornou uma nação poderosa, influente, organizada — até temida —, armada com o que há de melhor em armas tradicionais — e até atômicas, fato único no Oriente Médio — viu-se protegido por uma redoma legal privilegiada. Redoma hoje sem sentido porque Israel tem poderosa presença em todos os organismos internacionais, na mídia, no mundo das finanças. E existe arma mais poderosa que o dinheiro? Não é mais um povo de “coitadinhos”, necessitando de uma proteção legal, especial, contra críticas, proteção essa que nenhuma outra nação possui.
Hoje, alguém chamar uma pessoa de “judeu’ é o mesmo que “xingar” um ser humano de “suíço”, “belga”, “canadense” ou “americano”. O rico e elegante “xingado”, abaixando o vidro, à prova de bala, de seu Mercedes, apenas perguntará: — “Desculpe: o senhor está me ofendendo ou elogiando?”
O tema “homossexualismo” também se tornou uma variante do dogma religioso. Não deve, legalmente, ser considerado, “sob pena de prisão”, um “desvio”. Mas, se um cientista, ou pensador, achar, sinceramente, que é de fato um “desvio” da rotina biológica, mesmo sem qualquer “culpa” pessoal? Por que não pode externar livremente sua opinião — sem processo e sem linchamento —, ressaltando que sua conclusão tem pelo menos o apoio da anatomia? Ele dirá: se as mulheres, por exemplo, nascem com útero, glândulas mamárias e outras características de seu gênero, isso não seria pelo menos uma “pista” de que está nos “planos’ da natureza que as mulheres tenham relações íntimas com o sexo oposto?
O mesmo ocorre com o homossexualismo masculino, cuja realização física implica em utilização de parte do aparelho digestivo  para uma atividade bem diversa da planejada, anatomicamente, pela natureza. Pelo menos os livros de anatomia parecem sugerir que, na “opinião” da “mãe natureza” a atividade reprodutora (de filhos) seria separada da atividade excretora. Daí a sem-razão, repita-se, de se proibir que uma psicóloga possa anunciar seu trabalho profissional para aqueles que querem — eles mesmos, não a psicóloga! — voltar ao estado anterior de orientação sexual. Não é isso um indício das “trevas” que se adensam?
Francis Wheen, escritor que deve ser inglês, escreveu um livro muito interessante, “Como a picaretagem conquistou o mundo”. Nele, menciona que em 1784 uma revista berlinense convidou intelectuais alemães a responderem à pergunta: “O que é o Iluminismo?” Eis a resposta de Immanuel Kant: “O Iluminismo é a emergência do homem da imaturidade a que ele mesmo se submete. Imaturidade é a incapacidade de usar a própria compreensão sem a orientação de terceiros. Essa imaturidade é algo que o próprio indivíduo se impõe, quando sua causa não é a falta de entendimento, mas a falta de determinação e coragem para usá-lo sem a orientação de outrem. Sapere aude! Atreve-te a saber! É este o lema do Iluminismo”.
Evidentemente, todo ser humano tem o direito de ser feliz, inclusive — e principalmente — na área afetiva. Era absurda a legislação antiga que considerava crime o homossexualismo. Essa legislação, pelo menos do mundo ocidental, felizmente, foi abolida, porque a atração pelo mesmo sexo é, presumo, natural, espontânea em algumas pessoas. Estas têm o direito de serem felizes, seja qual for a explicação do porquê, na área sexual, eles sejam diferentes da maioria. O que não podem é, agressivamente, atacar todos os que pensam que há algo “investigável” nesse fenômeno biológico, psicológico, ou mistura das duas coisas. A heterossexualidade nem precisa ser investigada porque sem ela o planeta Terra não teria um único ser humano.
É retrógrado ameaçar pessoas que formulem e investiguem hipóteses explicativas para o aparente crescimento do homossexualismo. Um exemplo: a injeção de hormônio feminino em aves e gado consumidos por mulheres grávidas não poderia ter algum papel na ampliação da homossexualidade entre os homens? Embora seja difícil garantir que a homossexualidade vem se ampliando — porque havia os “enrustidos” —, espera-se que se algum cientista pesquisar o assunto não seja ele processado por homofobia. Se o próprio “Deus” pode ser estudado, dissecado e discutido na Filosofia e na Teologia, por que o homossexualismo não poderia ser examinado — desde que com respeito — sem o risco de cadeia?
Outra pesquisa: uma senhora peruana, minha conhecida, muito observadora, morou por cerca de um ano, quando bem jovem, entre tribos indígenas de seu país. Estava lá em missão de estudo. Estranhou que nunca vira, entre centenas de indígenas, um só caso de conduta homossexual.  Seria isso, pergunta-se, uma evidência de que o homossexualismo seria provocado, em parte, pela conglomeração, pelo excesso de pessoas ocupando pequenos espaços? Haveria, talvez, uma espécie de mecanismo de defesa natural, inconsciente, da raça humana contra as consequências da superpopulação que já nos ameaça com um desemprego quase universal? O homossexual puro — isto é, não bissexual —, é estéril. Portanto útil em termos de alívio do excesso de pessoas consumindo algo que é finito: os alimentos.
Tudo se investiga atualmente, sem medo. Freud disse coisas espantosas, em seu tempo. Os complexos de Édipo e de Electra são explicações ou hipóteses bem desrespeitosas, mas nem por isso Freud e seus colegas de psicanálise foram processados nem linchados. Espero que essa tradição de tolerância permaneça, o que não parece ser o caso do Brasil de agora.
Encerrando, deixo claro que não endosso as teorias e explicações “teológicas” do pastor Marco Feliciano, atacando homossexuais e negros. Teologia e Ciência são como azeite e água. Prefiro a Ciência. Embora não seja um cientista, respeito, socialmente, os adeptos de estudos bíblicos
                                  
                                                                            Francisco Pinheiro Rodrigues (11-04-2013)

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Marte é hoje o que será a Terra, amanhã.



Resumindo o presente artigo: Marte é, tudo indica, o túmulo de uma avançada civilização, soterrada na poeira de milhões de séculos.

Tolice — com o devido respeito —, essa miúda preocupação com a existência, ou não, de água salgada, ou doce, na superfície, ou abaixo dela, em Marte; com a existência de vestígios de seres microscópios, vírus e bactérias; com o metano substituindo o oxigênio; com a existência de água em estado líquido e com possibilidade, ou não, de abrigar terráqueos futuramente.

