segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Leis “anti-preconceito” precisam ser repensadas.

Pelo andar da carruagem, precisamos de um novo “Iluminismo”. As trevas intelectuais se adensam, em toda parte, usando tanto a intimidação quanto a informação deformada pela parcialidade, vulgo mentira. As minorias sofrem abusos, mas quando fortemente organizadas, tendem a intimidar maiorias desorganizadas.
O assunto é sério. Não se trata de título para chamar atenção. Vamos ver se consigo convencer.
Concordo plenamente com as leis “anti-bullying”, coibindo o tormento de indivíduos — pessoas físicas —, mas não com a progressiva tendência, “democraticamente” obscurantista, de criminalizar opiniões politicamente incorretas sobre fatos históricos, científicos e comportamentos sociais.
Um humorista já afirmou que existem dois tipos de mentira: a tradicional, mais simplória — aperfeiçoada desde que o homem aprendeu a se comunicar —, e a estatística. Manipulando-se os dados e a rotulação dos informes, chega-se a qualquer resultado. Milagres não existem apenas na religião. Por sinal, alguém já disse que o poder de Deus foi suplantado pelo poder dos historiadores: — “Deus não pode alterar o passado, mas os historiadores podem”. A mentira histórica seria a terceira variante.
 Após a invenção da fotografia surgiu um curioso modo de mentir: alterando fotografias. Quando Stalin fazia suas “limpezas” de adversários políticos — utilizando tribunais sujeitos à sua vontade — ele não dispensava a ajuda de hábeis fotógrafos que sabiam como “desfotografar” políticos caídos em desgraça.
Talvez o leitor já tenha visto, na mídia, duas fotos: na verdade uma só. A mais antiga, em que aparece o “pai dos povos” ao lado de determinado político, então amigo, e a foto posterior, em que Stálin está  sozinho, quando o ex-amigo — à maneira do iodo —, “sublimou”, mudando do estado sólido para o gasoso, sem passar pelo líquido. Ou, quando ainda sólido, batendo os dentes solidamente na Sibéria. É preciso certa habilidade para esse truque porque o espaço anteriormente ocupado pelo “desfotografado” — ou “fotoferrado” — precisava ser preenchido de maneira que não causasse estranheza.
Cresce, paradoxalmente — ainda há muita liberdade na internet —, um novo ovo de serpente contra o livre pensamento: a intimidação via lei penal. Como se o simples fato de alguém, ligando os fenômenos e concluindo alguma coisa, praticasse um crime — caso essa conclusão difira da “onda” dominante. É preciso lembrar que a maioria, mesmo acadêmica, nem sempre está certa. Muita tolice já foi ensinada nas mais antigas e respeitáveis universidades europeias. Francis Bacon já observava que “A verdade é filha do tempo, não da autoridade”.
Um reputado professor francês, amigo de Louis Pasteur, aconselhou-o, em carta, a zelar pela própria reputação de cientista, abandonando a “loucura” de insistir na tese de que não havia “geração espontânea”. Com outras palavras, o amigo culto dizia que “todo mundo sabe que ratos brotam espontaneamente no lixo, sem precisar de pai e mãe”. Como o grande Pasteur, inventor da vacina contra a raiva, não estava sujeito à cadeia — mas apenas ao ridículo —,  ele teve condições de segurança para insistir na sua ideia e acabou provando que ele estava certo e o resto do mundo, errado. Conseguiu isso porque, insista-se, não havia uma lei penal pondo em risco sua liberdade.
Grupos particulares, ou pessoas, não sentem a menor hesitação em moldar a realidade segundo seus interesses, mas isso é esperável. Toda profissão, ou ideologia, possui seu lobby, mas os prejudicados por ele podem reagir, fazendo proselitismo contrário. Sem medo de serem processados criminalmente. Quando, porém, o ditatorial “selo da verdade” torna-se lei, instaura-se o abuso, precursor das trevas, porque ninguém gosta de ser processado criminalmente. Mesmo os mais corajosos pensam: —“Dá muito trabalho...”. Os legisladores, ansiosos em agradar eleitores, no geral sem tempo para longos estudos, deveriam evitar essa propensão para proibir isso e aquilo. Bastaria aos congressistas proibir o insulto, o assédio, e a agressão contra minorias, nunca a mera emissão de opinião, mesmo forte, contrária à dominante.
A humanidade só se prejudicou — ou mais se prejudicou do que se beneficiou — com a velha “mania” — o termo não é injusto — de se livrar de opiniões incômodas promulgando uma “lei” considerando crime expressar convicções diferentes. O medo da represália física, moral, penal ou econômica, trava o próprio ato de raciocinar, mesmo de boa-fé.  Em países ditatoriais — mais claramente — e nas democracias — mais disfarçadamente — isso ocorre cada vez com maior naturalidade, na pressuposição de que a lei, ou a “onda”, sempre está certa.
Na Idade Média era vasto o rol dos assuntos “tabus”, tanto em assuntos religiosos quanto políticos e científicos. Pensadores e cientistas assaram nas fogueiras da Inquisição só por afirmarem, por exemplo, que a Terra girava em torno do sol, e não o contrário. Até hoje, em países islâmicos, assume risco de chibata, ou morte, quem diz ou escreve qualquer coisa contrária ao Alcorão ou seu intérprete-mor oficial, mesmo usando apenas a ironia. Criticar a política de Israel, só com vários panos quentes, porque existe o risco do “preconceito racial”. Risco que pode estimular o abuso por parte do governo israelense, interessado em identificar qualquer crítica, mesmo justa, como antissemitismo.
Pode-se contar muita anedota sobre “loira burra”, mas se alguém fizer alguma piada sobre “negra burra” é melhor contratar, de antemão, um advogado criminalista para “aguentar a barra” do “preconceito racial”. O mesmo se diga sobre qualquer opinião desfavorável à expansão do homossexualismo. Uma psicóloga carioca que anunciou seus conhecimentos profissionais para ajudar o retorno ao heterossexualismo — daqueles que, sendo antes “heteros” havia optado pelo homossexualismo mas se sentiam infelizes nessa última experiência — foi punida por sua entidade de classe.  Algo espantoso numa entidade profissional, ligada à Ciência, que teria a obrigação de estimular a livre opinião. Conclusão, nesse caso: a pessoa pode receber orientação — inclusive na prática corporal — para se tornar um homossexual plenamente realizado, mas nunca o contrário. “Entrou no grupo? Não pode mais sair!”. É uma liberdade de mão-única.
Quando a punição pela liberdade de pensar e comunicar não se concretiza em processos judiciais, ela aparecerá na forma de linchamento moral. Isso por enquanto, porque não está afastada a hipótese do linchamento físico, pois é usual, como já disse, que minorias perseguidas se tornem depois perseguidoras, quando a maré e a tolerância estatal assim facilitar.
Hitler, um orador que impressionava mais pelo grito e pelo aproveitamento das frustações alemãs — após a 1ª. Grande Guerra — “decretou” a falsa “verdade’ de que os judeus só tinham defeitos morais — e até mesmo físicos — e por isso deveriam emigrar, em massa da Alemanha, deixando suas riquezas para os nazistas. Quem tivesse a coragem de dizer, ou escrever, o contrário tinha seus dias contados. Por isso, não pode ser julgado com qualquer severidade quem, menino ou adolescente  — como foi o caso do escritor Günter Grass — prestou qualquer tipo de serviço militar no tempo do nazismo. Não havia alternativas. Algum rapaz alemão, de inteligência normal, teria a coragem de dizer ao exército que não concordava com Hitler e por isso recusava-se a lutar?
Na Turquia, quem escreve, hoje — se isso não foi alterado muito recentemente — afirmando que houve um genocídio armênio — ocorrido entre 1915 e 1917, causado pelos turcos —, está sujeito a processo criminal. Pouco importam as provas apresentadas por historiadores e depoimentos de pessoas que presenciaram o ocorrido. — “Não ocorreu e pronto! Se disser o contrário, “teje preso!”
Como na França existem muitos descendentes de armênios, estes pressionaram e conseguiram do governo local uma lei dizendo justamente o contrário: quem negasse a existência do referido genocídio é que estaria cometendo um ilícito.
Quanto ao holocausto judeu, em muitos países negá-lo também é crime. E negá-lo parcialmente, dizendo que o número de mortos foi inferior a seis milhões pode, talvez, ser considerado uma forma “indireta”, disfarçada, de antissemitismo, com consequências penais. Evidentemente, o atual governo israelense tira largo proveito disso, porque dezenas ou centenas de pessoas que, revoltadas com o sofrimento palestino, pensam em escrever sobre o “eterno conflito” veem-se obrigadas a pesar cada palavra.
Pode-se falar mal — sem receio de processo criminal —, de alemão, russo, italiano, árabe, chinês, coreano, argentino, brasileiro, americano e tudo o mais — até mesmo injustamente —, mas nunca  contra um determinado povo, o hebreu, que teve seu inegável valor reconhecido por pessoas cultas e comovidas com seu longo sofrimento.
Quando os judeus eram perseguidos e até mesmo massacrados, na Europa, não havia leis punindo o antissemitismo. Agora que Israel se tornou uma nação poderosa, influente, organizada — até temida —, armada com o que há de melhor em armas tradicionais — e até atômicas, fato único no Oriente Médio — viu-se protegido por uma redoma legal privilegiada. Redoma hoje sem sentido porque Israel tem poderosa presença em todos os organismos internacionais, na mídia, no mundo das finanças. E existe arma mais poderosa que o dinheiro? Não é mais um povo de “coitadinhos”, necessitando de uma proteção legal, especial, contra críticas, proteção essa que nenhuma outra nação possui.
Hoje, alguém chamar uma pessoa de “judeu’ é o mesmo que “xingar” um ser humano de “suíço”, “belga”, “canadense” ou “americano”. O rico e elegante “xingado”, abaixando o vidro, à prova de bala, de seu Mercedez, apenas perguntará: — “Desculpe: o senhor está me ofendendo ou elogiando?”
O tema “homossexualismo” também se tornou uma variante do dogma religioso. Não deve, legalmente, ser considerado, “sob pena de prisão”, um “desvio”. Mas, se um cientista, ou pensador, achar, sinceramente, que é de fato um “desvio” da rotina biológica, mesmo sem qualquer “culpa” pessoal? Por que não pode externar livremente sua opinião — sem processo e sem linchamento —, ressaltando que sua conclusão tem pelo menos o apoio da anatomia? Ele dirá: se as mulheres, por exemplo, nascem com útero, glândulas mamárias e outras características de seu gênero, isso não seria pelo menos uma “pista” de que está nos “planos’ da natureza que as mulheres tenham relações íntimas com o sexo oposto?
O mesmo ocorre com o homossexualismo masculino, cuja realização física implica em utilização de parte do aparelho digestivo  para uma atividade bem diversa da planejada, anatomicamente, pela natureza. Pelo menos os livros de anatomia parecem sugerir que, na “opinião” da “mãe natureza” a atividade reprodutora (de filhos) seria separada da atividade excretora. Daí a sem-razão, repita-se, de se proibir que uma psicóloga possa anunciar seu trabalho profissional para aqueles que querem — eles mesmos, não a psicóloga! — voltar ao estado anterior de orientação sexual. Não é isso um indício das “trevas” que se adensam?
Francis Wheen, escritor que deve ser inglês, escreveu um livro muito interessante, “Como a picaretagem conquistou o mundo”. Nele, menciona que em 1784 uma revista berlinense convidou intelectuais alemães a responderem à pergunta: “O que é o Iluminismo?” Eis a resposta de Immanuel Kant: “O Iluminismo é a emergência do homem da imaturidade a que ele mesmo se submete. Imaturidade é a incapacidade de usar a própria compreensão sem a orientação de terceiros. Essa imaturidade é algo que o próprio indivíduo se impõe, quando sua causa não é a falta de entendimento, mas a falta de determinação e coragem para usá-lo sem a orientação de outrem. Sapere aude! Atreve-te a saber! É este o lema do Iluminismo”.
Evidentemente, todo ser humano tem o direito de ser feliz, inclusive — e principalmente — na área afetiva. Era absurda a legislação antiga que considerava crime o homossexualismo. Essa legislação, pelo menos do mundo ocidental, felizmente, foi abolida, porque a atração pelo mesmo sexo é, presumo, natural, espontânea em algumas pessoas. Estas têm o direito de serem felizes, seja qual for a explicação do porquê, na área sexual, eles sejam diferentes da maioria. O que não podem é, agressivamente, atacar todos os que pensam que há algo “investigável” nesse fenômeno biológico, psicológico, ou mistura das duas coisas. A heterossexualidade nem precisa ser investigada porque sem ela o planeta Terra não teria um único ser humano.
É retrógrado ameaçar pessoas que formulem e investiguem hipóteses explicativas para o aparente crescimento do homossexualismo. Um exemplo: a injeção de hormônio feminino em aves e gado consumidos por mulheres grávidas não poderia ter algum papel na ampliação da homossexualidade entre os homens? Embora seja difícil garantir que a homossexualidade vem se ampliando — porque havia os “enrustidos” —, espera-se que se algum cientista pesquisar o assunto não seja ele processado por homofobia. Se o próprio “Deus” pode ser estudado, dissecado e discutido na Filosofia e na Teologia, por que o homossexualismo não poderia ser examinado — desde que com respeito — sem o risco de cadeia?
Outra pesquisa: uma senhora peruana, minha conhecida, muito observadora, morou por cerca de um ano, quando bem jovem, entre tribos indígenas de seu país. Estava lá em missão de estudo. Estranhou que nunca vira, entre centenas de indígenas, um só caso de conduta homossexual.  Seria isso, pergunta-se, uma evidência de que o homossexualismo seria provocado, em parte, pela conglomeração, pelo excesso de pessoas ocupando pequenos espaços? Haveria, talvez, uma espécie de mecanismo de defesa natural, inconsciente, da raça humana contra as consequências da superpopulação que já nos ameaça com um desemprego quase universal? O homossexual puro — isto é, não bissexual —, é estéril. Portanto útil em termos de alívio do excesso de pessoas consumindo algo que é finito: os alimentos.
Tudo se investiga atualmente, sem medo. Freud disse coisas espantosas, em seu tempo. Os complexos de Édipo e de Electra são explicações ou hipóteses bem desrespeitosas, mas nem por isso Freud e seus colegas de psicanálise foram processados nem linchados. Espero que essa tradição de tolerância permaneça, o que não parece ser o caso do Brasil de agora.
Encerrando, deixo claro que não endosso as teorias e explicações “teológicas” do pastor Marco Feliciano, atacando homossexuais e negros. Teologia e Ciência são como azeite e água. Prefiro a Ciência. Embora não seja um cientista, respeito, socialmente, os adeptos de estudos bíblicos
                                                                          (11-04-2013)  Francisco Pinheiro Rodrigues
 

