Governos. Alzheimer, câncer de mama e próstata.
Vez por outra informa-nos a mídia, notadamente na internet, que é espantosa a diferença na incidência do câncer de mama e de próstata entre a população chinesa e a ocidental. Uma das notícias mais recente informava que o câncer de mama, nas mulheres chinesas — não é dispensável mencionar o sexo porque essa forma de câncer também ataca os homens, embora mais raramente — é de 1 caso entre 100.000. No Reino Unido a incidência é de 1 caso para cada 10 mulheres ali residentes. Repito: entre cada dez inglesas, uma terá câncer de mama.
Vez por outra informa-nos a mídia, notadamente na internet, que é espantosa a diferença na incidência do câncer de mama e de próstata entre a população chinesa e a ocidental. Uma das notícias mais recente informava que o câncer de mama, nas mulheres chinesas — não é dispensável mencionar o sexo porque essa forma de câncer também ataca os homens, embora mais raramente — é de 1 caso entre 100.000. No Reino Unido a incidência é de 1 caso para cada 10 mulheres ali residentes. Repito: entre cada dez inglesas, uma terá câncer de mama.
Seria essa abissal diferença
explicada por algum fator genético? Difícil acreditar, sem uma pesquisa severa.
Há, porém, boa “pista” fornecida por uma diferença na alimentação. Friso que se
trata de mera intuição: chineses adultos não gostam e não consomem leite e seus
derivados.
Outra tremenda diferença de
incidência de câncer — agora entre os homens chineses e brancos ocidentais —
está no câncer de próstata, essa metralhadora biológica que elimina políticos e
empresários com inquietante frequência. Trata-se de um tipo de câncer
especialmente temido porque quando é detectado, sem exames (desagradáveis) de
rotina, geralmente é de difícil cura. Dizem os médicos que com o avanço
silencioso do tumor, quando constatada sua existência já ocorreu metástase,
geralmente para os ossos, ocasionando dores atrozes e morte. Na China, a
incidência dessa moléstia masculina é na diminuta proporção de 1/20.000 casos,
enquanto que, na Inglaterra, a incidência é 70 vezes maior.
Cada vez mais os governos se
preocupam com a saúde pública. Não só por sensibilidade, solidariedade com o
sofrimento de sua população, como também por razões econômicas. As despesas
para tratamento de cancerosos são especialmente caras e há limites financeiros
para atender a milhares de doentes que buscam, em hospitais públicos, uma problemática
cura para males que são verdadeiros pelotões de fuzilamento, sem dia marcado
para o disparo fatal. Males que poderiam ser evitados se fosse localizada a causa de tamanhas diferenças estatísticas.
Pergunta-se: caso os números acima
mencionados, ou assemelhados, venham de fontes confiáveis, como acredito, não
seria necessário ou — pelo menos altamente recomendável — que os governos ocidentais constituíssem
grupos de trabalho, altamente qualificados, para estudar hábitos alimentares
com o mesmo zelo estatístico com que descobriram a relação entre o fumo e
várias formas de câncer, notadamente do pulmão? Somente a estatística pôde
demonstrar que o longo hábito de fumar tinha uma relação direta, de causa e
efeito, entre a nicotina e algumas formas de câncer. Casos individuais não são
decisivos. Um homem pode fumar por vários anos e morrer aos oitenta anos de
doenças não necessariamente relacionadas com o fumo. E um homem que nunca fumou
pode, presumo, morrer de câncer do pulmão.
Uma primeira possível “dica”
teórica para explicar a causa da pouca incidência, na China, de câncer da mama
e da próstata, estaria talvez — como já disse — no hábito chinês de não
consumir leite, nem queijos, na idade adulta. Nem os homens nem as mulheres. Há
décadas fui informado de que o chinês não tolera queijos. A notícia me marcou, particularmente, porque
sou um quase viciado no consumo de queijos, e quanto mais salgados, melhor.
Esse, para mim, estranhável informe acabou se conectando com uma ideia que
parecia dizer algo que deve ter algum significado importante: o homem é o único mamífero que bebe leite depois do
desmame. Se o chinês está praticamente livre desses dois tipos de câncer, não
estaria aí a explicação para a diferença estatística que tanto o beneficia? E
não adianta apenas “desconfiar”, é preciso provar.
