quarta-feira, 11 de julho de 2018

Qual o limite futuro da vida humana? Talvez nenhum

Li, em 07/07/2018, no jornal “O Estado de S. Paulo”, um fundamentado e bem redigido artigo do jornalista Fernando Reinach, especializado em difusão de assuntos científicos. Seu texto aborda o aumento progressivo da longevidade nos seres humanos, graças aos cuidados médicos, alimentação adequada e tudo o mais que favoreça uma vida sadia. Ele nos lembra, porém, que há limites intransponíveis para a vida humana, frisando que nenhuma pessoa chegou, até agora, a viver 130 anos, mas quem sabe poderemos alcançar, futuramente, o pico etário de 200 anos. Na opinião do articulista esse deve ser o marco intransponível da longevidade humana. Ele está certo, apoiado na tecnologia disponível neste momento.

Como sou um entusiasta da possibilidade (teórica, por enquanto) de uma vida muito além dos 200 anos, combinando a Criogenia com a posterior utilização das células tronco — se o “retorno à vida” do “congelado” der certo  —, senti o impulso de expor, novamente minha convicta opinião de que nós, brasileiros, estamos perdendo um tempo precioso no que se refere ao drible técnico da morte, desatentos ao fato incentivador de que os seres humanos não gostam, nem um pouco, da ideia de que vão morrer fisicamente.

“Aceitam” a morte, mas rangendo os dentes. Mesmo os infelizes se apegam à vida. Desconhecendo o potencial da Criogenia aplicada em seres humanos, consolam-se com a alternativa disponível para evitar o perecimento, o pavoroso “nada”: a religião, que promete a vida eterna no paraíso, caso tenham levado uma vida correta. E se isso não foi possível — porque a santidade exige qualidades sobre-humanas — dizem, algumas crenças, que o arrependimento sincero, antes de morrer, limpa uma alma até então suja.

Nada a opor contra os efeitos úteis, calmantes e espirituais das religiões, que não devem ser menosprezados porque as religiões, de modo geral, visam o bem; aconselham o crente a evitar a mentira e as más tendências que dormitam em todos nós. Esse efeito prático, de desestimular o crime e outros malfeitos justifica, por si só, a proteção legal das práticas religiosas.

Ocorre que, com ou sem religião, o instinto de sobrevivência física é inato no ser humano, a menos que ele se sinta em uma situação tão desesperadora e insolúvel que a morte pelo suicídio seja mais atraente que permanecer entre os vivos. Por isso, tenho a certeza de que mais década, menos década, a conservação das pessoas no gelo, para “ressuscitação” futura — com a técnica adequada — leiam mais adiante minha sugestão a respeito —, conjugada com o avanço na utilização das células tronco nos “ressuscitados” jogará a familiar morte para o baú das antigas lendas. Imagine, leitor, ou leitora, como estará nossa civilização daqui a mil anos.  

Pelo menos dentro de um século o problema técnico de “morrer provisoriamente e acordar quando for conveniente” estará solucionado. Resta saber quem terá o privilégio de utilizar esse “tratamento” que não pode ser concedido apenas a quem tenha dinheiro e poder. Isso seria a negação da democracia. Ocorre, realisticamente, que a Terra já tem gente em excesso, com previsão do progressivo e inevitável empobrecimento de milhões porque a informática, a robótica e a inteligência artificial estão substituindo os braços e os cérebros humanos.

Não demora, os desempregados, em todo o mundo, se revoltarão, com razão, exigindo, de seus governantes, com desespero e violência, uma decisão: ou vocês nos propiciam um emprego ou uma pensão mensal equivalente ao ganho atual da classe média mais modesta. E não me venham com essa história de que daqui a xis anos teremos um desequilíbrio parasitário, cada vez menos gente trabalhando para sustentar o crescente número de idosos e aposentados. Com as fábricas robotizadas, aplicativos e toda essa tecnologia que dispensa o trabalho humano, os robôs não reclamarão de serem obrigados a sustentar os humanos idosos. Robôs não fazem greve, não pedem aumento, não engravidam e não estrilam quando são substituídos por robôs mais “jovens”, novos. Estamos “condenados” ao ócio forçado, ao desemprego, e a revolta popular, que será inevitável se a humanidade não der um passo político decisivo para algo que nem convém desenvolver aqui: a necessidade de uma governança global, um assunto que mexe muito com os nervos e pouco com a inteligência.