domingo, 20 de dezembro de 2015

Inacreditável: A obrigatoriedade da presença do advogado no inquérito.



Só falta, hoje, a sanção da Presidente Dilma, depois da recente “aprovação”, claro, do Sen. Romero Jucá — Relator na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Lembre-se que o senador foi acusado, na operação Lava Jato, conforme  delação premiada de Paulo Roberto Costa, e outros depoimentos incriminadores do senador.

Se o leitor quiser uma visão geral sobre a reputação do referido senador, basta digitar, no Google, o nome do ex-governador de Rondônia; ler a revista “Época” — edição de 21-5-2011 — ; consultar a Wikipédia e percorrer artigos nada elogiosos sobre a ética desse político. É um homem habilidoso, inteligente, mas totalmente inapropriado para figurar, como Relator, “aprovando” uma lei que dificultará — ou impossibilitará — a luta contra o criminoso do colarinho branco, ele mesmo na possibilidade de ser investigado mais a fundo e denunciado.

Admira-me que o presidente nacional da OAB saúde esse Projeto de Lei como uma “vitória da classe unida”. Não há vitória alguma. Haverá mais é vergonha. Diz ele: “O fato de ter o advogado no inquérito evita ‘equívocos’ — aspas minhas —, principalmente, na fase de indiciamento de pessoas. (...) Quando ele (inquérito) é ‘mal construído’, ofende frontalmente a imagem e a honra do cidadão”.

Centenas, ou milhares, de advogados da área não-penal, indignados com a roubalheira institucionalizada, certamente não concordam com a proposta da total intrusão dos advogados dos investigados nos trabalhos da Polícia Federal e do Ministério Público. O advogado — lógica e tradicionalmente — só pode interferir na defesa judicial ou, excepcionalmente, em situações obviamente abusivas, tais como a tortura física do cliente em uma delegacia, ou extremos semelhantes.

Assim como policiais ou promotores não podem interferir na estratégia de defesa, ou na redação das petições dos advogados, estes também não podem interferir nos trabalhos de investigação antes de aceita a denúncia. Cada interesse tem sua área própria de atuação. Juntar pessoas, de interesses opostos, para trabalharem juntos resultará em anarquia. Só falta, agora, neste Brasil insano, exigir que qualquer denúncia criminal só possa ser aceita com a concordância do denunciado. Já imaginou o FBI, ou qualquer polícia do Primeiro Mundo, ser forçado a permitir que seu trabalho investigativo sofra a contínua interferência dos investigados, querendo influir ou decidir onde, quando e como algo ou alguém deve ser investigado? Essa proposta será considerada risível, própria de um país carnavalesco.

Pergunta-se: pode, em tese, haver abusos dos órgãos investigadores, a PF ou o M.P.? Pode, mas para isso existem os habeas corpus e outras providências legais, solicitadas ao Judiciário, que corrigirão o eventual excesso. O que não tem sentido é que o investigado — quase sempre será um cidadão rico, influente e disposto a tudo para salvar a pele  — encarregue seu advogado — escolhido entre os melhores criminalistas do país — para que fique palpitando e discordando do delegado, promotor, ou investigadores, que procuram provas relacionadas com delitos atribuídos aos investigados. Uma fatia do grupo de pessoas procurado provas. A outra fatia tentando escondê-las. Uma “sociedade” de objetivos conflitantes.

Considerando que a aberrante futura lei silencia quanto ao número máximo de advogados — para cada suspeito — que poderão intrometer-se na colheita de provas envolvendo , vários indiciados, haverá clima propício ao tumulto. Se forem, por exemplo, cinco investigados e cada um deles indicar três advogados, serão quinze profissionais interferindo nas investigações. Cada diligência, uma pequena assembleia.

Não esqueçamos que os próprios investigados podem ter interesses divergentes entre eles. Isso tem ocorrido na Lava Jato. É um salve-se quem puder! Nesse caso, cada advogado procurará salvar o próprio cliente, tentando impulsionar a prova contra outro suspeito. Não é impossível que as discordâncias terminem em insultos, ameaças, tapas e coisas piores, conforme o grau de agressividade de policiais, promotores e advogados.

