Como Paulo Guedes diz que o governo brasileiro não conta com
uma alternativa para sanar o imenso rombo previdenciário e as previsões indicam
que parte dos congressistas — antigos e os
novos —, condiciona a aprovação da Reforma à permanência, no cargo, de milhares
de funcionários não concursados — por eles indicados —, a alternativa para
salvar tanto a Previdência quanto as Finanças Públicas, será utilizar dois “remédios,
um estritamente financeiro e outro “jurídico-financeiro” — de eficácia inegável
— que mencionarei no decorrer do presente texto.
Se eu disser, aqui, já, qual a principal alternativa financeira
sugerida, muitos leitores — que pensam com o fígado —, nem lerão o restante do artigo,
e o país continuará pouco governável, apesar da boa intenção do presidente
Bolsonaro. Votei nele porque seria o único candidato em condições de vencer a
eleição presidencial. Meu candidato preferido era outro, mas Bolsonaro mostrava
algumas boas e raras qualidades, entre as quais a coragem e a honestidade.
Bolsonaro é bem
intencionado, idealista, mas pouco se interessava, antes, por política externa. Era tão focado no Brasil,
no patriotismo, que esquecia o que estava fora de suas fronteiras. Seus pontos
fracos, nesse item, ainda são a questão Palestina e a equivocada admiração por
Trump. Tenho, porém, a certeza, ou esperança, de que à medida que Jair
Bolsonaro — que não é tolo —, for constatando as complexas realidades do
Oriente Médio, e a megalomania e volubilidade “trumpianas”, não hesitará em modificar
sua política externa nos pontos essenciais. Se concordar sempre com as
pretensões do presidente americano, além da nossa criminalidade interna terá
que lidar também com o terrorismo islâmico, um mal que ainda não chegou aqui.
Bolsonaro merece um crédito de confiança. Só não morreu por um
triz. Seus inimigos, que são muitos, saudosos do petismo — ou ambicionando
loucamente sua cadeira —, parecem torcer para que ele morra logo, com uma bela infecção
bacteriana. Já falam até em parlamentarismo. Acusam-no de inércia — como que dormindo
em “dolce far niente” na UTI — e por ter filhos demais na política, como se vocação
de filho dependesse do pai. Seus filhos, legitimamente eleitos, não deveriam
tomar posse porque o pai foi o escolhido? A inexperiência de algum deles,
querendo “ajudar” quando o pai lutava contra a morte, não pode ser valorizada
demais pela mídia, com segundas intenções, visando derrubar não o filho mas o
pai.
Juan Carlos Onetti, escritor uruguaio, já disse que “há
diversas maneiras de mentir mas a mais repugnante de todas é a de dizer a
verdade, toda a verdade, escondendo a alma dos fatos”. Essa “alma dos fatos” —
a verdade verdadeira emergente de uma complexa situação global — anda ausente
em alguns jornalistas que escrevem textos com a mal disfarçada intenção de
enfraquecer um governo corajoso demais.
Para grandes males — Previdência e contas públicas — fortes
remédios, desde que não matem o doente. Adote-se a velha sabedoria: “vão-se os
anéis mas fiquem os dedos”, como faziam as senhoras paulistas, durante a
revolução constitucionalista de 1932, quando doavam suas joias e alianças para financiar
a luta contra Getúlio Vargas. A solução do problema previdenciário exige um
sacrifício de todos.
Queiramos ou não, tudo indica que a aprovação da Reforma só
será aprovada, com forte dose do “toma lá, dá cá”. A
maioria dos novos e antigos congressistas tem parentes e amigos que foram ou
serão nomeados, sem concurso, por solicitação de parlamentares. Se demitidos,
ou não nomeados, não lhes será fácil, nesta conjuntura, conseguir trabalho na área
privada. A maioria ficará desempregada por longos períodos. Talvez para sempre
se hoje na faixa acima dos cinquenta anos. A simples ideia dessa futura dispensa
em massa funcionará como um dilema terrível para o parlamentar em dúvida sobre
como votar. —“Sigo a razão ou o coração?”
Mesmo que ocorra, dentro de poucos meses, um aquecimento na
economia, o avanço inevitável, mundial, da automação, da informática, da
robótica e das novas técnicas que dispensam braços e cérebros, o desemprego atormentará
parentes e pessoas amigas dos parlamentares. Problemas familiares difíceis
surgirão envolvendo filhos, filhas, cunhados, etc., de deputados e senadores. Poucos
demitidos terão dinheiro, ou vocação empresarial, para criar empresas próprias.
