segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O apoio de Obama à pretensão da Índia

A mídia de ontem deu grande relevo ao fato de Barack Obama apoiar o desejo da Índia de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Como seria natural, jornalistas alemães, brasileiros, japoneses, turcos, mexicanos e sul-africanos sentem-se levemente incomodados com tal escolha. Nela haveria, obliquamente, ligeira desconsideração ou, pelo menos, sub-avaliação objetiva da importância de seus respectivos países, que também ambicionam o poderoso assento? Por que a Índia e não, por exemplo, a Alemanha, com sua disciplinada força econômica? Ou o Brasil, com sua “desenvoltura” diplomática, sem medo da eventual desaprovação norte-americana, nação ainda não acostumada com tanta independência em país sul-americano? Isso sem mencionar o Pré-Sal, o álcool combustível, a vigorosa indústria automobilística e a condição de sede de futuros grandes eventos esportivos.

Todos os comentaristas do apoio em exame salientam que o motivo da escolha foi a conveniência, de contrapor, na Ásia, ao enigmático perigo chinês, um país mais previsível, também imensamente populoso, em franco progresso material e, principalmente, democrático. Segundo afirmação de Nisid Hajari, “managing editor” da revista Newsweek, de 15-11-10, pág. 5, o PIB da Índia, hoje, é de um trilhão e duzentos bilhões de dólares, economia que cresce mais de 8% ao ano e uma classe média é quase tão grande quanto a população inteira dos EUA — inteira, frise-se.

Ainda que o Japão seja admirado por sua operosidade e eficiência, não tem se saído bem, economicamente, nos últimos anos. E sua população não pode se comparar com a da Índia, com quase um bilhão de habitantes. Seu rápido crescimento deve-se, em boa parte, convém lembrar, ao discernimento de um ex-presidente ou primeiro ministro — da família Nehru — que previu o enorme potencial da informática e direcionou a educação de sua juventude nesse sentido. A tal ponto que quando a orgulhosa Alemanha percebeu, no ano 2.000, que estava defasada na informática, decidiu “importar” milhares de jovens indianos para trabalhar. Pessoas que, nessa época, visitaram a Alemanha, certamente acharam “inusitado” aqueles rapazes indianos, moreninhos, magros, lidando com tecnologia sofisticada antes privativa dos inteligentes e robustos loiros germânicos de olhos claros. A lição de previdência educacional deveria servir para o Brasil, priorizando o ensino técnico e científico. No ano 2.000 havia, no indiano “novo Vale do Silício”, 3 universidades, 14 faculdades de engenharia e 47 escolas politécnicas. Indianos lidavam inclusive com programas cuidando do processamento de dados de satélites e outros itens de alta tecnologia.

Não há, portanto, o que criticar na “escolha” de Obama, opção que, por sinal, passará por um longo percurso antes de se transformar em fato. Quem tem poder não gosta de dividi-lo. Quando o faz, é de cara amarrada. Os cinco atuais “titulares” do direito a veto examinarão as propostas de alteração do Conselho de Segurança com minuciosa cautela. De qualquer forma, a mera abertura da “estação de caça” aos novos assentos, permanentes, já é um avanço, partindo de um presidente da nação mais poderosa do mundo. Obama anda meio acabrunhado com o resultado das recentes eleições mas, sendo homem inteligente, essa decepção certamente despertará nele uma sede salutar de revanche que abrirá seus horizontes, literalmente. Deu a entender que procurará, no Exterior, a “vitamina” comercial que vem lhe faltando no plano interno. Com a globalização, o vigor econômica dos países depende da ampliação conjugada dos mercados internos e externos, como comprovou o governo brasileiro. Para desgosto daqueles que acham que presidentes não devem viajar muito. Não deve, claro, quando se trata apenas de turismo. Derrotas eleitorais têm isso de bom: obrigam a pensar e mudar.

Um grande argumento que será usado contra a ampliação do CS está no perigo da morosidade e imprevisibilidade das decisões em um órgão que deveria ser, por essência, rápido e decisivo, por lidar com segurança. É conhecida a metáfora de que o CS representa “os músculos” da ONU. Conflitos graves — com cheiro de pólvora, ou chiados do detector Geiger de radiação — precisam ser neutralizados com urgência. Sem longos e belos discursos. Daí a necessária diferença numérica entre a Assembléia Geral da ONU e o Conselho de Segurança. Não é à-toa, similarmente, que as Cortes Supremas de todos os países adiantados contam com poucos juízes, mesmo quando afogadas em acúmulo de processos. Como, pergunta-se, unificar decisões importantes com dezenas ou centenas de cabeças opinando, exibindo argúcia — “vou me desprestigiar se não mostrar todo meu saber...” —, pedindo adiamento para estudar melhor o caso?