Nada impedirá que um enxame de advogados do investigado  — ou vários enxames, de vários investigados na mesma diligência — criem tumulto e impossibilitem ou retardem a realização de buscas e apreensões enquanto alguns defensores, usando seus celulares, alertam seus clientes para que escondam ou alterem, rápido, seus computadores antes que a polícia chegue lá. Os delegados, ou promotores, não poderão impedir o uso dos celulares pelos advogados. Isso seria considerado inconstitucional.

Há ainda outros perigos à vista na insensata proposta legislativa. Sabendo, por exemplo, que uma determinada prova — decisiva, comprobatória do crime do cliente — será apreendia para exame, o advogado encontrará um pretexto para criar caso, e até “discretamente” ameaçar o delegado ou agente policial, com futuros revides que poderão terminar em processo e prisão contra o policial ou promotor. Isso porque — pasmem os leitores — a autoridade “poderá” limitar o acesso do advogado aos documentos se considerar que haverá prejuízo para diligências em andamento, mas, como consequência,  “poderá ser responsabilizada PENALMENTE, por abuso de poder, se impedir o acesso com o intuito de prejudicar o exercício da defesa”.

A frase “prejudicar o exercício da defesa” é muito vaga. Vagueza benéfica ao investigado e veneno na alma do investigador, mesmo sendo honesto e cumpridor estrito de seus deveres. É que ele está cansado de saber que “a corda sempre arrebenta no lado mais fraco”. Qualquer apreensão de prova pode, em tese, “prejudicar o exercício da defesa”. Aí, tome processo em cima! Processo administrativo ou criminal pelo “atrevimento” de determinar ou cumprir um mandado que melindre um figurão acusado de desonestidades de grande envergadura.

O malfadado Projeto de Lei não será utilizado pelo ladrão “pé-de-chinelo”, que não terá dinheiro para contratar advogados para “defendê-lo” desde o inquérito policial. Esse Projeto de Lei será utilizado, quase exclusivamente, por poderosos narcotraficantes, contrabandistas e por acusados de desvio de milionárias ou bilionárias verbas públicas.

Diz, ainda, o atual presidente da OAB nacional que quando o processo “é mal construído, ofende frontalmente a imagem e a honra do cidadão” e que o PL pretende evitar “equívocos, principalmente, na fase de indiciamento de pessoas”. Vê-se, claramente, que a preocupação do PL é proteger pessoas de alto gabarito que estão sendo apontadas, com fortes indícios de desvio de dinheiro público.

Paro por aqui. Tive que redigir este artigo às pressas, em um domingo, porque só ontem à noite fiquei sabendo, por acaso, da existência do referido Projeto de Lei, da Câmara, de n. 78/2015. E a “monstruosidade”, data vênia, aguarda apenas a sanção da Presidente da República.

Se a Presidente, ou Presidenta, Dilma pretende comprovar firmeza, coragem e real decisão de combater a impunidade do colarinho branco, cabe-lhe o dever de vetar esse Projeto de Lei, seja quem for que o tenha aprovado no legislativo. A totalidade dos advogados brasileiros não concorda com essa prejudicial novidade. Se alguns investigados do colarinho branco forem inocentes, isso será provado durante a instrução do processo judicial, com o óbvio contraditório. Não antes, com o tumulto e confusão dentro dos inquéritos policiais ou do Ministério Público.

Esse Projeto de Lei, desconhecido da população brasileira, só tem uma qualidade: prova a urgente necessidade de uma incessante vigilância por parte do Ministério Público, principalmente o Federal, sobre o que tramita no Congresso Nacional. Pergunta-se: há algum procurador da república encarregado de vigiar, diária ou semanalmente, o fluxo legislativo do Congresso Nacional para saber o que corre nos corredores desse Poder no que se refere à luta contra a criminalidade?

A própria Magistratura Nacional deveria também acompanhar, atentamente, o surgimento e tramitação de matérias que prejudiquem a imagem da Justiça. Se a impunidade contra o colarinho branco aumentar com o famigerado PL, o “povão”, desconhecendo a doutrina, concluirá que “nossa Justiça cada vez funciona menos. Ou melhor: só funciona contra os pobres”.

Não basta a consideração de que o Judiciário é, por natureza, inerte, só age mediante provocação. Se o mencionado PL 78/2015 for sancionado pela Presidente, o mal estará consumado, pelo menos durante vários anos, até que a imprensa revele a que ponto chegou o ridículo legislativo brasileiro.

É até possível que alguns deputados e senadores não tenham sabido da tramitação do projeto. E se souberam, pensaram que, “se o projeto veio da OAB, só pode ser bom”, dispensando o exame atento do conteúdo. Se houvesse, porém, uma espécie de “plebiscito” respondido apenas por advogados, um razoável percentual de causídicos — não trabalhando na área penal —desaprovaria o infeliz PL.

Quanto aos criminalistas, entende-se o entusiasmo deles pelo projeto em discussão porque o exercício de toda profissão inclina o profissional para tudo o que a favorece. Isso é humano. Quando ingressei na magistratura, depois de advogar durante cinco anos, principalmente na área criminal — não por escolha, mais por necessidade — eu sentia, quando juiz, uma evidente propensão para enxergar a prova do inquérito de modo favorável à defesa. É o chamado “calo profissional”. Até por isso decidi ficar na área cível, quando havia essa possibilidade de escolha.

Aguardemos, pois, o possível veto da Presidente/a Dilma. Se ela chegar a ler estas razões, o que é improvável — presidentes são vítimas habituais de assessores — fará, com seu veto, um grande benefício ao país e mostrará coragem e independência intelectual. Tudo é possível, nesse Brasil das coisas impossíveis.

Apesar da redação algo apressada, o essencial está aqui.

(20-12-2015)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Arte moderna


Ao terminar meu artigo  da série “A era da mediocridade”, classifiquei Pablo Picasso mais como um hábil psicólogo e expert em marketing e propaganda do que como pintor. Nunca o concebi como grande pintor porque — na minha pecadora ignorância — eu considerava, e ainda considero, como necessária qualificação de qualquer pintor, a capacidade de desenhar muito bem. Repito: muito bem. Um talento pouco difundido e talvez inacessível apenas com teimosia “muscular’. Algo assim como o “ouvido musical”, um dom. Realmente, não é fácil reproduzir com fidelidade um rosto, um cavalo galopando, uma figura humana em posição pouco convencional, o movimento das ondas do mar, uma cachoeira, etc.

De todos os itens, porém, de uma genérica “era de mediocridade”, aquele que me deu maior trabalho para concluir alguma coisa — por conta própria —, foi a definição do que seja arte; como interpretar a reação do público frente a um quadro ou escultura; a difícil “explicação” do sentimento da beleza e a vasta nomenclatura que surgiu depois do classicismo. Quem quiser entender o que significam impressionismo, pós-impressionismo, fauvismo, cubismo, expressionismo, futurismo, dadaísmo, surrealismo, concretismo, abstracionismo, primitivismo, “pop art”, “arte mínima”, etc., enfrentará grande dificuldade em estabelecer fronteiras entre essas variadas “escolas”. E para complicar ainda mais um assunto tão escorregadio, terá que levar em conta os “pós-” isso e aquilo, porque a espécie artística é bastante mercurial.

Há, porém, uma nota comum em todos esses movimentos: quanto mais moderna a obra, menor a necessidade do “suor”, físico e mental, do artista. Dizendo de outra forma: quanto mais moderna a pintura, maior o grau — dispensador de esforço — de abstração, subjetivismo, valorização da quantidade sobre a qualidade e a total necessidade da propaganda para venda do “produto”. Sem propaganda, ninguém é “gênio”. Gênio, mesmo, é o cérebro por trás da promoção do pintor.

Se, por mera por brincadeira, uma pessoa que nunca antes pegou em um pincel — e até desprezasse a arte da pintura —, fizesse, com os olhos fechados, alguns traços rápidos em uma tela e solicitasse a Picasso que a assinasse, “só por farra”, esse quadro passaria a valer milhões de dólares, a comprovar que não é o quadro que importa e sim a “marca”. Os supostos e talvez ingênuos  “conhecedores” do estilo do pintor famoso, nessa hipotética experiência — vendo confirmada, pelo próprio Picasso, um gozador, a autenticidade da assinatura —,  diriam que com esse quadro o “gênio” mostrava, mais uma vez,  a versatilidade de seu talento.

Vincent Van Gogh só vendeu um quadro, enquanto vivo. Aquelas poucas pessoas que adquiriram, por preço vil, seus quadros, logo após sua morte, tiveram o máximo interesse financeiro em exaltar a genialidade do pintor. Quanto mais o elogiassem, mais valor teriam os quadros adquiridos após seu passamento. Não há dúvida que Van Gogh foi uma extraordinária figura humana, mas causa estranheza que só depois de sua morte é que seus quadros tenham passado a valer tanto. Uma prova de que “psicologia financeira”, digamos assim, tem um peso imenso na valorização das obras de arte. A genialidade do pintor holandês, enquanto vivo — pergunta-se —, estaria tão pouco visível, para os “entendidos” da época, que foi preciso que seus quadros mudassem de mãos para valer fortunas? Os “negociantes de arte”, que só conhecem a “arte de negociar”, têm melhor “olho artístico” que os verdadeiros estudiosos da arte?

Eu me sentiria mais confortado se soubesse que a genialidade de Van Gogh tivesse sido reconhecida quando ele ainda estava vivo. Foi um homem sofredor, trágico, que só nos inspira simpatia. E com um detalhe: sabia desenhar. Seu bom caráter, sensibilidade e personalidade merecem o máximo respeito, mas seu exemplo é uma prova de que o dinheiro contaminou e domina o mundo das artes. Quadros e esculturas tornaram-se muito mais um tema financeiro — à semelhança das ações de sociedades anônimas —, do que um assunto de arte propriamente dita. Aqui a explicação de porque incluí as artes plásticas na minha série de artigos sobre a mediocridade, em geral. O dinheiro “mediocrizou” as artes.

