sexta-feira, 17 de junho de 2022

Duas médicas que merecem retratação

 

                                                                                                                                  Foto divulgação 

Está no Twitter:

“O brasileiro odeia arrogância e grosseria contra mulher. Na CPI da Covid-19 as médicas Mayra Pinheiro e N. Yamaguchi foram hostilizadas por três senadores.
O povo não os perdoará no voto. Se Cristo não tivesse sido crucificado, talvez inexistisse o Cristianismo. Seria grande filósofo”


Explico o significado de minha resumidíssima e inusual “tuitada” — falando até em Jesus Cristo —, sobre a grosseria na CPI da Covide-19 e sua provável consequência político-eleitoral para três torturadores e duas vítimas. Cerca de um ano depois da opressiva Comissão Parlamentar de Inquérito parece-me comprovado que a brutalidade — mesmo quando apenas verbal —, não é esquecida pelo povo, milhões, que assistiam, na televisão, às agressivas e desrespeitosas inquirições contra duas médicas, Mayra Pinheiro e Nise Yamaguchi. Elas que não tinham como revidar às ofensas e ameaças porque poderiam ser presas no ato se insistissem no mero direito de dar explicações completas sobre o que lhes era perguntado.

 O senador relator, pouco interessado em saber a verdade, cortava a fala das depoentes quando o que ouvia poderia atrapalhar sua única intenção: prejudicar o presidente da república. Para isso, tratava as médicas como se fossem criminosas e mentirosas. E isso certamente não saiu da lembrança de milhões de ouvintes eleitores.

Em assuntos políticos os espectadores decidem mais com o sentimento, com impulsos — simpatia ou aversão — do que com análises complicadas sobre economia, legislação, etc., e, insisto, não esquecem na hora de votar, meses ou anos depois. Em consequência, se as duas referidas médicas quiserem se candidatar, como deputadas ou senadoras, terão mais chances de se elegerem do que os seus “carrascos” verbais, de se reelegerem. Aguardemos a próxima eleição para conferir. Será necessário, porém, que o eleitorado saiba que as médicas são candidatas. Se forem republicados os momentos de humilhação é previsível  que serão eleitas por suas biografias, com ajuda involuntária e trapalhona de três senadores funcionando como cabos eleitorais das médicas.

 Agora, em junho de 2022, constatamos — lendo as pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de outubro deste ano — que o comportamento agressivo e/ou arrogante na pandemia pode ter sido um tiro pela culatra. Dou dois exemplos: João Dória e Simone Tebet, ambos inteligentes, enérgicos e sem acusações de desonestidade. No entanto, uma certa arrogância natural — ou desprezo ostensivo — parece tê-los prejudicado no gosto popular, porque nas recentes pesquisas de intenção de voto a cotação dos dois políticos era baixíssima, um ou dois por certo.  

Dois meses atrás previ — e disse a algumas pessoas —, que Dória seria o futuro presidente da república por causa de sua luta incansável e agressiva em favor da vacinação em massa durante a pandemia. Não porque eu pretendesse votar nele, apenas constatava um fato. Almoçando e assistindo diariamente, na televisão, à Band News, a partir do meio-dia, era impossível não perceber a orgulhosa autoconfiança, energia e belicosidade de um Dória ambicioso, tenaz e inteligente. Eu não votaria nele porque minha opinião era a de que sua política de “todos trancados” estava errada no médio e longo prazo. Achava que os mais moços, trabalhando normalmente, desenvolveriam imunidade natural e continuariam produzindo, criando uma riqueza que agora nos falta após longo tempo de inércia forçada por um governador. Quanto aos idosos poderiam ficar isolados se assim concordassem. Eu acreditava que a imunidade natural é superior à vacinal porque esta última “enfrenta” adversários biológicos já muito enfraquecidos ou mesmo artificiais, “produtos” de laboratório. Bolsonaro, por exemplo, que nunca tomou vacina contra o coronavírus — bem mais velho que Dória e ainda sofrendo consequência das facadas — , não está em situação física pior do que o ex-governador que recebeu inúmeras vacinas e voltou a ser infectado. Cito aqui Bolsonaro não como proselitismo político, mas ressaltando um exemplo concreto bem conhecido.

Pergunto: o que explica a baixíssima percentagem de Dória na intenção de voto após seu inegável sucesso na antecipação da vacinação, que salvou muitas vidas? Penso que a explicação da ingratidão popular está no seu estilo de falar e governar. Autoconfiante demais, “ditatorial”, “antipático”. Um “detalhe” aparentemente insignificante mas que explica a ingratidão do povão brasileiro afirmando que não votaria nele. E Simone Tebet, na CPI da Covid-19, também foi muito hostil — não tanto quanto o trio condutor da Comissão — quando fazia algumas perguntas no final das inquirições das duas médicas já mencionadas. Tebet deixava claro que considerava ambas eram mentirosas. Penso — talvez erradamente, não sei —, que a má posição da senadora na corrida eleitoral não é apenas fruto do pouco conhecimento de sua pessoa pelo eleitorado. Ela já é bem conhecida pela população. É bem articulada, respeitada e honesta mas imagino que seu pouco apoio popular tem ligação com seu estilo de desprezo no massacre das duas médicas na CPI.

Finalmente, explico por disse, no meu twitter, que “Se Cristo não tivesse sido crucificado, talvez inexistisse o Cristianismo. Seria grande filósofo”.

Jesus Cristo, fundador do Cristianismo, foi, inegavelmente, um profundo e bondoso filósofo — ou o deus-vivo, encarnação divina — conforme a particular convicção de cada um. Depois de uma curta vida — morreu com 33 anos — pregando a bondade, a tolerância, o perdão, o amor, a retidão de vida, foi traído, torpemente julgado, injustamente condenado, coroado com espinhos, chicoteado e pregado numa cruz.  Para “complementar” a maldade contra o fundador do Cristianismo, seus seguidores sofreram horrores, atirados às feras, no Coliseu, sofrendo perseguições e suplícios indescritíveis que ficaram registrados no decorrer da história. Leiam algum livro sobre os mártires do cristianismo para saberem a força de uma convicção.

Parece-me inegável que o sofrimento físico e moral da crucificação de Jesus Cristo, tocou o coração da humanidade, predispondo-a a aceitar, sem reserva, uma nova religião no planeta.  Hoje ela corresponde a cerca de 31,5 %  da população mundial, compreendendo católicos, protestantes e ortodoxos. Pergunto: se Jesus tivesse sido apenas um arguto pensador e pregador, com uma vida tranquila, prestigiado, conferencista — uma espécie de Sócrates, ou Platão, ou Aristóteles —, teria Cristo força para mobilizar o coração de bilhões de pessoas, como foi o caso do cristianismo?  Não teria, com toda certeza. Lendo, por exemplo, Buda e os grandes filósofos antes de Cristo, seus pensamentos e conselhos tinham muita afinidade com a posterior pregação de Jesus. Ocorre que Buda e os filósofos não foram torturados por horas e horas. Sócrates bebeu cicuta, mas seu sofrimento foi minúsculo, se comparado com a longa agonia de Cristo. E todo sofrimento injusto é vingado, de uma forma ou de outra, inclusive na versão eleitoral.

Espero que as duas médicas mencionadas se candidatem, para ver se minha profecia estará correta.

Francisco Cesar Pinheiro Rodrigues
oripec@terra.com.br

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