sexta-feira, 22 de julho de 2022

Elon Musk, seu Projeto Marte e o congelamento humano reversível, na conquista espacial

 


Foto divulgação

Adianto minha convicção de que Musk conseguirá isso se aplicar um milésimo de sua riqueza e alguma fração da sua determinação, já comprovada na fabricação e difusão do carro elétrico (TESLA); nos foguetes espaciais reaproveitáveis (Space X); na colonização de Marte e tudo o mais em que Musk se envolve, como demonstra sua biografia, escrita por Ashlee Vance: — “Elon Musk: Como o CEO bilionário da Space X e da Tesla está moldando o noss...”. Leiam, no presente texto, minha justificação para esta previsão.

Elogiar um bilionário é sempre suspeito. Não estou isento dessa suspeição, porque tenho interesse pessoal pela Criônica. Para quem não sabe, Criogenia é o ramo da ciência que estuda o efeito do frio intenso na matéria, seja ela viva ou morta. Criônica é mais específica. Significa a utilização da Criogenia em seres humanos que, com doença incurável — ou muito apegados à vida — gostariam de se congelar por tempo indeterminado até que a medicina do futuro possa curar sua doença, ou melhorar sua longevidade ou capacidade física e mental. Isso porque é impossível prever o quanto a ciência e a técnica podem nos beneficiar nos próximos anos. Mais impossível ainda é imaginar como estará a Terra daqui a duzentos anos, um tico na história da humanidade. Células-tronco reconstruirão, certamente, órgãos importantes, dispensando transplantes, que provocam rejeição.

Escrevi um romance, “Criônica”, em 2005, sem propaganda e distribuição do livro impresso — eu estava com pressa, meio velho —enfatizando que a humanidade daria um imenso salto para o futuro se conseguisse a façanha técnica de congelar uma pessoa, praticamente “matando-a”, para “acordá-la” anos depois.

Eu pensava, quando redigia esse livro, somente nas pessoas com doenças incuráveis que, após serem descongeladas seriam sanadas pela medicina do futuro. Congelar é fácil. Descongelar — vivo e bem —, é que é o problema. O câncer era minha principal preocupação. Não pensava na colonização de Marte porque em 2005 essa hipótese parecia impensável. Apenas marginalmente eu levava em consideração a utilização do congelamento para remotíssimas viagens espaciais.

Poucos, imagino, aprovaram o “lúgubre” tema central do meu romance, invocando razões religiosas: — “É ridículo! Então a alma fica também congelada e depois retorna ao corpo!? Como congelar algo imaterial?!” —, ou preocupados com o excesso populacional. Havia, como ainda há, uma espécie de tabu na mera hipótese, aparentemente impossível e grotesca. Além disso, havia o fato concreto de que até agora não foi possível descongelar, vivo, um ser humano — ou qualquer mamífero morto —, depois de dias, quanto mais após meses ou anos. Recentemente li notícias de que alguns sapos e insetos, em regiões árticas, retornam à vida com a primavera. A conferir, porque há muita diferença entre um homem e um inseto.

A ideia da Criogenia aplicada em humanos — ainda dormita, desanimada, mas não totalmente esquecida, porque não surgiu ainda um grande cientista, ou empresário “visionário”, com imaginação, teimosia, coragem — e dinheiro suficiente —, capaz de descongelar, vivo, um ser humano.

Sempre me impressionou mal, em filmes, a passividade resignada dos médicos quando constatam que o coração do seu paciente, fisicamente inteiro, talvez ainda moço, deitado à sua frente no hospital — rodeado de tecnologias —, parou de bater. É certo que de uns anos para cá já existe um modesto micro “ressuscitador”  parecido com um ferro de passar roupa —, que consegue, às vezes, com violento choque, trazer de volta à vida um cidadão que acabou de morrer. Houve — com perdão pelo humor negro —, uma “mortinha” provisória de segundos. Mas, não houvesse ali o desfibrilador, sua morte teria sido definitiva.

Lendo, em e-book, a já mencionada biografia de Elon Musk fiquei entusiasmado com a possibilidade do biografado se interessar pela Criônica porque as viagens extraplanetárias, mesmo limitadas ao sistema solar — Marte, Vênus, Lua e, quem sabe, outros corpos celestes —, dependem do tempo de vida normal dos astronautas, seres humanos, de limitada resistência física e psicológica para longos confinamentos. “Dormindo”, congelados, poderão suportar mentalmente esperas de meses e talvez de anos em longas viagens espaciais, impulsionadas pela energia solar ou atômica.

Alguém objetará que Elon Musk até agora só se interessou por outros assuntos: física, mecânica, robótica, internet, carros, foguetes, finanças (PayPal) astronomia, inovações administrativas e desafios empresariais, não havendo por que esperar que ele se envolva em um assunto tão diferente, biológico, “médico”, como é o caso da Criônica.