Volto, agora ao assunto da Criogenia e seu complemento, as células tronco.

Como sou curioso sobre o futuro da humanidade, estudei, anos atrás, a aplicação da Criogenia na conservação de pessoas, no exato momento de sua morte, para eventual “retorno à vida” quando a doença que as matou — câncer, por exemplo — for curável. Li grande parte do que havia disponível, na mídia, sobre a “Cryonics” — palavra inglesa — e escrevi um romance com o título “Criônica”, que publiquei por conta própria em forma impressa. A demora para a avaliação dos originais, pela provável editora, era excessiva para uma pessoa idosa, e eu, com mais de 70 anos, não quis esperar. Recentemente publiquei esse livro, na forma de e-Book.

Muito depois de publicado o livro fiquei sabendo da existência de rãs, e outros batráquios, na região ártica, que conseguem ficar praticamente “mortos”, no inverno mas quando chega a primavera “acordam”, prontos para se alimentar e procriar. Isso graças a um “truque químico” da natureza que permite ao animal ficar congelado sem que a água das células de seu corpo se transforme em gelo (com as malditas arestas, finíssimas, que perfuram a membrana celular). Pelo que fui informado, com a perfuração da membrana celular, no início do descongelamento, a água das células “vaza” e o cérebro, por exemplo, fica reduzido a uma espécie de papa. Daí a impossibilidade atual de “ressuscitar” os congelados, não apodrecidos enquanto submetidos ao frio próximo dos 190º Celsius negativos.

São tais arestas que anulam o urgente trabalho da equipe da “Criônica” (o congelamento dos corpos em temperatura próxima do frio absoluto). Se a ciência e a técnica, conseguirem, futuramente, injetar um líquido anticongelante nos seres humanos, substância semelhante àquela presente nas referidas rãs, — antes de sua morte —, o homem interessado no seu congelamento poderá, talvez, ser ressuscitado em tempo futuro, continuando seu ciclo de vida. E não só “ressuscitado” como também “renovado”, “reconstruído”, graças ao uso das células tronco que prometem a renovação até de neurônios velhos, coração, fígado, etc.

É nesse ponto que a Criônica tem uma ligação de ideias com o artigo que li no jornal: viver não só 200 anos, mas 2.000, talvez.

Penso que alguma empresa brasileira, ou grupo de cientistas, poderia se interessar pelo assunto. Se não o fizer, cientistas de outros países farão isso. Gasta-se bilhões, hoje, em planos e esforços para colonizar Marte, quando há, à disposição, uma façanha científica bem menos cara, acessível ao Brasil, que ultrapassa qualquer outro avanço já imaginado: o domínio da morte física. Se eu fosse milionário bancaria tal empreendimento.

O leitor pensa que exagero. Quem exagera é o leitor, no pessimismo, na rejeição passiva de algo tremendamente promissor. O que a natureza fez com a rã o homem fará — muito melhor — com os recursos da técnica. Um Thomas Edison da área química faz falta.

Tinha razão Woody Allen quando dizia que “Não tenho medo da morte. Apenas não espero estar lá quando ela chegar”. E complementava afirmando, mais ou menos, não querer continuar vivo em seus filmes, nos seus livros e na mente de seus admiradores. Quer continuar vivo não morrendo mesmo.

Apesar do fecho humorístico deste artigo, deixo expresso que tudo o que disse antes é exatamente o que penso. E respeito, apenas por cortesia, quem pensa o contrário. Gente prática, de tímido juízo.

Francisco Pinheiro Rodrigues (10-07-2018)  

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