Leonardo Da Vinci levou cinco anos pintando o “Mona Lisa”. Pintava umas poucas horas em um dia e outro tanto em outros, esforçando-se na busca da perfeição do detalhe. De qualquer forma, um tempo considerável para pintar um único quadro. Em contraposição, Picasso chegou a dizer, conforme suas citações na internet, que “Give me a museum and I'll fill it”. “Dê-me um museu e eu o encherei de quadros”, em tradução livre.

Como qualquer museu é sempre enorme, somente um pintor rapidíssimo e malandramente “abstrato” poderia preenchê-lo sozinho. Com uns vinte ou trinta quadros diários Picasso daria conta do recado, em poucos meses. Uma prova de que o que lhe interessava era a quantidade e a mera declaração, dele mesmo, de que havia, naqueles poucos traços, um “significado” profundamente emocional. Tão profundo que só sentido por ele. Acredite quem quiser.

Um observador da arte moderna, Tom Stoppard, chegou a dizer que o único critério para distinguir um quadro de uma escultura moderna seria o seguinte: se a obra está pendurada numa parede, trata-se de um quadro; se você pode dar uma volta em torno dela, é escultura.

Richard Schmid, provavelmente um conhecedor do assunto — porque mencionado em sites de arte —, dizia que “Eu honestamente acredito que estudantes de pintura no próximo século rir-se-ão do movimento da arte abstrata. Eles se maravilharão de tal regressão das artes plásticas”.

Al Capp, outro demolidor, de estilo mais pesado, dizia que “A arte abstrata é o produto do sem talento, vendido pelo sem princípios para os imensamente estupefatos”.

Outro crítico acerbo da arte moderna chegou a dizer que “Trying to understand modern art is like trying to follow the plot in a bowl of alphabet soup” — “Tentar entender a arte moderna é como tentar seguir o enredo de uma sopa de alfabeto”.

E, finalmente, o que diz o príncipe dos pintores, Leonardo da Vinci? Ele dizia que “Onde o espírito não trabalha com a mão, não há arte”. Elitismo? Não, simples reconhecimento de que à técnica perfeita de desenhar e pintar o artista deve acrescentar alguma emoção.

Com outras palavras: sem a “mão” do verdadeiro artista não basta o subjetivismo do pintor, por mais que ele sinta-se sinceramente emocionado — a grande desculpa para o pintor moderno que confia apenas no que ele sente, não no que sinceramente poderá sentir o público.

Mal comparando, um poeta terrivelmente gago não deve revoltar-se por não haver vencido um concurso de declamação de poesia , mesmo que seja o concorrente mais inteligente, inspirado e emotivo —, com isso até agravando sua gagueira. Que use sua inspiração, que pode ser imensa, para escrever seus versos. Não será menos poeta por seu defeito de fala. Ele será um grande poeta, não um orador. Faço essa comparação, talvez impiedosa, apenas para demostrar que o que mais importa na obra de arte é a reação emocional que provoca em quem a vê ou ouve.

No fundo, no fundo, a função essencial da arte é despertar prazer. O prazer verdadeiro, não o fingido prazer, exigido pela moda.  Em um concerto de piano, de música clássica, um pianista, mesmo frio no íntimo mas dotado de uma técnica invulgar — tão invulgar que arrebatará o auditório — será um melhor artista do piano do que um martelador de teclas, tremendamente emocionado, suando, gemendo, olhos em alvo, mas tocando tudo errado, quase esmurrando o teclado.

Se, com a arte moderna, o que interessa é a emoção do artista — e não o efeito, nos outros, do produto de suas mãos —, imaginemos que a ciência tenha inventado um aparelho capaz de registrar o grau de emoção e inspiração quando da execução de uma peça musical. Um aparelho, de eficácia comprovada, semelhante àquele usado hoje para medir a pressão arterial. Ou semelhante ao atual detector de mentiras. A diferença é que este último indica a presença da mentira, e o outro, mais moderno, comprovaria a real sensibilidade do artista. E prossigamos dando um exemplo.

Anunciada, com estrondo, a chegada ao país de um novo gênio da música, um pianista estrangeiro — tão genial que poucos ouvintes teriam a capacidade de “entender” a profundidade se sua arte — seu empresário mencionaria que a inspiração do artista não poderia ser fingida porque em seu braço estaria afixado o tal aparelho infalível que comprovaria o grau máximo de sentimento que um ser humano pode suportar.

Na propaganda, que precederia o concerto inaugural do recém-descoberto gênio, haveria a advertência de que pessoas sem um excepcional grau de sensibilidade musical não deveriam, sequer, comprar os ingressos porque provavelmente não seriam capazes de “captar” a profundidade da arte escondida em aparência simplória. A presença do grande artista no país, seria até um favor prestado aos brasileiros. Mostraria aos próprios nacionais uma riqueza artística que eles não tinham percebido em seu antigo folclore. Essa falta de interesse em vender ingressos a pessoas sem sensibilidade artística até aguçaria a procura desses ingressos. Todos, comprando, estariam demonstrando quão sensíveis são à beleza artística. 

No dia anunciado, Teatro Municipal lotado, ao braço do pianista seria atado o “detector de emoções sinceras”. Após impressionante silêncio o artista começaria a tocar, usando apenas um dedo:— “Atirei o pau no gato-to, mas o gato-to, não morreu, reu-reu. Dona Chica-ca, ad’mirou-se-se, do berrô, do berrô que o gato deu, miau!”.

O auditório, pasmo, com vontade de rir mas temendo passar por ignorante, manteria o rosto sério mas ficaria observando o imenso painel eletrônico — conectado ao “aparelho da sinceridade”—, com a esperança de ver um mau “resultado emocional” que autorizasse a vaia represada na garganta. O aparelho, no entanto, confirmaria o ponto máximo da emoção artística sentida por um ser humano. A extraordinária inspiração do pianista estaria comprovada. Com isso, o público apenas se recriminaria intimamente: — “Sou mesmo um tremendo ignorante, mas não confessarei isso a ninguém. Vou aplaudir de pé”.

E se o artista sofresse um derrame, seu coração incapaz de aguentar tanta emoção, caísse morto ao terminar seu especial concerto, haveria uma longa discussão teórica sobre a genialidade do pianista e os motivos misteriosos que fizeram o artista escolher essa modinha e não outra. As teses seriam, entre outras: — “ Por que dona Chica atirou o pau no gato? Qual a simbologia dessa violência?”, e por aí afora.

Exagero, claro, no exemplo, mas em substância é o que ocorre com a desculpa de que o artista tem que pensar apenas no que sente ao externar sua arte. Pensat apenas em si. Não lhe interessa se o público sentiu ou não prazer autêntico. Se prazer houver no público, será o prazer de “de estar por dentro, enturmado, dentro da moda”.

Voltando à pintura, tudo ia bem com ela, no classicismo, até que surgiu uma novidade técnica, fora do mundo artístico, mas que abalou o pacífico panorama que valorizava a arte de desenhar as coisas tal qual se apresentavam aos olhos: a fotografia. Com um simples “flash” conseguia-se “desenhar” qualquer coisa, com uma precisão de traços e equilíbrio de proporções que só mesmo um Leonardo Da Vinci conseguiria. A difusão e aperfeiçoamento da fotografia foi a desculpa salvadora de muitos artistas que, não obstante o entusiasmo pela pintura, não conseguiam desenhar.

Estava aberto o caminho — ou atalho —, para o homem que admirava as artes,  identificava-se emocionalmente com ela e gostaria de fazer parte desse misterioso mundo, cheio de seduções. As mulheres de então — fins do século 19 e início do século 20 —, sentiam uma especial atração pelos artistas, geralmente impetuosos e libertos de restrições em assuntos relacionados com a mulher alheia. Hoje, provavelmente, elas preferem os “artistas das finanças” e dos esportes de massa, muito mais lucrativos, digo, atraentes para elas. Os pintores eram, então, quase sempre homens.

O mundo artístico — quando sincero, autêntico — tem realmente uma faceta interessante. Suas intuições são, frequentemente, certeiras. O astuto político baiano, já falecido, Antônio Carlos Magalhães, dizia que é loucura um político atacar a classe artística. Jamais deveria fazer isso, dizia ele. Freud confessou que raramente chegou a alguma descoberta sem que algum poeta não tenha estado lá primeiro. A verdadeira arte tem isso de bom: ela alcança, “sem querer”, por intuição, áreas ainda não alcançadas pela ciência. Voa, mesmo caindo frequentemente, enquanto o cientista vai a pé.

Houve, também, com o advento da fotografia, o aparecimento dos “pintores espertos” que queriam apenas um caminho fácil e rápido para a fama e seu sub (ou super?) produto: dinheiro. Era a “democracia” artística que permitiria a qualquer audacioso, sem talento para o desenho, mas na caradura,  “aparecer”, chamar a atenção. “A ordem, agora, é escandalizar!”. E  quanto mais chocante seu trabalho — desconforme com a aparência normal dos objetos —, maior o “escândalo” capaz de chamar a atenção, com boas consequências comerciais.

Para enfrentar os observadores mais desconfiados, ou céticos, que diziam que ali só havia audácia, não arte, havia duas  desculpas espertas: 1) quem quiser a reprodução exata de uma paisagem ou objeto, que tire uma foto; 2) nas artes, o que importa é sentimento do artista, não o produto físico, visível, dessa emoção.

