quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Governos. Alzheimer, câncer de mama e próstata


Governos. Alzheimer, câncer de mama e próstata.

Vez por outra informa-nos a mídia, notadamente na internet, que é espantosa  a diferença na incidência do câncer de mama e de próstata entre a população chinesa e a ocidental. Uma das notícias mais recente informava que o câncer de mama, nas mulheres chinesas — não é dispensável mencionar o sexo porque essa forma de câncer também ataca os homens, embora mais raramente — é de 1 caso entre 100.000. No Reino Unido a incidência é de 1 caso  para cada 10 mulheres ali residentes. Repito: entre cada dez inglesas, uma terá câncer de mama.

Seria essa abissal diferença explicada por algum fator genético? Difícil acreditar, sem uma pesquisa severa. Há, porém, boa “pista” fornecida por uma diferença na alimentação. Friso que se trata de mera intuição: chineses adultos não gostam e não consomem leite e seus derivados.

Outra tremenda diferença de incidência de câncer — agora entre os homens chineses e brancos ocidentais — está no câncer de próstata, essa metralhadora biológica que elimina políticos e empresários com inquietante frequência. Trata-se de um tipo de câncer especialmente temido porque quando é detectado, sem exames (desagradáveis) de rotina, geralmente é de difícil cura. Dizem os médicos que com o avanço silencioso do tumor, quando constatada sua existência já ocorreu metástase, geralmente para os ossos, ocasionando dores atrozes e morte. Na China, a incidência dessa moléstia masculina é na diminuta proporção de 1/20.000 casos, enquanto que, na Inglaterra, a incidência é 70 vezes maior.

Cada vez mais os governos se preocupam com a saúde pública. Não só por sensibilidade, solidariedade com o sofrimento de sua população, como também por razões econômicas. As despesas para tratamento de cancerosos são especialmente caras e há limites financeiros para atender a milhares de doentes que buscam, em hospitais públicos, uma problemática cura para males que são verdadeiros pelotões de fuzilamento, sem dia marcado para o disparo fatal. Males que poderiam ser evitados se fosse localizada  a causa de tamanhas diferenças estatísticas.
 
Pergunta-se: caso os números acima mencionados, ou assemelhados, venham de fontes confiáveis, como acredito, não seria necessário ou — pelo menos altamente recomendável  — que os governos ocidentais constituíssem grupos de trabalho, altamente qualificados, para estudar hábitos alimentares com o mesmo zelo estatístico com que descobriram a relação entre o fumo e várias formas de câncer, notadamente do pulmão? Somente a estatística pôde demonstrar que o longo hábito de fumar tinha uma relação direta, de causa e efeito, entre a nicotina e algumas formas de câncer. Casos individuais não são decisivos. Um homem pode fumar por vários anos e morrer aos oitenta anos de doenças não necessariamente relacionadas com o fumo. E um homem que nunca fumou pode, presumo, morrer de câncer do pulmão.

Uma primeira possível “dica” teórica para explicar a causa da pouca incidência, na China, de câncer da mama e da próstata, estaria talvez — como já disse — no hábito chinês de não consumir leite, nem queijos, na idade adulta. Nem os homens nem as mulheres. Há décadas fui informado de que o chinês não tolera queijos.  A notícia me marcou, particularmente, porque sou um quase viciado no consumo de queijos, e quanto mais salgados, melhor. Esse, para mim, estranhável informe acabou se conectando com uma ideia que parecia dizer algo que deve ter algum significado importante: o homem  é o único mamífero que bebe leite depois do desmame. Se o chinês está praticamente livre desses dois tipos de câncer, não estaria aí a explicação para a diferença estatística que tanto o beneficia? E não adianta apenas “desconfiar”, é preciso provar.

