Leis “anti-preconceito” precisam
ser repensadas.
Pelo andar da carruagem, precisamos
de um novo “Iluminismo”. As trevas intelectuais se adensam, em toda parte,
usando tanto a intimidação quanto a informação deformada pela parcialidade,
vulgo mentira. As minorias sofrem abusos, mas quando fortemente organizadas, tendem
a intimidar maiorias desorganizadas.
O assunto é sério. Não se trata de
título para chamar atenção. Vamos ver se consigo convencer.
Concordo plenamente com as leis
“anti-bullying”, coibindo o tormento de indivíduos — pessoas físicas —, mas não
com a progressiva tendência, “democraticamente” obscurantista, de criminalizar opiniões
politicamente incorretas sobre fatos históricos, científicos e comportamentos sociais.
Um humorista já afirmou que existem
dois tipos de mentira: a tradicional, mais simplória — aperfeiçoada desde que o
homem aprendeu a se comunicar —, e a estatística. Manipulando-se os dados e a
rotulação dos informes, chega-se a qualquer resultado. Milagres não existem
apenas na religião. Por sinal, alguém já disse que o poder de Deus foi
suplantado pelo poder dos historiadores: — “Deus não pode alterar o passado,
mas os historiadores podem”. A mentira histórica seria a terceira variante.
Após a invenção da fotografia surgiu um curioso
modo de mentir: alterando fotografias. Quando Stalin fazia suas “limpezas” de
adversários políticos — utilizando tribunais sujeitos à sua vontade — ele não
dispensava a ajuda de hábeis fotógrafos que sabiam como “desfotografar” políticos
caídos em desgraça.
Talvez o leitor já tenha visto, na
mídia, duas fotos: na verdade uma só. A mais antiga, em que aparece o “pai dos
povos” ao lado de determinado político, então amigo, e a foto posterior, em que
Stálin está sozinho, quando o ex-amigo —
à maneira do iodo —, “sublimou”, mudando do estado sólido para o gasoso, sem
passar pelo líquido. Ou, quando ainda sólido, batendo os dentes solidamente na
Sibéria. É preciso certa habilidade para esse truque porque o espaço anteriormente
ocupado pelo “desfotografado” — ou “fotoferrado” — precisava ser preenchido de
maneira que não causasse estranheza.
Cresce, paradoxalmente — ainda há
muita liberdade na internet —, um novo ovo de serpente contra o livre pensamento:
a intimidação via lei penal. Como se o simples fato de alguém, ligando os
fenômenos e concluindo alguma coisa, praticasse um crime — caso essa conclusão
difira da “onda” dominante. É preciso lembrar que a maioria, mesmo acadêmica,
nem sempre está certa. Muita tolice já foi ensinada nas mais antigas e
respeitáveis universidades europeias. Francis Bacon já observava que “A verdade
é filha do tempo, não da autoridade”.
Um reputado professor francês,
amigo de Louis Pasteur, aconselhou-o, em carta, a zelar pela própria reputação
de cientista, abandonando a “loucura” de insistir na tese de que não havia
“geração espontânea”. Com outras palavras, o amigo culto dizia que “todo mundo
sabe que ratos brotam espontaneamente no lixo, sem precisar de pai e mãe”. Como
o grande Pasteur, inventor da vacina contra a raiva, não estava sujeito à
cadeia — mas apenas ao ridículo —, ele teve
condições de segurança para insistir na sua ideia e acabou provando que ele
estava certo e o resto do mundo, errado. Conseguiu isso porque, insista-se, não
havia uma lei penal pondo em risco sua liberdade.