Muitos congressistas que aceitarem, sem reação, a dispensa próxima
do filho, irmão, sogro, etc., levarão uma bronca da esposa, irritada: — “Como
você, um deputado, aceita, sem reagir, que teu filho e teu neto vão p’ra rua
nesta crise em que estamos? Você tem dinheiro suficiente para sustentar duas
famílias da classe média? O que?! Precisamos pensar no ‘bem geral’? Também
acho, em tese, que o governo não é cabide de empreso, mas é preciso pensar
primeiro na família! O governo que dê tratos à bola para acabar com a
roubalheira. E nosso filho não é ladrão! Ele apenas não prestou concurso. E
muitos concursados nem são nomeados. Você
pode crer que teus colegas do Congresso farão forte pressão para evitar que os
protegidos deles — “ só os deles! — escapem da degola. Será um salve-se quem
puder! Quando a situação geral melhorar, nosso filho poderá arranjar uma
colocação, ou prestar um concurso. Eu te imploro: pense no teu filho. Antes de
ser deputado, lembre-se que você é pai”.
Nesse estilo será o apelo das esposas de muitos
parlamentares.
Esclareço que não tenho parente em emprego público de livre
nomeação, mas sei o que se passa na cabeça das pessoas. Entre uma angústia
pessoal, familiar, e uma abstrata melhora “geral”, futura, é previsível que a
família e os vínculos pessoais tenham mais peso na votação da Reforma da
Previdência.
Daí a alternativa do
Plano B.
Refiro-me ao temido, odiado e mal compreendido “imposto do
cheque” — em nova versão —, isto é, acompanhado, simultaneamente, de uma
redução — aquela possível, factível — do Imposto de Renda descontado na fonte
dos assalariados. Ou talvez, eventualmente, reduzido também para a pessoa
jurídica, se assim for cabível após avaliações técnicas, dosando os percentuais
tanto do IR quanto do “imposto do cheque”.
Sugere-se a redução do IR dos assalariados porque, sendo eles
milhões, se onerados no bolso pela nova CPMF, ficarão, por outro lado, desonerados,
pagando um IR menor no holerite. Haverá, assim, menor resistência popular e política.
E se, eventualmente, a redução do IR se estender, depois, às pessoas jurídicas,
isso incentivará investimentos tanto internos quanto externos. Se direcionados
ao Nordeste tais investimentos isso que motivaria nordestinos desempregados, no
Sul e no Sudeste, a procurar trabalho nas regiões de origem, melhorando de
condições.
Por que a CPMF foi tão antipatizada quando utilizada poucos
anos atrás? Porque era apenas um tributo a mais. Doravante seria um tributo
diferente, substitutivo de outros, o passo inicial para o ideal de um Imposto
Único, ou quase isso — três ou quatro, talvez — simplificando a vida do
contribuinte brasileiro, hoje atormentado por cerca de 60 tributos.
O que se sugere aqui é que com uma alíquota relativamente
alta, de, digamos, 1% em cada pagamento com cheque — ou transferência bancária
—, a arrecadação seria tão alta que o governo poderia, simultaneamente, reduzir
o IR com alíquotas bem menores que as atuais e fazer seus pagamentos
obrigatório.
A arrecadação desse novo tributo, diferente da anterior
CPMF, não seria direcionada apenas à Previdência porque se isso ocorresse — havendo,
como há, nela, muita distorção —, as atuais distorções na Previdência
persistiriam. Toda a arrecadação da nova CPMF iria para o “caixa geral” do governo
federal e eventualmente para os Estados, rvitando as complicadas e arriscadas
manobras contábeis, ou orçamentárias, para contornar a rigidez constitucional.
Manobras que podem resultar em cadeia ou impeachment.
A propósito, alguma razão tinha Napoleão Bonaparte quando
dizia que as Constituições deveriam ser “curtas e vagas”. De fato, quanto mais
detalhistas e carregadas de cláusulas pétreas, maior a trava imposta ao administrador,
mesmo quando honesto e inteligente, na incumbência de manter a “máquina” em
funcionamento. Ao redigir a Constituição, o constituinte não tem condições de
prever, sem erro, como estará o país no futuro. Maus, ou mesmo bons
futurólogos, acabam, sem querer, prejudicando o país, porque não é fácil a
futuros governos, cumprir sua missão com tantas proibições na alocação do
dinheiro disponível.