Na verdade, o direito de veto, no Conselho de Segurança, nem mesmo deveria existir, hoje, no Direito Internacional. Era justificável quando da criação da ONU, em 1945, porque a nova e otimista entidade era, então, uma incógnita. Como funcionaria, politicamente? Sem a concessão do direito de veto aos países vencedores na 2ª.Guerra Mundial, Inglaterra, França, EUA, União Soviética e China — que perderam milhões de vidas na luta contra “o mal”— não teriam assinado a Carta da ONU. Temiam que países “pigmeus”, mas em grande número, poderiam decidir, irresponsavelmente, para obediência geral, no Conselho de Segurança, qualquer coisa, mesmo não tendo perdido um único homem na luta contra o nazismo, o fascismo e o imperialismo japonês.

De umas poucas décadas para cá o direito de veto passou a ter pouco sentido. Já se sabe qual o procedimento usual dos países. O veto vem travando algumas medidas corajosas, mas necessárias. Basta lembrar que decisões da Corte Internacional de Justiça algumas vezes — felizmente poucos, mas importantes — não são acatadas mas, não obstante, nada acontece de sério ao país infrator. Isso porque cabe apenas ao CS, não mais ao Tribunal, a execução da decisão não cumprida espontaneamente. O direito de veto estimula abusos de países que se sentem previamente confortados com a idéia de que “meu poderoso compadre” — um país poderoso, com direito de veto —, “não permitirá qualquer medida contra nós...”. Isso ocorre num mundo que costuma proclamar falsamente, com a boca cheia, que “todos os países têm direitos iguais”. Assim, hoje, é opinião quase universal que a opinião da maioria deveria prevalecer, sem veto. Ou, pelo menos — tornando a modificação mais factível, menos indigesta para os grandes —, que sejam necessários dois ou três vetos dos membros permanentes para impedir determinada resolução.

Com a atual sistemática do veto este transformou-se em uma velharia assemelhada ao caduco direito divino dos reis: a opinião de uma única cabeça, nem sempre lúcida — por vezes até mesmo insana —, prevalecendo contra a opinião de milhões de súditos. Pelo que sei, o embaixador do país que veta no Conselho de Segurança não se sente sequer obrigado a tentar convencer os demais países quanto ao acerto de seu veto. “Meu país veta e pronto!” Puro privilégio no uso da força política, militar, econômica, algo que um dia terá de desaparecer, assim como desapareceu o direito divino dos reis.

O presidente Lula vem externando, de uns anos para cá, o desejo de ver o Brasil integrando permanentemente o Conselho de Segurança. Não há nada de megalomaníaco nisso, tendo em vista o crescimento do país em quase todas as áreas. Entretanto, se o peso geopolítico do Brasil pode ser alto na América do Sul, não o é no plano mundial. O “cara” — na expressão amiga de Obama — pode ser um político simpático, pacifista e espontâneo — uma surpreendente novidade no mundo orgulhoso, sofisticado e falso da diplomacia —, mas isso não basta para convencer a comunidade internacional de que o Brasil “faz falta”, ou é “imprescindível” no Conselho de Segurança. Quando, no Exterior, um brasileiro diz a um estranho de onde veio, a reação é quase sempre: “Ah! Pelé! Brasil! Carnaval! Belas mulheres!”

Para contrabalançar essa impressão de superficialidade — e lembrar que também tem seu lado sério, estudioso e criativo —, seria útil que o Brasil criasse no país um centro de estudos e formação profissional na área internacional. A tal “Sorbonne” brasileira, na qual venho insistindo em artigos divulgados na internet.