Com tantas terras desocupadas no nosso planeta, não passa de infantil ficção científica as atuais especulações sobre migrações de terráqueos para viverem em Marte. Tais preocupações poderão, talvez, ter sentido daqui muitos milênios. O que precisamos, agora, isto sim, é cuidar do nosso planeta em termos de desflorestamento, redução da camada de ozônio e da poluição, partilha racional da água doce, e uma inteligente e não agressiva contenção no crescimento desordenado da população, gerando pobreza e migrações em massa, com sofrimentos de toda ordem, tanto na saída quanto na chegada dos fugitivos a outros países.    

Se o Planeta Vermelho, eventualmente — como já disse —, conseguiu, com avançada tecnologia, sobreviver, no ambiente hostil, frio e sem oxigênio, isso ocorreu reduzindo tremendamente sua população, vivendo abaixo do solo, o que explicaria a existência de discos voadores — caso ficar comprovado que eles existam.      Pessoalmente, acho que existem, embora não tenha avistado nenhum. E, se existem — progredindo na dedução —, seria bem lógico, normal, que eles estivessem nos observando como futuro habitat, uma maravilha se comparado com o gelado e hostil Marte.

Nunca fui muito interessado em discos voadores mas quando leio alguma coisa sobre eles impressiona-me a constante indagação dos que afirmam a sua existência: — Por que esses tripulantes dos discos só nos espiam, evitando um contato? Qual o interesse deles? Planejam alguma coisa má?

Paro por aqui, no item flying saucers, porque o foco do presente texto é sugerir — com desculpa pelas repetições — que Marte, quando menos gelado, com clima semelhante ao nosso, hoje, teve tempo para crescimento de uma civilização que, ou se extinguiu por completo — deixando suas ruínas cobertas por toneladas de poeira —, ou conseguiu, com muito esforço, sobreviver com reduzida população, vivendo no subsolo, aquecido com a perigosa tecnologia nuclear, mas ambicionando, talvez, colonizar seu planeta mais próximo, no caso, a Terra. 

Obviamente, prefiro que minha hipótese não esteja certa porque já temos confusão demais em nosso planeta, liderado por burros ou espertíssimos governantes, de todos os calibres, que não conseguem, sequer — mesmo com uma ONU — impedir que verdadeiros jumentos, escudados em ilimitada “soberania”, façam o que lhes dá na veneta.

As presentes considerações vieram-me à cabeça com a notícia de que o módulo espacial InSight, da Nasa, pousou anteontem (26/11/2018), com sucesso, na superfície de Marte, pretendendo estudar o interior do planeta.

Arrisco, sem medo do ridículo, acreditar que Marte, hoje, corresponde à Terra no distante futuro, vítima, a Terra, de suas loucuras ambientais e possível guerra nuclear, desencadeada por mero acidente. A estratégia nuclear de “resposta imediata” — contra-atacar antes de verificar se o primeiro ataque não foi acidental — em um planeta, o nosso, cada vez mais recheado de armas nucleares, é convite para o caos.

As considerações, acima e abaixo, neste texto, partem da presunção, que só pode ser correta, de que o nosso Sol era, em “seu início”, bem mais volumoso e quente. Como o combustível dessa gigantesca bola de fogo foi progressivamente se esgotando, sem reposição, houve em um longo período, no passado, em que a Terra era quente demais, inabitável, porém Marte — mais distante do Sol —, tinha uma temperatura agradável, como a Terra, hoje.

Astrônomos afirmam que a cada segundo mais de 4 milhões de toneladas de matéria solar são convertidas em energia. Isso significa um constante esfriamento do “forno”. Um dia, o sol se extinguirá — afirmação unânime da Astronomia —, por esgotamento, após um súbito crescimento que queimará nosso planeta. Será o “canto do cisne” da nossa estrela.

Repetindo, o Sol no seu início era mais quente que agora. Tão quente que nosso planeta não podia hospedar a vida. Marte, porém, naquela época, podia florescer em crescente civilização, porque mais distante do sol. Depois dessa longa fase, com o sol se esfriando progressivamente, a Terra se tornou habitável e Marte, mais distanciado do sol, tornou-se frio demais, só podendo, talvez, e dificilmente, abrigar uma vida subterrânea de seres inteligentes com um altíssimo nível de tecnologia.

Não tenho a menor dúvida de que a vida brota em todo corpo celeste com tamanho suficiente para sua longa duração, desde que receba luz, calor adequado e contenha água. Isso aconteceu com Marte, antes de a Terra, quente demais, não possibilitar a vida. Marte e Terra são como que planetas irmãos, só que Marte nasceu primeiro. Quando a Terra ainda era habitada por dinossauros, ou nem isso, Marte talvez fosse uma espécie de Idade Média terrestre.

Como todos os seres vivos — todos, sem exceção — nascem com duas tendências que sempre me impressionaram pela constância — o instinto de auto conservação e de propagação — isto é, comida e sexo —, os “bichos” marcianos também evoluíram lentamente de bactérias até seres inteligentes, semelhantes a humanos. De mutação em mutação — por acidente genético e também por pressão do ambiente hostil — os marcianos inventaram a escrita, descobriram as matemáticas e chegaram ao conhecimento profundo da matéria.

Parece-me lógico concluir que em Marte também tenha surgido um Albert Einstein, ou teórico de igual nível. Pensando, pensando e pensando, o “Einstein marciano”, igualmente cismado, cavando nas suas especulações, acabou esbarrando no mistério das partículas quase invisíveis da matéria, só enxergáveis com microscópio eletrônico. Enquanto isso, na Terra, sequer sabíamos, que nosso órgão pensante era o cérebro e não o coração, ou fígado.

Sendo o marciano um animal inteligente, tal como o homem, os dois impulsos primordiais, acima referidos — auto preservação e propagação da espécie — com o constante estímulo de luta pela supremacia, “governos” marcianos devem ter entrado em conflito global que acabou destruindo a vegetação e o meio ambiente. Lembremo-nos que nosso oxigênio origina-se das plantas. Sem estas, vida somente elementar e rara.

                 Finalizando, futuras escavações ou prospecções, em Marte, se encontrarem alguma coisa “interessante”, não será apenas água, ou extintas formas primárias de vida microbiana. Encontrarão é construções de cimento, ou material equivalente, soterradas. Vestígios de extinta civilização, ou — mais dificilmente —, provas de uma atual e diminuta “civilização subterrânea”, inteligente e talvez pacífica porque avançada demais.

