Orcas, tigres, ursos,
leões e Pit Bulls, bem alimentados e tratados com carinho podem se mostrar amigos
de seus donos, sem deixarem de serem feras com estranhos; ou com os próprios
dono, quando contrariados. Golfinhos, esses amigáveis mamíferos aquáticos, quando
hostilizados, mordem seres humanos, está comprovado. Ocorre o mesmo com o sexo,
intrinsecamente animal, egoísta, e que só pensa naquilo. Cuidado, pois, com esse
bicho capaz de morder o próprio dono.
Acredito que, mesmo nas
mais respeitosas relações íntimas entre homem e mulher, o “bicho” ancestral, a
libido — instrumento necessário à perpetuação da espécie — exige alguns toques
de violência, pelo menos verbal, para que a fera, também ela, se sinta plenamente
realizada. Do contrário, ficará à espreita, astuta, traiçoeira, sugerindo troca
ou acréscimo de novos parceiros para sua própria realização insaciável, quando
não contida pelo medo. Como os seres humanos ainda continuam sendo parcialmente
animais, é preciso que não esqueçam esse detalhe quando, neste artigo, vou falar,
mais adiante, sobre a quase nudez feminina em público, os estupros, atentados
ao pudor e assédios em Hollywood.
Quantos milhões de
homens casados, em todo o mundo, razoavelmente honestos e responsáveis, sem
maus antecedentes, descartam a esposa fiel e a família por causa de uma paixão
que não passa de uma violenta e persistente atração física? O fato do fujão
dizer que foi “por amor” não modifica a realidade. Geralmente dizem assim
porque é simpático, “romântico”, usar um termo mais aceitável, socialmente, que
o “desejo”; ou, mais especificamente, o “tesão” — termo desagradável, vulgar,
rasteiro, que só utilizei aqui por conveniência de realismo e melhor convencimento
do leitor.
Com o que disse acima
quis sugerir, por acaso, que o instinto sexual, por ser um componente normal do
homem e da mulher, deve permanecer livre, sem controle, rebaixando o ser humano
à sua “condição real” de macaco inteligente?
Não, porque se o homem ainda guarda resíduos de seu passado totalmente
egoísta e animal, um outro lado dele — do pescoço para cima —, tem ambições
mais elevadas, de natureza moral e intelectual.
A solidariedade, a
compaixão, a simpatia e sentimentos afins, podem ser encarados também como “dispositivos
protetores” de alto valor porque em situações aflitivas —, causadas por nós
mesmos ou pela má sorte — poderemos ser salvos do pior: da fome, da doença, da
miséria, da morte, da omissão ou fanatismo de um governante. Quando Lenine
concluiu que o Czar e sua família, permanecendo vivos, poderiam colocar em perigo
a implantação do socialismo na Rússia, não hesitou em mandar matar o imperador,
a mulher, filhos e serviçais. Até a cozinheira entrou no “pacote".
A solidariedade e os
direitos humanos, protegem-nos com sua capa invisível. Nenhum governo, hoje, atreve-se
a ficar omisso quando milhares de pessoas estão na iminência de morrer de fome,
ou afogados. Um robô “funcionário”, se dotado apenas de inteligência
artificial, mataria “friamente” todos aqueles seres humanos que parecessem
inúteis a seu construtor. “Inúteis” tais como doentes improdutivos, pessoas com
mais de 90 anos, ou desempregados por falta de um nível de educação adequada.
Na busca de um robô
perfeito, inteligente, certamente os pesquisadores esforçam-se para que suas
máquinas “humanizadas” evitem movimentos que redundem em perversidade, porque
sabem, os técnicos, que a “inteligência” deve estar conectada, harmonizadas,
com a “bondade”, ou pelo menos com a tolerância”. No projeto de robótica que
inclua a “inteligência humana completa” como meta, haverá uma “falha técnica” se
no robô não for inserido algo parecido com a ética e a solidariedade.
Por outro lado, o
instinto sexual não pode ser anulado, porque a espécie precisa desse peculiar
bicho peludo — sem alusão — para continuar no seu aperfeiçoamento civilizatório.