Grupos particulares, ou pessoas,
não sentem a menor hesitação em moldar a realidade segundo seus interesses, mas
isso é esperável. Toda profissão, ou ideologia, possui seu lobby, mas os
prejudicados por ele podem reagir, fazendo proselitismo contrário. Sem medo de
serem processados criminalmente. Quando, porém, o ditatorial “selo da verdade”
torna-se lei, instaura-se o abuso, precursor das trevas, porque ninguém gosta
de ser processado criminalmente. Mesmo os mais corajosos pensam: —“Dá muito
trabalho...”. Os legisladores, ansiosos em agradar eleitores, no geral sem
tempo para longos estudos, deveriam evitar essa propensão para proibir isso e
aquilo. Bastaria aos congressistas proibir o insulto, o assédio, e a agressão
contra minorias, nunca a mera emissão de opinião, mesmo forte, contrária à
dominante.
A humanidade só se prejudicou — ou
mais se prejudicou do que se beneficiou — com a velha “mania” — o termo não é
injusto — de se livrar de opiniões incômodas promulgando uma “lei” considerando
crime expressar convicções diferentes. O medo da represália física, moral,
penal ou econômica, trava o próprio ato de raciocinar, mesmo de boa-fé. Em países ditatoriais — mais claramente — e nas
democracias — mais disfarçadamente — isso ocorre cada vez com maior
naturalidade, na pressuposição de que a lei, ou a “onda”, sempre está certa.
Na Idade Média era vasto o rol dos
assuntos “tabus”, tanto em assuntos religiosos quanto políticos e científicos. Pensadores
e cientistas assaram nas fogueiras da Inquisição só por afirmarem, por exemplo,
que a Terra girava em torno do sol, e não o contrário. Até hoje, em países
islâmicos, assume risco de chibata, ou morte, quem diz ou escreve qualquer
coisa contrária ao Alcorão ou seu intérprete-mor oficial, mesmo usando apenas a
ironia. Criticar a política de Israel, só com vários panos quentes, porque
existe o risco do “preconceito racial”. Risco que pode estimular o abuso por
parte do governo israelense, interessado em identificar qualquer crítica, mesmo
justa, como antissemitismo.
Pode-se contar muita anedota sobre
“loira burra”, mas se alguém fizer alguma piada sobre “negra burra” é melhor
contratar, de antemão, um advogado criminalista para “aguentar a barra” do “preconceito
racial”. O mesmo se diga sobre qualquer opinião desfavorável à expansão do
homossexualismo. Uma psicóloga carioca que anunciou seus conhecimentos
profissionais para ajudar o retorno ao heterossexualismo — daqueles que, sendo
antes “heteros” havia optado pelo homossexualismo mas se sentiam infelizes
nessa última experiência — foi punida por sua entidade de classe. Algo espantoso numa entidade profissional,
ligada à Ciência, que teria a obrigação de estimular a livre opinião. Conclusão,
nesse caso: a pessoa pode receber orientação — inclusive na prática corporal — para
se tornar um homossexual plenamente realizado, mas nunca o contrário. “Entrou
no grupo? Não pode mais sair!”. É uma liberdade de mão-única.
Quando a punição pela liberdade de
pensar e comunicar não se concretiza em processos judiciais, ela aparecerá na
forma de linchamento moral. Isso por enquanto, porque não está afastada a
hipótese do linchamento físico, pois é usual, como já disse, que minorias perseguidas
se tornem depois perseguidoras, quando a maré e a tolerância estatal assim facilitar.
Hitler, um orador que impressionava
mais pelo grito e pelo aproveitamento das frustações alemãs — após a 1ª. Grande
Guerra — “decretou” a falsa “verdade’ de que os judeus só tinham defeitos
morais — e até mesmo físicos — e por isso deveriam emigrar, em massa da
Alemanha, deixando suas riquezas para os nazistas. Quem tivesse a coragem de
dizer, ou escrever, o contrário tinha seus dias contados. Por isso, não pode
ser julgado com qualquer severidade quem, menino ou adolescente — como foi o caso do escritor Günter Grass —
prestou qualquer tipo de serviço militar no tempo do nazismo. Não havia
alternativas. Algum rapaz alemão, de inteligência normal, teria a coragem de
dizer ao exército que não concordava com Hitler e por isso recusava-se a lutar?