Ocorre que Musk, felizmente — para todos nós —, gosta de tentar justamente o que não foi ainda tentado. Nasceu assim, como mostra seu biógrafo. Se falha, uma, duas ou mais vezes, em algumas experiências, isso só aumenta sua obstinação. Seus primeiros foguetes Falcon fracassaram. Em vez de desistir, como seria o “normal”, redobrou o esforço. Basta mencionar aqui — comprovando o sucesso de sua persistência —, que seu Big Falcon Rocket tem 68,3 metros de altura e pesa centenas de toneladas, segundo informa o livro mencionado. Como conseguiu construir um foguete manobrável com tamanho peso? Aviões têm asas, que se apoiam no ar. Foguetes não têm asas, apoiam-se apenas nas próprias explosões. E como projetá-los para aterrissar lugar certo?  Após o voo espacial o foguete volta à Terra e pousa, verticalmente, numa plataforma flutuante; no mar, ou na plataforma de lançamento original. Na parte final do livro, já mencionado, há foto de um dos seus foguetes que mostram o gigantismo tecnológico desse “Falcão” que pesa “quase 500 toneladas”, nas palavras do autor.

Quem supervisiona, pessoal e detalhadamente, obra desse porte? O próprio Musk. Esse camarada é, claro, um “visionário”, mas a humanidade avança, mais depressa por causa dos visionários que, quando também corajosos, aceitam tremendos riscos pessoais com tentativas, erros e acertos. Ser “visionário” apenas imaginando, discursando ou escrevendo livros é fácil. Muito diferente é criar concretamente artefatos, empresas e sistemas que podem levar o visionário à prisão, à morte, à falência ou à miséria. Não fosse Joannes Gutenberg, criando a impressão com tipos móveis — invenção considerada a mais importante do segundo milênio —, os livros continuariam fabricados à mão, um por um. A civilização deve muito a ele.

Se Elon Musk conseguir descongelar alguém, do jeito que estava antes, também ingressará na história do progresso humano. Não há nada mais inovador, “revolucionário”, do que isso. Afetará, sem querer, até as religiões porque o “ressuscitado” poderá contar o que “viu” do outro lado. Feito mais notável que fabricar foguetes superpoderosos e controláveis no seu voo e pouso. Foguetes já existiam antes dele, mas muito inferiores. Robert Goddard, americano, falecido em 1945, foi o pai dos foguetes. E não nos esqueçamos de Werner von Braun, alemão, cujo talento ímpar foi utilizado por nazistas e americanos. Eram meras bombas voadoras.

Além dos feitos acima mencionados Musk é o fundador e CEO da Neuralink, que estuda o cérebro humano. Em última análise, é o cérebro o principal problema da Criônica. Um cérebro não congelado, ou descongelado inadequadamente, inutiliza-se em poucos minutos, daí a opção de alguns excêntricos de só congelar a própria cabeça por ser mais barato. Nada, para Musk, é desinteressante se tiver alguma utilidade prática, agora ou futuramente. Quando surge uma dificuldade ele fica como que obcecado, remoendo o problema até encontrar uma solução.

Já li algumas biografias de gênios precoces mas a que mais me impressionou foi a de Elon Musk, porque é sem limites a sua curiosidade e exige conhecimentos de assuntos que nem sequer existiam décadas atrás, disponíveis para gênios anteriores. Sua biografia tem semelhança com a de Thomas Edison, gênio autodidata que não inventou apenas a lâmpada elétrica. Registrou mais de mil patentes e tinha como lema não desistir. Essa é também a filosofia de Musk, que nunca se deu por vencido apesar de quase falir várias vezes.

Se o leitor está pensando que exagero, leia, por favor a biografia dele, mencionada no início deste artigo. Seu biógrafo gastou alguns anos pesquisando a vida de Musk e não parece ser um puxa-saco do bilionário. Nem sempre concorda com o pensamento de seu biografado. O livro, para o leitor comum — que pouco sabe de motores —, poderia ser menos detalhado sobre problemas mecânicos e financeiros mas podem interessar a engenheiros-mecânicos e jovens criadores de startups, veículos elétricos e foguetes. E quando digo foguetes lembro que eles transportam satélites espiões, de comunicação e meteorológicos.

É claro que, neste momento — julho de 2022 — a possibilidade de total extinção da espécie humana, é remotíssima. Mesmo que ocorra um pavoroso conflito nuclear, talvez iniciado com um míssil disparado acidentalmente — o “revide imediato” —, envolvendo EUA, Rússia, Ucrânia, União Europeia, China, e o resto, é claro que a espécie humana não desaparecerá instantaneamente. Apenas retrocederá a um estado quase selvagem, talvez desaparecendo aos poucos, vítima da radiação generalizada.