Os hormônios, na raça humana, desempenham um forte e inspirador papel nesse
sentido. Fornecem a força, o entusiasmo, a criatividade. Nas Artes e até na
supostamente “fria” Ciência. Aristóteles
Onassis, o grego bilionário, dizia que se as mulheres desaparecessem, os homens
perderiam toda a ambição de trabalhar, inventar e progredir.
Se o sexo é fera,
como dito, é também uma bicho útil — à maneira de cães de guarda — e por isso
deve continuar existindo, mesmo que futuramente seja possível criar seres
humanos apenas de proveta, contados, dosados e construídos geneticamente em
laboratórios. Ou castrados quimicamente, depois de fornecerem suas melhores
sementes para serem congeladas e inseridas em úteros, também selecionados, visando
acelerar nosso aperfeiçoamento como espécie ultra inteligente que pretende, em
remoto futuro, se tornar um deus auto inventado, livre da morte natural.
Não nos esqueçamos de que a vida, toda ela, na
Terra, desaparecerá um dia, dependentes que somos do que acontece com o sol,
esse gordo vermelho, cheio de manchas, que um dia explodirá, caso não nos mate
antes, de frio. Gelados, ou torrados, desapareceremos, sem deixar rastros nem herdeiros.
Pó. Conclusão que, embora distante, não deixa de ser melancólica, pelo menos
para mim. Depois de tanta luta e sofrimento, por milênios, nada restará? Registros
históricos pulverizados nada registram.
A remota esperança
contra o nada está em conseguir uma evolução cerebral que nos permita, com
milagrosa tecnologia, migrar talvez para outro planeta, na distância certa de
outra estrela, fonte de luz e calor. Ou em condições de dispensar qualquer
estrela porque termos talvez dominado uma tecnologia que nos possibilite trocar
o sol por usinas nucleares que façam o trabalho do nosso atual gigante de fogo;
até melhor do que ele, por ser controlável.
Voltando à “fera”, o que este texto quer
salientar é que o “cavalo louco”, o sexo, deve ser domesticado e adaptado à
civilização. Por enquanto, cabe à lei, à justiça, mantê-lo com rédeas curtas,
porque com a anarquia, com o abuso sem reprimenda esse instinto meio louco ele
só causará prejuízo e infelicidades, tais como estupros, atentados ao pudor e
assédios. E a contenção disponível é o medo da lei, complementada com a
educação. Pessoas realmente educadas não precisam ser intimidadas para ter bom
comportamento no relacionamento amoroso, mas como a educação moral é um artigo
raro, ainda é imprescindível um forte componente legal inibitório.
Felizmente, o medo do
fuxico, do escândalo, da mídia, do tiro ou facada do enciumado, ou enciumada;
da polícia, do castigo divino e das doenças resultantes do sexo perigoso pode
conter o cavalo louco provisoriamente. O cavalo louco pode parar de relinchar
por fora mas continuará relinchando e escoiceando por dentro. Qualquer brecha e
ele sai desembestado. Darei um exemplo.
Quando eu ainda
estudava Direito um colega de classe que já trabalhava na polícia me contou seu
espanto quando acompanhou, de perto, um inquérito policial relacionado com um caso
de estupro, ou tentativa, ocorrido em um sítio, ou fazenda — não me lembro desse
detalhe. À época eu não imaginei que um dia relataria o que dele ouvi no breve
intervalo das aulas.
O caso relatado foi
assim: um caseiro ou trabalhador braçal sentiu-se
violentamente atraído pela bonita e voluptuosa esposa do patrão. Como precisava
do emprego, tentou, inutilmente, esquecer a tentação. Vivendo distante da
cidade, o isolamento certamente influiu para que a ideia fixa entrasse cérebro
e nele fincasse raízes difíceis de arrancar.
Depois de algumas
semanas de tortura visual, hormonal e cerebral — nessa ordem —, quando seu
patrão precisou ir à cidade, deixando sua mulher sozinha, o trabalhador,
caladão, respeitoso, sem antecedentes criminais —, foi dominado pelo instinto.
Não haveria o perigo de um marido presente! Praticamente enlouquecido, revelou á moça, sem
palavras, só no modo sombrio de olhar e sorrir — as mulheres conhecem, de
nascença, esse esgar —, o perigo que corria. Fugiu para dentro de casa, trancou
portas e janelas e provavelmente rezou para que o marido voltasse logo.
