terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Intuições tolas ou previsões certeiras?

A intuição sempre intrigou os pensadores. Os profundos e os superficiais, porque ela oferece material para ambos. Afinal, seus “palpites” carecem de rigor e respeitabilidade científica. Entretanto, às vezes acerta em cheio, saltando para o “ovo de Colombo” sem percorrer a burocrática, ou “burrocrática” via de longas pesquisas que dão em nada.

Frequentemente está errada. Manifesta-se como impulsivo “flash”, não claramente fundamentado — “algo me diz que...” —, síntese que brota muito mais do coração que do cérebro. Mais sentimento, reação instintiva, que pensamento lógico. Não chego a dizer “reação animal” porque a “coisa” intuída pode ser de elevada natureza ética, científica ou espiritual, como é o caso das súbitas conversões religiosas, grandes descobertas científicas e outros “estalos” completamente opostos ao que sugere o adjetivo “animal”. Quando acerta, apesar da inicial aparência de absurda, a reação é de espanto desconcertante — “quem diria...” — ou de indignação: “Eu sempre desconfiei disso... Não falei nada com medo do ridículo”.

A própria alta matemática — não a “baixa”, onde 2+2 jamais será 5, por mais que o coração insista — valoriza a intuição, como nos revela Einstein, um franco admirador dessa esquiva faculdade. Einstein dizia que “a única coisa realmente valiosa é a imaginação”, a nosso ver uma variante da intuição. Dizia ainda que “se os fatos não se encaixam na teoria, modifique os fatos”. A própria Teoria da Relatividade deve muito à intuição do grande matemático e pensador. Essa teoria é tão abstrata, tão dificilmente explicável por uma demonstração matemática “a+b” que gerou um impasse na Comissão que decidia sobre a quem conceder o Prêmio Nobel de Física para o ano de 1921.

Pretendendo corresponder à calorosa pressão popular em favor de um Nobel para Einstein — pela confirmação científica da sua Teoria da Relatividade —, a Comissão Nobel só não lhe concedeu o prêmio — com esse fundamento —, porque um dos membros teve a bravura de dizer que não poderia votar a favor de Einstein porque não conseguia entender sua prestigiada Teoria. Como premiar — perguntou aos colegas — uma teoria que não compreendemos? E os demais membros da Comissão admitiram, a contragosto — apesar de “serem do ramo” — que também não tinham condições de entendê-la. Por isso, deram como base para a concessão da láurea um seu trabalho explicando o efeito fotoelétrico, perfeitamente demonstrável. De minha parte, como exímio ignorante de Física e ligeiramente desconfiado de tudo que vem do intelecto humano — por melhor que este seja —, acredito apenas 99,9% na aclamada Teoria da Relatividade. Não acho impossível que daqui a algumas décadas, com o surgimento de novos fatos, um Einstein nº 2 explique que “não é bem assim...’.

Sempre desconfiei da conclusão desse grande homem — como pensador, cientista e homem ético — quando ele afirmou que nenhuma velocidade pode ser superior à da luz. Sempre imaginei — cisma de ignorante intuitivo —, que talvez poderia, sim, bastando um “empurrãozinho”, acionando o foguete, quando o objeto já estivesse na referida velocidade da luz.

Para conforto de minha intuição simplória, li, na internet, que “De acordo com medições feitas por especialistas da experiência internacional Opera, os neutrinos percorreram os 730 km que separam as instalações do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), em Genebra, do laboratório subterrâneo de Gran Sasso (centro da Itália) a uma velocidade de 300.006 km/segundo, ou seja, 6 km/s acima da velocidade da luz”. Acrescenta a notícia que “Este resultado, ‘totalmente inesperado’ para os cientistas, foi verificado durante seis meses, mas ainda deve ser confirmado por outros experimentos, disse o físico Antonio Ereditato, porta-voz do Opera” (revista “Exame.com”, de 22-9-11, às 17,06 hrs)

Houve, em décadas passadas, quem dissesse que a intuição era uma faculdade “inferior’, “tipicamente feminina”. Análoga — na imaginação desse misógino —, à ligação entre “causa e consequência” elaborada pelo cérebro de um cão que “intui” que vai passear porque seu dono mexeu na coleira, uma “lógica” indicação de que ambos iriam dar o passeio habitual. No exemplo do cão, o bicho estava certo e agia por dedução; o que ofende as mulheres é sua equiparação com o primitivismo canino.

