quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O aquecimento global. Acordo de Paris. Devemos sair dele?

Em 04/08/2018 publiquei no meu blog — franciscopinheirorodrigues.com.br — um artigo, Por que a Antártida está esfriando”?

Minha indagação — abelhudo contumaz — relacionava-se com a notícia de que em parte da Antártida estava ocorrendo a diminuição da temperatura — o oposto do esperável —, pois havia, e ainda há, um consenso acadêmico, quase unânime, de que o aquecimento global está crescendo perigosamente como consequência da atividade humana. Impunha-se, “consequentemente” — pensei, sem imaginar a imensa complexidade da climatologia — uma limitação mundial da atividade industrial, da pecuária, do desflorestamento e de tudo o mais que implicasse em aumento do gás carbônico (CO2) na atmosfera, mesmo que tal restrição cerceie o crescimento econômico dos países, inclusive o nosso, que está entre os dez mais poluidores. 

Como o aumento do nível do mar — supostamente comprovado, segundo a mídia — seria uma das sérias consequências do efeito estufa, inundando áreas costeiras , concluí que o anômalo esfriamento, ocorrido em parte da Antártida seria talvez explicável pela mudança do eixo da Terra, permitindo que os raios solares aquecessem determinadas áreas mas, em compensação, esfriassem outras, no mesmo continente, conforme o peso dos oceanos e o movimento de rotação da Terra. Essa variação — eu “deduzia” —, seria mais notada próximo às regiões polares, nos dois hemisfério. Algumas áreas, reafirmando, antes mais quentes, se tornariam mais frias e vice-versa, o que manteria inalterada a média da temperatura planetária. Se, por exemplo, havia inverno mais rigorosos em Nova Iorque, provavelmente na Sibéria, no lado oposto do planeta, o inverno seria menos severo, fenômeno pouco divulgado porque ocorrido em regiões pouco habitadas, não justificando manchetes. 

Perguntava-me: o que poderia explicar essa provável mutação do eixo terrestre? Avaliando, a olho nu, no globo terrestre, a impressionante massa d’água dos Oceanos, a conclusão me parecia óbvia: com derretimento do gelo nos polos e nos picos das altas montanhas, milhões de toneladas de gelo derretido, notadamente na Antártida, foram parar nos mares e oceanos, aumentando seu nível, justificando a necessidade de limitação na atividade humana, dada como responsável pelo efeito estufa.

Eu não compreendia, no entanto, porque a mídia não mencionava essa explicação — da mudança do eixo — sobre o esfriamento parcial no polo sul, explicação que me parecia “tão óbvia”: se as geleiras da Antártida “visivelmente” derretiam — como sugeriam as s fotos —, a água resultante terminaria se somando à água dos oceanos, aumentado a inundação das cidades próximas do mar. Assim sendo, o Brasil deveria permanecer firme na decisão de impor a seus industriais, pecuaristas e agricultores as restrições assumidas na Conferência de Paris, em 2015.

Se os leitores quiserem mais detalhes da minha aparentemente lógica dedução, podem acessar meu blog.

Agora, tudo mudou. Ou pelo menos estremeceu a compreensão técnica de um problema que afetará o futuro da humanidade no médio e longo prazo.

Depois de ouvir “oceânicas” e eruditas palestras e entrevistas de Ricardo Felício e Luiz Carlos Molion, no Youtube, sinto-me consciente e impressionado com minha total ignorância sobre um assunto — a Climatologia —, que nunca imaginei ter chegado a tal grau de sofisticação e complexidade.

Pelo que ouvi desses dois cientistas, convictos de que a atividade humana não influi no clima planetário, os países devem pensar um pouco — ou muito mais — sobre cumprimentos de tratados globais sobre a diminuição do CO2. Cabe à maioria acadêmica — que sustenta ser o homem o causador do efeito estufa e do aquecimento global contínuo —, explicar melhor porque ela tem razão ao exigir dos países signatários do Acordo de Paris as limitações na emissão do CO2, ainda que isso implique em diminuição do PIB.

Três dias atrás, porém, acessando o Youtube, assisti às longas entrevistas do professor da USP, Ricardo Felício, alegando, com tranquila segurança, que o ser humano não é responsável pelo aquecimento global, não havendo razão para o Brasil cumprir as restrições oriundas do Acordo de Paris, de 2015, ratificadas pelo nosso país em 12/09/2016.

 Em síntese, Ricardo Felício diz que as variações de temperatura na Terra dependem apenas das alterações ocorridas no Sol, obedecendo a diferentes ciclos periódicos ocorridos na superfície de nossa estrela. Argumenta que o planeta já sofreu eras glaciais e já suportou períodos de temperatura bem mais altas que as atuais. 