Na Turquia, quem escreve, hoje — se
isso não foi alterado muito recentemente — afirmando que houve um genocídio
armênio — ocorrido entre 1915 e 1917, causado pelos turcos —, está sujeito a
processo criminal. Pouco importam as provas apresentadas por historiadores e depoimentos
de pessoas que presenciaram o ocorrido. — “Não ocorreu e pronto! Se disser o
contrário, “teje preso!”
Como na França existem muitos
descendentes de armênios, estes pressionaram e conseguiram do governo local uma
lei dizendo justamente o contrário: quem negasse a existência do referido
genocídio é que estaria cometendo um ilícito.
Quanto ao holocausto judeu, em
muitos países negá-lo também é crime. E negá-lo parcialmente, dizendo que o
número de mortos foi inferior a seis milhões pode, talvez, ser considerado uma
forma “indireta”, disfarçada, de antissemitismo, com consequências penais.
Evidentemente, o atual governo israelense tira largo proveito disso, porque
dezenas ou centenas de pessoas que, revoltadas com o sofrimento palestino, pensam
em escrever sobre o “eterno conflito” veem-se obrigadas a pesar cada palavra.
Pode-se falar mal — sem receio de processo
criminal —, de alemão, russo, italiano, árabe, chinês, coreano, argentino,
brasileiro, americano e tudo o mais — até mesmo injustamente —, mas nunca contra um determinado povo, o hebreu, que teve
seu inegável valor reconhecido por pessoas cultas e comovidas com seu longo
sofrimento.
Quando os judeus eram perseguidos e
até mesmo massacrados, na Europa, não havia leis punindo o antissemitismo. Agora
que Israel se tornou uma nação poderosa, influente, organizada — até temida —, armada
com o que há de melhor em armas tradicionais — e até atômicas, fato único no
Oriente Médio — viu-se protegido por uma redoma legal privilegiada. Redoma hoje
sem sentido porque Israel tem poderosa presença em todos os organismos
internacionais, na mídia, no mundo das finanças. E existe arma mais poderosa
que o dinheiro? Não é mais um povo de “coitadinhos”, necessitando de uma
proteção legal, especial, contra críticas, proteção essa que nenhuma outra
nação possui.
Hoje, alguém chamar uma pessoa de
“judeu’ é o mesmo que “xingar” um ser humano de “suíço”, “belga”, “canadense”
ou “americano”. O rico e elegante “xingado”, abaixando o vidro, à prova de bala,
de seu Mercedez, apenas perguntará: — “Desculpe: o senhor está me ofendendo ou
elogiando?”
O tema “homossexualismo” também se
tornou uma variante do dogma religioso. Não deve, legalmente, ser considerado, “sob
pena de prisão”, um “desvio”. Mas, se um cientista, ou pensador, achar,
sinceramente, que é de fato um “desvio” da rotina biológica, mesmo sem qualquer
“culpa” pessoal? Por que não pode externar livremente sua opinião — sem
processo e sem linchamento —, ressaltando que sua conclusão tem pelo menos o
apoio da anatomia? Ele dirá: se as mulheres, por exemplo, nascem com útero,
glândulas mamárias e outras características de seu gênero, isso não seria pelo
menos uma “pista” de que está nos “planos’ da natureza que as mulheres tenham
relações íntimas com o sexo oposto?
O mesmo ocorre com o
homossexualismo masculino, cuja realização física implica em utilização de
parte do aparelho digestivo para uma
atividade bem diversa da planejada, anatomicamente, pela natureza. Pelo menos
os livros de anatomia parecem sugerir que, na “opinião” da “mãe natureza” a
atividade reprodutora (de filhos) seria separada da atividade excretora. Daí a
sem-razão, repita-se, de se proibir que uma psicóloga possa anunciar seu
trabalho profissional para aqueles que querem — eles mesmos, não a psicóloga! —
voltar ao estado anterior de orientação sexual. Não é isso um indício das
“trevas” que se adensam?
