“A modéstia não pode ser considerada uma virtude, pois assemelha-se mais a um sofrimento do que a uma qualidade”. Aristóteles.
“Desenhar é a integridade da arte. Não há possibilidade de trapacear. Ou é bom ou é ruim”. Salvador Dalí.
Este artigo visa dois objetivos: proclamar o valor de um invulgar artista do desenho, residente na cidade de Tietê-SP, e também moderar, nele, a simpática virtude da modéstia, porque todo talento especial que se esconde — mesmo com a mais santa das intenções —, significa um desperdício da natureza no mecanismo evolutivo, que ocorre com saltos, por mero acaso.
O talento, qualquer talento, é como o raio, pode cair em qualquer parte: numa árvore ou numa santa mulher rezando de joelhos em uma praia deserta. O pai de Leonardo Da Vinci era tabelião. Provavelmente, para desenhar o círculo precisava de um copo. No entanto, seu filho..., bem, todos sabem quem foi, talvez, o maior pintor de todos os tempos, além de cientista e inventor.
Dando outro exemplo:
Se Thomas A. Edison, que inventou a lâmpada elétrica, caso se
se limitasse a fazer, por diletantismo, um aparelho que iluminasse apenas sua
casa, sem usá-la para iluminar cidades — para não prejudicar o comércio do óleo
de baleia, causando prejuízos e desemprego — seria correta essa omissão? Não. Até
as baleias, impiedosamente caçadas com arpões, implorariam a Edison que
difundisse sua invenção, diminuindo o massacre. O arpão geralmente, acerta no
pulmão, não no coração, prolongando a agonia.
No caso do Benedito Moraes — seu nome completo é Benedito Moraes Leite, mas não é afrodescendente —, seu “desperdício” consiste em desenhar, gratuitamente, por mero prazer, os rostos de parentes e amigos, provocando exclamações de surpresa e alegria, tal a exatidão do seu lápis. Antes disso, Moraes já pintava quadros, paisagens, flores, qualquer coisa. Certa vez, uns vinte anos atrás, estando eu em sua casa, em Tietê — salvo engano durante um churrasco —, vi uma sua pintura que me impressionou pelo realismo e beleza. Perguntei se ele tinha outros quadros e ele me mostrou vários, todos bonitos. Só então fiquei sabendo que o Moraes, dono de uma ótica, tinha também “veleidades artísticas”. Nossos papos eram geralmente mais uma troca de anedotas — limpas — e com elas abastecíamos nossos respectivos repertórios de humor.
Como ele não praticava a chamada arte moderna, e não se empenhava comercialmente para promoção dos seus quadros, sempre no estilo clássico, realista, não fiquei ruminando minha estranheza em ver tanto talento guardado como simples hobby. Mesmo porque já vi — e o leitor também já deve ter visto — quadros de paisagens, pintados por ilustres desconhecidos, que despertavam admiração pelo simples fato de que eu, ou o leitor, nunca teríamos a capacidade de fazer algo semelhante.
Passados vários anos, em outra visita casual a Tietê — onde moram parentes de minha mulher —, um deles me mostrou alguns desenhos do Moraes, retratando, com lápis, pessoas que conheço, gente famosa, cães, qualquer coisa viva. Fiquei, de novo, espantado com a perfeição. Pensei: — “Como pode!? É mais perfeito que uma foto! Deve haver algum truque nisso”!
Como teste, enviei-lhe um pequeno retrato, 3x4, de minha cara, e em dois ou três dias vi que tinha sido “fotografado”, tal como sou, pelo lápis do Moraes. Pensei: “Será o Benedito”!? Nem mostro esse desenho porque, vendo-o tal como sou, octogenário, acabado, pessoas que leem meus textos deixarão de me ler: — “Se eu gostasse de olhar múmias eu passaria minhas férias no Egito”.
Após investigar, com a ajuda do Google, a possibilidade do computador fazer maravilhas — como se fosse um retratista de carne e osso —, cheguei à conclusão, segura, de que os desenhos do Moraes são mesmo autênticos, feitos à mão. Talento puro e simples, complementado com um curso que o Moraes disse ser “do Neves” que ele considerava um dos maiores desenhistas do Brasil, juntamente com Carlos Laveso. Não sei se ambos estão vivos.
Não entro em detalhes técnicos para a conclusão de que Moraes desenha com a mão — não com computadores —, que só prejudicariam esse texto, pela extensão. Ele desenha, informou-me, em papel Canson MI-TIENTES e usa grafites importadas, detalhes que, salvo engano — não sou perito no assunto — indicam que não usa qualquer truque de computador.
É claro que devem
existir grandes desenhistas realistas, igualmente extraordinários — vi alguns
desenhos na internet — mas presumo que não sejam muitos os que conseguem
desenhar um rosto exatamente como está na foto, como o Moraes. Digo assim
porque algumas pessoal, retratadas, fazem questão de aparecerem, no desenho,
exatamente como são na vida real. Não “melhoradas”, ou rejuvenescidas.
Embora o desenho seja lindo, quem está no papel é outra pessoa, não a da foto.