Voltando ao “imposto do cheque”, por que essa minha
insistência, de leigo em economia, na criação de um imposto tão odiado? Porque
esse tributo é o “ovo’ — também “de Colombo” — do Imposto Único (IU), o grande
e distante sonho do contribuinte brasileiro.
A mera ideia do “Imposto Único” é combatida com a alegação
de que nenhum país, até agora, adotou essa forma de tributação. Não foi adotada
porque seria irresponsabilidade de qualquer país baixar uma lei trocando, com
uma canetada, todos os seus tributos por um único, sem antes conhecer a reação
da economia. Seria um salto no escuro. Por isso, terá que ser progressiva sua
adoção. E o Brasil, caso não consiga uma boa Reforma da Previdência, deveria
fazer esse experimento. Que dará certo, embora com reclamações pontuais.
Pessoas, físicas e jurídicas, que hoje não são tributadas, terão que pagar.
Todos pagando, a carga individual será mais leve para os que hoje pagam.
O IU (imposto único) tem inúmeras vantagens: é praticamente
insonegável; prático (é mais fácil fiscalizar algumas dezenas de instituições
financeiras do que as finanças de todas as pessoas físicas e jurídicas do
país); tributa a riqueza que — realmente — circula no país, diminuindo os
complexos “truques” legais de investimentos que permitem que vultosos ganhos não
sejam tributados, ou ridiculamente tributados; dispensa o suplício na hora da
declaração anual exigida pelo leão.
É possível e compreensível que contadores e advogados
tributaristas sejam contra o IU não só por motivos práticos e doutrinários.
Podem temer que se os tributos forem desaparecendo, seus clientes precisarão
menos de seus complexos e relevantes serviços. Esse receio não tem sentido
porque uma nova concepção de tributação exigirá longo período de experimentação
quanto às vantagens e desvantagens desse novo e “ambicioso” tributo, visando a
simplificação. Se tais profissões forem perdendo relevância, no decorrer dos
anos, seus inteligentes profissionais se prepararão para novos desafios. Talvez
ainda mais úteis ao país.
Não se alegue que os pobres serão os mais sacrificados com o
IU. Pobre, mesmo, costuma usar dinheiro vivo em suas compras. E, se necessário,
a lei poderá isentar o IU em saques e transferências de pequenas quantias, desde
que limitadas a um número “x” de transferências, por mês, para cada
correntista. E não se argumente que, com o IU, as pessoas passarão a carregar
bolsos estufados com notas de cem reais, só para não pagar o tal imposto.
Assaltantes logo saberão disso e tomarão providências bem dolorosas atravessando
tais movimentações.
Tudo, neste planeta, caminha para a simplificação e unificação.
Hoje com uma única injeção, vacina-se contra várias doenças. As obrigações
fiscais terão que acompanhar essa tendência. Cálculos, comprovantes, pendências
administrativas e judiciais, tomam tempo demais do cidadão.
Se o IU for de 1%, alguém sabe, hoje, quanto isto significaria
em arrecadação? Mesmo reduzindo concomitantemente o percentual do IR-PF (pessoa
física), quanto sobraria para fortalecer o caixa do governo?
Finalmente, quanto ao “remédio jurídico-financeiro”,
referido no início do artigo, trata-se da propositura de uma lei que, nas ações
judiciais de cobrança de dinheiro, após a decisão de segunda instância —
dizendo quem deve a quem —, o devedor só poderá recorrer para aos tribunais
superiores — STJ e/ou STF —, se depositar o valor mencionando no acórdão. Com isso, comprovará que seus futuros
recursos não visam apenas protelar. Se não tiver dinheiro para esse depósito,
poderá obter um empréstimo, mas esse depósito não será levantado pelo credor. O
depósito, judicial, renderá juros e correção monetária e será levantado ou por
acordo entre as partes ou no final do processo, pela parte que ganhar a
demanda.
Escrevi um artigo a respeito, com o título “Meta urgente:
agilizar a Justiça Cível”. Trata-se de uma carta que enderecei ao Min. Sérgio
Moro. Para lê-lo, clique aqui. Fala sobre dinheiro grosso, parado, só
útil para o devedor que muitas vezes só quer protelar.
Encerro pedindo aos eventuais leitores eruditos —
economistas e juristas —, escusa pelo
estilo coloquial, mesmo porque, em Economia, não teria outro estilo a meu
dispor.
(06/03/2019)
Excelente maneira como colocou as coisas Dr! É sempre muito prazeroso ler seus pensamentos e poder abrir minha mente com seu conhecimento e sua sabedoria. Um abraço de seu eterno Amigo, Marco Tezza.
ResponderExcluir