Obviamente, tal entidade, ou universidade — a denominação fica para depois — não teria qualquer ligação funcional com a Sorbonne francesa ou outra universidade equivalente do Primeiro Mundo. Nessa entidade brasileira seriam ensinadas as matérias que constam das demais entidades estrangeiras de Direito e Relações Internacionais , com um importante acréscimo: uma cadeira de concepção, críticas e detalhamento de um governo democrático mundial, sem o qual o planeta caminhará para um impasse, com possível derramamento, ou envenenamento radioativo de sangue. Um “think tank” capaz de apresentar um esboço convincente de como seria possível fazer com que o planeta funcionasse com base na razão, sem ter de aguardar novas guerras — convencionais, atômicas, químicas, bacteriológicas ou mesmo “cambiais”, como acontece no G-20..

Os melhores pensadores da ciência política são favoráveis a um governo global, desde que democrático. O problema é saber como funcionaria. Paradoxalmente — conseqüência da vivência em campos de carnificina —, grandes generais se mostraram favoráveis a criação de um governo centralizado que coordene as variadas políticas nacionais de modo a que todos os países se sintam completamente seguros, desde que agindo de boa-fé.

Por que os países gastam tanto com armas e mecanismos de segurança? Ou porque se sentem inseguros, ameaçados, ou porque se sentem fortes demais. Força estimula orgulho e ganância, econômica e territorial. É preciso que a um “governo central” tenha condições de dar completa garantia, a todos os países, de que ele nunca será atacado e por isso não precisa se armar até os dentes. A ONU atual dá essa garantia? Não dá. Por isso precisa ser modificada. Muitas vozes clamam nesse sentido. Por que a “Sorbonne brasileira” não poderia centralizar tais debates?

A Alemanha, nos anos 1930s, sentia-se oprimida e injustiçada, com razão, com as obrigações pesadas constantes do Tratado de Versalhes. Quando encontrou um líder, Hitler, que dizia exatamente o que o homem da rua sentia, o ressentimento reprimido aflorou e o país foi conduzido a um invulgar esforço de guerra. Super-armada, a Alemanha “precisava” utilizar aquele material bélico. Onde? Nos países vizinhos, claro: Polônia, Tchecoslováquia, França, Rússia, etc.

Houvesse, desde aquela época, um governo mundial efetivo, primeiro, o Tratado de Versalhes seria revisto. Segundo, Hitler teria sido “enquadrado”, talvez até “extraído” à força do poder. Não teríamos a 2ª. Guerra Mundial e os judeus, não perseguidos e incinerados, não teriam afluído, em massa, para a Palestina, desalojando os árabes que ali estavam há quase dois mil anos. Não teríamos o terrorismo islâmico; o 11 de setembro; a reeleição do George W. Bush; a invasão do Afeganistão e do Iraque; o desgaste político e econômico dos EUA — guerras não custam apenas sangue. Aeroportos não tratariam os passageiros, hoje, como criminosos. O Irã não tomaria as dores dos palestinos, ameaçando com a tolice de “varrer Israel do mapa”. Israel não ameaçaria bombardear “preventivamente” as usinas nucleares iranianas.

Criado o Estado de Israel ele não se atreveria a, afrontando um governo mundial, continuar ampliando a ocupação de áreas que a CIJ já declarou pertencer aos palestinos. Se a ONU — ela mesma, não adianta esperar solução das duas partes envolvidas — , delimitar, já, as fronteiras entre Israel e o Estado da Palestina, Israel será forçado a brecar — por mera falta de espaço — o afluxo de irmãos de fé ou de raça, sem qualquer sensação de culpa. Porém, para a própria ONU fixar as fronteiras é preciso modificar a Carta da ONU. Um bom assunto para a “Sorbonne brasileira”.

Em suma, o planeta não seria a atual casa de loucos, cada país fazendo o que bem entende. O planeta só não explodiu porque, paradoxalmente, vários países possuem arsenal nuclear, cada vez mais espalhado em perigosa “democratização”. Atacar significa morrer em seguida. Um efeito colateral e imprevisível da tecnologia do átomo. Queiramos ou não, o “medo atômico” tem evitado muitos conflitos, mas não há garantia absoluta de que um louco qualquer decida apertar um botão vermelho.

A solução não é acabar com as armas nucleares, mas abolir todas as armas, estimulando, até mesmo , financeiramente, a indústria armamentista a mudar de atividade. Sem essa ajuda, continuaremos com o atual enfoque essencialmente belicoso porque nenhum CEO das armas permitirá que sua empresa vá à falência. A força econômica da indústria das armas é imensa, perfeitamente apta a boicotar qualquer iniciativa que a marginalize. Cérebros lúcidos estão à venda em toda parte. Gigantes dificilmente são derrubados.