                 Acredito que quanto mais avançada for qualquer civilização, mais compreensiva e ética ela se torna, o que explicaria a não-tentativa, até agora, dos eventuais marcianos, de dominar a terra, tirando proveito de seu maior avanço tecnológico. Se eles foram capazes de construir discos voadores, isso será prova de sua superioridade, demonstrada na aeronáutica.

                Não me venham com o argumento de que nem sempre o avanço tecnológico ou científico tende para bem porque a ciência nazista era extremamente cruel. Na verdade a “ciência nazista” não passava de asneira demagógica buscando prestigiar o regime com uma fantasiosa aura científica.

               Aguardemos as prospecções em Marte.

               (28/11/2018) 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Mars is today what Earth will be tomorrow.

Foto divulgação

(English-speaking readers, please note: this article was written, in Portuguese, in November 2018, but not widely published. When it was written, the media only discussed the possibility of some form of life on Mars. Basically, whether or not there was water on the planet. Hence my focus on the existence of water and the possibility – in my opinion, almost a certainty - that there was a more advanced civilization than ours, when the Earth just “roasted”, uninhabitable, the Sun being much hotter than it is at present. As solar heating diminished, the Earth became habitable, giving rise to the evolution of a plethora of life forms; Mars, on the other hand, farther away from the heat source, became too cold, possibly requiring the existence of underground life, if permitted by its degree of technological development. When the text below was written, there was no coronavirus pandemic, with no new facts allowing for deductions or intuitions regarding possible “Martian” intent or necessity to occupy another planet - our Earth - much more comfortable than Mars. I am therefore preparing an article that will supplement the previous one, to be published in a few days). (02/11/2020)

Summarizing the present article: Mars seems to be, from all indications, the tomb of an advanced civilization, buried in the dust of millions of centuries.

It’s logical nonsense — with all due respect — this little concern for the existence of salty or fresh water on or below the surface of Mars; with the existence of traces of microscopic organisms, viruses and bacteria; with methane replacing oxygen; with the existence of water in liquid state and with or without the possibility of harboring Earthlings in the future.

With so many unoccupied lands on our planet, the current speculations about migrations of human beings, to live on Mars is a mere childish science fiction. Such concerns will perhaps make sense in a thousand years from now. What we need now is to take care of our planet in terms of deforestation, ozone depletion and pollution, rational sharing of fresh water, and an intelligent and non-aggressive restraint in the disorderly growth of the population, generating poverty and mass migrations, with sufferings of all kinds, both leaving and arrival of immigrants, fugitives, to other countries.

Eventually if the Red Planet — as I have already said — managed to survive in the hostile, cold and oxygen-free environment with advanced technology, this occurred by means of tremendously reducing its population, living beneath the ground, which would explain the existence of flying saucers — provided their existence is proven. Personally, I think they do, in spite of not having seen any. And if they exist — progressing in the deduction — it would be quite logical, normal, that they were watching us as future habitats, a real wonder compared to the cold and hostile planet Mars.

I have never been very interested in flying saucers, but when I read something relating to this issue, I am impressed by the constant questioning of those who affirm their existence: — Why does UFO’s crew only spy on us, avoiding contact? What is their interest? Do they plan something bad?

I shall leave the item flying saucers since the focus of this text is to suggest — with apologies for the repetitions — that Mars, when less cold, with a climate similar to our current one, had enough time for the growth of a civilization which has either completely extinguished — leaving its ruins covered by tons of dust — or managed with great effort to survive with a small population  living underground, warmed by dangerous nuclear technology and, perhaps, with high hopes to colonize its nearest planet, in this case Earth.

Obviously, I prefer my hypothesis to be wrong since we already have too much confusion on our planet, led by dumb rulers or very smart leaders, of all calibers, who cannot — despite the presence of the UN — prevent half-witted people, shielded by unlimited "sovereignty", from doing what they feel on a whim.

The present considerations came to my mind with the news that Nasa's space module InSight landed successfully on Mars’ surface on 26/11/2018, attempting to study the interior of the planet.

I venture, without fear of ridicule, to believe that Mars today corresponds to Earth in the distant future falling prey to environmental insanities and a possible nuclear war, triggered by mere accident. The nuclear strategy of immediate response "- to counter-attack before verifying that the first attack was not accidental - on a planet, in this case ours, increasingly filled with nuclear weapons, is an invite to chaos.

The above and below considerations in this text are based on the assumptions, which may only be correct, that the  Sun — in our solar system — was, in its "beginning", much more voluminous and hot. Since the fuel of this gigantic fireball has been progressively depleted without replacement, there has been a long period in the past, when Earth was too hot, therefore uninhabitable, but Mars — farther from the Sun — had a pleasant temperature like the Earth, today.

Astronomers claim that every second more than 4 million tons of solar matter is converted into energy. This means a constant cooling of the "oven". One day, the Sun will be extinguished — unanimous statement of Astronomy — by exhaustion, after a sudden growth which will burn our planet. It may well be the "swan song” of our star.

Again, the sun at its commencement was warmer than it is now. So hot that our planet could not host life. Meanwhile Mars at that time could thrive in growing civilization by being farther away from the sun. After this long phase, with the sun gradually cooling down, Earth became livable and Mars, farther away from the sun, became too cold, being able perhaps and rather hardly, to harbor an underground life of intelligent beings with cutting edge technology.

I have no doubt that life sprouts in every celestial body of sufficient size for its long duration, as long as it receives light, adequate heat, and contains water. This happened to Mars, before the Earth, too hot to make life possible. Mars and Earth are like sister planets, but Mars was born first. When the Earth was still inhabited by dinosaurs, or not even that, Mars was perhaps a kind of Middle Age.

Since all living beings — without no exception — are born with two tendencies which have always impressed me by the consistency — the instinct for self-preservation and propagation — that is, food and sex — the Martian "bugs" also slowly evolved from bacteria to intelligent, human-like beings. From mutation to mutation — by genetic accident and also by pressure from the hostile environment — Martians invented writing, discovered mathematics and achieved a deep knowledge of matter.

It seems to me to be logical to conclude that on Mars there has also been an Albert Einstein, or theorist of the same level. Thinking, thinking and thinking, the "Martian Einstein", equally mystified, digging into his speculations, ended up bumping into the mystery of the almost invisible particles of matter, only visible with an electron microscope. Meanwhile, on Earth, we did not even know that our thinking organ was the brain, neither the heart, nor the liver.