Pablo Picasso foi quem, com maior franqueza, externou o argumento de que na pintura e na escultura o que vale é a emoção do artista, não aquilo que conhecemos como a “mera realidade”. Para ele, o pintor pode até pintar de olhos fechados, desde que esteja “inspirado”. O público não deve ser importar com a aparência. Deve apenas “sentir” o mesmo que “sentia o artista”.  E falava essa bobagem com tanta convicção — extraordinário psicólogo que era — que alguns milionários passaram a comprar seus quadros, com isso provocando imensa valorização de qualquer quadro com a assinatura “Picasso”. Ele se dava ao luxo de dizer não ser suficientemente rico para ter em sua casa um “Picasso”.

Vejamos algumas citações dele, obtidas na internet, que reproduzo como ali estão, em inglês, com a respectiva tradução:

“I paint objects as I think them, not as I see them”.(Eu pinto os objetos como os penso, não com os vemos).

“Painting is a blind man's profession. He paints not what he sees, but what he feels, what he tells himself about what he has seen. (Pintura é a profissão de um homem cego. Ele não pinta o que vê, mas o que ele sente, o que ele diz a si mesmo o que viu). Comentário: era um engraçadinho.

 “The people who make art their business are mostly imposters”. (Pessoas que fazem da arte seu negócio são, na maioria, impostores).

“The world today doesn't make sense, so why should I paint pictures that do?” . (O mundo de hoje não faz sentido, assim, por que eu deveria pintar quadros que fazem?)

“To draw you must close your eyes and sing”. (Para desenhar, você precisa fechar seus olhos e cantar).

“Who sees the human face correctly: the photographer, the mirror, or the painter?”. Quem vê a face humana corretamente: o fotógrafo, o espelho, ou o pintor?)

O que explica, então, a permanência da arte moderna, seu alto valor econômico, mesmo sendo fácil, breve, chocante e nada coincidente com a realidade visível?

Para mim, a explicação está na personalidade do artista. Na audácia, na firmeza, na caradura, no “carisma”, na “personalidade forte”, como foi o caso de Picasso, grande psicólogo. Ou na integridade e compaixão, como foram os casos de Vincent Van Gogh e de seu amigo Paul Gauguin. É impossível ler a biografia desses dois sem que fiquemos comovidos com  almas tão sensíveis. Sabiam desenhar? Sabiam o suficiente, mais que a média das pessoas que não são artistas. No entanto, eram pessoas de imensa integridade.

O caráter de um artista “contamina” sua obra, positiva ou negativamente. Influi bastante no que se refere a sua aceitação pelo público. Inclusive sua orientação política. O próprio Picasso se beneficiou disso. Tinha ideias generosas e era franco em suas opiniões, como se lê nas citações acima. Se ele tivesse sido um homem de direita, ou nazista, jamais seria considerado um pintor famoso. “Guernica” o impulsionou. O mesmo ocorre em outras artes: a personalidade do artista “contamina” sua obra, para cima ou para baixo.

Abstração é terreno mais apropriado para a filosofia, não a pintura. Penso que, pelo menos por longo tempo, o ser humano ainda exigirá algum grau de virtuosismo, dificuldade e trabalho em todo pintor. Nas competições esportivas, no circo, no desempenho cinematográfico, na redação de contos, romances, crônicas e poesias espera-se que o artista se expresse com uma habilidade acima do comum. Não aceito que um escritor apenas “sinta” emoções refinadas na sua misteriosa cachola, escrevendo apenas tolices, ou coisas incompreensíveis até para o próprio escritor. Daí o preconceito geral, fundamentado, contra aquela arte moderna que não agrada nem à vista e pode significar qualquer coisa: — “É fácil demais. Assim, até eu mereço um Prêmio Nobel...”, pensam as pessoas mais sensatas. 

Agora, uma palavra ligeira sobre a música. De todas as artes, penso que ela é a menos suscetível de enganação. A mediocridade musical não consegue flutuar muito tempo porque pode ser avaliada em questão de minutos. Afunda porque não há qualquer vantagem financeira em mantê-la à tona, quando não agrada a praticamente ninguém. Basta ouvir uma música nova, durante um minuto, para sabermos se vale ou não a pena continuar ouvindo. A abundância de sua produção e o tamanho do público são tais que não vale a pena gastar com propaganda de músicas que ninguém quer ouvir, nem muito menos comprar em forma de disco. Já com a pintura moderna, existe um restrito mercado de ricos compradores, funcionando os quadros como reserva de valor, quando o nome do pintor é muito conhecido. O quadro é físico, palpável, concreto, está lá, como se fosse um título de crédito. Já a música que ninguém quer ouvir é mero ruído, não interessa a ninguém, não há como transformá-la em joia.

Apenas com relação ao jazz é que cabe uma dúvida. A maioria das pessoas não gosta, porque não há uma melodia identificável. A meu ver (talvez ignorante), o jazz deveria ser utilizado apenas como técnica de composição. Os músicos ficariam na improvisação sem fim mas quando, por mero acaso, os errantes executores “topassem” com uma nova melodia, passariam a desenvolvê-la, compondo uma música “normal”. O que me torna vacilante ao emitir uma opinião negativa sobre o jazz é saber que o escritor José Veríssimo — que considero inteligentíssimo — aprecia esse tipo de música. Se ele é um fã incondicional desse tipo de música é porque ela deve ter alguma beleza que nos escapa.

Encerrando, a arte moderna tem sua utilidade na fabricação de enfeites, móveis, capas de livros, etc. Não como grande pintura ou escultura.

(escrito em 2012 e retocado em 06-12-2015)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Inteligências raciais, “curva do sino” e conjeturas internacionais


No dia 20-09-2015 publiquei em meu blog artigo bastante elogioso sobre o escritor Luís Fernando Veríssimo, explicando que seu sucesso no humor — conciso, sutil, e mesmo assim rapidamente compreendido — explica-se não só pela sua inteligência inata, como também pela sua extensa cultura geral, absorvida em mais de uma língua. Em suma, o humor ganha muito com a cultura do autor.

Como um assunto puxa outro, acabei sugerindo que a juventude brasileira — tão organicamente inteligente quanto qualquer outra — deveria, a partir de agora, ser estimulada a, nos momentos de folga ou desemprego, direcionar maior parte do tempo para a leitura de bons livros, revistas e jornais, em vez de desperdiçar sua energia apenas com superficialidades — esportivas e outras — que não ajudarão em nada a construção de seu futuro. Lendo mais, entenderão melhor o mundo em que vivemos e ficarão mais capacitados para falar e escrever.

Não tem sentido um rapaz conhecer assuntos técnicos e ser incapaz de redigir, sem óbvios erros, sua opinião sobre temas mais gerais e abstratos. A aquisição dessa habilidade, não pode ser relegada a um vago futuro, “quando um dia precisar”.

 O futuro nada mais é que o dia de hoje, multiplicado. Não chega subitamente, e todo jovem deveria sonhar alto, pensando em si próprio, na família, no país e mesmo em um mundo melhor para todos. Um sonhar alto, porém, que não termine em “mensalão’, “petróleo” e prisão, como temos assistido na sequência semanal de escândalos.

 Saber furtar mas não saber escrever direito até “desmoraliza” a orgulhosa façanha da “big” gatunagem. As pessoas se perguntam: — “Como é que um ignorante como esse conseguiu roubar tantos milhões, por largos períodos, e quase escapar impune? Só pode ser porque é fácil demais roubar nesta terra. Prova de que a democracia pode funcionar bem em outros ares, mas não aqui. Talvez valha a pena tentar, de novo, a ditadura. Nenhum general presidente ficou rico”. Tais murmurações já são ouvidas, vez por outra, em filas do caixa nos supermercados.

Por mais que o Brasil se veja, no momento, enredado na corrupção política e financeira isso um dia terá que acabar e o jovem de hoje, mesmo pobre, deve estar preparado para, quando isso ocorrer, vencer honradamente pelo estudo e trabalho honesto, hoje considerado “sem muito futuro”.

Vencer, sim, com ou sem educação formal. Melhor com ela, mas mesmo sem ela, quando o autodidatismo for a única saída para escapar das malhas da ignorância e da pobreza. Os “sebos” de livros usados estão por aí, com excelentes obras vendidas a preço de banana; aliás, mais baratas que elas. A internet explica razoavelmente qualquer coisa, e de graça. Não há mais desculpa para a ignorância alvar. Falta é estímulo institucional. Parte da propaganda do governo deveria estimular a compra de livros de segunda mão como uma saída para o desenvolvimento pessoal no médio e longo prazo.

 Se o futebol, como qualquer outro esporte, tem os seus méritos, é preciso lembrar que isso ocorre apenas quando fisicamente praticado. Não como estimulante de uma agressividade quase doentia e contagiante, como vem ocorrendo. Tanto o bem quanto o mal contagiam pelo exemplo.

Toda forma de energia, inclusive a humana — especialmente a do jovem —, exige um escoadouro. Eletricidade dos raios, libido,  vaidade,  desejo de poder ou riqueza,  lava dos vulcões,  ventos,  amor, desejo de santidade e até mesmo o pus das infecções precisam um canal de saída. Na medida do possível cabe à sociedade e ao governo brasileiro influir para que a energia mental de nossos jovens se direcione também para a busca do conhecimento e da capacidade de pensar por conta própria. Quando isso acontecer o Brasil será outro, arre! Não se espere tudo das escolas, por melhores que sejam. A maior utilidade delas é “estimular o apetite” pelo material impresso ou no monitor.