Sobre os percalços da criação da “Sorbonne brasileira”, principalmente da busca de um líder intelectual com conhecimento, prestígio e coragem suficiente para transformá-la em realidade, falaremos em oportunidade bem próxima.

(11-11-2010).

domingo, 14 de novembro de 2010

Não há o que temer no envelhecimento da população mundial

É cada vez mais freqüente ler e ouvir — na mídia nacional e internacional —, o “perigo” que ameaça o futuro da humanidade com o progressivo aumento de idosos e a baixa natalidade nos países desenvolvidos. Quanto aos países em desenvolvimento, ou flagrantemente subdesenvolvidos, há, em compensação, por enquanto, uma até excessiva produção de bebês, mas isso tende a diminuir à medida que tais países melhorarem o padrão de vida. A mulher moderna quer trabalhar, realizar-se, ganhar o próprio dinheiro. Sobretudo, não depender do volúvel coração masculino que, mesmo com aliança no dedo pode, de um momento para outro, “endoidar”, buscando sexo, digo, amor romântico em novo endereço.

Quando isso ocorre, o drama é humilhante e desgastante para a mulher que dependia apenas do marido — ou companheiro —, para subsistir: há que mover ação de alimentos, para ela e filhos; discutir a fatia patrimonial oriunda da ligação desfeita; disputar a guarda dos menores e sofrer os desgastantes atritos relacionados com o direito de visita; assumir compromissos financeiros para a própria disputa judicial, etc. E, para cúmulo do drama, o ex-marido pode ficar desempregado, escapando da ameaça de prisão, por vezes a única forma eficaz de “arrancar do desgraçado!” o cumprimento de uma obrigação legal e moral.

Pensando nisso tudo, a mulher meio desconfiada — e toda mulher o é, por necessidade do duro ofício — acha mais prudente trabalhar fora de casa. Mas, com quem deixar as crianças? Babás nem sempre são pacientes e, além do mais, não trabalham de graça. Tudo considerado, a mulher jovem vê, nitidamente, que o mais sensato é ter apenas um ou dois filhos, com isso conciliando carreira, auto-estima, razoável — embora não excelente... — função de mãe que trabalha fora e uma aposentadoria tranqüila. Ou “pé de meia” que dependa só dela, na formação; não de um “terceiro”, o marido. Este, pode, no decorrer da convivência, se revelar uma bênção do céu ou uma “praga do inferno”, só o tempo dirá. E assim pensa também o homem com relação à mulher, que só aos poucos vai revelando suas falhas. Norman Mailer, um escritor americano muito experiente em assuntos matrimoniais, dizia — cito de memória — que alguns maridos só chegam a conhecer verdadeiramente a esposa em um tribunal.

Por outras palavras, como lembrei atrás, o grande fornecimento atual de bebês, oriundos de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, diminuirá à medida que a mulher for se libertando economicamente e a pobreza mundial for desaparecendo, como é o desejo — pelo menos aparente — de todos os governantes. Isso é bom, a médio e longo prazo, considerando o problema sob o ângulo planetário. Convém que não nasçam muitas crianças. Principalmente se não lhes for assegurando um espaço saudável e confortável no mundo. A miséria gera sofrimentos físicos e morais, humilhação, desesperança, ignorância, criminalidade violenta, terrorismo, deformações físicas e morais e até maus governantes porque os espertos, quando candidatos, sabem como seduzir os desesperados com promessas.

A população mundial precisa diminuir. Se não isso, pelo menos estacionar. O aumento universal — inevitável, salvo catástrofe mundial — da riqueza e da informação, levará a um forte aumento do consumo individual global, com aumento da poluição, escassez de água e todos os inconvenientes do progresso material quando acoplado com a super-população. Um dia, a África, hoje símbolo de penúria, terá centenas de milhões de automóveis, geladeiras, aparelhos de ar condicionado e demais confortos, úteis mas poluidores. Quando a proporção entre automóveis e pessoas, na China e na Índia, chegar ao nível americano atual, a humanidade perceberá que a população mundial ultrapassou o limite do racional.