Since Martians are an intelligent species, such as man, the two primordial impulses, referred to above — self-preservation and propagation of the species — with the constant stimulus of a struggle for supremacy, Martian "governments" must have clashed into a conflict that ended up destroying vegetation and the environment. Let us remember that our oxygen originates from plants. Without these, only elementary and rare life could exist.

Finalizing, future excavations or prospections on Mars, if anything "interesting” is found, will not be just water, or extinct organic matters of microbial life. They will find it cement construction, or equivalent material, buried.  Remains of an extinct civilization, or — even more difficult — evidence of a living and tiny "underground civilization", intelligent and maybe peaceful as a result of being too advanced.

I believe that the more advanced any civilization is, the more understanding and ethical it becomes, which would explain any attempt of  Martians to dominate  Earth, taking advantage of its great technological advance. If they were able to build flying saucers, this would be proof of their superiority, proven by aeronautics.

Do not come to me with the argument that not always technological or scientific advance tends towards the good because the Nazi science was extremely cruel. In fact, "Nazi science" was nothing more than a demagogic blunder seeking to support the regime with a fanciful scientific aura.

Let's wait for prospecting on Mars.

(November, 2018)

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A burocracia pode matar mais rápido que a doença.

Machado de Assis — para mim um tremendo filósofo informal, além de literato — já disse que “Em matéria de língua, quem quer tudo muito explicado, arrisca-se a não explicar nada”. Disse ainda que “Se quiser aconselhar, aconselhe, mas seja breve”. 

Seguindo o conselho de Machado, tentei ser o mais breve possível, mesmo porque não sou médico. Mas como convencer sem explicar direitinho? Tudo em excesso é prejudicial, até o pouco. 

As sugestões abaixo são apenas “ideias” que, após as discussões econômicas e jurídicas, poderão ser transformadas em lei. Rebater as possíveis críticas ao aqui proposto, sob todos os ângulos, afastaria os leitores. Deixaria de ajudar os candidatos a prefeitos e vereadores, em todo o Brasil, interessados em iniciativas que salvarão vidas, hoje perdidas por causa de burocracias pouco inteligentes. As sugestões interessam aos políticos e, mais ainda, à comunidade. 

As propostas não têm ordem de prioridade. Cabe a cada candidato avaliar a que lhe pareça mais útil.  São elas: 

1ª Sugestão. 

Obrigar os postos de saúde, e autorizar, as farmácias, querendo, a medir a pressão arterial de qualquer adulto que solicite esse serviço, mesmo sem pedido médico. A medição será feita por um profissional de farmácia, ou funcionário do estabelecimento comprovadamente apto para esse trabalho. A remuneração da farmácia para cada verificação será módica, com um teto anual fixado em percentual do salário mínimo. Sugiro não mais de dez reais, no momento, quando o serviço for prestado em farmácia. Se a medição for feita no posto de saúde, obviamente será de graça, ou também módica. 

Motivação da proposta: poucos meses atrás, no começo da pandemia do coronavírus, fui a um Posto de Saúde, na cidade de São Paulo, para medir a pressão arterial. Como a tenho normalmente baixa, tendência de família, e gosto de sal, achei prudente saber como ela estava. Se estivesse normal, eu não precisaria ir a um médico, do meu plano de saúde, com risco de contágio pelo vírus. 

Para minha surpresa, a farmacêutica, ou médica, do posto — não me lembro do detalhe —, disse-me, educadamente, que para medir a pressão eu precisaria apresentar um pedido médico, sem o qual ela não poderia fazer a medição. Espantei-me com a exigência porque é comum ver-se, em farmácia, u’a máquina em que a pessoa pode, inserindo uma moeda no aparelho, medir a pressão. Se uma simples máquina pode fazer isso, por que a obrigatoriedade de procurar um médico? Com o SUS já sobrecarregado, por que esperar meses, para ser atendido em algo tão simples? 

2ª Sugestão 

Verificar o nível de glicose no posto de saúde, ou na farmácia. 

A burocracia municipal, porém, não se limitou a isso. Quando solicitei à mesma enfermeira, ou médica, que tirasse uma gota de sangue do meu dedo, para verificar a glicose, ela, sempre educada, me disse que isso também não seria possível, porque também nesse caso era necessário pedido médico. Ela me perguntou se eu era diabético. Disse que não, porque a cada dois ou três meses eu pedia a uma pessoa amiga, diabética, que examinasse minha glicose, usando o aparelhinho dela, e nunca passei de 108 mg/dl, mas essa amiga estava agora fora do Brasil. Por isso tinha ido ao posto.

 Essa burocracia municipal, ou estadual, ou federal parece pensar que nosso país é riquíssimo, todos com um excelente médico a seu dispor, quando o que existe é o contrário, com pessoas deitadas no corredor do hospital, por falta de leitos e de médicos. Em linguagem franca, a burocracia está, embora involuntariamente, matando, cegando e amputando pernas, por falta de realismo, de senso de proporção e excesso de zelo profissional dos médicos, confundindo o país como uma Suíça do futuro. 

Por que matando ou aleijando? Porque o homem pobre que está com pressão muito alta, pode imaginar que apenas anda “meio indisposto” porque dorme ou se alimenta mal. Na verdade está é, apressando sua morte com um ataque cardíaco. Procurar um médico depois de ver negado seu pedido no posto de saúde? Nem pensar. E se estiver altamente diabético, pode nem saber qual é sua real situação porque sua doença é silenciosa. Até que um dia acorda cego ou é o brigado a cortar uma perna. Ou duas, como relato a seguir. 

Lembro-me da conversa que tive, anos atrás, com um senhor cego e sem as pernas, quando eu estava na Flórida, em viagem de turismo. Enquanto minha mulher visitava uma igreja eu a aguardava, na calçada, próximo da porta de entrada. Ao meu lado estava um cadeirante não muito idoso. Ele tinha no peito uma placa mencionando que era cego e pedia esmola. Dei a ele uma cédula, ele agradeceu e mantivemos uma breve troca de palavras. 

Como as duas pernas tinham sido amputadas na altura dos joelhos, simetricamente, atrevi-me a lhe perguntar se perdera as pernas em um acidente de trem. Ele me explicou que não. Estava sem as pernas por causa do diabetes. Não sabia que tinha essa doença, até que um dia acordou cego e pouco depois teve que amputar os membros por causa da gangrena. 

