É cada vez mais freqüente ler e ouvir — na mídia nacional e internacional —, o “perigo” que ameaça o futuro da humanidade com o progressivo aumento de idosos e a baixa natalidade nos países desenvolvidos. Quanto aos países em desenvolvimento, ou flagrantemente subdesenvolvidos, há, em compensação, por enquanto, uma até excessiva produção de bebês, mas isso tende a diminuir à medida que tais países melhorarem o padrão de vida. A mulher moderna quer trabalhar, realizar-se, ganhar o próprio dinheiro. Sobretudo, não depender do volúvel coração masculino que, mesmo com aliança no dedo pode, de um momento para outro, “endoidar”, buscando sexo, digo, amor romântico em novo endereço.
Quando isso ocorre, o drama é humilhante e desgastante para a mulher que dependia apenas do marido — ou companheiro —, para subsistir: há que mover ação de alimentos, para ela e filhos; discutir a fatia patrimonial oriunda da ligação desfeita; disputar a guarda dos menores e sofrer os desgastantes atritos relacionados com o direito de visita; assumir compromissos financeiros para a própria disputa judicial, etc. E, para cúmulo do drama, o ex-marido pode ficar desempregado, escapando da ameaça de prisão, por vezes a única forma eficaz de “arrancar do desgraçado!” o cumprimento de uma obrigação legal e moral.
Pensando nisso tudo, a mulher meio desconfiada — e toda mulher o é, por necessidade do duro ofício — acha mais prudente trabalhar fora de casa. Mas, com quem deixar as crianças? Babás nem sempre são pacientes e, além do mais, não trabalham de graça. Tudo considerado, a mulher jovem vê, nitidamente, que o mais sensato é ter apenas um ou dois filhos, com isso conciliando carreira, auto-estima, razoável — embora não excelente... — função de mãe que trabalha fora e uma aposentadoria tranqüila. Ou “pé de meia” que dependa só dela, na formação; não de um “terceiro”, o marido. Este, pode, no decorrer da convivência, se revelar uma bênção do céu ou uma “praga do inferno”, só o tempo dirá. E assim pensa também o homem com relação à mulher, que só aos poucos vai revelando suas falhas. Norman Mailer, um escritor americano muito experiente em assuntos matrimoniais, dizia — cito de memória — que alguns maridos só chegam a conhecer verdadeiramente a esposa em um tribunal.
Por outras palavras, como lembrei atrás, o grande fornecimento atual de bebês, oriundos de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, diminuirá à medida que a mulher for se libertando economicamente e a pobreza mundial for desaparecendo, como é o desejo — pelo menos aparente — de todos os governantes. Isso é bom, a médio e longo prazo, considerando o problema sob o ângulo planetário. Convém que não nasçam muitas crianças. Principalmente se não lhes for assegurando um espaço saudável e confortável no mundo. A miséria gera sofrimentos físicos e morais, humilhação, desesperança, ignorância, criminalidade violenta, terrorismo, deformações físicas e morais e até maus governantes porque os espertos, quando candidatos, sabem como seduzir os desesperados com promessas.
A população mundial precisa diminuir. Se não isso, pelo menos estacionar. O aumento universal — inevitável, salvo catástrofe mundial — da riqueza e da informação, levará a um forte aumento do consumo individual global, com aumento da poluição, escassez de água e todos os inconvenientes do progresso material quando acoplado com a super-população. Um dia, a África, hoje símbolo de penúria, terá centenas de milhões de automóveis, geladeiras, aparelhos de ar condicionado e demais confortos, úteis mas poluidores. Quando a proporção entre automóveis e pessoas, na China e na Índia, chegar ao nível americano atual, a humanidade perceberá que a população mundial ultrapassou o limite do racional.
Aqui, insere-se a tese da utilidade dos velhos: eles não se reproduzem. E consumem. Bens e serviços, fonte de emprego para os mais jovens. Consumo que gera tributos que vão ajudar a pagar suas aposentadorias e auxílio-desemprego dos jovens. Se — apenas como argumento, não tenho pressa —, todos os idosos morressem hoje, milhões de jovens e maduros ficariam desempregados, sem função. Não teriam vaga em setores de clientela e freguesia jovem porque tais setores já contam com muitos desempregados.
Alguém argumentará que “não é justo” que os jovens tenham que “se sacrificar” — até parece —, trabalhando pesado para sustentar milhões de velhos ociosos, cada vez mais longevos e espertos nas técnicas de retardar a morte. Na verdade, não haverá “sacrifício” dos jovens, porque a espécie humana está “condenada” a uma progressiva e relativa ociosidade, em todas as idades. Conseqüência da automação, da robotização e da informática.
O desemprego, hoje, é uma realidade inevitável, se mantida a semana de quarenta horas de trabalho. Se não houver um acordo universal forçando todos os países a reduzir — se possível por igual —, a carga semanal de trabalho, o desemprego continuará atormentando todos os povos. Isso porque máquinas e computadores fazem o serviço de milhões de operários e funcionários de escritório. Cada vez mais, governos e empresas usam menos braços e cérebros humanos. A chamada “inteligência eletrônica” cresce em eficiência, empurrando o homem para o reino das teclas e botões, com dispensa do próprio homem.