Transtornado e
frustrado, o empregado passou a esmurrar e chutar todos os obstáculos, sem o
menor medo das consequências. Afinal, o marido dela poderia voltar a qualquer
momento, ou a mulher poderia ter uma arma em casa e matá-lo em legítima defesa.
O que impressionou esse meu colega de classe
não foi a ocorrência de um crime ou tentativa de estupro. Foram as fotos dos
estragos do imóvel com portas, janelas e até paredes danificadas o pelos
“coices” do cavalo humano não castrado. Segundo o relato desse meu colega, as
fotos pareciam mais a passagem de um tornado. Só o telhado escapara da
destruição. Ele nunca imaginou que um ser humano normal, não doente, chegasse a
tal ponto de loucura. E não me lembro dele ter mencionado a concomitância da
embriaguez. Só lamento não ter pedido a ele mais informes sobre o ocorrido.
Com perdão pela longa
digressão, tais lembranças foram provocadas pelas notícias recentes sobre as
denúncias de assédio sexual por parte de um produtor de cinema de Hollywood,
que teria exigido sexo de belas atrizes, em troca de papéis nos melhores filmes
.
Poucos anos atrás
escrevi dois artigos — publicados no meu blog francepiro.blogspot.com e no meu
livro “Verdades que melindram” —, sobre o que aconteceu com um político e
economista extremamente inteligente, Dominique Strauss-Kahn, então
diretor-geral do FMI – Fundo Monetário Internacional. Ele foi acusado, com
grande repercussão midiática, de tentativa de estupro, ou de atentado violento
ao pudor, contra uma humilde camareira negra, imigrante, em hotel de Nova
Iorque.
Strauss-Kahn, segundo o relato da vítima,
estava no banho quando ela entrou no quarto para trocar os lençóis e toalhas,
sem saber que o hóspede estava se lavando no banheiro. Enquanto fazia isso, o
banqueiro terminou o banho e sem mais aquela, nu, agarrou a assustada
empregada, obrigando-a a praticar de um ato libidinoso diverso da conjunção
carnal. A cena não teria demorado mais de alguns minutos. Em seguida, acalmado,
ele vestiu-se, dirigiu-se ao aeroporto, para retornar à França mas foi preso
antes que o avião levantasse voo. Saiu da aeronave algemado e conduzido à
prisão.
O fato de Straus-Kahn
estar na cobiçada chefia do FMI e cotado como provável futuro presidente da
república, na França, parecia-me, por si só, uma prova de que o economista
estava sendo vítima de uma óbvia armação de seus inimigos. Seria ele tão
extremamente estúpido — inteligente como era — a ponto de jogar no lixo sua
reputação, em troca de poucos minutos de sexo que nem chegou a ser completo?
Com seu poder e riqueza esse cidadão não teria à sua disposição dezenas de belas
moças disponíveis, pagas ou “honradas” pela preferência da ilustre figura,
embora de cabelos brancos?
Revoltado com a
aparente tendenciosidade da mídia internacional, “difamando” um prestigiado
economista e cotadíssimo presidenciável, escrevi uma quase furiosa defesa do
político francês, com o título de “Teoria conspiratória ou genialidade no
crime”. “Fundamentei”, por a + b, que a acusação era absurda, irracional,
contrária à mínima lógica, censurando a “pouca inteligência” dos jornais,
supondo como verdadeira algo “impossível de acontecer”. Além do mais, a vítima
nem mesmo era bonita. Para ser franco, era até feia de rosto.
Com o passar dos
dias, semanas e meses, ficou provado que eu estava redondamente enganado, o que
comprova que o bicho libido afronta qualquer análise de previsibilidade. O
financista, de fato tinha atacado, com fúria libidinosa, a camareira, certamente
presumindo que a mulher não o denunciaria. E realmente não foi ela quem
procurou a polícia. A vítima apenas saiu do quarto enfurecida e contou
brevemente o ocorrido, sem mencionar detalhes ao gerente ou funcionário do
hotel.
Como Kahn esqueceu o
celular no hotel, telefonou para a portaria, contou que estava no aeroporto e
pediu que alguém trouxesse com urgência seu aparelho antes da saído do avião.