No Brasil, com tanta pobreza, haveria menos casos de cegueira, ou de amputação de dedos, pés, ou pernas, se o cidadão pudesse verificar sua glicose de graça, em posto de saúde, ou pagando menos de dez reais em uma farmácia. Constatado o diabetes, seria encaminhado a um médico, ou orientado para isso, sob pena de ficar fora do SUS, ou repreensão equivalente. Há um velho ditado: “o ótimo é inimigo do bom”, conselho que deve estar sempre presente no legislador.   

3ª Sugestão 

Testes médicos — visão e audição — obrigatórios ao entrar nas escolas públicas municipais. 

Resumo: toda criança, ou adolescente, admitida a uma escola pública deveria ter sua visão e audição examinadas. Se o aluno não ouve bem, apesar de dizer, ofendido — “eu não sou surdo!”—, ou não consegue ler textos com letras pequenas, com ambos os olhos — um de cada vez —, deveria, na escola, por lei, ser examinado por a um especialista para se ver o que é possível se fazer para que se interesse pelo que diz o professor. 

Ou, “se não gosta de ler” — talvez por um problema visual — é preciso saber se os dois olhos veem perfeitamente, com ou sem lentes corretivas. Se um olho enxerga bem e o outro não, isso trará aversão à leitura, que deveria sempre ser agradável, visualmente. 

A maioria dos dicionários, impressos com letras quase microscópica, desestimula sua leitura, que seria muito útil  porque, se lidos com frequência, habituam o consulente, ou leitor prazeiroso, a pensar e se expressar com concisão, tal a objetividade das definições, um bom remédio contra o “analfabetismo funcional”. Os dois olhos devem trabalhar com igualdade de forças, principalmente nas leituras mais extensas. 

 Posso lhes garantir que há muitos “maus alunos” que poderiam se transformar em “bons alunos” se ouvissem e lessem perfeitamente. Como não podem ficar, o tempo todo, pedindo ao professor para repetir o que disseram — seriam vaiados —,  sentam-se no fundo da classe, pensando em tudo, menos no que diz o professor. 

Outras vezes os maus alunos precisam apenas de óculos, com os graus certos para cada olho. Se os pais não têm dinheiro para a comprá-los a escola faria isso, pensando do futuro do menino ou rapazola. Se o glaucoma, por exemplo, já lesou o nervo ótico do olho deficiente, o aluno, ou responsável será orientado para um treinamento que lhe permitirá ler textos, usando as técnicas que  os oculistas já ensinam quando o cliente perdeu um olho em acidente. 

Ficam por aqui minhas sugestões na esfera municipal. Com perdão pela extensão inevitável, exigível para eventual convencimento. Daqui a uns dias, farei novas sugestões, se alguém gostou destas. 

(21/10/2020)

sábado, 10 de outubro de 2020

Celso de Mello está claramente enganado no seu último voto

Foto divulgação

O decano, homem inteligente, de invulgar memória mas excessivamente politizado na sua função judicante, insistiu, no seu voto de despedida, que o presidente Jair Bolsonaro é obrigado a prestar um depoimento presencial, físico ou virtual, no inquérito — inquérito, vejam bem, não ação penal —, que investiga a suspeita — mera desconfiança de Sérgio Moro — de que Bolsonaro pretendia influir na Polícia Federal, protegendo seus filhos em investigações. Moro não chegou a dizer que Bolsonaro interveio na investigação, disse apenas que provavelmente tinha essa intenção. 

O ilustre Ministro Celso de Mello, no seu voto, insistiu na ideia de que “todos são iguais perante a lei”. Lei que, no caso, seria o CPP, Código de Processo Penal, que no seu capítulo VI, contém vários artigos, a partir do 202 até o art.225, orientando o juiz — juiz, frise-se — como proceder a respeito de depoimentos de vítimas e testemunhas. 

O art.221 diz que “O Presidente e o Vice-Presidente da República, os senadores”... (segue-se longa lista de autoridades) “serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz”.    (Redação dada pela Lei nº 3.653, de 4.11.1959).  

E no seu parágrafo 1º está expresso que “ O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhes serão transmitidas por ofício. (Redação dada pela Lei nº 6416, de 24.05.1977)    

O leitor já deve ter notado que todos os artigos acima citados, usam a palavra juiz para designar quem fará as perguntas ao acusado, ou réu. E na nossa sistemática legal, juiz é a pessoa mencionada nas transcrições acima mencionadas. A figura jurídica do juiz só “existe”, legalmente, depois que um promotor — que não é juiz —, ofereceu a denúncia contra alguma pessoa que já foi investigada em inquérito policial que concluiu haver provas ou indícios da existência de um crime previsto na legislação penal. E Bolsonaro ainda não foi nem investigado, nem indiciado, nem denunciado como autor de Fake News. Esse inquérito estranho, um tanto vago, e sem precedentes, um dia será classificado como uma excrescência jurídica, de triste memória, na sua formação e desenvolvimento. Uma espécie de tribunal de exceção. 

Apenas a título de ilustração do leitor não afeito a temas jurídicos, vejamos o que diz Guilherme Nucci, no seu Dicionário Jurídico:

“INQUÉRITO POLICIAL: trata-se de procedimento administrativo preparatório da ação penal, conduzido pela autoridade policial, de natureza inquisitiva, regido pelo sigilo, voltado à formação do convencimento do Ministério Público para que possa propor demanda policial”. Como diz, deve ser conduzido pela polícia, não pelo STF.

Não sendo Bolsonaro réu em processo judicial relacionado com Fake News, descabe a fundamentação do ilustre decano. Ele cita artigos só aplicáveis quando o procedimento já está em juízo, quando houve inquérito, denúncia e esta foi recebida por um juiz de direito. 

Se Alexandre de Morais sente-se à vontade, juridicamente, para continuar com sua incumbência de atacar e desmoralizar um presidente — agindo simultaneamente como vítima, investigador, delegado, promotor denunciante e juiz recebedor de denúncia — cabe-lhe prosseguir colhendo provas, onde ela existirem, sem a necessidade de obrigar um “mero” investigado, presidente da república, a ser interrogado com possível arrogância de um delegado que talvez o detesta e só fará perguntas maldosas,  relacionadas com eventuais maus procedimentos de filho ou amigos de longa data. 