Aqui, insere-se a tese da utilidade dos velhos: eles não se reproduzem. E consumem. Bens e serviços, fonte de emprego para os mais jovens. Consumo que gera tributos que vão ajudar a pagar suas aposentadorias e auxílio-desemprego dos jovens. Se — apenas como argumento, não tenho pressa —, todos os idosos morressem hoje, milhões de jovens e maduros ficariam desempregados, sem função. Não teriam vaga em setores de clientela e freguesia jovem porque tais setores já contam com muitos desempregados.

Alguém argumentará que “não é justo” que os jovens tenham que “se sacrificar” — até parece —, trabalhando pesado para sustentar milhões de velhos ociosos, cada vez mais longevos e espertos nas técnicas de retardar a morte. Na verdade, não haverá “sacrifício” dos jovens, porque a espécie humana está “condenada” a uma progressiva e relativa ociosidade, em todas as idades. Conseqüência da automação, da robotização e da informática.

O desemprego, hoje, é uma realidade inevitável, se mantida a semana de quarenta horas de trabalho. Se não houver um acordo universal forçando todos os países a reduzir — se possível por igual —, a carga semanal de trabalho, o desemprego continuará atormentando todos os povos. Isso porque máquinas e computadores fazem o serviço de milhões de operários e funcionários de escritório. Cada vez mais, governos e empresas usam menos braços e cérebros humanos. A chamada “inteligência eletrônica” cresce em eficiência, empurrando o homem para o reino das teclas e botões, com dispensa do próprio homem.

O ideal de todo patrão — compreensível, em um mundo extremamente competitivo —, é ter o mínimo possível de empregados. “Se meu concorrente consegue produzir o mesmo que eu, em quantidade e qualidade, com menos empregados, ele me destrói, ou engole!” Todos percebem isso. Em vez de o comprador, via internet, receber em casa — o carteiro está sendo dispensado — um boleto para efetuar o pagamento no banco, ele recebe apenas um e-mail com o anexo do boleto, que ele mesmo preencherá após imprimir. Em seguida, ele vai a um banco, ou caixa eletrônico e — novamente sem contato com funcionários, usando apenas um cartão —, paga a quantia com a leitura magnética.

As próprias máquinas foram “alfabetizadas”, usando um “olho” linear vermelho. Se necessitar de dinheiro vivo, não precisa também entrar em contato com qualquer ser que respire: saca as cédulas utilizando uma máquina. Se precisar, via telefone, de um serviço público — ou até mesmo particular, conforme o caso —, “dialogará” com a máquina, usando a ponta dos dedos, clicando “opções 1,2,3”, etc. Se falar errado, ou não claramente, a “madame máquina”, uma “senhora” educada e impassível, dirá que não entendeu sua resposta, pedindo ao exasperado interlocutor que responda de modo claro o que lhe foi indagado. E se ele disser que seu assunto não figura entre as “opções”, a máquina se fingirá de surda porque, afinal, não foi construída para conversar com ignorantes.

Professores, pessoas físicas, futuramente, serão necessários apenas para fim de alfabetização e alguns poucos anos de freqüência inicial à escola. Depois disso, as pessoas aprenderão por conta própria, lendo livros e textos na internet, em CDs e DVDs. Lendo e ouvindo. Aprendendo, por sinal, com a nata dos professores, escolhidos para gravar suas aulas. Por que o estudante adulto perderá tempo no trânsito e comendo na rua quando pode aprender em sua casa, frente à televisão enquanto faz a refeição ou come pipoca? Freqüência às Faculdades, só mesmo se for para namorar ou bater papo com os amigos. E o aluno aparentemente “burro’, se bem orientado na técnica de estudar — na verdade, muita suposta “burrice” poderia ser evitada, ou contornada, com técnicas adequadas a cada aluno— não precisará do professor, de modo geral.

Advogados serão também progressivamente dispensados. As injustiças afetando grande número de pessoas serão corrigidas — já vem sendo — através de ações públicas, movidas pelo Ministério Público, ou com novas leis — como já vem acontecendo —, corrigindo falhas das anteriores. Quantos advogados, formados, trabalham hoje, efetivamente, exercendo a advocacia como única profissão? E quantos milhares sequer podem exercer a profissão porque não conseguem passar nos duros Exame de Ordem? As “Súmulas” dos Tribunais Superiores — necessárias para diminuir a pletora de recursos protelatórios — também “desempregam”, ou dispensam os advogados. A prevenção de demandas, se beneficia a sociedade, como de fato beneficia, esvazia os escritórios de advocacia. Na medicina, o desemprego é menor porque o ser humano, “felizmente”, é objeto perecível. E quanto mais velho fica, mais perecível se torna. Fonte preciosa de emprego.