Com isso o gerente do hotel avisou a polícia, que rapidamente o prendeu dentro
do avião. Algemado e fotografado, apareceu em todos os jornais.
Assim o perigoso instinto destruiu, em poucos
minutos, seu portador. Alterou, provavelmente, o futuro da França, da Europa e
do mundo — ele perdeu o cargo no FMI — caiu no ostracismo e teve que fazer um
acordo de indenização, em quantia não mencionada, com os advogados da vítima.
Sua mulher, que inicialmente o apoiara, pediu divórcio e a vítima tornou-se
empresária. Pelo que sei, a vítima não era pessoa de mau caráter. Os fatos
evoluíram por si só. De um estreito ponto de vista — o econômico — a vítima
“lucrou”, mas sem vexame moral, porque tudo aconteceu contra sua vontade
naquele quarto de hotel.
Agora, em outubro de
2017, a mídia publica relatos de atrizes famosas que, décadas atrás, tiveram
que conceder seus “favores” a mandões ilustres de Hollywood para conseguir papéis
que as levaram à fama e à riqueza. Dizem que, “sem ceder”, não conseguiriam os
bons papéis que as projetaram para uma vida de brilho e felicidade. Sob o
prisma rasteiramente financeiro, foi um abuso que se transformou em vantagem
para as vítimas.
Aquelas artistas que
se mantiveram firmes e “não cederam”, permaneceram, a maioria delas,
provavelmente, no anonimato. Algumas delas devem estar pensando hoje: — “Será
que eu agi certo, sendo tão dura com aquele animal? O que ganhei com isso? Paz
de consciência? Ora, minhas colegas ‘vencedoras’ que ‘cederam’ e subiram, podem
se justificar moralmente alegando que ‘foram forçadas’, senão não conseguiriam
os melhores papéis nos filmes.”
Esse movimento das
mulheres do mundo artístico, foi bem-vindo porque o medo do escândalo e do
prejuízo financeiro, dos chefões do cinema e da televisão, diminuirá,
certamente, o assédio sexual no mundo artístico. Futuramente, as artistas moralmente
“intransigentes” terão mais oportunidades de aparecerem e revelarem seus
talentos. Haverá um avanço ético e até mesmo artístico na indústria do
entretenimento. Quantas moças talentosas deixaram de enriquecer a arte do
cinema porque não conseguiram visibilidade?
Haverá sempre, porém,
algumas beldades que, sem assédio, sem pressão externa, estão dispostas a
“subir na vida”, a qualquer preço, e não só no campo das artes. Uma ex-Miss
Brasil, em entrevista que li, tempos atrás, indagada se considerava aceitável
subir na carreira usando o sexo, ela respondeu, com a maior tranquilidade que
sim. E realmente subiu. Era uma mulher “prática”, bonita e de algum talento.
Aparecia em novelas.
Encerrando, quanto à
nudez excessiva da mulher em público, pessoalmente discordo de tanta exposição.
Ela caleja a sensibilidade dessa “raça” que parece destinada à extinção lenta e
gradual: a dos heterossexuais. Há uma nova forma de preconceito, aprovado pela
mídia: a heterofobia.
Poucos dias atrás, em uma revista semanal, vi
a foto de uma bela moça vestida da seguinte maneira: duas pequenas estrelas
cobrindo os mamilos e um pequeno triângulo invertido cobrindo o local por onde
saem os bebês. Ou melhor, saíam, porque agora a preferência é pelas indolores cesarianas.
Se a mulheres se
cobrissem mais, não usassem jeans tão costurados ao corpo, quando provocante,
certamente haveria menos casos de abusos e estupros. A exposição das “partes”
estimula o cavalo louco.
Quando voltará o
antigo e belo recato feminino?
Lendo o que acabei de
escrever, não controlando minhas livres associações de ideias, devo concluir
que sou uma mente que aos poucos se distancia do mundo atual. E só disse metade
do que penso. Se pelo menos algum leitor, ou leitora concordar, para mim será o
suficiente. Prestigio o voto de qualidade.
Um resumo deste
artigo estará no www.500toques.com.br
Abraços.
(22-11- 2017)