sábado, 8 de julho de 2017

As hienas continuam mordendo Temer. Parem e pensem.

Para não citar eu mesmo, ilustre desconhecido, cito uma das melhores cabeças que praticam o bom jornalismo no Brasil, Eliane Cantanhêde, sempre lúcida. Ela sintetizou, em poucas linhas o que se deve fazer para salvar o Brasil da anarquia total — política, jurídica e econômica — que nos aguarda, caso Temer fique impedido de continuar seu trabalho de saneamento das finanças.

Eliane Cantanhêde encerrou seu artigo de ontem (07/07-2017) no “Estadão” dizendo o seguinte: “O que ninguém está percebendo, porém, é que a troca de Temer por Maia não assegura tranquilidade, nem aprovação de reformas, nem recuperação da economia. E quem lucrará com o esfarelamento do governo? Lula, o PT e Bolsonaro. Basta olhar a curva das pesquisas. Se Temer cair, ele vai, mas a crise fica”.

Se a Câmara dos Deputados tiver um mínimo de juízo, coragem, previsão e patriotismo inteligente — porque existe também o patriotismo burro — ela, Câmara, deve negar, ao STF, a autorização para receber a denúncia apresentada pelo atual Procurador Geral da República. Este combativo cidadão não esconde seu rancor — profissional e pessoal — contra o Presidente em exercício.  Já prometeu, em discurso metafórico, flechá-lo ou envenená-lo com dardos, enquanto tiver fôlego e caneta na mão.

Ninguém pode negar que o Dr. Rodrigo Janot é um profissional capaz e combativo. É especialista do Direito Penal e do Processual Penal, mas um excesso de especialidade pode — às vezes —, ter seus efeitos negativos. É o caso do Dr. Janot, no item “derrubar agora, o Michel Temer”. Ele sabe que se a Câmara negar, hoje, a autorização ao STF, nem por isso eventuais crimes comuns de Temer ficarão impunes.

 Quando Temer terminar seu mandato provisório, em janeiro de 2019, ele poderá ser processado por causa da conversa com Joesley. Seus “crimes” não estarão prescritos com essa diminuta espera — saneadora, por isso virtuosa —, se o Congresso tiver juízo. Temer está se esforçando, com competente assessoria econômica, para achar o melhor caminho, com medidas de curto e longo alcance. Curto, porque brasileiros mais pobres não têm reservas para esperar o saneamento de longo percurso, conforme os planos racionais de Meirelles. Por isso, Temer transige com algumas medidas que desafogam o atual aperto oriundo do desemprego.

Assim, se Temer poderá ser futuramente processado, por que essa ânsia de Janot em derrubá-lo agora, impedindo-o de prosseguir com reformas extremamente necessárias, como é o caso da trabalhista, previdenciária e muitas outras, em doloroso andamento? 

Alguém já definiu que “ especialista é aquele que sabe cada vez mais de cada vez menos”. Por causa de sua especialização, o especialista vê o mundo só pelo ângulo de sua especialidade. Um ambientalista fanático é capaz de tudo para, por exemplo, travar, por anos, com medidas judiciais, a construção de uma estrada de ferro porque sua realização implicaria em aterrar uma lagoa, ou charco, onde existem determinadas rãs, ou sapos, em perigo, de extinção. Outras vezes a necessidade de cortar uma grande e bonita árvore trava uma obra que traria enormes benefícios. Rãs ou uma árvore não valem mais que gente.

A política pode ser praticada com visão curta, média ou longa. Assemelha-se ao jogo de xadrez. Só que cem vezes mais complicada, porque nesse jogo são poucas as peças cujos movimentos precisam ser pensados. No “xadrez” da política há uma infinidade de “peças” em movimento: velhas práticas, legislação defasada, tribunais, mídia, investimentos, luta encarniçada, pelo poder, mentiras e verdades misturadas no liquidificador eleitoral, etc.

Não obstante a enorme diferença quantitativa entre o xadrez e a política em ambos os jogos é necessário, para vencer, usar a inteligência estratégica de sacrificar uma “peça” menos importante visando salvar outra mais valiosa. Sacrificar até a própria rainha para conseguir, mais adiante, o “xeque-mate”.

É esta a situação no Brasil de hoje. Derrubar Temer com base nas acusações dos açougueiros bilionários — que se enriqueceram com favores de Lula e Dilma, abrindo os cofres do BNDES —, é o “ xeque” que pode se transformar em “xeque-mate” contra o país.

Temer não tem “carisma” — essa besteira superficial, embora simpática —, mas tem se dedicado, sinceramente, para salvar a economia nacional, cercando-se, na área econômica, de pessoas que entendem do que fazem. Teve a coragem de mexer em dois vespeiros: a reforma da legislação trabalhista — que afugenta qualquer investidor inteligente — e a reforma previdenciária, que permitiu, legalmente, aposentadorias precoces, inclusive a minha.