É um tanto vexatório que o Brasil até agora não tenha recebido um único Prêmio Nobel. Nem mesmo o mais intelectualmente modesto: o da Paz. E mais vexatório ainda é o nosso analfabetismo funcional, que continua existindo porque não se vê esforço algum, público ou privado, para combatê-lo. Talvez porque não saibam como fazê-lo. Isso mesmo, não sabem. A solução, falando-se genericamente, é orientar o jovem leitor a ler e reler os textos, até mesmo em dias diferentes, buscando a profundidade da compreensão, não a quantidade de linhas ou páginas “lidas”.  Há algumas técnicas que ajudam a extrair o máximo de compreensão de qualquer texto, mas não há espaço, aqui, para isso.  E digo logo que não será com a construção de bibliotecas, públicas e caras, que se estimulará a juventude a ler mais. Sem tal estímulo a barbárie continuará tomando conta. Alunos desrespeitando ou até agredindo professores é quase rotina.

A mídia, com frequência, mostra cenas de extrema violência de torcedores inconformados com o resultado de uma partida de futebol. É fácil imaginar o pavor do torcedor, incauto e tímido, quando, isolado, ou com apenas dois ou três amigos, se vê cercado por um bando feroz de “inimigos”, armados de sarrafo e canos de ferro, mostrando a clara intenção de “acabar com sua raça!”. Muitos devem ter pensado: “Chegou minha hora... Vou morrer, ou ficar aleijado, apenas porque meu time ganhou um jogo de futebol! E eu nem toquei na bola!”.

Existe algo mais estúpido do que isso? Qual a explicação? A brutal ignorância, indiretamente estimulada pela omissão dos governos — também da sociedade —, que não estimulam no jovem a busca prazerosa do conhecimento.

O que explica tanto atraso moral de jovens agredindo torcedores do time contrário? Presume-se que, em sua vasta maioria, esses agressores não são deficientes mentais, tal a habilidade de ferir nos pontos vitais. É espessa ignorância mesmo, talvez com algum tempero de inato sadismo. Mas o impulso sádico também pode ser minimizado pela maior amplitude do entendimento.

A explicação para esse tipo de “barbárie pós-partidas” está na “necessidade” de comprovar coragem. Em outras palavras: o ancestral anseio humano de aprovação e admiração da tribo, grupo, ou clube a que pertence. Mais isso do que autêntico ódio contra uns pobres coitados que nunca viram antes e apenas cometeram o crime de torcer pelo time contrário.

Se tais potenciais homicidas tivessem lido e entendido alguns livros ou textos convencendo-os, mesmo indiretamente, de que esse tipo de exibição de força e “coragem” prova somente uma ignorância primitiva, provavelmente não cometeriam tais façanhas. Sentir-se-iam ridículos e covardes. Poderiam até continuar com seu sadismo inato, mas em nível socialmente tolerável. Talvez o leitor já tenha presenciado sinais de sadismo disfarçado, no ambiente de trabalho, quando alguns empregados “lamentam” a situação do colega que foi demitido do emprego, mas eles não. Ouvindo-os percebe-se facilmente, pela voz e brilho feliz no olhar, uma íntima satisfação pela má situação do colega.

Já li relato de que em congressos de Filosofia e Psicologia — que deveriam ser imensamente tolerantes — surgem, por vezes, tremendas rivalidades, beirando o ódio, entre defensores de opostas teorias, quase descambando para o baixo calão. Pode ser que isso ocorra — não frequento tais simpósios — mas uma coisa é certa: os debates podem esquentar, mas os filósofos e psicólogos ressentidos não esperam os opositores, na rua, munidos de sarrafo e soco-inglês. Alguém já disse que a civilização deu um imenso salto quando, pela primeira vez, um homem atirou um insulto, em vez de uma pedra, contra seu opositor.

Em suma, é preciso estimular a “juventude” brasileira — de qualquer idade — a gostar de ler, em vez de direcionar seu tempo apenas ao futebol (assistido), ao vale-tudo, às baladas e aos joguinhos de computador, tablets e assemelhados.

Pergunto: se o leitor gosta de cinema, quantas vezes viu, de um ano para cá, cena em que um ator principal aparece lendo? Provavelmente nenhuma. Prova de que somente o sexo, violência e tolices despertam interesse.

O hábito de leitura, mesmo estritamente prazerosa, tem seu lado de utilidade imediata. Nos exames vestibulares, no Brasil, inúmeros candidatos são reprovados porque não conseguem uma nota mínima na redação, embora conheçam assuntos bem mais difíceis.

 Não estou pregando aqui que todos se tornem escritores. Ressalto apenas que todo cidadão sentir-se-á mais confiante se puder colocar, no papel ou computador, seus pensamentos e sentimentos sem provocar gargalhadas na pessoa destinatária, que pode até ser moça bonita. E a leitura obviamente influi também na comunicação oral.

Lembro-me de um caso, verdadeiro, em que dois vereadores frequentemente trocavam acusações pesadas discursando na câmara municipal. Certo dia, um dos vereadores, mais cordato, quis fazer as pazes com o esquentado adversário. Pedindo a palavra começou assim: — “É com prazer que me dirijo ao impoluto vereador Fulano de Tal...”. Estranhando o “impoluto”, o outro reagiu de imediato aos gritos: — “Essa carapuça não me serve!”

Finalmente, o maior discernimento, oriundo da leitura cuidadosa, faz com que os eleitores votem melhor. Ouvindo ou lendo o que dizem os candidatos, percebem mais facilmente suas incoerências, fugas da realidade e óbvia demagogia.

Nosso sempre lembrado “analfabetismo funcional”— isto é, a dificuldade pessoal de ler e entender plenamente um texto de alguma complexidade e fazer cálculos elementares — tem um desmoralizante efeito colateral: pode levar à aceitação de que o povo brasileiro, “na média”, é menos inteligente que outros povos. E daí para generalizações racistas é um pulo. Principalmente considerando que cerca de metade da população brasileira é composta de pardos e negros.

O leitor já deve ter ouvido falar na “teoria da curva do sino”, apresentada por James Watson e desenvolvida por Charles Murray e Richard Herrnstein na obra “The Bell Curve”. Segundo essa teoria, a estatística comprovaria — formando um gráfico em forma de sino — que o Quociente de Inteligência (QI) da raça branca é mais alto que o QI da raça negra e que, entre os brancos, os judeus são, entre os brancos, os mais inteligentes. Essa conclusão “científica” é um prato cheio para posicionamentos políticos arrogantes, tal como aconteceu quando Hitler subiu ao poder, em 1933, endeusando a supremacia da raça ariana. Essa brincadeira resultou na morte de cerca de 50 milhões de pessoas na 2ª. Guerra Mundial.

Entre os “comprovantes” dos diferentes níveis de inteligência nas três raças mencionadas está o nível, maior ou menor, de realizações na área intelectual. Cientistas e escritores judeus, por exemplo, conseguiram vários Prêmio Nobel, um número desproporcional considerando o pequeno tamanho de seu país e sua diminuta população. Isto seria uma “prova objetiva”, demonstrativa de sua superioridade mental, sempre considerando a média. Um “comprovante” do menor QI dos africanos seria a estagnação da África negra mesmo após livre do colonialismo.

Inúmeros sociólogos — e com eles concordo — opinam que as diferenças de sucesso coletivo entre esses três grupos — negros, brancos e judeus — explicam-se muito mais por razões ambientais, em sentido lato. Hábitos culturais, crenças religiosas, diferenças climáticas, motivação de sobrevivência, nutrição e nível de saúde influem poderosamente para que um povo progrida ou regrida em termos de eficiência. Se, mero exemplo, isolarmos duzentos negrinhos corretamente alimentados ainda no útero, bem criados e educados na Suíça — ou na Suécia —, certamente surgirão, entre eles, atletas, músicos, escritores, cineastas, comerciantes, contadores, médicos, juristas, filósofos, cozinheiros, encanadores, religiosos, marginais, políticos, etc. Todos com variados graus de inteligência. Tal e qual como acontece com todas as demais raças.

O excessivo e debilitante calor africano, estimulando a proliferação de insetos nocivos e parasitas, só pode desencorajar o trabalho, a disciplina e o aprendizado das populações negras. Depois de embarcados, como escravos, para trabalhar na América, os negros, depois de muita luta, conseguiram praticamente se igualar aos brancos. O talento brota onde menos se espera. O filho de um banqueiro pode nascer menos inteligente que o filho de um engraxate. A genética é uma roleta.

 Barack Obama é metade negro. “Pela média”, segundo a “teoria do sino”, não poderia ter chegado a essa alta posição. Negros que tiveram a chance de estudar, chegaram à Suprema Corte Norte-Americana. Atores negros ganham Oscar. Isso sem falar naqueles esportes que não dispensam uma grande vivacidade mental, como ocorre no futebol e no basquete. São vários os esportes que não dependem apenas da força bruta. No tênis e no golfe eles também brilham. Talvez ainda vejamos um campeão negro de xadrez.

Por falar em xadrez, se a inteligência só se revela pelo sucesso, o os russos seriam os mais inteligentes entre os brancos, porque os maiores campeões de xadrez estão entre os russos. Ninguém pode negar que o xadrez é o mais intelectualizado jogo do mundo. A explicação dessa superioridade está mais no clima frio da Rússia, com longos invernos. Os russos passavam muito tempo dentro de casa e uma das diversões favoritas era o jogo de xadrez, numa época em que não havia televisão.