O leitor talvez não saiba que em um “interrogatório” policial, ou judicial, só quem interroga tem o direito de escolher os tópicos do “diálogo” unilateral. O interrogado não pode criticar a eventual má intenção oculta das perguntas, e muito menos criticar o possível jeitão agressivo, arrogante, da autoridade. Se fizer isso, leva um pito, com um “cala a boca”! E pito em presidente da república dá um cartaz tremendo. Mesmo quando maneiroso, um delegado ou juiz pode, por fingida “livre associação momentânea de ideias”, insistir em lembrar malfeitos de parentes ou amigos do interrogado. E se o interrogado tiver pavio curto, tornando-se agressivo, isso trará prejuízo de sua imagem pública. 

Alguém dirá que Bolsonaro pode apenas silenciar, alegando que ninguém pode ser obrigado a se auto acusar. Se ele fizer isso, na frente da televisão, seus inimigos, e pessoas ignorantes dirão que “quem cala consente, se fosse honesto não teria o que esconder”. 

Para não cansar os leitores — deve haver mais de um — concluo que essa exigência de depoimento do Bolsonaro presencial visa apenas prejudicá-lo politicamente. 

Apoio Bolsonaro, pelo conjunto da obra, pela sua coragem, por ser inimigo da corrupção e por ter sido legitimamente eleito pela população. Não sou cego para suas falhas e penso que algumas das suas más decisões são fruto do seu isolamento político e da falta de leituras de alto nível. Os ataques coordenados contra ele não visam apenas tirá-lo do poder. Querem caçar a “chapa” inteira, presidente e vice, porque querem logo o poder. Para tais inimigos, é uma imensa alegria cada vez que ele, atacado, reagem conforme seu temperamento. E quando ele, contrariado, reage de modo pacífico, é atacado por ter sido brando demais, “ele no fundo é mole e só tem objetivos eleitorais”. 

Por acaso, os ataques contra ele não têm intenções eleitorais? 

(10/10/2020)

sábado, 26 de setembro de 2020

Gunshot extraction of lower jaw

   


Francisco C. P. Rodrigues 

(This short story is merely a description of a robbery that actually occurred in Brazil, if I remember rightly in Rio de Janeiro, a few years ago. The person who told me what happened was a friend of the victim of the robbery. I read nothing about it; I only heard an account of it, coming from a person who had no interest in lying and never imagined that the occurrence would be transformed into a story, many years later. Let’s say that it is “a tale based on real life”. It is violent but, in this case, not due to a decision made by the author. The real world is violent.)

         Just before seven in the morning, Benvinda arrives at the residence where she has worked for several years. Her steps show an unusual vivacity.

        A forty-year-old, dark-skinned housemaid, she is smart and level-headed, despite little schooling. She has an eighteen-year-old daughter, who is just as level-headed as she is and who works in a bank, studying at night.

        Walking to work, today Benvinda experiences a euphoria that she has not felt for years. She is in love... And also surprised. How could that handsome, virile “hunk”, with a Spanish accent, have a “fixation” on her, a woman older than he is?

        — Does it have to do with love? — she asks herself. — Why not?! — On one occasion, she heard her employer, exhibiting a magazine, with photos, comment to her husband, a court judge, that a certain Arabian sheik, passing through Brazil, fell in love with a chambermaid at the hotel where he was staying, taking her to marry him in the Middle East.

        For sure — Benvinda reminds herself — the powerful Arab had several wives in his homeland. But this was another matter, a question of country, of legal differences that should be respected. As far as she knew, in his land, the big boss could have as many wives as he could support. What interested her was the fact that, in a “flash” — “the craziness of love!” — the hotel chambermaid had become the third or fourth — she couldn’t remember exactly —  rich “madam” of a wealthy, important man. With a right to luxury, servants, limousine, chauffeur, etc. And the photo of this lucky chambermaid, in her opinion, did not show any unusual beauty. It was an ordinary face, more or less like her own, only younger. Comparing the two males, Benvinda smiled, feeling superior. In the photo, the sheik was fat, rather old and ugly, whereas the object of her affections was a handsome “hunk”, capable of seducing any rich “lady of leisure” with the utmost ease. In addition, he is not likely to be short of cash, bearing in mind the elegant shirts that he wore.

        Speaking of a lady of leisure, Benvinda nurtures an intense contempt for young women who, dressed in miniskirts, over ventilate their “private parts”... By the way, she likes this expression, considering it to be very “chic” and uses it frequently... She believes it to be elegant, making it unnecessary for her to mention ugly words. And she was even more shocked with the first “dental floss” swimwear, which would certainly be uncomfortable and itchy “down there”, in the aforementioned “private parts”. She would never wear such “indecencies”. And her daughter, miraculously — because the second generation almost always reacts against the first — agreed with her.

        One day, when washing one of these items of swimwear — or cord? —, owned by one of her employer’s nieces, she was greatly impressed by the diminutive size of the item. On the occasion in question, it was impossible not to indulge in some wry speculation, of an odoriferous nature, related to that cord that permitted display of the bu…., or should I say “private parts”, so shamelessly. But what was more baffling for her was the fact that the wearer of that swimsuit seemed to be a sensible level-headed girl. If she was level-headed, why did she not wear a complete swimsuit? How could fashion have so much power? And why did the government no take any appropriate action?

        Júlio — the name of the “hunk” — had been courting her for almost a week; however, to date, he had not made any more amorous advances, one of those “petting” sessions, so normal at all times. And this worried her a little. It seemed that his approach was to solely converse, show concern for her, a tenderness more appropriate for an older man, making it impossible for something more primitive, concrete and carnal. At most, he took her hand, but only for a short time. And she thought: respect is good, of course, but in excess, it’s disturbing.

        Benvinda is not a shameless woman. Only in need of affection. She suffers a little with prolonged abstinence, but she would never give herself to a man on the first or second encounter. However, let’s say after the third or fourth, there would be no reason to maintain so much formality, that exaggerated respect, which is no longer adhered to by other young people. That would be too much! “After all, I’m not the Queen of England!”

        She even thought, for a moment, that there was something amiss in such shyness: — “Damn it! Could he be gay? I had not thought of that! No, it’s not possible! That virile manner, hairy forearm, chest with hair coming out of the opening of his shirt, thick beard, man’s voice. No. Gay? No way!”