Se eventualmente Temer pedia dinheiro aos dois irmãos Batista, para campanhas eleitorais de seu partido, ou coligados, ele fazia o que quase todos os políticos (eleitos) também faziam, porque no Brasil pessoas físicas nunca tiveram por hábito dar dinheiro aos políticos, para fins eleitorais. Essa era a realidade em um país em que sua população pouco lê e depende da televisão e do rádio para sua informação — quase sempre tendenciosa, convenhamos.

Janot valorizou demais o fato de Temer ter recebido, à noite, sigilosamente, um dos ex-açougueiros que financiavam partidos. Conversas sigilosas sempre existiram na política. São próprias dos políticos, como se vê diuturnamente na televisão, políticos conversando com a mão escondendo a boca, porque inimigos e repórteres podem conhecer a leitura labial e o fuxico incrementa a venda de jornais e revistas. A luta pelo poder raramente é elegante. Não só no Brasil.

Lendo recente resenha de um livro escrito por Alzira Vagas sobre seu pai, Getúlio Vargas, ela nos informa que quando seu irmão caçula estava para morrer — vítima de paralisia infantil não tratada — ela informou ao pai que seu filho “Getulinho” — por quem Getúlio tenha verdadeira adoração — estava morrendo, precisando de sua presença, Getúlio chorou mas informou à Alzira que não poderia ir ao leito de morte porque tinha marcado uma reunião sigilosa com o presidente americano Franklin Delano Roosevelt, que estava no Brasil para isso. Provavelmente para tratar de um assunto importantíssimo: a adesão do Brasil na luta contra Hitler. Getúlio, apesar de pai amoroso, era pessoa responsável, sabia que não poderia faltar a essa reunião secreta.

 Há na vida de todos nós, vez por outra, há momentos em que precisamos conversar a sós. Não acredito que jamais o Dr. Janot disse, em conversa particular, alguma frase que poderia prejudicá-lo caso sua conversa estivesse sendo gravada. Não seria próprio de um ser humano — principalmente em sua delicada função —, manter tão rígida vigilância na escolha de palavras. É por isso que o “estado policial”, ou “governo do fuxico” é visto com antipatia.   Quem fala tudo o que pensa, sem escolher audiência, logo terá que se arrepender.

Temer sabia quanto os irmãos da JBS haviam ajudado, com doações eleitorais, os deputados de todos os partidos, inclusive Eduardo Cunha. Sabia o quanto esse ex-presidente da Câmara era perigoso e imprevisível. Contrariado, provisoriamente sem dinheiro para manter a família no padrão de vida habitual, preso, julgando-se traído, Cunha poderia, por vingança, dizer ou escrever um monte de verdades e/ou mentiras a respeito de todo mundo, inclusive contra Temer, pondo contra ele inúmeros deputados, beneficiados pelas vastas doações dos irmãos Batista. Por isso, seria de toda conveniência, manter Cunha sossegado, sem anseios vingativos, embora preso mas com sua família amparada. Temer precisava do máximo de votos possíveis para suas reformas. Não se deve cutucar onça (Cunha) com vara curta. Digo isso caso seja total verdade o que consta na gravação da conversa sigilosa gravada por Joesley Batista. Resumindo: se Temer eventualmente recomendou a Joesley que não fizesse nada capaz de, naquele momento, provocar Cunha, ele agiu pensando em algo mais alto, mais importante: sanear as finanças do país.

Alguém dirá que Janot, como Procurador Geral, ouvindo as gravações traiçoeiras feitas por Joesley, não poderia simplesmente ignorá-las. Teria que pedir as investigações contra Temer, sob pena de incorrer em um crime funcional por omissão. Certo, esse raciocínio. Ele cumpriu sua função. Acusou formalmente o presidente. Mas não precisava, depois, ficar fazendo de tudo para derrubar o presidente, como se ele fosse seu inimigo pessoal.

Cabe, porém, à Câmara dos Deputados, numa visão mais abrangente, decidir não apenas com a visão jurídica, mas também com o critério político de oportunidade, considerando que o afastamento de Temer, agora, só prolongaria, sem resolver, a agonia do povo brasileiro, fuga dos investidores estrangeiros e nacionais, anarquia e paralisia administrativa, jogando para o lixo tudo o que está sendo encaminhado pela equipe econômica.

Como já disse alguém, o Brasil não é para principiantes. Mas Temer faz o que pode para desentortar o Brasil. Quem quiser apenas “pegar” o Temer, porque não simpatiza com ele, que espere os meses que faltam para a eleição do próximo presidente, que não será ele. Lembro também que Temer, como vice-presidente, nada decidia quando no cargo, marginalizado por Dilma, como todos sabem. Não foi um traidor. Apenas cumpriu sua função normal de substituir a presidente, afastada pelo impeachment.

Desculpem a extensão, que mesmo assim, não disse tudo que poderia ser dito.

(08-07-2017)