Faz parte da tradição, não só popular, a assertiva de que a intuição está muito mais presente entre as mulheres do que entre os homens. Concordo.Talvez isso tenha alguma ligação com a maternidade, a maior preocupação, inata, com o futuro da prole e o maior grau de sentimentalismo. Por mais que a dura concorrência econômica esteja deformando essa simpática dimensão feminina — hoje encarada como “fraqueza”, da qual os homens se aproveitam — penso que se todos os países tivessem mulheres como presidentes, as guerras seriam muito menos freqüentes. Nenhuma mãe aceita facilmente a idéia de ver seus filhos vestirem farda para, provavelmente, morrerem em campos de batalha. Já o pai, “valentão” por procuração, quase sempre fica orgulhoso de ver o júnior marchando para a guerra. Quando recebe o telegrama governamental do dizendo que o rapaz morreu, “servindo a pátria”, o pai chora, de dor e orgulho cívico. Mesmo nos negócios, a mulher, talvez por timidez, está muito mais atenta, intuitivamente, às possibilidades de um empreendimento dar ou não certo. Sua intuição também parece mais certeira no avaliar o caráter do namorado da filha que está com planos de casamento. Não esqueçamos que “no interior” da algo desorganizada intuição há uma mescla de variados componentes, inclusive a lógica, ainda que em posição secundária.

A intuição é uma síntese que conecta imaginação, percepção, acúmulo de fatos, lembranças, preconceitos e tudo o mais que convive no cérebro humano. Por ser uma “mistura” mental, com componentes até mesmo inconscientes do “garçom”, o “coquetel” não pode ser plenamente confiável. Sua conclusão jamais seria aprovada para consumo público, por uma espécie de Anvisa mental. Se, porém, a conclusão intuitiva não for completamente aniquilada pela lógica e por opiniões incontestáveis de especialistas, restando mínima brecha de acerto, será o caso de se aceitar e seguir a intuição. Inclusive porque, “seguindo o que manda seu coração”, o interessado age com entusiasmo. E quem age com entusiasmo trabalha, pensa e articula mais, com isso aumentando suas chances de vencer, mesmo tendo tomado uma decisão teoricamente menos certa. Um mau negócio, conduzido por um empreendedor muito entusiasmado, ativo e inteligente, pode se tornar um bom negócio. Há vários exemplos nesse sentido, de firmas falidas que se tornaram prósperas com novos donos.

Para não cansar o leitor com generalidades teóricas, de conhecimento comum, peço licença para externar, com extrema brevidade — própria da intuição — algumas delas que inda não vi mencionadas na mídia. Talvez sejam tolices, talvez não, mas não será o medo do ridículo que vai me impedir de externar o que penso; ou melhor: não penso, apenas intuo. Afinal, não estou sustentando tese acadêmica. Se minha intuição estiver certa poderei, futuramente, no estágio de esqueleto, dizer, com o sorriso largo das caveiras, que vi mais longe que os outros. Quem estiver poucos metros acima do meu jazigo imaginará que o vento lhe prega peças, parecendo dar gargalhadas cavernosas entre os eucaliptos. Engano, sou eu mesmo, contente com minha previsão. Vamos, porém, às intuições.

A primeira refere-se ao planeta Marte. Frequentemente a mídia refere-se à remota possibilidade de haver, em seu subsolo, água suficiente a sustentar alguma forma de vida rudimentar e já extinta, talvez bactérias. É previsível que a Nasa, e outras entidades assemelhadas, consigam chegar brevemente ao quarto planeta — a contar do sol — com naves tripuladas. Ali chegando, os astronautas, cientistas e técnicos poderão pesquisar, com técnica especial, o que está por baixo de toda aquela poeira acumulada em milhões ou bilhões de anos. E poeira é o que não falta no planeta.

De minha parte, arriscaria algum dinheiro apostando que quando for possível fazer prospecções profundas no solo marciano, o que vão encontrar lá não será água, ou apenas água, mas uma extinta civilização, provavelmente mais avançada do que a nossa. Na superfície encontrarão o que já se sabe porque temos muitas fotos e perícias. O segredo a ser revelado está a alguns quilômetros de profundidade, soterrado em toneladas de poeira, depositada durante milhões de anos. Dou, em seguida, os fundamentos dessa intuição que, como disse antes, não é fruto apenas de qualquer “estalo” imaginativo. Relembro que na “sopa” da intuição há, também, o tempero da lógica, da dedução. E que lógica é essa? Explico em seguida.