O destaque brasileiro no jogo de futebol também resulta da larga preferência popular por esse esporte. Não se trata de uma carga genética já direcionada para esse jogo. É enorme a quantidade de brasileiros que praticam esse esporte desde meninos. Entre tanta gente chutando bola é esperável, estatisticamente, que surjam inúmero de “azes” nesse esporte.

Igual raciocínio pode ser aplicado para explicar o sucesso do persistente povo judeu no seu esforço para se destacar nas letras e nas ciências. A diferença entre eles e as demais raças está na escolha das atividades em que buscavam notoriedade. Não queriam, em massa, brilhar como esportistas. No passado não muito distante, grandes esportistas ganhavam pouco e com frequência terminavam a vida na penúria, porque não havia nem rádio nem televisão para valorizá-los.

Sem desmerecer — pelo contrário — as realizações dos judeus, a principal “arma” deles para ocupar posições de destaque nas finanças, literatura e profissões liberais foi a escolha do estudo e a prática da tenacidade. Com a crescente complexidade da convivência humana, tais “armas” explicam a o sucesso na obtenção de vários Prêmios Nobel.

Um grande advogado, amigo meu, da área cível, que tem vários clientes judeus, disse-me que seus melhores clientes são hebreus. Isso porque eles mesmos se empenham, com minúcia e persistência, na busca da prova a ser apresentada nos autos. O advogado praticamente não precisa gastar tempo com essa tarefa, tão essencial para vencer qualquer demanda.  

Lendo autores judeus, percebe-se facilmente a ânsia de fazer um trabalho bem feito. Essa orientação na forma de trabalhar opera maravilhas. Dizem que o grande romancista francês, Honoré de Balzac, chegava a reescrever vinte vezes determinadas páginas. Por isso alguém dá disse que “Todo livro é superior a seu autor”. O esforço pode substituir o talento natural.

Há resultados paradoxais na história do mundo. Se os judeus não houvessem se rebelado contra as legiões romanas, cerca de dois mil anos atrás, os romanos não teriam destruído seu Templo. Como se rebelaram, foram perseguidos e dispersados, A maioria, presumo, migrou para a Europa. Lá, também perseguidos, impedidos de exercer algumas profissões, viram-se na contingência de vencer, pelo estudo e perseverança, onde houvesse espaço a eles permitido. Tornaram-se também poliglotas, o que facilitou o caminho para a atividade diplomática. Se nunca tivessem saído, em massa, da antiga Palestina, estariam, por séculos plantando oliveiras, pastoreando cabras e exercendo hoje atividades mais modestas.

Não sei se os judeus têm, ou não, uma “inteligência média” diferente da média das demais “raças” — um termo muito criticado pela inevitável mistura racial. Talvez a “teoria da curva do sino” esteja incorreta por não haver valorizado adequadamente os itens esforço e treino — qualidades morais, não propriamente intelectuais. Dois rapazes, igualmente inteligentes, um deles preguiçoso e sem ambição, o outro muito ativo e ambicioso, este último irá muito mais longe, que o anterior, inclusive em atividades essencialmente mentais. Uma pessoa com longa experiência em testes de inteligência provavelmente se sairá melhor, em novo teste, que outra pessoa que nunca se submeteu, antes, a qualquer verificação de seu QI. O “jeitão”, o modo de raciocinar beneficia-se com as analogias. Isso explica porque qualquer garoto, hoje em dia, aprende mais depressa a lidar com tablets e aparelhos de informática que seu pai, já maduro, avesso a “maquininhas”.

De qualquer forma, esse “sino” gráfico não ajudou em nada a convivência harmônica dos seres humanos.

Quando um funcionário do setor de pessoal de uma empresa necessita escolher um entre três candidatos a emprego — um branco, um negro e um judeu —, sentados à sua frente, essa “média” não serve para nada, porque, entre esses três, o negro pode ser o mais inteligente. Ou o judeu, ou o branco não judeu. Toda pessoal deve ser avaliada individualmente, não por qualquer média.

Encerro este artigo recomendando a leitura de um livro extraordinário, que comprei em um “sebo” — “Judeus sem dinheiro” (Ed. Record) — escrito por um judeu naturalizado americano, Michael Gold.

É realmente uma obra prima e retrata com honestidade o imenso sofrimento dos judeus pobres que primeiro chegaram aos Estados Unidos. Foram demais as privações suportadas por aqueles recém-chegados que fugiam de Hitler. O interessante é que Michael Gold não era propriamente um literato. Era ativista político. Quem ler esse livro poderá entender melhor o que ocorre hoje na Cisjordânia. Talvez os atuais colonos judeus sejam os judeus pobres, descendentes dos judeus pobres da América no século XX. Porém é preciso também pensar nos palestinos árabes, humilhados em sua própria terra. Essa chaga me sugere o que escrevo a seguir.

Espera-se que a inteligência política mundial consiga, antes que seja tarde, o quase milagre de acomodar árabes e judeus na Palestina. Talvez a solução esteja em algo até agora não pensado, ou mencionado: a “venda”(ou cessão), por africanos, ou russos, de áreas na África, ou na Rússia, onde sobram imensas terras não aproveitadas. Terras que poderiam ser habitadas por judeus e/ou palestinos árabes que não caibam mais na Palestina.

A sugestão pode ser rotulada de absurda, ou ridícula, mas seria uma forma de solucionar um conflito que ainda vai piorar, com facadas e massacres. Quem sabe, Vladimir Putin, um estadista independente e ousado, se interessará pelo assunto.

Acrescento que essas áreas sugeridas, na África ou na Rússia, seriam habitadas por árabes ou judeus, sem prejuízo da permanência atual de Israel e do Estado da Palestina, quando for delimitado. Sei, repito, que seria uma novidade quase impensável, mas já chegou o momento do impensável. Nada proíbe que um Estado tenha parte de seu território em local mais distante, cedido, ou vendido, voluntariamente, por outro país. O país cedente pode lucrar com o progresso, produção e novos empregos da área cedida ou vendida.

O fato de, até agora, a comunidade internacional não ter conseguido solucionar — ela mesma, não as partes envolvidas —  a pendência na Palestina não depõe a favor da inteligência  ou bom senso dos chefes das grandes potências. Pelo visto, seus líderes precisam ler menos e agir mais.

(02-12-2015)





   


  












quarta-feira, 25 de novembro de 2015

“Quarto do pânico”, terrorismo e criminalidade comum.