Quando os jovens — também eles, não só os funcionários —, na França, revoltam-se contra o aumento de dois anos na idade mínima da aposentadoria — dos sessenta para os sessenta e dois — a explicação está, em parte, no desejo de conseguir algum trabalho. E quando os imigrantes, rejeitados, se assustam com o crescente preconceito dos moradores locais, a explicação é óbvia: estes também se assustam com a perspectiva tenebrosa da ausência de emprego. Para o patrão, o imigrante ilegal é mais lucrativo do que o trabalhador nascido no país.

Conclusões óbvias deste artigo: desemprego não é culpa do governante “x” ou “y”. O “inimigo” do emprego, intelectualmente pouco percebido, chama-se Progresso. Da ciência e da tecnologia. E não seria inteligente destruir aparelhos e computadores. Eles trabalham para nós, sem exigir salário, férias e demais benefícios. Percebido isso, é preciso que, como forma de neutralizar o desemprego, uma legislação universal reduza substancialmente a carga semanal de trabalho. Como sempre lembro, a França tentou ser pioneira nesse sentido mas acabou se prejudicando porque seus produtos se tornaram mais caros que aqueles produzidos por países que não concederam tal vantagem a seus trabalhadores.

Boas intenções, em um mundo comercialmente globalizado, só “funcionam” se todos ou grande parte dos países agirem da mesma forma. “Acordem, senhores presidentes! Unam-se para essa redução universal da carga horária semanal”. Não é questão de prestigiar, em abstrato, o valor do trabalho, mas de propiciar o trabalho para todos que querem trabalhar.

E parem de acusar os velhinhos, porque eles estão sendo ainda muito úteis, com seus reumatismo, pressão alta, manias e compras em farmácias. Repito: os jovens não estão se “sacrificando” com a atual situação. Estão é se beneficiando. Não trabalham, a maioria, puxando o cabo da enxada, erguendo fardos e suando sob sol escaldante. Trabalham com telefones, computadores e contatos pessoais, não de todo desagradáveis porque o sexo oposto integra o mundo do comércio e indústria.

(5-11-2010)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Não há o que temer no envelhecimento da população mundial

É cada vez mais freqüente ler e ouvir — na mídia nacional e internacional —, o “perigo” que ameaça o futuro da humanidade com o progressivo aumento de idosos e a baixa natalidade nos países desenvolvidos. Quanto aos países em desenvolvimento, ou flagrantemente subdesenvolvidos, há, em compensação, por enquanto, uma até excessiva produção de bebês, mas isso tende a diminuir à medida que tais países melhorarem o padrão de vida. A mulher moderna quer trabalhar, realizar-se, ganhar o próprio dinheiro. Sobretudo, não depender do volúvel coração masculino que, mesmo com aliança no dedo pode, de um momento para outro, “endoidar”, buscando sexo, digo, amor romântico em novo endereço.

Quando isso ocorre, o drama é humilhante e desgastante para a mulher que dependia apenas do marido — ou companheiro —, para subsistir: há que mover ação de alimentos, para ela e filhos; discutir a fatia patrimonial oriunda da ligação desfeita; disputar a guarda dos menores e sofrer os desgastantes atritos relacionados com o direito de visita; assumir compromissos financeiros para a própria disputa judicial, etc. E, para cúmulo do drama, o ex-marido pode ficar desempregado, escapando da ameaça de prisão, por vezes a única forma eficaz de “arrancar do desgraçado!” o cumprimento de uma obrigação legal e moral.

Pensando nisso tudo, a mulher meio desconfiada — e toda mulher o é, por necessidade do duro ofício — acha mais prudente trabalhar fora de casa. Mas, com quem deixar as crianças? Babás nem sempre são pacientes e, além do mais, não trabalham de graça. Tudo considerado, a mulher jovem vê, nitidamente, que o mais sensato é ter apenas um ou dois filhos, com isso conciliando carreira, auto-estima, razoável — embora não excelente... — função de mãe que trabalha fora e uma aposentadoria tranqüila. Ou “pé de meia” que dependa só dela, na formação; não de um “terceiro”, o marido. Este, pode, no decorrer da convivência, se revelar uma bênção do céu ou uma “praga do inferno”, só o tempo dirá. E assim pensa também o homem com relação à mulher, que só aos poucos vai revelando suas falhas. Norman Mailer, um escritor americano que se casou algumas vezes, dizia que “você pode estar casado dez anos com a mesma mulher mas só vem a conhecê-la, verdadeiramente, em um tribunal”. Por vezes a intransigência em assuntos de guarda filho explica-se pelo mero desejo de hostilizar.