Inicialmente, tenho como certo que o nosso Sol, alguns milhões ou bilhões de anos atrás era mais quente que atualmente. Afinal, a Astronomia afirma, ou sugere, que a cada segundo mais de 4 milhões de toneladas de matéria solar são convertidas em energia. Isso representa um esvaziamento da “lareira”. Um dia, o sol se extinguirá — opinião unânime da Astronomia —, por esgotamento, após um súbito crescimento que queimará nosso planeta. Será o “canto do cisne” da nossa estrela. Repetindo, o Sol no seu início era mais quente que agora. Tão quente que nosso planeta não podia hospedar a vida. Marte, porém, naquela época, podia florescer em crescente civilização, porque mais distante do sol. Depois dessa longa fase, com o sol se reduzindo, esfriando progressivamente, a Terra se tornou habitável e Marte, mais distanciado do sol, tornou-se frio demais, só podendo, e dificilmente, abrigar vida de seres inteligentes com um altíssimo nível de tecnologia, muito superior ao nosso, hoje.

Considero possível que a vida, em Marte, antes de esfriar terrivelmente, chegou a produzir uma espécie inteligente; talvez mais do que a nossa, caso Marte tenha sido beneficiado por mais tempo com as vantagens de um sol amigável. Quando o frio extremo se completou, Marte só poderia sobreviver vivendo em cidades subterrâneas, tal a ameaça constante de meteoros ou impossibilidade de manter uma atmosfera respirável na superfície. Se os marcianos atingiram tal nível de tecnologia, estaria aí uma possível explicação para os esquivos objetos voadores não identificados, que possivelmente existem e são de origem extra-terrestre. Há tantos relatos, vindos de pessoas sérias, que fica duvidoso atribuir as aparições de ÓVNIS apenas a loucura ou ânsia de mentir. Pelo menos, digamos, 3% dos relatos ou filmagens de discos me parecem sinceros. Raquel de Queiroz, a grande escritora, escreveu em uma crônica que viu um “disco” seguindo, por vários minutos, o avião em que ela viajava. Ela era uma mulher inteligente, corajosa, mentalmente honesta, e não relatou o fato quando estava velha demais.

Se os eventuais habitantes de Marte não alcançaram uma tecnologia superior à da Terra, não conseguindo, portanto, evitar a própria extinção, futuras escavações poderão localizar, como disse, a centenas de metros ou quilômetros abaixo da grande poeira, os vestígios de uma civilização um tanto assemelhada à nossa. Assemelhada, porque 2+2 sempre será 4 e sem matemática — uma “língua” universal — qualquer civilização não cresce. É possível, ainda, que Marte tenha produzido e armazenado armas atômicas, seguidas de uma guerra total que contaminou o solo, a água, e terminou extinguindo toda a vida, o que seria uma boa lição para nós. Sem vida, e distante do calor solar, veio a desertificação, com a poeira sempre presente em imensas nuvens.

Tenho como evidente que em todo planeta “telúrico” — Terra e Marte, por exemplo —, isto é, não gasoso ( como é o caso de Júpiter e Saturno), que mantiver distância “adequada” de sua estrela (no caso o sol)— nem muito quente nem muito frio — a vida surgirá, inevitavelmente. Havendo luz e calor, terra e água, ali florescerá o ponto de partida da vida. E surgindo a vida, qualquer vida, esta se desenvolve no sentido da maior complexidade, “para cima”, como que seguindo uma “inteligência” interior, própria desse misterioso “conhecimento” que até dispensa a existência de um cérebro localizado. É o caso, por exemplo, da inteligência das plantas, hoje comprovada. Uma trepadeira plantada em um jardim cresce meio desorientada enquanto “não vê”, ou melhor, não sente, sem precisar tocar, uma estaca ou muro onde possa se agarrar para subir, porque assim exige sua natureza. Se, porém, o dono do jardim coloca uma estaca não muito distante dessa trepadeira frustrada, ela “vê”, sem olhos, a estaca, muda de direção e cresce na busca da estaca, na qual se enrosca e cresce. Essa “inteligência” dos seres vivos, não consciente de si mesma, se comprova também nas bactérias, que se modificam quando atacadas por antibióticos que visam matá-las. Não acredito que todas as mutações são fruto do acaso. Creio que a “necessidade” de mudar, face à hostilidade do meio, explique grande número de mutações rápidas.