Na edição especial da revista “Época”, de 9-5-2011 — com ênfase no futuro do    terrorismo após a morte de Bin Laden —, que só li dias atrás, há uma interessante entrevista do cartunista dinamarquês, Kurt Westergaard, jurado de morte pelo Islã porque desenhou uma caricatura de Maomé com o turbante recheado de bombas.
Dois aspectos chamaram minha atenção nessa entrevista: o “quarto do pânico”, que o salvou da morte, em sua residência, e a convicção — que parece inalterável — do entrevistado de que “Precisamos aceitar que existem pessoas no mundo que não gostam de nossos valores nem os aceitam”. Evidentemente referia-se aos muçulmanos, quando fanáticos — porque há também seguidores de Maomé que são capazes de ouvir objeções sem recorrer à violência. E como toda ideia sugere outra, imaginei o uso do tal “quarto” também como defesa contra a criminalidade comum, que não para de crescer.  
Presumo que quase todos já sabem o que significa um “quarto do pânico”. Em alguns filmes de ficção esses “bunkers” domésticos já apareceram na tela e, certamente, despertaram curiosidade. Pessoas abonadas, preocupadas com sua segurança, devem ter se perguntado: “Não seria essa uma boa ideia para minha casa, ou apartamento? Não me sinto segura em parte alguma”.
Essencialmente, o que é um “quarto do pânico”? É um local, preferencialmente o banheiro — por razões óbvias, considerando que é impossível prever, com exatidão, por quanto tempo as pessoas da casa ficarão nele refugiadas.
Marginais usualmente não conseguem penetrar nos lares, defendidos por muros altos, fechaduras, grades e outras proteções. Todavia, quando os bandidos conseguem ultrapassar tais barreiras e já estão dentro do lar — sem ainda dominar os moradores—, onde se esconder e de lá pedir socorro à polícia?
Tais refúgios representam forte proteção ao morador —, isto é, quando houve tempo suficiente para correr e fechar a porta, geralmente de aço. Para arrombar essa porta, só com tremenda explosão que praticamente destruiria a casa inteira e não serviriam aos propósitos dos bandidos, que evitam chamar a atenção da vizinhança. Dentro do “quarto” existem celulares, telefones fixos, aparelhos de televisão, computadores, monitores ligados a câmeras internas que mostram o que acontece em outras partes da casa e mesmo do lado de fora. Além disso, lá ficam armazenados alimentos e bebidas para eventual longa espera de socorro policial. Enfim, todo o conforto necessário aos moradores, até mesmo por vários dias, deve estar presente no “cofre forte de humanos”, enquanto cresce, simultaneamente, a sensação de perigo para os invasores da residência, presumindo que o pessoal da casa já chamou a polícia. Obviamente, quanto maior a segurança e conforto do “bunker”, maior o seu custo.  
Considerando-se que, em matéria de segurança pública, no Brasil, é mais previsível que as coisas piorem, em vez de melhorar — porque os governos  vivem travados pelo medo de parecerem “duros demais”  — é previsível que comecem a surgir, aqui e ali, firmas especializadas em instalar “quartos do pânico”, como aconteceu com a ideia dos carros blindados, cada vez mais procurados por pessoas convencidas da incapacidade das autoridades em garantir a segurança nas ruas.
A progressão da criminalidade generalizada, cada vez mais solta, é fácil de constatar. Nas pequenas cidades do interior, até poucas décadas atrás, muitos moradores nem trancavam a porta da rua durante a noite. Depois, houve necessidade de trancar bem portas e janelas, tanto de dia quanto de noite. Isso revelando-se insuficiente, foi necessário colocar grades, no portão, janelas e mesmo em algumas portas, transformando as grandes cidades em presídios excêntricos em que os moradores são os “reclusos”.
Isso não bastando, as firmas de segurança atenderam a uma exigência do mercado, instalando alarmes contra invasões de residências e empresas em geral. Isso, porém, ainda não bastou. Os automóveis passaram a ser roubados quando o motorista aguarda a abertura de sinal nos cruzamentos. O que fazer para evitar o perigo de ser de ser assaltado quando o sinal de tráfego está no vermelho?
Surgiu então a fase do carro blindado. Principalmente porque o perigo não está tanto na subtração do veículo, pois muitos deles estão no seguro. O maior perigo está na possibilidade do carro ser levado com as pessoas que estão em seu interior. Principalmente se forem mulheres e crianças. O medo do estupro ronda... E o assalto pode também se transformar em sequestro, com saques em caixas eletrônicos, além do cárcere privado com exigência de grandes somas.
Um grande amigo meu, hoje idoso, quando lhe perguntei se nunca houve tentativa de assalto visando roubar o belo “carrão” dele em que estávamos conversando, ele me respondeu que houve, sim, uma tentativa. Ele estava então no banco de trás e o motorista aguardava a abertura do sinal. O ladrão deu umas pancadinhas com o cano do revólver no vidro da janela do motorista, mandando que ele abaixasse o vidro. O motorista, imperturbável, disse simplesmente que não iria abrir. Aí o ladrão perguntou: —“Esse carro é blindado?”.  O motorista disse que sim e o bandido se afastou sem efetuar disparo. Certamente, pelo som das pancadinhas no vidro reforçado o meliante percebeu que o carro era realmente blindado. Se ele disparasse, a bala não penetraria no interior do veículo mas o choque contra o vidro — capaz de resistir a tiros de pistola de alto impacto — provocaria estilhaços que iriam ferir o próprio assaltante, certamente um conhecedor do assunto.
Falta, agora, “progredir” para “sala do pânico”, pelo menos para pessoas de grandes recursos financeiros. Não que a classe média não queira também “bunkers” domésticos. O problema está no gasto excessivo e na pouca probabilidade de que venha a precisar dele um dia.
Na entrevista referida na abertura deste artigo, o chargista dinamarquês conta que em razão da sentença de morte decretada pelos islamista, o governo dinamarquês instalou um posto policial em frente da sua residência, no subúrbio de Aarhus, na Dinamarca. Além disso, mantém dois guarda-costas que estão sempre próximos quando sai de casa. Isso, no entanto, não impediu que em um determinado dia um terrorista invadisse seu lar no momento exato em que o chargista deixava na sala uma neta de cinco anos e ia ao banheiro, transformado em “casa do pânico”. Mal entrou, ouviu o ruído de uma janela sendo quebrada. De imediato percebeu que era o matador que vinha executar a sentença de morte. O caricaturista fechou imediatamente a porta de aço mas logo depois preocupou-se com a sorte da neta. Aí lembrou-se de que a segurança dinamarquesa já o instruíra no sentido de que os “terroristas não fazem mal às pessoas que não são alvo”. Isso o tranquilizou e depois, tudo terminado, verificou que era verdade, porque o terrorista, com relação à criança, apenas gritou “Não tenha medo!”
O terrorista, frustrado, não conseguindo penetrar no “quarto do pânico”  — ou banheiro, no caso —, quebrou o computador, a televisão e os quadros da sala. Ao sair, a polícia o esperava, atirando nas mãos e joelhos. Certamente para poder depois interrogá-lo. Seria mais útil vivo do que morto.
Pelo conjunto da entrevista percebe-se que Kurt Westergaard é homem valente. Um artista de temperamento forte. Tanto assim que, segundo disse, pensou em lutar com o terrorista armado de machado e faca, só não o fazendo porque isso causaria um banho de sangue na presença da netinha. Além disso, sendo um homem de 75 anos, seria praticamente suicídio enfrentar um jovem naquelas condições e decidido a mata-lo, mesmo sendo morto em seguida. Essas missões são também suicidas, se necessário.
O único reparo que posso fazer contra o tenaz caricaturista — disposto a nunca ceder em suas convicções em favor da irrestrita liberdade de crítica —, é que ele não tem uma compreensão plena da força de uma educação religiosa e tendenciosa — impregnada de fanatismo —, inculcada desde a mais tenra idade nas crianças, como ocorre em alguns governos muçulmanos.
Se existisse um aparelho — semelhante àqueles com os quais é possível medir a pressão arterial —, capaz de medir o grau de convicção sincera, embora fanática, de uma pessoa, tenha a certeza, leitor, de que o tal aparelho diria, no mostrador, que o jovem que queria matar o chargista estava convicto que agia moralmente certo. Não fazia isso por dinheiro, sexo, ou qualquer outro interesse subalterno. Acreditava obedecer  ao desejo de seu deus, conforme escrito em um livro que, para ele é santo, o Alcorão. Assim como o cristão considera a Bíblica um livro santo. Enfim, era um homem profundamente religioso. Tanto assim que não causou o menor dano à neta do dinamarquês.
Westergaard, que confessa-se ateu na entrevista e foi contrário à invasão do Afeganistão e do Iraque, em nenhum momento mostra-se otimista quanto à mudança de mentalidade do mundo muçulmano, com sua conhecida intolerância. Pelo modo como ele se expressou na entrevista, não acredita que  essa intolerância — em um mundo com mais de um bilhão de muçulmanos — vá desaparecer. Nesse ponto parece-me estar redondamente equivocado. Pode e vai desaparecer se o Ocidente agir da maneira certa.
O fanatismo, a intolerância, é um fenômeno psicológico, estimulado por um grupo de pessoas muito influentes nos espaços geográficos que ocupam e dominam. Poucas religiões escaparam das garras do fanatismo induzido. O próprio Cristianismo já passou por isso, quando queimava hereges e bruxas na fogueira. À medida, porém, que os governos vão se transferindo, via eleições, para as mãos de leigos — com menor controle do pensamento —, a comunicação entre as pessoas, a troca de ideias, e a difusão das informações científicas vão fortalecendo o espírito crítico, comparador, questionador, que mina a permanência de ideias intolerantes e geralmente erradas. Dizem que os jesuítas garantiam que se pudessem doutrinar uma criança a partir de tenra idade, mantendo-a sob sua orientação religiosa até os sete ou oito anos, essa criança seria cristã pelo resto da vida. É o que acontece nos países islâmicos, o que explica a temeridade de muitos jovens que envolvem seus corpos com explosivos, dispostos a se sacrificarem por uma causa que consideram justa e até mesmo divina.
O que as potências ocidentais precisam fazer — e já fazem, mas muito lentamente — é adotar uma política que facilite, às populações muçulmanas, o acesso aos telefones celulares, tablets e outras formas assemelhadas de comunicação social, considerada a causa principal da “primavera árabe”. Se isso for feito durante uma geração desaparecerá a predominância do fanatismo. Se Westergaard cuidar da saúde e estiver vivo aos 95, certamente constatará que o simples decurso do tempo, mais o acesso fácil às tecnologias da informação e comunicação enfraquecerá o fanatismo, porque todo os povos, árabes inclusive, têm uma natureza humana assemelhada.
Não será com arrogância, ameaças, assassinatos e ocupações que se anulará a fatia intolerante do islamismo atual. Os jovens terroristas são uma espécie de vítimas de seus preceptores religiosos, que moldaram seus espíritos para uma obediência cega a comportamentos hoje absurdos. Lembre-se, por exemplo, que o apedrejamento, até a morte, de adúlteras era considerado um castigo perfeitamente correto no Velho Testamento, obedecido pelos judeus. Lembremo-nos da frase de Cristo com sua repreensão implícita de que “quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra...”.
Com a diáspora, os judeus, espalhados pelo mundo, sofreram perseguições e humilhações mas, tendo que se adaptar a novas duras realidades, novas línguas e costumes, esse involuntário “banho” de comparações foi aperfeiçoando sua visão do mundo, dando-lhes uma vantagem intelectual que não teriam se tivesse permanecido sempre na Palestina, plantando oliveiras e criando cabras.
A solução correta para o “choque de civilizações” está na difusão da informação, na separação entre religião e governo e na correção — já! — de algumas gritantes injustiças cometidas contra os palestinos.  Não será com ameaças e truculências que desaparecerá o terrorismo de origem religiosa. Pessoas, grupos de pessoas e mesmo nações inteiras, “tomam as dores” dos palestinos e o resultado final do processo pode ser um conflito generalizado no Oriente Médio, envolvendo Israel, que tanto poderá, depois, se expandir quanto encolher, ou quase desaparecer.
O grande “problema”, pouco mencionado, é que, se adotada, pelo Ocidente, uma política mais inteligente e tolerante da mentalidade muçulmana, a diminuição do risco de novos conflitos armados trará forte prejuízo à indústria armamentista, que subsiste e prospera à custa do medo e da desconfiança. Quanto mais paz no mundo, maior o risco de falências no setor, desemprego e queda na arrecadação de tributos. E existe algum chefe de governo, hoje, em país desenvolvido, querendo mais problemas na sua economia?
O planeta está moralmente doente, há séculos, e ainda não percebeu. Aliás, uns poucos perceberam, mas o remédio é amargo demais.

                                                                                                                               (3-2-2013)