Talvez no plano da natureza não haja “previsão biológica” de marmanjos bebendo um líquido que, pela natural das coisas, seria destinado apenas ao consumo de bebês. O leite de vaca seria normalmente consumido apenas pelos bezerros, não houvesse uma distorção criada pelo homem. Se este precisa de cálcio na formação dos ossos, certamente poderia obtê-lo de outras fontes. Leões, elefantes, rinocerontes e hipopótamos, ursos, cães e demais mamíferos me parecem suficientemente calcificados, não obstante tenham ingerido leite materno apenas no início do crescimento.

Quem sabe, se a humanidade deixasse só para as criancinhas e adolescentes o consumo de leite, a população ocidental, tanto masculina quanto feminina, passaria a sofre muito raramente dos dois tipos de câncer acima mencionados.

Alguém dirá que pesquisa estatística pode perfeitamente ser realizada por cientistas particulares, não havendo necessidade do governo se meter nisso. A possível objeção não teria procedência. Primeiro porque se — se! — o leite e seus derivados causam, comprovadamente, uma grande incidência desses dois tipos de câncer, isso ocorre em um prazo muito longo. Algo assim como o dano causado pelo cigarro. Mais de um século foi necessário para se concluir que o fumo é prejudicial. Um cientista, em busca dessa prova de conexão com o leite, precisaria efetuar um gasto pessoal enorme fazendo acompanhamento dos hábitos de consumo, isolando suas “cobaias humanas”: um grupo consumindo leite e seus derivados e outro grupo se abstendo desse alimento, por longo período. Somente um cientista milionário — ave rara... — teria fôlego financeiro para tanto, sem nenhuma recompensa por tanta persistência, a não ser alguns elogios pela descoberta, seja ela qual for.

Grandes laboratórios farmacêuticos teriam interesse nessa pesquisa?  Não. Pelo contrário. A finalidade normal da indústria farmacêutica está em descobrir remédios e vacinas para as doenças. Se, de fato, o leite e seus derivados estimulam, no longo prazo, o surgimento do câncer de mama e próstata — afastando os adultos desse consumo —, a indústria farmacêutica sofreria um enorme prejuízo porque haveria muito poucos doentes para tratar.

Somente o governo, com sua enorme despesa cuidando desse tipo de câncer, teria interesse real em ver comprovado o eventual liame entre leite e as doenças acima mencionadas. Havendo tal liame, claramente comprovado, a população, sabendo de um risco que hoje desconhece, passaria a consumir muito menos leite e seus derivados, com grande prejuízo para a indústria e comércio de laticínios. Para evitar essa gravosa consequência, um governo moralmente idôneo teria que, talvez, subsidiar, por algum tempo, tais indústrias, dando a elas um prazo para se adaptar à novas atividades. Esse gasto governamental com o subsídio seria reposto depois com a substancial redução da despesa com a saúde pública. Isso, sem mencionarmos o lado moralmente elogiável da diminuição do sofrimento dos cidadãos, homens e mulheres.

Um outro item médico que aconselharia uma investigação de iniciativa governamental seria o Mal de Alzheimer. Essa doença assusta mais aqueles que exercem atividade mental e precisam manter lucidez normal, compatível com sua idade. Tais pessoas veem, com horror, a progressiva perda da memória de fatos recentes, seguida de alucinações e finalmente a amnésia total, com perda humilhante de controle das funções corporais.  Muitos prefeririam morrer antes de sentirem a destruição de suas mentes, transformando-se em mortos-vivos, dependente de assistência contínua de familiares ou enfermeiros, com grande ônus financeiro.

Uma possível “pista” — insisto no “possível” — para a prevenção dessa humilhante doença está em uma frase que li em entrevista ou artigo de um médico gerontologista, cujo nome não guardei porque, à época, eu não tinha motivos para guardar.  Dizia esse médico que constatara, entre seus clientes — e o mesmo fora confirmado por seus colegas de especialidade — que o Alzheimer raramente atacava os idosos que sofriam de diabetes e de colesterol alto “mas que se tratavam”. Esta frase, colocada entre aspas, pode talvez propiciar um gigantesco passo inicial para a prevenção dessa doença. Por que?