Perigo de súbito morticínio poderá ocorrer se a Terra for atingida por um enorme meteoro, ou asteroide, incapaz de ser fragmentado antes atingir nosso planeta. Ou no caso de uma anomalia no funcionamento do sol. Sem tempo para preparar uma fuga de algumas centenas de humanos para Marte, a espécie humana poderia, de fato, desaparecer. E isso preocupa o polêmico inventor, aqui resumido. Mas se ele reunir e chefiar umas vinte ou trinta melhores cabeças do planeta — físicos, químicos, médicos de várias especialidades —, com dedicação exclusiva, tenho a certeza de que conseguirão, sem grande demora, congelar e descongelar, do jeito certo, qualquer ser humano. Certamente essa façanha será menos complicada e cara que colonizar Marte.  Será preciso, também, alterar a legislação sobre a definição de “morte” e a liberdade da pessoa para decidir o que fazer com a própria vida.

Reiterando, Elon Musk é um visionário superdotado, com a peculiar tendência de realizar o que a todos parece impossível, ou distante demais. Lendo a sua biografia lembrei-me de Thomas A. Edison, que frequentou a escola pública apenas durante três meses, mas sendo muito impertinente, era malvisto pelo professor. Preferiu sair e foi educado pela mãe. Ficou famoso por inventar a lâmpada elétrica e, segundo disse, fez 1.200 experiências para descobrir um filamento, condutor da eletricidade, que não se queimasse facilmente resistindo à passagem da eletricidade, emitindo luz. Ele registrou 1.033 patentes. Ainda menino, já inventava incessantemente.

O mesmo fenômeno de precocidade ocorreu com Elon Rusk que, vendo qualquer coisa “emperrada”, funcionando mal, logo se punha a imaginar uma solução para lhe dar rapidez e funcionalidade. Sabendo que o carro movido a gasolina é poluidor, resolveu fabricar o carro elétrico, pretendendo, com o tempo, democratizar sua utilização. Para esta, precisava de baterias especiais e sua distribuição pelo país. Inventava-as e continuava aperfeiçoando-as. Uma invenção puxava outra e como conhecia tanto a Física quanto a internet, as finanças e técnicas de venda, conseguiu criar a Tesla, a maior fabricante de automóveis elétricos do mundo.

Não vou, aqui, prosseguir com suas realizações. Leiam a biografia mencionada e, se ainda interessados no congelamento de pessoas, leiam meu romance, em e-book, “Criônica”, com o subtítulo “o primeiro romance brasileiro sobre o congelamento humano”. Está disponível na Amazon, também em inglês, “Cryonics”.

Por favor, não misturem a Criônica com qualquer religião, pensando que essa técnica — se bem-sucedida —, afrontará “desígnios divinos”. Pelo contrário, imagino que Deus quer que os seres humanos vivam felizes e sadios, não morrendo “antes do tempo”. Por isso existem as Santas Casas de Misericórdia. Crentes, gravemente doentes, ou acidentados, ou seus familiares, rezam — com apoio de sacerdotes — pedindo até milagres. A penicilina será, por acaso, algo mau, uma invenção do diabo? Se o Papa estiver enfermo, à beira da morte, será ofensa à Deus rezar pela sua cura? Se assim fosse toda a Medicina seria maldita, por pretender “concorrer” com o poder de Deus.

Não há por que rejeitar a Criônica, se ela ficar muito adiantada, possibilitando que milionários excêntricos —, com sucessivos congelamentos e utilização de células-tronco —, vivam 120, 150, ou mais anos, formando uma “elite” ditatorial dominando massas enraivecidas com tanta desigualdade. Mesmo que a medicina do futuro consiga manipular as células-tronco criando novos neurônios, pele de jovem, e outras restaurações, é de se presumir que futuros cientistas e governos tenham juízo suficiente para não utilizar a Criônica como uma fábrica de Frankenstein. Ela será apenas uma nova terapia, não a busca da imortalidade física — uma péssima ideia para um planeta já com excesso de gente.

Atualmente, não é só o câncer que amedronta a humanidade. O aumento da longevidade já não é tão compensador. O Mal de Alzheimer azeda a alegria de viver muito. Além da decadência física, a mental. O que adianta chegar aos 90 ou 100 anos se a pessoa está meio cega, surda, amnésica, incapaz de lidar com um celular ou reconhecer os familiares?

Alguns talentos especiais, porém, inovadores, poderiam aumentar duas ou três décadas de lucidez. Apressariam o avanço da civilização. Tipos como Einstein, Edison, e vários outros, mereceriam esse privilégio, não para gozo da ociosidade, mas pela produtividade e bem da humanidade.

Arvores que dão belos frutos, por mais tempo, merecem melhor cuidado do agricultor. Não sei qual a opinião de Elon Musk a respeito.

Para um contato com o autor, prefiro o e-mail

Francisco Cesar Pinheiro Rodrigues
Desembargador aposentado
oripec@terra.com.br

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(22/07/22)  

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