A cópia “apenas” perfeita, com lápis, não é uma deficiência de imaginação do artista. É uma virtude técnica, deliberada, quando o retratado deixou expresso que deseja ser visto “tal como sou!”, não apenas “parecido”. Se bem que o Moraes, querendo — consultando quem pediu o próprio retrato — possa fazer ligeiras “melhorias” quando uma mulher não acha ruim aparecer com menos rugas. Direito dela, afinal o rosto lhe pertence. Tinha orgulho da própria beleza. Prefere ter seu desenho como ela era antes, nos melhores anos de sua vida. Já vi, na internet, alguns desenhos belíssimos, de outros desenhistas, mas não sei se correspondem ao que está na foto enviada pelo interessado.
Perguntei ao Moraes como é que ele justifica ter começado como pintor e só depois se tornado mais desenhista que pintor, vez que a pintura tem muito mais prestígio que o desenho. Aí ele me explicou que quando pintava quadros, sempre em estilo clássico, ele antes fazia um desenho, com lápis, ou carvão — porque é mais fácil de apagar. Desenhava antes de pintar para manter o senso de proporção nas coisas a serem pintadas.
Essa falta de senso de proporção na “pintura rápida” da arte moderna — fruto do comodismo, ou da inata incapacidade do pintor para o desenho —, foi “aproveitada” pela arte moderna, usando um palavreado filosófico como substitutivo do desenho difícil, quando a “dura mão não colabora”. Na arte moderna as deformidades fáceis que nela aparecem — museu de horrores sem qualquer beleza — seriam “propositais”, porque o valor da arte — segundo os modernistas — residiria somente na “emoção” do pintor enquanto pinta, não na emoção de quem olha. Uma inversão do objeto da arte, na história da humanidade, porque sua função primeira é provocar um sentimento agradável de beleza. Ou, se o quadro retrata uma cena de horror, um sentimento de espanto pela capacidade técnica do pintor, de conciliar o horror com o domínio de sua arte. Técnica, exatidão e beleza, ou choque emotivo não podem faltar em uma Arte que mereça esse nome. O resto pertence à outras áreas, como, por exemplo, a propaganda e marketing. A literatura, igualmente, consegue conciliar a descrição do horror real com a “força literária” de um estilo preciso e impressionante.
Em suma, ainda sobre a arte moderna, se o artista estava, eventualmente, embriagado ao pintar — com mão trêmula, misturando errado cores e fragmentos de objetos —, se ele for famoso ou cara de pau, pode alegar que seu fraco “trabalho” tem um “significado “profundo”, só “captado” pelos realmente entendidos de arte. E se o jornal disser que seus quadros estão no Louvre, e valem milhões, ninguém tem coragem de, em público, dizer que tudo aquilo é ridículo.
Não sei o que Benedito Moraes pensa sobre a arte moderna. Nunca conversamos a respeito. As opiniões críticas acima esboçadas são apenas minhas.
O termo Arte, pela sua abrangência, dificulta muito a discussão de seu conteúdo. A Arte está em toda parte. No desenho, na pintura, na escultura, na música, na dança, na literatura, no cinema. Até nas artes marciais já a vi mencionada. Ou na guerra. Victor Hugo dizia que “A música está em tudo. Do mundo sai um hino”. No cinema é mais difícil enganar o público. Se o filme, exibido na televisão, não presta, o espectador não tem paciência de ficar mais de quinze minutos olhando o besteirol, a menos que aguente somente porque está muito interessado em saber o final do enredo. Esse truque — a curiosidade em saber como o roteirista tentou salvar a mixórdia — já me fez perder muito tempo, porque é difícil mudar de canal sem saber como termina o filme.
Depois da invenção da fotografia — tão prática, tão rápida — a pintura realista foi se tornando “desnecessária”. Dá muito trabalho, consome um tempo enorme. Consta que Leonardo Da Vinci levou cinco anos pintando a Mona Lisa. Pintava um pouco de cada vez. Picasso disse que poderia encher de quadros vários museus de arte, em dois ou três meses, insistindo que podia pintar até de olhos fechados, apenas sentindo. E um malandro desses, pasmem, chegou a ter o mesmo “cartaz” que o Leonardo.
Para encerrar, considerando, porém, que o impulso artístico faz parte da natureza humana, é útil, benéfico, que milhares de pessoas, em todo o planeta — aquelas mais sensíveis —, disponham de uma atividade que alivie sua tensão, nem sempre explicável racionalmente, usando, pacificamente, as mãos — ou pés, quando não têm mãos — ou boca, segurando um pincel — pintando, desenhando, ou tocando um instrumento. É uma forma de terapia, seja bom ou feio seu produto final.
Por isso, não sou contra qualquer “hobby”, com ou sem talento para a coisa. Mas quem tem esse nobre impulso interior e demonstra um especial talento, deve difundi-lo em grande escala, porque todo trabalho bem feito gera admiração e o desejo de fazer igual ou melhor. O desejo de aperfeiçoamento deve ser estimulado em todas as pessoas.
Com este artigo publico alguns desenhos feitos pelo Benedito Moraes, em dois ou três dias, como amostragem.
Se o leitor, ou eleitora tiver dúvida sobre o talento do Benedito Moraes, querendo uma prova de sua expertise, solicitando um retrato, deixo aqui seu e-mail para eventual contato:
opticamoraes@hotmail.com e seu endereço comercial:
Benedito Moraes Leite - Óptica Moraes
Largo São Benedito, 07 - Centro - Tietê - SP - CEP 18530-000
Telefone 15 - 3282.3034
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