Francis Wheen, escritor que deve
ser inglês, escreveu um livro muito interessante, “Como a picaretagem
conquistou o mundo”. Nele, menciona que em 1784 uma revista berlinense convidou
intelectuais alemães a responderem à pergunta: “O que é o Iluminismo?” Eis a resposta
de Immanuel Kant: “O Iluminismo é a emergência do homem da imaturidade a que
ele mesmo se submete. Imaturidade é a incapacidade de usar a própria
compreensão sem a orientação de terceiros. Essa imaturidade é algo que o
próprio indivíduo se impõe, quando sua causa não é a falta de entendimento,
mas a falta de determinação e coragem para usá-lo sem a orientação de outrem. Sapere aude! Atreve-te a saber! É este
o lema do Iluminismo”.
Evidentemente, todo ser humano tem
o direito de ser feliz, inclusive — e principalmente — na área afetiva. Era
absurda a legislação antiga que considerava crime o homossexualismo. Essa
legislação, pelo menos do mundo ocidental, felizmente, foi abolida, porque a
atração pelo mesmo sexo é, presumo, natural, espontânea em algumas pessoas.
Estas têm o direito de serem felizes, seja qual for a explicação do porquê, na
área sexual, eles sejam diferentes da maioria. O que não podem é,
agressivamente, atacar todos os que pensam que há algo “investigável” nesse
fenômeno biológico, psicológico, ou mistura das duas coisas. A
heterossexualidade nem precisa ser investigada porque sem ela o planeta Terra
não teria um único ser humano.
É retrógrado ameaçar pessoas que formulem
e investiguem hipóteses explicativas para o aparente crescimento do
homossexualismo. Um exemplo: a injeção de hormônio feminino em aves e gado
consumidos por mulheres grávidas não poderia ter algum papel na ampliação da
homossexualidade entre os homens? Embora seja difícil garantir que a
homossexualidade vem se ampliando — porque havia os “enrustidos” —, espera-se
que se algum cientista pesquisar o assunto não seja ele processado por
homofobia. Se o próprio “Deus” pode ser estudado, dissecado e discutido na
Filosofia e na Teologia, por que o homossexualismo não poderia ser examinado —
desde que com respeito — sem o risco de cadeia?
Outra pesquisa: uma senhora
peruana, minha conhecida, muito observadora, morou por cerca de um ano, quando
bem jovem, entre tribos indígenas de seu país. Estava lá em missão de estudo.
Estranhou que nunca vira, entre centenas de indígenas, um só caso de conduta
homossexual. Seria isso, pergunta-se,
uma evidência de que o homossexualismo seria provocado, em parte, pela
conglomeração, pelo excesso de pessoas ocupando pequenos espaços? Haveria,
talvez, uma espécie de mecanismo de defesa natural, inconsciente, da raça
humana contra as consequências da superpopulação que já nos ameaça com um desemprego
quase universal? O homossexual puro — isto é, não bissexual —, é estéril.
Portanto útil em termos de alívio do excesso de pessoas consumindo algo que é
finito: os alimentos.
Tudo se investiga atualmente, sem
medo. Freud disse coisas espantosas, em seu tempo. Os complexos de Édipo e de
Electra são explicações ou hipóteses bem desrespeitosas, mas nem por isso Freud
e seus colegas de psicanálise foram processados nem linchados. Espero que essa
tradição de tolerância permaneça, o que não parece ser o caso do Brasil de agora.
Encerrando, deixo claro que não
endosso as teorias e explicações “teológicas” do pastor Marco Feliciano,
atacando homossexuais e negros. Teologia e Ciência são como azeite e água. Prefiro
a Ciência. Embora não seja um cientista, respeito, socialmente, os adeptos de
estudos bíblicos
(11-04-2013)
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