Em suma, o impulso da vida floresce em qualquer planeta “telúrico” desde que haja um sol “camarada” que lhe forneça luz e calor na dose certa. E a vida vai crescendo em complexidade e inteligência caso não interrompido, esse impulso normal, por algum cataclismo vindo do espaço exterior ou oriundo da sua própria loucura, inclusive nuclear ou relacionada com a destruição do meio ambiente. Por isso, é preciso que todas as guerras, na Terra, sejam proibidas, embora para isso, seja preciso atribuir a um poder central, democrático, o monopólio do uso da força. As armas hoje disponíveis já não aconselham seu uso por iniciativa individual dos governantes de todos os países. E fiquemos por aqui, antes que o leitor fique nervoso. Prossigamos.

Nessa provável evolução, Marte, com forte probabilidade chegou a conhecer as imensas potencialidades da fissão e fusão nucleares. A “vida” marciana, no seu período áureo de sol ameno deve ter produzido seu equivalente “Einstein marciano”, ou cientistas equivalentes. É absurdo imaginar que se Einstein e outros conhecidos gênios da Física não tivessem nascido a humanidade não chegaria jamais a conhecer o segredo nuclear, para o bem ou para o mal.

Resumindo, futuras escavações em Marte, se encontrarem alguma coisa “interessante”, não será apenas água, ou extintas formas primárias de vida microbiana. Encontrarão é construções soterradas, vestígios de uma extinta civilização, ou — mais dificilmente —, provas de uma “avançada civilização subterrânea”, inteligente e pacífica porque avançada demais. Acredito piamente, que quanto mais avançada qualquer civilização, mais compreensiva e ética ela se torna, o que explicaria a não-tentativa dos eventuais marcianos de dominar a terra, tirando proveito de seu avanço tecnológico. Só não concretizo minha aposta financeira — de que futuras escavações localizarão vida organizada e inteligente soterrada em poeira — porque já não sou moço para esperar, por duas décadas, perfurações no Planeta Vermelho. Morto, não poderei nem cobrar nem pagar minha aposta.

Uma outra intuição, mais “terrestre” e menos especulativa. Refiro-me à mudança climática que todos atribuem, corretamente, ao aquecimento global, com derretimento das calotas polares e picos gelados, com aumento do nível do mar. Todos, ou quase todos, concordam que o aumento do efeito estufa é responsável não só pelo aumento do nível do mar como da maior ocorrência de furacões, chuvas torrenciais, secas, etc. O que não vejo mencionado é a explicação de porque o derretimento do gelo causa alterações diferentes na temperatura dos países do nosso planeta. Os países não ficaram uniformemente mais quentes, como seria “lógico”. Alguns ficam até ficam mais frios, paradoxalmente.

A explicação que arrisco é que com o derretimento do gelo polar e dos picos montanhosos a água do planeta ficou distribuída de forma diferente do passado, ocasionando uma ligeira modificação do eixo da terra. Acumulada, por exemplo, mais da faixa do Equador. A Terra, que gira como um pião meio inclinado — o que explica a alternância das estações nos dois hemisférios —, está passando a girar de forma um pouco diferente, alterando o ritmo das estações em todos os países. Isso explicaria porque, numa época de tanto aquecimento, países tradicionalmente frio estão mais quentes, e vice-versa. O interessante é que, se os tratados climáticos conseguirem reverter o “efeito estufa”, essa água que escorreu dos picos gelados e dos pólos não voltará ao local de origem. O gelo vai se acumular em outras regiões vizinhas. Em suma, se derrotado o “efeito estufa”, alguns países até agora considerados “muito quentes” passarão a ser “menos quentes”, e países frios, menos frios. Essa mudança climática, permanente, terá muita influência na civilização. Povos menos enérgicos, devido ao clima, se tornarão mais energéticos quando o calor diminuir. Povos mais enérgicos talvez se tornem menos eficientes porque o calor provoca um relaxamento,, compensável com o ar condicionado nos escritórios e lojas mas sem muito efeito no trabalho braçal ao ar livre.

Outras intuições eu poderia mencionar aqui, mas por serem atrevidas demais, mexendo com “assuntos-ferida”, é melhor silenciar, porque poderão melindrar, desnecessariamente. Depois de estudar esses novos assuntos, poderei voltar à carga da minha “cavalaria rusticana”. Apesar de conhecer as limitações da intuição, posso afirmar que ela tem me ajudado muito na vida, pelo menos com alegrias. Todas as vezes que, num dilema, não segui a opinião instintiva da “louca”, não me dei bem.

Boas Festas para todos.

(13-12-2011)

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