        Benvinda had known, in the biblical sense, very few men; a maximum of eight. She was terribly deceived when, very young and pregnant with her daughter, she discovered that her boyfriend was married and lived with his wife. The shock was too much for her. She hoped to get married, or to at least live together in a decent manner; however, instead, she was left with loneliness and a growing belly. She even thought of killing herself. Or of having an abortion. But she was supported by her employer at the time, a kind, wise, Catholic woman, firm in her convictions, who dissuaded her from committing a sin. She would be killing an innocent being who could come to bring her happiness in her old age. And, in fact, being sensible just like her, her daughter only brought her happiness.

        This relationship left her with a very bitter opinion of the character of men in general: “liars and egoistic”. After the birth of her daughter, she only “lost her head” occasionally, when her libido started to bother her like a pressure cooker, almost exploding. When things got to this point, she went to public dance halls — known as “forrós”, “gafieiras” and “pagodes” — where she always managed to find provisory company; equally in need of discharging their libido free of responsibilities.  Although plain rather than pretty, she had a body that was sculpted by involuntary, forced domestic gymnastics — sweeping, washing, making beds — the “gym” of the poor, who are paid to “work out”.

       Unfortunately, she left these libidinous meetings only physically satisfied. Catholic by instinct, without any indoctrination, she could not free herself of a feeling of blame after such encounters. In order to cleanse her soul, she prayed and promised to no longer permit such liberties. 

       She had already changed religion three times, in a search for peace that was never attained. And it was in this way that her life continued until, unexpectedly, the attractive and respectful young man came onto the scene. She got to know him by chance, on leaving the residence where she worked, at the end of an afternoon. He was on the other side of the road, looking for an address that was impossible to find because the number did not exist. On seeing her leave the house, he asked for her help. And so, the chaste and unexpected romance began.

        What left Benvinda “uneasy” was his habit of asking questions. It was impossible to imagine someone more curious: — “Are you happy? Are you sure?” — She thought this part was rather idiotic. — “Are you well paid? Couldn’t your employer pay you more? It has come to my knowledge that, a few days ago, he received several gold bars and thousands of dollars as an inheritance... He needs to be careful and keep these valuables safe; if not, you know what may happen... Has he considered keeping the gold in a bank?”

        Such questions left her worried. She asked Júlio how he came to know of the inheritance, but he explained that he came to know about it by mere coincidence, as he had a friend who was an employee of the Law Court, working in the registry office that was dealing with inventory proceedings involving the judge’s father. On telling his friend that he had a girlfriend in the same street — Benvinda herself —, working at the residence of a judge, the young man inquired as to the name of the judge. Once informed, he mentioned the inheritance. The court employee commented on the fact because, in general, beneficiaries do not mention inheritances in gold and dollars, in order to pay less tax on the inventory.

        The explanation was plausible but, even so, Benvinda continued to be uneasy. But, on the other hand, if Júlio were a bandit, a robber, he would not need to beat around the bush so much. He would only need to draw his revolver and overpower the head of the household at the right moment, when he arrived by car at night or when he left home in the morning.

        She put an end to these reflections when she arrived at the home of her employer, situated in an upper-middle-class district.

        She had hardly put the key in the lock when she felt a hand, coming from behind, firmly secure her left arm, at the same time that the barrel of a revolver pressed into her ribs.

        Behind her, there were two assailants, both with stockings covering their heads. She was pushed forward and, in a matter of seconds, all three were already inside the house.

        The initial scare was followed by a diffuse weakness. Benvinda felt her legs grow weak. She almost lost control of her bladder, a common reaction of hers in moments of great fear. Despite her natural quickness of mind, her head froze, empty, dominated. Her mouth was firmly covered by the same man who  grabbed her from behind and now closed in on her from the front.

        — Not a sound, auntie! — was the firm but whispered warning of the bandit who dominated her. — If I shoot, I will blow your brains out! — And she clearly imagined, “saw”, her bloody brains, in pieces, flying in slow motion through the living room.

        — Where does your employer keep the gold and the dollars? — questioned the robber in her ear. In the meantime, his partner made a quick inspection of the ground floor of the beautiful two-story house.

        — What gold? — murmured Benvinda, becoming surprisingly quick-witted once again.

        The villain through it was amusing. He did not seem to be tense. Calmly, without desire, he pawed her with his left hand, massaging her breast, while he smiled beneath his disguise.

        — Congratulations! I never imagined that you would recover so quickly auntie! But the time for playing games is over. I know that your employer has gold and dollars. Do you want to play Joan of Arc? Look, we’ll rape you and even torture everyone here! — And, on saying this, he pressed the barrel of the revolver hard against Benvinda’s left nostril, hurting her with the gunsight. Her eyes filled with tears, but she did not dare to shout.

        — You don’t need to reply... He must be in the bedroom... Let’s go upstairs very slowly; you in front and me holding a gun to your head. At the bedroom door, you are going to ask your employer whether he wants to have breakfast. Pretend that you are taking it to him on a tray. Did you understand? Or do I need to beat you? If you obey, I’ll let you live. I’ll even let everyone live! I only want the dollars and gold bars. So, don’t try to be a heroine.

        Dominated, she nodded her head in agreement and, without noise or stumbling, she was pushed up the stairs that led to the upper floor.

        The three stopped at the door of the couple’s bedroom, Benvinda in front. She received a prod on the back of her neck with the gun barrel and a sign that it was time to play her role as a waitress. So, she asked in quite a loud voice:

        — Dr. Nelson... do you want breakfast? I’ve brought it on a tray.

        Benvinda, despite being smart, or exactly because of this, was not a good actress. The question came out in a shrill, strange voice, both screechy and irritating.

        Her employer, a little more than forty years of age, a Criminal Court judge and also a professor of criminal law at a private university, awoke to the sound of this harsh, strident voice. Without any difficulty, as it was at this hour that he normally arose. He soon found two things rather odd: first, the change in voice of his housemaid; second, the offer of breakfast in bed, something that never occurred. Why this change in routine now? Even so, he did not immediately think of a robbery and only thanked her:

        — ... Thank you, Benvinda, but I will have breakfast downstairs, as always.

        On hearing this, the “principal” villain, holding the housemaid — the other one had still not opened his mouth — hesitated a little. He didn’t expect this reply, but thinking quickly whispered in Benvinda’s ear: — Again... Offer it again!

        And she insisted: — You must have breakfast! — she shouted, almost wailing, desperate.

        This immediately aroused the judge’s suspicions in a manner he could not ignore. — Something’s up! — he thought, his heart racing.