Talvez no plano da natureza não haja
“previsão biológica” de marmanjos bebendo um líquido que, pela natural das
coisas, seria destinado apenas ao consumo de bebês. O leite de vaca seria
normalmente consumido apenas pelos bezerros, não houvesse uma distorção criada
pelo homem. Se este precisa de cálcio na formação dos ossos, certamente poderia
obtê-lo de outras fontes. Leões, elefantes, rinocerontes e hipopótamos, ursos, cães
e demais mamíferos me parecem suficientemente calcificados, não obstante tenham
ingerido leite materno apenas no início do crescimento.
Quem sabe, se a humanidade
deixasse só para as criancinhas e adolescentes o consumo de leite, a população
ocidental, tanto masculina quanto feminina, passaria a sofre muito raramente
dos dois tipos de câncer acima mencionados.
Alguém dirá que pesquisa
estatística pode perfeitamente ser realizada por cientistas particulares, não
havendo necessidade do governo se meter nisso. A possível objeção não teria
procedência. Primeiro porque se — se! — o leite e seus derivados causam, comprovadamente,
uma grande incidência desses dois tipos de câncer, isso ocorre em um prazo
muito longo. Algo assim como o dano causado pelo cigarro. Mais de um século foi
necessário para se concluir que o fumo é prejudicial. Um cientista, em busca
dessa prova de conexão com o leite, precisaria efetuar um gasto pessoal enorme
fazendo acompanhamento dos hábitos de consumo, isolando suas “cobaias humanas”:
um grupo consumindo leite e seus derivados e outro grupo se abstendo desse
alimento, por longo período. Somente um cientista milionário — ave rara... —
teria fôlego financeiro para tanto, sem nenhuma recompensa por tanta
persistência, a não ser alguns elogios pela descoberta, seja ela qual for.
Grandes laboratórios farmacêuticos
teriam interesse nessa pesquisa? Não.
Pelo contrário. A finalidade normal da indústria farmacêutica está em descobrir
remédios e vacinas para as doenças. Se, de fato, o leite e seus derivados
estimulam, no longo prazo, o surgimento do câncer de mama e próstata —
afastando os adultos desse consumo —, a indústria farmacêutica sofreria um
enorme prejuízo porque haveria muito poucos doentes para tratar.
Somente o governo, com sua enorme
despesa cuidando desse tipo de câncer, teria interesse real em ver comprovado o
eventual liame entre leite e as doenças acima mencionadas. Havendo tal liame,
claramente comprovado, a população, sabendo de um risco que hoje desconhece,
passaria a consumir muito menos leite e seus derivados, com grande prejuízo
para a indústria e comércio de laticínios. Para evitar essa gravosa
consequência, um governo moralmente idôneo teria que, talvez, subsidiar, por
algum tempo, tais indústrias, dando a elas um prazo para se adaptar à novas atividades.
Esse gasto governamental com o subsídio seria reposto depois com a substancial
redução da despesa com a saúde pública. Isso, sem mencionarmos o lado moralmente
elogiável da diminuição do sofrimento dos cidadãos, homens e mulheres.
Um outro item médico que aconselharia
uma investigação de iniciativa governamental seria o Mal de Alzheimer. Essa
doença assusta mais aqueles que exercem atividade mental e precisam manter lucidez
normal, compatível com sua idade. Tais pessoas veem, com horror, a progressiva perda
da memória de fatos recentes, seguida de alucinações e finalmente a amnésia
total, com perda humilhante de controle das funções corporais. Muitos prefeririam morrer antes de sentirem a
destruição de suas mentes, transformando-se em mortos-vivos, dependente de
assistência contínua de familiares ou enfermeiros, com grande ônus financeiro.
Uma possível “pista” — insisto no
“possível” — para a prevenção dessa humilhante doença está em uma frase que li
em entrevista ou artigo de um médico gerontologista, cujo nome não guardei
porque, à época, eu não tinha motivos para guardar. Dizia esse médico que constatara, entre seus
clientes — e o mesmo fora confirmado por seus colegas de especialidade — que o
Alzheimer raramente atacava os idosos que sofriam de diabetes e de colesterol
alto “mas que se tratavam”. Esta frase, colocada entre aspas, pode talvez
propiciar um gigantesco passo inicial para a prevenção dessa doença. Por que?