Por outras palavras, como lembrei atrás, o grande fornecimento atual de bebês, oriundos de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, diminuirá à medida que a mulher for se libertando economicamente e a pobreza mundial for desaparecendo, como é o desejo — pelo menos aparente — de todos os governantes. Isso é bom, a médio e longo prazo, considerando o problema sob o ângulo planetário. Convém que não nasçam muitas crianças. Principalmente se não lhes for assegurando um espaço saudável e confortável no mundo. A miséria gera sofrimentos físicos e morais, humilhação, desesperança, ignorância, criminalidade violenta, terrorismo, deformações físicas e morais e até maus governantes porque os espertos, quando candidatos, sabem como seduzir os desesperados com promessas.

A população mundial precisa diminuir. Se não isso, pelo menos estacionar. O aumento universal — inevitável, salvo catástrofe mundial — da riqueza e da informação, levará a um forte aumento do consumo individual global, com aumento da poluição, escassez de água e todos os inconvenientes do progresso material quando acoplado com a super-população. Um dia, a África, hoje símbolo de penúria, terá centenas de milhões de automóveis, geladeiras, aparelhos de ar condicionado e demais confortos, úteis mas poluidores. Quando a proporção entre automóveis e pessoas, na China e na Índia, chegar ao nível americano atual, a humanidade perceberá que a população mundial ultrapassou o limite do racional.

Aqui, insere-se a tese da utilidade dos velhos: eles não se reproduzem. E consumem. Bens e serviços, fonte de emprego para os mais jovens. Consumo que gera tributos que vão ajudar a pagar suas aposentadorias e auxílio-desemprego dos jovens. Se — apenas como argumento, não tenho pressa —, todos os idosos morressem hoje, milhões de jovens e maduros ficariam desempregados, sem função. Não teriam vaga em setores de clientela e freguesia jovem porque tais setores já contam com muitos desempregados.

Alguém argumentará que “não é justo” que os jovens tenham que “se sacrificar” — até parece —, trabalhando pesado para sustentar milhões de velhos ociosos, cada vez mais longevos e espertos nas técnicas de retardar a morte. Na verdade, não haverá “sacrifício” dos jovens, porque a espécie humana está “condenada” a uma progressiva e relativa ociosidade, em todas as idades. Conseqüência da automação, da robotização e da informática.

O desemprego, hoje, é uma realidade inevitável, se mantida a semana de quarenta horas de trabalho. Se não houver um acordo universal forçando todos os países a reduzir — se possível por igual —, a carga semanal de trabalho, o desemprego continuará atormentando todos os povos. Isso porque máquinas e computadores fazem o serviço de milhões de operários e funcionários de escritório. Cada vez mais, governos e empresas usam menos braços e cérebros humanos. A chamada “inteligência eletrônica” cresce em eficiência, empurrando o homem para o reino das teclas e botões, com dispensa do próprio homem.

O ideal de todo patrão — compreensível, em um mundo extremamente competitivo —, é ter o mínimo possível de empregados. “Se meu concorrente consegue produzir o mesmo que eu, em quantidade e qualidade, com menos empregados, ele me destrói, ou engole!” Todos percebem isso. Em vez de o comprador, via internet, receber em casa — o carteiro está sendo dispensado — um boleto para efetuar o pagamento no banco, ele recebe apenas um e-mail com o anexo do boleto, que ele mesmo preencherá após imprimir. Em seguida, ele vai a um banco, ou caixa eletrônico e — novamente sem contato com funcionários, usando apenas um cartão —, paga a quantia com a leitura magnética.