        He jumped out of bed and, without putting on his slippers, he tip-toed to the door. Crouching as low as possible, he peeped through the gap under the door. Based on the shadows and considering that Benvinda was not an insect, with various legs, he found that there were other people in the corridor. This abundance of legs, together with the desperate appeal for him to have breakfast in bed, could only be yet another chapter of the menacing “true crime stories” that he read on a daily basis in court case files.

        — Just a moment, I’m going to open the door! — the judge shouted, while trying to maintain a normal tone of voice. He immediately drew close to his wife who, already standing, immobile, stared at him with eyes wide open, aware of the situation. In her ear, he whispered: — Lock yourself in the bathroom. Quickly! Without making any noise!

        Following this, he took a few steps in the direction of the fitted wardrobe, where he kept a double-barreled hunting shotgun that was always loaded, despite the risk implicit in this practice. He did this because, as a judge, he had heard innumerous accounts of robbery victims who did not have time to load their weapons when the robbers were already inside their homes.

        The judge took the shotgun and returned to the bed, where he reclined and placed the butt on his shoulder. He cocked the weapon and waited, pointing the barrels at the middle of the door. At this moment, his wife was already locked in the bathroom.

        The excessive delay and suspicious silence convinced the principal robber that the owner of the house was up to something. It was now or never. He pushed the maid aside and kicked the door vigorously three times, making a noise that echoed through the silent house. With the fourth kick, the door suddenly opened.

        At this exact moment, the judge squeezed one of the triggers. Apparently, — based on that subsequently found in the court case files —, for some reason, the robber in front turned his head. This was because his lower jaw had been ripped away, almost entirely, by the joint pressure of the small lead spheres fired, at short range, by the powerful hunting weapon.

        The shot also had the effect of a violent “Heavyweight” blow on a frail “flyweight”, as the robber in front was thrown backwards, taking his companion with him in the confusion, as well as Benvinda, who had not had time to go down the stairs, as she was rather dumbstruck.

        All three went tumbling down the stairs, while the involuntary “hunter of jawbones” rose from the bed and prepared for a possible second shot.

        From the top of the stairs, the owner of the house saw that, down below, neither of the two assailants were holding a firearm at that moment and both were dizzy. A revolver had fallen at the bedroom door, on the upper floor, and another on the top step, both out of reach of the robbers.

        Although lacking his lower jaw, the criminal who seemed to lead the robbery managed to lift himself up, stumbling, confused, eyes staring, with one hand holding on to the lowest part of the banister. With the other hand, he touched the hole where there was formerly a chin. A large amount of blood flowed from this hole. His companion, also injured, but not severely, sought to drag his colleague away in a supportive gesture, holding him by the waist and placing the injured arm on his shoulder. They dragged themselves in the direction of the kitchen, certainly with a view to escaping via the back yard of the house, where there was a wall that was not very high. Their only thought now was to escape.

        With the utmost caution, Benvinda’s employer followed them at a distance, attentive to what was happening, taking care regarding the possible existence of a third robber providing cover for the others. However, he soon convinced himself that they were alone.

        The robbers reached the yard wall, beyond which was an empty plot of land. The individual who was less injured quickly managed to climb the wall and, straddling it with one leg on each side, attempted to lift his companion. But his efforts were in vain. The man without a lower jaw had no strength. He seemed to be giddy. He could hardly remain standing. Loss of blood, together with violent trauma, had weakened him to the extent that he could do no more than decrepitly lift his arms and emit a few groans — an expression of pain or an explanation of the fact that he lacked strength. Subsequently, at the time of the autopsy, the owner of the house found out that the lead shot had dilacerated his tongue.

        The robber who was on top of the wall explained, shouting, to his companion — as understood by the judge — that he needed to escape, leaving him there, but that he should keep calm because he would soon return, well-armed, to take him.

        The other, however, seemed not to accept this solution. He wanted his companion to take him right away. Although weak, he protested, wheezing and coughing. Until, exasperated, the man on top of the wall fixed his gaze on the owner of the house. He raised his fist in hatred and yelled: — I’ll be back to kill you!

        This robber had hardly lifted his leg, preparing to jump down from the wall, when the owner of the house fired a second shot, which hit the criminal full-on. As the distance was now greater, the lead shot was able to spread to a greater extent, also hitting his companion who, stumbling, took a few steps from the wall and fell face-down into a small swimming pool. The other robber fell dead on the other side of the wall.

        When the police arrived, half an hour later, Benvinda was already being medicated — noting serious — and told her employer about the fleeting and extremely chaste “affair” that she had with that young man, who asked so many questions and was dead on the other side of the wall. Pulling the stocking from the face of this robber, she recognized Júlio, the chaste boyfriend. At the beginning of the robbery, he did not utter a single word in order to avoid being identified. During the police inquiry, it was found that the two robbers were brothers, born in Paraguay, and with criminal records both here and there.

        With regard to the judge, this traumatic event for particularly bitter for him. To date, as far as mammals are concerned, he had only killed a capybara in the state of Mato Grosso. Afterwards, he had felt a certain malaise, observing the dilacerated state of the animal.

        Going against his principles — he was a law-abiding man —, but due to his understandable defensive instinct, he found himself obliged to change the facts a little when he reported them to the Police Chief who arrived at the scene. He said that the robber, on the wall, mentioned drawing a firearm to shoot him.

        That second shot made with the shotgun — he knew, it was written in all treatises on Criminal Law — could not be considered to be legitimate defense, as the danger had passed. The robber’s threat was only hypothetical. However, as a citizen, he asked himself, seeking to clear his conscience: — “And if the robber came back in order to fulfill his promise? Was I not duty-bound to protect my home, wife and children?

        A few days later, he asked to be re-allocated to a Civil Court. He felt traumatized, without the level headedness necessary for judging violent criminals.

        He continued lecturing on Criminal Law, but his students complained that, although he was a demanding teacher, paying attention to details, he became evasive and brief when he explained the formal requirements for legitimate defense. Most notably the item “actual or imminent aggression”. He did not seem to feel at ease explaining this aspect, and quickly went on to another topic.

        One month later, they moved to an apartment, where they have not been robbed to date.

        With regard to Benvinda, she spent several months in a state of sadness, disappointed with herself. Every time that she looked in a mirror, it seemed that a stupid ass was staring back at her. 

END 

(Francisco Cesar Pinheiro Rodrigues is a Brazilian writer, retired judge, who resides in São Paulo, Brazil, owner of the website www.500toques.com and the blog francepiro.blogspot.com. Contact by email: oripec@terra.com) 

Translated by: John Upson

john@wetranslate.com.br