Quanto ao aumento do nível do mar, Felício diz que o El Nino é um fenômeno natural, chegando a alterar o nível do mar em meio metro. Informa ainda que um famoso oceanógrafo, Macaulay — salvo engano —, já falecido, dizia que “a última coisa que o mar tem é nível”, não se justificando — no dizer de Felício —, a atual preocupação global com um centímetro a mais ou a menos, mesmo porque os mares sempre variam em seus níveis. Alega, ainda, que as melancólicas imagens de ursos magros — equilibrando-se em pedaços de gelo flutuante, no Polo Norte —, e as geleiras derretendo, ou melhor, “desmoronando” — na Antártida, datam de 20 anos atrás, sendo apenas falsa propaganda.

Felício argumenta que geleiras derretem-se e voltam a se formar, em décadas e séculos. Diz que existem mais de 160 mil geleiras e que a ONU só monitora 50 ou 60 delas, não podendo extrair conclusões corretas com tão restrita pesquisa.

Quanto ao já mencionado Luiz Carlos Molion —— professor e pesquisador da Universidade Federal de Alagoas, em Meteorologia, pós-doutor em Hidrologia de Floresta, com pós-gradução em Física e com inúmeras outras distinções —, pareceu-me, no Youtube, uma enciclopédia viva quando muda de um item para outro, conexos, com calma, segurança e coragem raras em assunto tão multifacetado. Ele também, precisa dizer algumas palavras sobre como conciliar a “santidade” do CO2 com a necessidade de diminuir a poluição ambiental. Esta não pode ficar totalmente desvinculada do tema Aquecimento Global.

Para não alongar esse texto,  já longo demais, convém o leitor acessar as entrevistas de Felício e Molion no Youtube para melhor se informar. Aconselho ouvi-las mais de uma vez, em dias diferentes — para não cansar e desistir — por se tratar de assunto técnico, com uma conclusão de imensa relevância: a retirada do Brasil nessa decisão mundial.

É pena — somente para mim, o curioso — que esses dois cientistas do clima nada disseram, sobre a eventual inclinação do eixo terrestre quando o planeta sofre resfriamento em partes da Antártida quando ocorre um aquecimento global. Provavelmente, nada falaram sobre o eixo terrestre por ser o detalhe, se ocorrido, irrelevante. Eles precisam entretanto, nos esclarecer como diminuir a poluição, que mata pessoas a longo prazo. 

Aquecimento global e poluição ambiental são, é claro, temas distintos. mas muito próximos. A saúde também deve pesar quando se discute o efeito econômico da diminuição obrigatória da emissão do gás carbônico em um tratado internacional.

O CO2 é necessário, nos campos, para a fotossíntese; mas não nas cidades, com o gás saindo do escapamento dos veículos movidos a gasolina, álcool e diesel — para entrar direto nos pulmões da população. Ainda mais quando acompanhado do monóxido de carbono, o CO — um gás prejudicial, venenoso —; do enxofre e de outros resíduos não salutares. Fotos e filmes nos mostram populações chinesas andando nas ruas com máscaras contra gases. E não são nada convincentes as assertivas de Felício quando diz que pode-se, tranquilamente, cortar todas as árvores porque elas voltarão a crescer. Pode ser que cresçam, mas depois de quantos anos, ou décadas, conforme a árvore? E a erosão, causada pelas chuvas não empobrecem o solo? 

Teria razão, por exceção, o precipitado Donald Trump, ao declarar que vai se retirar seu país do Acordo?

O assunto é especialmente importante para o Brasil porque Jair Bolsonaro acena em acompanhar Trump nessa decisão.

Permanecendo a dúvida técnica sobre sair ou não, o Brasil, do Acordo de Paris, a solução mais sensata seria Bolsonaro dizer que antes de decidir, aguardará a adesão formal, preto no branco, dos países com assento permanente no Conselho de Segurança. Felício disse, que a China prometeu assinar mas fica enrolando, ainda não assinou.  Se apenas os Estados Unidos sair, o Brasil deverá assinar. Mas deve assinar por último, porque somente vendo as assinaturas das grandes potências, membros permanentes do Conselho de Segurança — além da Alemanha e  Japão — é que ficará comprovado que “os grandes” também aceitarão as limitações exigidas do Brasil e outros poderes menores.

Molion insiste, com autoridade, nas suas palestras, sobre o interesse econômico das nações mais ricas em engessar o crescimento das nações em desenvolvimento. Disserta sobre patentes, lucros e perdas, etc. que estão por trás de uma decisão que deveria ser apenas técnica. 

O Brasil precisa conhecer, com mais certeza, os prós e os contras das variações do Sol, da Terra e da ação humana, antes de sair ou permanecer no Acordo de Paris.

(25/12/2018)