As próprias máquinas foram “alfabetizadas”, usando um “olho” linear vermelho. Se necessitar de dinheiro vivo, não precisa também entrar em contato com qualquer ser que respire: saca as cédulas utilizando uma máquina. Se precisar, via telefone, de um serviço público — ou até mesmo particular, conforme o caso —, “dialogará” com a máquina, usando a ponta dos dedos, clicando “opções 1,2,3”, etc. Se falar errado, ou não claramente, a “madame máquina”, uma “senhora” educada e impassível, dirá que não entendeu sua resposta, pedindo ao exasperado interlocutor que responda de modo claro o que lhe foi indagado. E se ele disser que seu assunto não figura entre as “opções”, a máquina se fingirá de surda porque, afinal, não foi construída para conversar com ignorantes.

Professores, pessoas físicas, futuramente, serão necessários apenas para fim de alfabetização e alguns poucos anos de freqüência inicial à escola. Depois disso, as pessoas aprenderão por conta própria, lendo livros e textos na internet, em CDs e DVDs. Lendo e ouvindo. Aprendendo, por sinal, com a nata dos professores, escolhidos para gravar suas aulas. Por que o estudante adulto perderá tempo no trânsito e comendo na rua quando pode aprender em sua casa, frente à televisão enquanto faz a refeição ou come pipoca? Freqüência às Faculdades, só mesmo se for para namorar ou bater papo com os amigos. E o aluno aparentemente “burro’, se bem orientado na técnica de estudar — na verdade, muita suposta “burrice” poderia ser evitada, ou contornada, com técnicas adequadas a cada aluno— não precisará do professor, de modo geral.

Advogados serão também progressivamente dispensados. As injustiças afetando grande número de pessoas serão corrigidas — já vem sendo — através de ações públicas, movidas pelo Ministério Público, ou com novas leis — como já vem acontecendo —, corrigindo falhas das anteriores. Quantos advogados, formados, trabalham hoje, efetivamente, exercendo a advocacia como única profissão? E quantos milhares sequer podem exercer a profissão porque não conseguem passar nos duros Exame de Ordem? As “Súmulas” dos Tribunais Superiores — necessárias para diminuir a pletora de recursos protelatórios — também “desempregam”, ou dispensam os advogados. A prevenção de demandas, se beneficia a sociedade, como de fato beneficia, esvazia os escritórios de advocacia. Na medicina, o desemprego é menor porque o ser humano, “felizmente”, é objeto perecível. E quanto mais velho fica, mais perecível se torna. Fonte preciosa de emprego.

Quando os jovens — também eles, não só os funcionários —, na França, revoltam-se contra o aumento de dois anos na idade mínima da aposentadoria — dos sessenta para os sessenta e dois — a explicação está, em parte, no desejo de conseguir algum trabalho. E quando os imigrantes, rejeitados, se assustam com o crescente preconceito dos moradores locais, a explicação é óbvia: estes também se assustam com a perspectiva tenebrosa da ausência de emprego. Para o patrão, o imigrante ilegal é mais lucrativo do que o trabalhador nascido no país.

Conclusões óbvias deste artigo: desemprego não é culpa do governante “x” ou “y”. O “inimigo” do emprego, intelectualmente pouco percebido, chama-se Progresso. Da ciência e da tecnologia. E não seria inteligente destruir aparelhos e computadores. Eles trabalham para nós, sem exigir salário, férias e demais benefícios. Percebido isso, é preciso que, como forma de neutralizar o desemprego, uma legislação universal reduza substancialmente a carga semanal de trabalho. Como sempre lembro, a França tentou ser pioneira nesse sentido mas acabou se prejudicando porque seus produtos se tornaram mais caros que aqueles produzidos por países que não concederam tal vantagem a seus trabalhadores.

Boas intenções, em um mundo comercialmente globalizado, só “funcionam” se todos ou grande parte dos países agirem da mesma forma. “Acordem, senhores presidentes! Unam-se para essa redução universal da carga horária semanal”. Não é questão de prestigiar, em abstrato, o valor do trabalho, mas de propiciar o trabalho para todos que querem trabalhar.

E parem de acusar os velhinhos, porque eles estão sendo ainda muito úteis, com seus reumatismo, pressão alta, manias e compras em farmácias. Repito: os jovens não estão se “sacrificando” com a atual situação. Estão é se beneficiando. Não trabalham, a maioria, puxando o cabo da enxada, erguendo fardos e suando sob sol escaldante. Trabalham com telefones, computadores e contatos pessoais, não de todo desagradáveis porque o sexo oposto integra o mundo do comércio e indústria.

(5-11-2010)