O ideal de todo patrão — compreensível, em um mundo extremamente competitivo —, é ter o mínimo possível de empregados. “Se meu concorrente consegue produzir o mesmo que eu, em quantidade e qualidade, com menos empregados, ele me destrói, ou engole!” Todos percebem isso. Em vez de o comprador, via internet, receber em casa — o carteiro está sendo dispensado — um boleto para efetuar o pagamento no banco, ele recebe apenas um e-mail com o anexo do boleto, que ele mesmo preencherá após imprimir. Em seguida, ele vai a um banco, ou caixa eletrônico e — novamente sem contato com funcionários, usando apenas um cartão —, paga a quantia com a leitura magnética.
As próprias máquinas foram “alfabetizadas”, usando um “olho” linear vermelho. Se necessitar de dinheiro vivo, não precisa também entrar em contato com qualquer ser que respire: saca as cédulas utilizando uma máquina. Se precisar, via telefone, de um serviço público — ou até mesmo particular, conforme o caso —, “dialogará” com a máquina, usando a ponta dos dedos, clicando “opções 1,2,3”, etc. Se falar errado, ou não claramente, a “madame máquina”, uma “senhora” educada e impassível, dirá que não entendeu sua resposta, pedindo ao exasperado interlocutor que responda de modo claro o que lhe foi indagado. E se ele disser que seu assunto não figura entre as “opções”, a máquina se fingirá de surda porque, afinal, não foi construída para conversar com ignorantes.
Professores, pessoas físicas, futuramente, serão necessários apenas para fim de alfabetização e alguns poucos anos de freqüência inicial à escola. Depois disso, as pessoas aprenderão por conta própria, lendo livros e textos na internet, em CDs e DVDs. Lendo e ouvindo. Aprendendo, por sinal, com a nata dos professores, escolhidos para gravar suas aulas. Por que o estudante adulto perderá tempo no trânsito e comendo na rua quando pode aprender em sua casa, frente à televisão enquanto faz a refeição ou come pipoca? Freqüência às Faculdades, só mesmo se for para namorar ou bater papo com os amigos. E o aluno aparentemente “burro’, se bem orientado na técnica de estudar — na verdade, muita suposta “burrice” poderia ser evitada, ou contornada, com técnicas adequadas a cada aluno— não precisará do professor, de modo geral.
Advogados serão também progressivamente dispensados. As injustiças afetando grande número de pessoas serão corrigidas — já vem sendo — através de ações públicas, movidas pelo Ministério Público, ou com novas leis — como já vem acontecendo —, corrigindo falhas das anteriores. Quantos advogados, formados, trabalham hoje, efetivamente, exercendo a advocacia como única profissão? E quantos milhares sequer podem exercer a profissão porque não conseguem passar nos duros Exame de Ordem? As “Súmulas” dos Tribunais Superiores — necessárias para diminuir a pletora de recursos protelatórios — também “desempregam”, ou dispensam os advogados. A prevenção de demandas, se beneficia a sociedade, como de fato beneficia, esvazia os escritórios de advocacia. Na medicina, o desemprego é menor porque o ser humano, “felizmente”, é objeto perecível. E quanto mais velho fica, mais perecível se torna. Fonte preciosa de emprego.
Quando os jovens — também eles, não só os funcionários —, na França, revoltam-se contra o aumento de dois anos na idade mínima da aposentadoria — dos sessenta para os sessenta e dois — a explicação está, em parte, no desejo de conseguir algum trabalho. E quando os imigrantes, rejeitados, se assustam com o crescente preconceito dos moradores locais, a explicação é óbvia: estes também se assustam com a perspectiva tenebrosa da ausência de emprego. Para o patrão, o imigrante ilegal é mais lucrativo do que o trabalhador nascido no país.
Conclusões óbvias deste artigo: desemprego não é culpa do governante “x” ou “y”. O “inimigo” do emprego, intelectualmente pouco percebido, chama-se Progresso. Da ciência e da tecnologia. E não seria inteligente destruir aparelhos e computadores. Eles trabalham para nós, sem exigir salário, férias e demais benefícios. Percebido isso, é preciso que, como forma de neutralizar o desemprego, uma legislação universal reduza substancialmente a carga semanal de trabalho. Como sempre lembro, a França tentou ser pioneira nesse sentido mas acabou se prejudicando porque seus produtos se tornaram mais caros que aqueles produzidos por países que não concederam tal vantagem a seus trabalhadores.
Boas intenções, em um mundo comercialmente globalizado, só “funcionam” se todos ou grande parte dos países agirem da mesma forma. “Acordem, senhores presidentes! Unam-se para essa redução universal da carga horária semanal”. Não é questão de prestigiar, em abstrato, o valor do trabalho, mas de propiciar o trabalho para todos que querem trabalhar.
E parem de acusar os velhinhos, porque eles estão sendo ainda muito úteis, com seus reumatismo, pressão alta, manias e compras em farmácias. Repito: os jovens não estão se “sacrificando” com a atual situação. Estão é se beneficiando. Não trabalham, a maioria, puxando o cabo da enxada, erguendo fardos e suando sob sol escaldante. Trabalham com telefones, computadores e contatos pessoais, não de todo desagradáveis porque o sexo oposto integra o mundo do comércio e indústria.
(5-11-2010)
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