Porque ela autoriza o seguinte
raciocínio dedutivo: o que faz de diferente um diabético, “que se trata”, em
comparação com o diabético “que não se trata”? Evita o açúcar e o excesso de
carboidratos. E o que faz o cidadão que tem colesterol alto “e que se trata”? Ele
restringe fortemente a ingestão de alimentos gordurosos e, geralmente, toma
remédio que reduz o nível de colesterol.
Talvez o médico a que me referi utilizasse a sinvastatina — muito receitada
pelos médicos, nesses casos. Teria essa substância química, a sinvastatina,
algum bom efeito colateral na prevenção do Alzheimer? Ou o mérito da prevenção
estaria apenas na diminuição da gordura no sangue, com ou sem ingestão de
remédio?
Investigações médicas costumam ser
eficientes, mas exigem paciência institucional. Lembro-me de um caso, ocorrido
no Norte da África logo após o término da 2ª Guerra Mundial. Não me recordo
exatamente em qual país (Marrocos, Algéria?). O caso foi assim: em um determinado momento,
em 1945, surgiu, de repente, nesse país, uma “estranha” doença. O doente se deitava,
à noite, bom de saúde e ao acordar, no dia seguinte, não conseguia se levantar
da cama. Seus nervos estavam inutilizados.
Chamados os médicos, estes não conseguiam identificar que doença era
aquela. Salvo engano, o paciente continuava lúcido, apenas os músculos não
obedeciam a seu comando. Dezenas ou centenas de pessoas foram afetadas, uma
espécie de praga rápida, e nenhum médico ou cientista conseguia descobrir qual
o nome daquela súbita moléstia para um posterior tratamento.
Convocadas as autoridades
sanitárias, estas tentaram obter uma pista qualquer que explicasse o que acontecia.
Estaria o problema na comida, na bebida, na água potável? A pesquisa demonstrou
que os “doentes” eram sempre, sempre, os mais pobres. Inquiridos os doentes e
seus familiares, os investigadores descobriram que as famílias de tais
pacientes haviam comprado, pouco antes da grande “paralisia”, um tipo de
“azeite” bem barato, vendido aos litros, de modo improvisado. Para resumir a
charada: esse “azeite” era nada menos que óleo destinado a lubrificar
metralhadoras, guardado em tonéis que foram abandonados com o término da
guerra. Certamente, quem abandonou esses barris não previu que seriam depois
vendidos, por pessoas inescrupulosas, como se fossem azeite para a alimentação.
E os consumidores, pelo que sei, não recuperaram mais seus movimentos.
Não sei o que aconteceu depois da
descoberta da fraude. A notícia esclarecia que o dano era irreversível porque a
substância tóxica aderia aos nervos de forma permanente. Não havia como trocar
os nervos dos doentes. Provavelmente, o governo indenizou, de alguma forma,
tais doentes, embora a culpa governamental fosse remota, porque não há como
impedir que pessoas desonestas vendam
óleo de metralhadora como se fosse um óleo comestível.
As sugestões mencionadas neste
artigo talvez impressionem desagradavelmente alguns médicos, considerando que
seu autor não estudou medicina. Mas sem
razão, porque, qualquer cidadão tem o direito de opinar e sugerir caminhos a
seus legisladores. A liberdade de
pensamento e sua transmissão permitem que as pessoas se informem sobre qualquer
assunto. Um grande advogado tributarista brasileiro, discorrendo sobre o
complexo problema da Reforma Fiscal no Brasil, disse, certa vez, en passant, que um dos maiores — se não o mais
categorizado — conhecedor da questão tributária era um médico. Estranho, não? Mas
nada impossível. Principalmente nos dias de hoje, com o conhecimento, até mesmo
acadêmico, disponível gratuitamente, na internet. Médicos opinam — muito bem —
sobre a Justiça, e tudo o mais.
Sabe, o leitor, porque externei
minhas sugestões de pesquisa? Porque não li — pelo menos em jornais ou na
internet —, alguém, médico ou não, propondo o que se lê acima. Espero que minha
intuição esteja errada porque, estando certa, eu terei que diminuir,
fortemente, meu velho e gordo amigo: o queijo.
(24-10-2012)
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