Porque ela autoriza o seguinte raciocínio dedutivo: o que faz de diferente um diabético, “que se trata”, em comparação com o diabético “que não se trata”? Evita o açúcar e o excesso de carboidratos. E o que faz o cidadão que tem colesterol alto “e que se trata”? Ele restringe fortemente a ingestão de alimentos gordurosos e, geralmente, toma remédio que reduz  o nível de colesterol. Talvez o médico a que me referi utilizasse a sinvastatina — muito receitada pelos médicos, nesses casos. Teria essa substância química, a sinvastatina, algum bom efeito colateral na prevenção do Alzheimer? Ou o mérito da prevenção estaria apenas na diminuição da gordura no sangue, com ou sem ingestão de remédio?

Investigações médicas costumam ser eficientes, mas exigem paciência institucional. Lembro-me de um caso, ocorrido no Norte da África logo após o término da 2ª Guerra Mundial. Não me recordo exatamente em qual país (Marrocos, Algéria?).  O caso foi assim: em um determinado momento, em 1945, surgiu, de repente, nesse país, uma “estranha” doença. O doente se deitava, à noite, bom de saúde e ao acordar, no dia seguinte, não conseguia se levantar da cama. Seus nervos estavam inutilizados.  Chamados os médicos, estes não conseguiam identificar que doença era aquela. Salvo engano, o paciente continuava lúcido, apenas os músculos não obedeciam a seu comando. Dezenas ou centenas de pessoas foram afetadas, uma espécie de praga rápida, e nenhum médico ou cientista conseguia descobrir qual o nome daquela súbita moléstia para um posterior tratamento.

Convocadas as autoridades sanitárias, estas tentaram obter uma pista qualquer que explicasse o que acontecia. Estaria o problema na comida, na bebida, na água potável? A pesquisa demonstrou que os “doentes” eram sempre, sempre, os mais pobres. Inquiridos os doentes e seus familiares, os investigadores descobriram que as famílias de tais pacientes haviam comprado, pouco antes da grande “paralisia”, um tipo de “azeite” bem barato, vendido aos litros, de modo improvisado. Para resumir a charada: esse “azeite” era nada menos que óleo destinado a lubrificar metralhadoras, guardado em tonéis que foram abandonados com o término da guerra. Certamente, quem abandonou esses barris não previu que seriam depois vendidos, por pessoas inescrupulosas, como se fossem azeite para a alimentação. E os consumidores, pelo que sei, não recuperaram mais seus movimentos.

Não sei o que aconteceu depois da descoberta da fraude. A notícia esclarecia que o dano era irreversível porque a substância tóxica aderia aos nervos de forma permanente. Não havia como trocar os nervos dos doentes. Provavelmente, o governo indenizou, de alguma forma, tais doentes, embora a culpa governamental fosse remota, porque não há como impedir que  pessoas desonestas vendam óleo de metralhadora como se fosse um óleo comestível.

As sugestões mencionadas neste artigo talvez impressionem desagradavelmente alguns médicos, considerando que seu autor não estudou medicina.  Mas sem razão, porque, qualquer cidadão tem o direito de opinar e sugerir caminhos a seus legisladores.  A liberdade de pensamento e sua transmissão permitem que as pessoas se informem sobre qualquer assunto. Um grande advogado tributarista brasileiro, discorrendo sobre o complexo problema da Reforma Fiscal no Brasil, disse, certa vez, en passant,  que um dos maiores — se não o mais categorizado — conhecedor da questão tributária era um médico. Estranho, não? Mas nada impossível. Principalmente nos dias de hoje, com o conhecimento, até mesmo acadêmico, disponível gratuitamente, na internet. Médicos opinam — muito bem — sobre a Justiça, e tudo o mais.

Sabe, o leitor, porque externei minhas sugestões de pesquisa? Porque não li — pelo menos em jornais ou na internet —, alguém, médico ou não, propondo o que se lê acima. Espero que minha intuição esteja errada porque, estando certa, eu terei que diminuir, fortemente, meu velho e gordo amigo: o queijo.

(24-10-2012)

 

 

 

 

 

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